Stay Alive Loki escrita por HomeFiction


Capítulo 4
O início do Fim


Notas iniciais do capítulo

Olá! Olá! Sou muito agradecida por todo mundo que está acompanhando!
Beijos! a todos!



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Mais uma semana havia se iniciado. Thor finalmente retornou de sua “licença” e Odin o havia chamado para uma conversa a portas fechadas que durou toda tarde da segunda-feira.

—Eu fico olhando para você e me perguntando onde eu errei, se eu te dei tudo? O melhor que o meu dinheiro podia comprar. – disse Odin quando estavam os dois trancados na ampla sala da presidência. –Eu sonhei tanto que você estaria sentado aqui no meu lugar levando adiante meu legado! – o mais velho falava com mágoa.

—Pai? O que foi que eu fiz dessa vez? – perguntou Thor sem entender.

—Você é meu herdeiro, Thor! Meu filho! Era para você agir como tal. Meu maior desejo é você assumindo a Borson. Eu espero tanto de você. Eu lhe dei um cargo de diretor financeiro! E pra quê? Para você fingir que está doente para ir curtir em Las Vegas? Você passa mais tempo nas boates e nos bares que aqui na empresa! – gritou Odin. –Eu estou cansado, Thor! Estou exausto... – sua voz foi se tornando um fiapo frágil. –Estou exausto de esperar você acordar e agir como um homem, ao invés de um garoto.

—Meu pai... O senhor sabe que eu não levo jeito para os negócios, e você já tem o Loki que pode muito bem tocar a empresa... Eu...

—Não Thor! – Odin o cortou. –Eu não quero o Loki aqui. – disse Odin se levantando. –Essa cadeira, – ele se apoiou na confortável e imperiosa poltrona do presidente. – será sua e de mais ninguém! – falou com vigor. –Eu almejo todos os dias que você me dê esse orgulho. Faria-me o homem mais feliz do mundo ver meu filho seguindo meus passos. – completou o empresário apelando para o emocional.

—Eu o amo tanto, meu pai. Eu queria ser o filho que você merece. – falou Thor.

—Então seja! Pare de massacrar seu velho pai dessa forma! – disse Odin pesaroso. –Isso aqui é minha vida. Você, meu filho, não imagina as coisas que já tive que fazer para que nossa empresa tivesse êxito. – ia falando. –Coisas das quais eu não me orgulho, mas tinham que ser feitas. E tudo que eu fiz foi garantir que você e sua mãe tivessem uma vida confortável.

—Pai, eu não entendo o que quer me dizer. – Thor falou. –Não vai me punir pela mentira e pela confusão na boate?

—Eu estou muito decepcionado com suas últimas ações. – confessou Odin. –Mas não há tempo a perder com punições, você é um homem crescido. O que eu preciso de você é outra coisa. Você sabe que na próxima semana teremos a reunião semestral de metas. – disse o pai.

—Eu sei, meu setor está completamente envolvido. Estamos trabalhando arduamente para entregar todos os relatórios a tempo...

—Pare de fingir. – Odin o cortou. –Seu departamento? Loki, você quer dizer. – ele disse seco.

—É... Loki. – Thor coçou a cabeça, em desagradável constrangimento.

—Eu quero que você faça o balanço semestral e que presida a reunião na semana que vem. – informou Odin em tom muito sério.

—Eu? Pai!? – Thor arregalou os olhos. Ele nunca tinha feito tal balanço na vida, e não conseguiria fazê-lo em uma semana, a reunião seria na próxima segunda. E principalmente ele não tinha qualquer condição de presidir aquela reunião de diretoria. Embora Thor fosse o diretor financeiro ele não sentia qualquer experiência para dissertar sobre a saúde financeira da empresa. –Eu não consigo... – disse envergonhado.

—Não me envergonhe perante a empresa inteira. Não vou aceitar falhas. – Odin foi duro. –Nós dois estamos sendo motivo de fofocas nos corredores, dizem que estou te favorecendo com esse cargo. Essa vai ser sua última chance de provar que estão errados. – disse o pai.

—Pai, eu não sei se consigo atender suas expectativas...

