Capítulo 2: Irritante.

Desde pequena me foi instruído que uma desgraça nunca vem sozinha. Até este ano, as únicas desgraças que eu tinha era não ter saldo no bilhete único, lidar com aquela vermelha no boletim e limpar o mijo da cachorra.

Quero dizer, até este ano, porque você me apareceu para acabar com tudo de uma vez.

Você é irritante não importa o quê e onde. É irritante a forma como você fala, como ergue uma única sobrancelha quando duvida de alguma coisa que eu digo, como tem a mania de espalhar quando está certo, como levanta um canto da boca quando despeja sua acidez nos outros.

Você é irritante.

Na realidade, você é tão irritante, que deveriam demitir aquela velha da Top Therm (sabe, daquela do Ômega-3?) e contratarem você. Acredito eu que muita gente desligaria a televisão quando você aparecesse.

Você foi como uma infestação, uma doença que nublou meu cérebro e contaminou minhas veias, enchendo meus glóbulos vermelhos e brancos da mais pura irritação, atingindo em seguida meu pulmão, que acabou bombeando gás oxigênio misturado com as iniciais do seu nome para o meu corpo.

Pode soar dramático, porém eu sou mesmo a Drama Queen, e você, com sua forma de ser irritante, acaba me fazendo ingerir uma dose extra de drama diariamente.

Seriamente falando, é exatamente isso o que você é: irritante.