Capítulo 5: Desagradável

Às vezes, quando te vejo, imagino seriamente se Deus não programou alguns protótipos humanos para terem a única e principal habilidade de serem desagradáveis.

Porque, de verdade, essa é a única resposta para o enigma "por que você é tão desagradável?". Ou talvez simplesmente seja hereditário, com seus hormônios juntando a parte desagradável do seu pai, da sua mãe, dos seus tios e tias, de seus avós, de seus bisavós, dos seus tataravós e do seu primeiro ancestral, o iniciante da sua linhagem (maldito seja), para só aí formar você.

Você é como uma soma das partes, todas elas desagradáveis e prontas para me tirarem do sério.

Às vezes, me pergunto, seriamente, como as pessoas chegam a gostar de você? Como você conseguiu passar o Ensino Médio não sendo o completo mala que todo mundo evita, que senta nos fundos, excluído da vida?

Ainda me lembro do dia em que eu estava apresentando um seminário, daqueles de outubro que serve pra ferrar a sua vida e jogar na sua cara que você é um merda, quando você soltou, alto e em bom som, um comentário infeliz sobre minhas peças íntimas. Eu sabia que você iria soltar uma pérola quando sentou na frente, no meu lugar vago - a sobrancelha prepotente não engana a ninguém.

Aquilo arruinou meu seminário inteiro (fiquei vermelha de vergonha, a sala toda explodiu de risadas e o professor me olhou com cara de bunda).

Não me lembro se você se desculpou por ser um babaca desagradável, por ter arruinado meu seminário ou por existir. Na realidade, nem ao menos sei se você chegou a se desculpar.

Viu? Tá aí a prova: você é completamente desagradável.