—Terá que conseguir! – o cortou Odin. –Pense se você consegue viver sem seus carros luxuosos, seu Loft, os cartões de crédito liberados, etc. Será que conseguirá sustentar isso tudo com seus recursos próprios? – o tom era de ameaça. Fazia parte de seu plano Thor temer perder os benefícios que tinha.

—Pai? – Thor ficou sem palavras. É claro que sem a boa posição que tinha na Borson e sem a ajuda de Odin e Frigga ele não teria como sustentar seu padrão de vida luxuoso.

—Você tem opões, Thor. – disse Odin. –Pode se esforçar para atender as minhas expectativas e se tornar um gestor à altura da Borson, – fez uma pausa estratégica encarando o filho. – ou pode tentar aprender a viver com seus próprios recursos como qualquer ser humano normal. – Odin sorriu internamente vendo que pela expressão de Thor ele tinha mordido a isca. É claro que seu filho não ia querer se afastar da boa vida que levava.

—Eu vou tentar. – disse Thor humilde.

—Ótimo! – Odin sorriu alegremente. –Agora vá aprontar o relatório e tomar conta do seu departamento como deve ser. E lembre-se, você tem uma semana para se preparar. Fale com Loki e peça que lhe oriente, ele tem muita experiência no assunto. – aconselhou Odin.

—Eu só não sei se meu relatório vai ficar tão bom quanto o do Loki. – disse Thor.

—Thor, Loki é brilhante com números. É um gênio, não estou pedindo que faça melhor que ele. Só estou pedindo que faça. Que se esforce... Eu só preciso que você faça. – Odin falou num tom mais acalentador. –Pode ao menos tentar, por mim, meu filho? – apelou o velho com o olhar carinhoso.

—Eu prometo que vou me esforçar se isso o faz feliz. – respondeu Thor.

O loiro deixou a sala do pai pensativo. Odin fora muito claro, ou Thor assumia seu papel ali dentro da empresa ou estaria em maus lençóis. Ele sabia que o pai tinha razão em ficar chateado com a mentira sobre a doença e que estava exigindo dele que tomasse uma postura mais profissional. Sabia também que o pai estava velho e cansado demais, e que ele, como o filho mais velho, devia estar mais presente dentro da Borson.

(****)

 

O loiro não ficou imune ao apelo de Odin. Ele amava seu pai e queria o ver feliz. Assim, após a conversa Thor passou a se dedicar mais. Ele chegou todos os dias da semana às 9 horas saindo às 18, como todos os funcionários. Esteve com Loki pelo menos uma vez ao dia, todos os dias da semana, e eles gastaram longas horas se debruçando sobre planilhas e cálculos. Nesses momentos Thor notava como os olhos verdes do irmão brilhavam ao falar sobre números e lucros. E Thor não podia evitar sentir uma ponta de inveja, pois ele era desejoso de encontrar uma profissão que fizesse seus olhos brilharem assim como os de Loki.

Com a data da reunião chegando a Borson parecia um caldeirão. Os pedidos de relatórios ao setor financeiro eram cada vez mais complexos e os prazos cada vez mais curtos. Todos os setores precisavam demonstrar seus números, o financeiro devia avaliar se os setores tiveram lucros e os auxiliar no que fosse possível para que as metas fossem alcançadas, bem como apresentar um plano de ação e apontar investimentos futuros.

Nisso Loki trabalhava mais ainda. Enquanto Thor saía pelas 18, Loki vinha a sair somente pela madrugada. A pressão sobre ele era imensa com todos os setores lhe solicitando relatórios de última hora, seu telefone não parava de tocar, as pessoas o interceptavam pelos corredores, e ele não tinha mais horário de almoço (não que tivesse tido antes). Mas dessa vez era nítido que Loki estava beirando a exaustão.

Sua gripe piorou durante essa última semana e ele perdeu ainda mais peso devido ao stress. A cabeça latejava tão forte que lhe dava náuseas, o corpo estava dolorido e febril a maior parte do tempo, sendo os sintomas somente aliviados pelas aspirinas e vitaminas C.

