Lírio escrita por Tyrell


Capítulo 1
Lilium




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Lírio

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Scorpius Hyperion Malfoy era um muro inacessível, um quadro pintado por um artista apaixonado, um amante compenetrado. Ele era sublime, perfeito, tão belo que eu odiava apenas a menção de seu nome, que já era o suficiente para fazer meu coração doer. Alto e musculoso, dotado de fios loiros quase brancos de tão platinados e aqueles olhos. De um azul hipnotizante capaz de fazer qualquer um perder-se naqueles tons, buscando alguma falha que lhe mostraria o que se escondia por trás daquelas feições impassíveis.

Ele era um herói byroniano. Narcisista e imoral como Dorian Grey, mas irrevogavelmente interessante e misterioso. Ninguém sabia o que passava por dentro daquela faceta de cinismo e arrogância, nem mesmo seu melhor amigo. Albus sabia tanto quanto eu; para ele, Scorpius era apenas um cretino detestável que destruía corações com a mesma facilidade de uma criança ao brincar. Ele era impenetrável, inabalável, frio, sedutor e principalmente, indecifrável. Deus, não havia ninguém em Hogwarts que não ansiasse em saber o que havia por dentro do escorpião. No entanto, todos estavam cientes que nunca descobririam quem realmente é o primogênito dos Malfoy, o que seus devaneios obscuros sussurram em seus ouvidos e a razão pela qual seu comportamento ser tão... Incomum.

Eu me apaixonei por ele como toda e qualquer garota de Hogwarts, estando plenamente cônscia de quão inaceitável e errôneo era sentir algo por alguém que eu não conhecia. Talvez, creio eu, fora por este motivo pelo qual eu decaí diante de seus orbes azuis; o mistério que emanava dele me era tão atrativo quanto seja qual for o sonho que pudesse passar por minha mente. Ele era como um diamante em meio a carvões, um enigma que ansiava internamente pela chegada daquele que o desvendaria. Em minha visão, não se apaixonar por ele era algo inverossímil, impossível de acreditar.

Scorpius era tudo e, ao mesmo tempo, nada.

Ao menos, era isso o que ele me dissera na Sala Precisa, numa noite não tão discreta de abril. Eu o encontrara às lágrimas atrás de um armário por coincidência, enquanto procurava por um livro que deixara por ali. Fora a primeira vez que o vi demonstrando algum sentimento além de decepção, nojo, sarcasmo e prepotência. Seus pulsos sangravam, seus olhos estavam vermelhos e ele parecia estar tão branco quanto papel, completamente concentrado em sua própria tristeza.

O que está acontecendo? Por que ele está assim? Aonde está o homem sem sentimentos que eu conhecia há quase sete anos? Ao aproximar-me e perguntar-lhe o que acontecera, eu vi suas feições contorcerem-se em incredulidade. "Por que você se importa?” Ele perguntara, em meio a sussurros e soluços, porém ainda com o tom de voz repleto de pura e total autoritarismo; ele era imperativo e precisava saber o porquê daquele questionamento, mesmo diante de uma situação tão perturbadora para tanto ele quanto a mim.

“Porque você é amigo do meu primo, Malfoy.” Menti, sabendo que ele não acreditara em minhas palavras; um mentiroso reconhece outro, afinal. Ele sorri, um sorriso falso que tentava sobrepor a dor estampada em seu rosto. “Não minta para mim, Weasley.” Ele disse, enxugando as lágrimas; noto, diante daquilo, que ele estava perdendo muito sangue. Estava horrorosamente branco, num tom doentio, e seus lábios — antes rosados e carnudos, capazes de fazer uma mulher estremecer com a mera possibilidade de um sorriso — estavam roxos. “Vamos embora daqui. Você está perdendo muito sangue, Scorpius.” Ele deu outra risada dolorosa e olhou-me nos olhos, quase como se pudesse ver minha alma. E então eu percebi. Ele olhava-me como alguém observa a pessoa que ama, da mesma forma que eu via meu pai olhar para minha mãe; o mais puro amor, algo impossível de ser escondido por muito tempo. Ele desviou logo depois, olhando na direção dos ferimentos. “Eu não me importo mais. Quero morrer”.

“Você ficou maluco?! Eu não vou deixar você morrer, Scorpius!” Histerismo. Eu havia decaído ao histerismo diante daquelas palavras simples, ignorando por completo a possiblidade de que Malfoy realmente amasse-me. Era a primeira vez que eu o chamava pelo primeiro nome. E era a primeira vez que eu me sentia prestes a desabar. “Rose, Rose... Eu não aguento mais. Não suporto mais. Todos me olham como se eu fosse um monstro, um estranho. Meu avô é um Comensal da Morte; meu pai também é. O que você espera disso? Que todos me tratem como um santo? Que todos ajam como se este fosse um fato irrelevante? Ninguém se importa comigo, Rose.” Havia sofrimento, angústia em suas palavras. Ele estava cansado, ela notou, e seus olhos azuis estavam tão apáticos quanto os de um homem morto. Meu coração parecia estar prestes a explodir a cada palavra; meu cérebro processava, com uma lentidão nada usual, as palavras que saíam de seus lábios.

Ele era como um lírio. Belo, no entanto, frágil e cheio de angústias.

“Eu me importo.” Noto, por um segundo, que a histeria foi substituída por um tom altivo, imperativo, idêntico ao de minha mãe. Seriedade no lugar da preocupação, e nenhum medo presente em meus olhos. Scorpius foi, pela primeira vez que eu vira em minha vida, surpreendido por aquelas palavras. Eu o beijei sem me importar com as consequências, o beijei com a esperança de que aquilo mudasse seu pensamento, o beijei porque eu o amava verdadeiramente mais do que qualquer coisa em minha vida. Se ele morresse, eu morreria. Se ele se machucasse, eu me machucava. Scorpius era a única coisa que me importava naquele momento.

Naquela noite, Scorpius Malfoy renasceu.

E Rose Weasley se tornou a razão para toda a sua existência.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho um mini headcanon de que o Scorpius é literalmente um herói byroniano e.e Caso alguém não saiba o que é, recomendo ler esse artigo da Wikipédia e tals: http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%B3i_byroniano.
Espero que tenha gostado da história, porque eu me esforcei muito para escrever algo desse tipo. Mas enfim, até a próxima!



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