Agora eu entendo porque meu avô gostava daqui, é realmente calmo, tão distante da civilização que é até mesmo possível imaginar que não existe ninguém. Tudo bem, que sem eletricidade por aqui as coisas são complicadas, mas eu me viro. Atualmente estou comendo uma comida enlatada, por algum motivo estranho aqui tem suprimentos e até mesmo um fogão a gás. Bem diferente de quando o vovô morava aqui, é então que eu escuto a porta se abrir, não penso duas vezes. Pego minha arma, que nas últimas semanas tem sido minha companheira inseparável e vou cuidadosamente ver quem é o invasor.

Quando eu apontei a arma para meu visitante inesperado não sei que ficou mais assustado, ele por perceber que estava na minha mira ou eu por ver que ele estava aqui. “Emily!?” ele disse atordoado, eu sorri como uma criança quando é pega fazendo travessuras “Oi... O que você está fazendo aqui?” ele me encara “Depois me culpa pelos maus modos da Amanda” Na menção do nome da minha filha eu não pude segurar a pergunta “Como ela está?” ele me encarou “De luto” quando ele diz isso, pela primeira vez em dias eu sinto culpa.

Eu sento no sofá, ele segue meu exemplo e senta ao meu lado “O que aconteceu?” eu olho bem nos olhos dele “Se você está aqui você sabe o que aconteceu, não posso acreditar que minha mãe não foi capaz de confiar em mim, eu tinha dito a ela que voltaria quando tudo estivesse bem, mas o que você faz aqui?” ele desvia o olhar “Amanda não está reagindo bem ao luto, ela precisa que você volte” provavelmente ele está certo, mas ele ainda não precisava ter vindo aqui. “Qual é o seu plano?” eu pergunto “Passamos a noite aqui, ao amanhecer descemos a montanha e terá um jato nós esperando” eu levanto a sobrancelha “O que foi? Seu pai insistiu e você sabe que é impossível dizer não a aquele homem. Agora sei como ele sempre consegue ser eleito”.

Deixo ele instalar seu saco de dormir na sala, não que a cabana fosse grande, apenas uma sala junto a cozinha, um quarto e um banheiro, esse último foi uma adição que minha mãe fez, por falar nisso devo agradece-la por isso quando eu chegar. Eu comecei a juntar as coisas, não que eu tivesse trazido muitas coisas, sem falar que eu usei os enlatados para fazer algo para comermos.

Enquanto comíamos, conversamos sobre coisas aleatórias, rimos de bobagens “O que aconteceu conosco Emily” ele pergunta, é então que fico séria “Você deveria saber Aaron, foi você que pediu o divórcio” eu digo terminando de comer e me levantando “Eu não pensei que você aceitaria” eu o encaro “Isso é sério? Depois de você dizer que eu te traí, você acha que eu não iria querer ficar o mais longe possível de você?” ele ficou sério “Nós apenas tivemos uma crise Emily” Nesse momento eu não podia encara-lo, não sem deixar as lagrimas escaparem, mas eu também não podia guardar aquele segredo por mais tempo “Eu realmente estava gravida Aaron e você fez eu perder o meu bebê” não fiquei a tempo de ouvir o que ele iria falar ou como ele reagiria, eu fui para o meu quarto e fechei a porta. Quando fechei a porta, eu apenas sentei ali no chão, escorada na cama e desabei em lagrimas, lembrando do fatídico dia.

Eu chorava, ó Deus como chorava. Aaron e eu estávamos passando por uma crise no casamento, ele estava focado no trabalho, estávamos brigando muito já não dormíamos juntos, mas um dia ele chegou em casa bêbado ele queria, eu queria e assim eu cedi. Mas no dia seguinte, antes que ele acordasse eu apenas peguei Amanda e fui dar uma volta. Claro não falamos sobre isso por algumas semanas, eu não sabia ao certo se ele se lembrava ou não. Quase dois messes depois, eu comecei a sentir os sintomas, fiz um teste de farmácia mesmo e deu positivo, nós não estávamos bem, mas uma gravidez mudava tudo. Fui para casa feliz, mal conseguia esperar para contar a ele, mas quando contei, ele me acusou de estar traindo ele e aquele bebê não ser dele, não podendo mais escutar os desaforos dele, eu apenas peguei Amanda e sai dali o mais rápido que pude. Fui para casa da minha mãe, felizmente apenas ela estava lá, meu pai estava viajando, eu contei tudo a ela, ela disse que tudo ficaria bem, ela me acalmou, levou Amanda para passear e me deixou tomando chá. Foi então que eu comecei a sentir dor, era uma dor terrível e algo em mim dizia que aquilo não estava certo, minha mãe não demorou para chegar e me levou rapidamente a um hospital. Chegando no hospital o médico da emergência não demorou para me atender e infelizmente ele confirmou meu medo, eu havia perdido meu bebê. O médico viu meu histórico, ele disse que devido a complicação do parto da Amanda, essa era uma gravidez difícil e qualquer mínimo indicio de stress poderia afetar não só a mim como ao bebê também e bem digamos que a minha discursão com Aaron me deixou com o sangue fervendo, infelizmente quem pagou o preço disso foi meu filho.

Depois disso fui para a casa da minha mãe, contei a ela tudo e chorei novamente, ela não me disse nada, apenas que me apoiaria em minha decisão. No dia seguinte entrei em contato com o advogado da família para dar início ao processo de divórcio. Para desgosto da minha mãe Aaron foi atrás de mim quando recebeu o pedido de divórcio, ele tentou me persuadir a não ir em frente, mas eu resisti, ele até mesmo usou a minha gravidez, não suportando dizer a ele que fui fraca em conseguir manter o nosso filho, eu disse a ele que foi apenas um alarme falso, não havia necessidade dele saber e ainda não há, mas eu simplesmente não posso sofrer sozinha, ele também tem que saber, afinal foi culpa dele também.