(****)

Na tarde de sexta-feira que precedia a tão esperada reunião na segunda, Loki sentiu que poderia desmaiar. Seu mal estar havia ganhando níveis insuportáveis. Sua cabeça parecia ferida por marteladas e a ânsia de vômito era horrível. Naquele dia ele sentia-se mais doente e miserável que nunca. Ele abaixou a cabeça amparando-a com as mãos e deixou escapar um longo suspiro cansado. Foi nesse momento que seu irmão resolveu aparecer da forma Thor de ser, ou seja, de sua forma nada sutil.

—Irmão, você está péssimo! – Thor trovejou abrindo a porta da sala de Loki. Sua voz fez o mais jovem sentir como se uma nova martelada tivesse sido desferida contra sua cabeça.

—De fato já estive em dias melhores. – Loki rosnou penosamente.

—Se fosse comigo ia pra casa. – disse o loiro. –Nem teria vindo. – e riu-se de forma obtusa, fazendo Loki o achar mais idiota do que em qualquer outro momento (embora achasse isso de Thor com frequência).

—O que você quer? – questionou Loki impaciente o encarando com os verdes olhos febris.

—Ficar bem pertinho de você. Quem sabe não pego gripe? O pai não teria como reclamar seu eu ficasse doente de verdade, e eu poderia faltar na reunião. – disse Thor sorrindo, mas Loki não pareceu achar graça.

—Thor, – Loki sentiu-se ainda mais enjoado. – quantos anos você tem? Doze? – perguntou aborrecido enquanto preparava mais uma aspirina efervescente.

—Ok! Ok! Eu te mandei um e-mail sobre o balanço de segunda-feira. – dizendo isso o loiro fez um gesto com o polegar voltado para baixo indicando que a coisa tinha declinado.

Loki suspirou, achando que ter um irmão como Thor era um teste à sua sanidade. Ele acessou o e-mail e seus olhos foram da tela do laptop para o rosto alegre do grandalhão. O moreno parecia não entender o conteúdo escrito ali na tela. Suas finas e escuras sobrancelhas se juntaram num semblante de dúvida. O título do e-mail dizia: “Help! Please!” e o conteúdo era uma simples planilha em Excel com o cabeçalho: “Balanço: Não faço idéia do que escrever!”. E definitivamente aquilo não poderia ser sério. Thor não podia está fazendo piada, poderia?

—Thor? Onde está o balanço? – perguntou baixo sentindo a cabeça doer. Ele se achou muito doente e febril para aturar uma piada tão sem graça por parte do estúpido irmão. –O pai quer isso para segunda-feira. – disse Loki dando mais um suspiro. –Você vai presidir a reunião e são 16 horas de sexta-feira. Thor? Não me diga que isso... – apontou para a planilha em branco. – é o balanço!?

—Eu realmente tentei, mas é tão chato. – disse Thor com ar de inocência. – o loiro de fato havia se dedicado mais nessa última semana, e Loki reconhecia. –Eu não consigo fazer isso. Estou perdido, irmão. O pai vai me trucidar, vou passar a maior humilhação de minha vida. – reclamou desanimadamente vendo Loki tomar o copo com a aspirina numa golada só. –Por favor, irmão. Você precisa me ajudar. – implorou Thor.

—Devia ter pedido no início da semana. – resmungou Loki. Estava tão cansado, no limite de sua resistência. –Você não conseguiu elaborar uma única linha? – perguntou baixinho encostando a testa suada contra a mesa engolindo em seco, várias vezes para afastar a ânsia de vômito.

O mais velho observou a reação do irmão, que parecia que ia desmaiar de tão abatido que estava, mas resolveu ignorar, afinal, se Loki estivesse muito doente ele no mínimo ia para casa descansar. –Você não consegue fazer até segunda-feira? – perguntou Thor esperançoso.

—Thor, você é o diretor financeiro e isso implica responsabilidades. – disse Loki lentamente. –Isso aqui – ele ergueu as mãos indicando a empresa. – é sério! O nosso trabalho é muito importante, muitas pessoas dependem dessa empresa para viver. E você como diretor precisa se preocupar com isso. – disse o mais novo tentando persuadir o mais velho a criar algum juízo. Loki, como todos os outros, já estava cansado da falta de zelo de Thor por um negócio tão importante como a Borson.

—Se eu pudesse dispensar essas responsabilidades e ficar só com o salário, eu dispensaria. – desabafou o loiro. –E, Loki. Eu já ouço sermão demais, da mãe e do pai. Eu não preciso de mais você me dando lição de moral! – disse ele aborrecido. –E então? O gênio certinho vai me ajudar ou não? Ou prefere deixar seu querido irmão ser humilhado na frente de todos aqueles lobos? – Thor fez uma expressão desamparada.

—Eu deveria deixar você se dar mal. – disse Lok. Ele adoraria ver a cara de Odin quando descobrisse que seu tão bajulado Thor era um incompetente irresponsável.

—Eu sei que você faria isso, irmão. Mas não quando a sua amada Borson está em jogo. – sorriu Thor. –Você ama isso aqui...

Loki respirou impaciente. Seu irmão era completamente despreparado para assumir aquela posição tão importante na diretoria, mas Odin parecia ignorar por completo a incompetência do filho mais velho. Será que o pai, que era um homem extremamente voltado para os negócios não percebia que Thor era completamente inadequado para tal cargo?

Finalmente Loki decidiu ajudar. Pensava ele que quanto maior a altura, maior seria a queda, e Thor estava muito alto. Na segunda-feira, perante todos os departamentos e principalmente, perante Odin, o irmão ia demonstrar sua total falta de capacidade. Thor por si só ia se afundar. –Eu vou ajudar. – disse ele por fim.

Eles ficaram debruçados sobre os números o resto da tarde e meados da noite. Loki conseguiu terminar o balanço por volta das 21 horas e repassou os tópicos, um por um, num resumo que habilitasse Thor a presidir a reunião. O loiro por sua vez, estava cansado e sonolento. Aquilo realmente não era sua praia.

Somente às 23 horas, com o trabalho feito e repassado, eles saíram pelo saguão dos elevadores, Loki parecia ainda mais abatido. E Thor bem mais aliviado pela ajuda.

—Sei que é difícil para você, mas tente revisar esses tópicos nesse fim de semana. – Loki falou e antes que Thor pudesse protestar ele seguiu. –Quanto mais familiarizado você estiver com esses números, mais fácil vai ser conseguir convencer os demais das suas idéias. – disse ele num bom conselho.

—Irmão, nem tente me tornar sua cópia, eu não tenho talento para ficar trancado em casa estudando essa coisa. – disse Thor com nojo da pasta que carregava debaixo do braço.

—Você devia se esforçar de verdade. – disse o moreno.

—Nem todo mundo nasceu gênio como você, irmãozinho. – replicou o loiro.

—Ter um QI alto não é garantia de sucesso, Thor. É preciso muito esforço e dedicação. – explicou o mais novo enquanto o elevador parou o andar térreo.

—Ei, Loki! Você não pegar seu carro? – perguntou o mais velho admirado quando o irmão seguiu pelo átrio principal no térreo.

—Thor, eu não tenho carro. – explicou. –Você sabe que existe uma coisa chamada Metrô? É um meio de transporte coletivo que anda debaixo da terra, costuma ser rápido, seguro e econômico. – disse Loki. –Tenha um bom fim de semana. E estude! – e a porta se fechou.

Thor por sua vez ficou encarando a porta de metal do elevador que descia até os andares garagem no subsolo. Pela segunda vez naquela noite ficou impressionado com Loki. Enquanto ele estava se divertindo Loki estava trabalhando, enquanto ele tinha vários carros (dados por Odin) Loki simplesmente andava de Metrô. Eles eram diferentes em tudo.

(****)

O fim de semana passou como um borrão. Loki sentia-se tão cansado que preferiu ficar na cama, debaixo das cobertas, sentindo-se muito doente para se arriscar às ruas frias. E finalmente, como um piscar de olhos a segunda-feira tão esperada chegou.

A empresa estava tensa, como ocorria nos dias das reuniões de balanço. Odin era um patrão exigente, e não era raro muitos serem demitidos após esses encontros.

Pontualmente às 10 horas Thor entrou na sala reparando que todos já o aguardavam. Sif lhe deu um sorriso encorajador e ele sorriu de volta, muito nervoso.

A reunião se iniciou com Loki informando alguns dados sobre a nova conta das Indústrias Stark e prosseguiu quando Thor tomou a palavra e todos os olhos se voltaram para ele. Odin estava expectante sentando à cabeceira da mesa, se Thor fosse bem sucedido passaria no teste.

O filho mais velho tomou sua conhecida postura destemida e começou a abordar o primeiro tema, aos poucos ele foi se soltando e assumindo as rédeas da situação. E Odin inflou o peito, seus olhos, da mesma tonalidade azul do filho, cresceram com orgulho.

Thor tinha um brilho especial. Algo nele tinha o poder de ofuscar qualquer um a sua volta. Todos os olhos sempre se voltavam em sua direção. Ele era seguro e carismático. O cara mais popular da escola. Foi capitão do time de futebol, o amigo de todos, líder nato. As pessoas costumavam se aglomerar em torno dele como moscas no mel. E ele podia não entender tanto dos números, mas no quesito conquistar pessoas era um mestre. A reunião seguiu-se com ele na dianteira puxando os tópicos com segurança. Aos poucos o rapaz foi ganhando a confiança dos participantes e muitos já lhe sorriam satisfeitos. Um deles, mais empolgado, até aplaudiu Thor dizendo “Tal pai, tal filho”, o que fez Odin muito satisfeito.

Já Loki encarava o irmão abismado. Thor era um sucesso. Conforme a reunião foi seguindo Loki ia murchando, sua dor de cabeça só aumentava. Aos poucos a adrenalina de ver Thor fracassar ia se esvaindo e dando lugar ao desgosto de vê-lo triunfar em um terreno que era seu. Ele olhou para Odin que direcionava a Thor um olhar orgulhoso. Inveja, ciúmes, despeito? Fosse o que fosse doía na alma de Loki aquele olhar de Odin para Thor, e nunca em sua direção.

Definitivamente a reunião foi um sucesso. Todos começaram a juntar seus materiais quando Odin teve a deixa para fazer um importante anúncio. Ele temperou a garganta se levantando.

—Tenho um comunicado a fazer. – disse ele. –Depois do enfarte minha saúde não é a mesma. E eu já não tenho o vigor de antes. Estou cansado e querendo aproveitar o tempo que me resta. – ele agora tinha total atenção de todos. –Por isso decidi que vou deixar a presidência. – Odin completou com impacto.

Muitos olhares chocados foram direcionados a ele, bem como muitos cochicharam e houveram especulações preocupadas, a troca de presidência poderia ser algo traumático para uma empresa como a Borson se não fosse feita com cautela.

—Não se preocupem. Escolhi alguém que apesar de jovem será capaz de liderar a Borson, até melhor que eu. – disse ele e muitos olhares foram direcionados para Loki, algumas das pessoas pareceram se acalmar aliviadas. E Odin respirando fundo continuou. –Eu lhes apresento seu novo presidente, meu filho, Thor! – o velho apertou firmemente o ombro volumoso do rapaz. –Parabéns, Thor! Você merece! – disse Odin sorrindo amplamente.

A sala caiu em um silêncio sepulcral. Thor olhou para o pai sem entender. Ele sentiu o coração acelerar como se fosse pular pela boca. Seu pai era surpreendente. Estava grato pelo carinho e expectativas do pai, mas banzado demais para reagir.

Após um longo momento de silencio e alguma desconfiança uma tímida salva de palmas se iniciou, e Thor, o agora novo presidente, mais refeito do susto inicial, pode se sentir orgulhoso. Ele inflou o peito com vaidade sorrindo seu melhor sorriso.

Sif foi a primeira a se levantar e abraçar Thor. Ela particularmente torcia pelo loiro, e sabia que se tornar presidente de uma empresa como a Borson seria algo que faria Thor se transformar num homem sério, Odin estava coberto de razão em lhe dar essa responsabilidade.

Mas ela não deixava de pensar em Loki e seu amor e dedicação por aquela empresa. Sif achava que se fosse para fazer justiça, a presidência seria dele. Não que morresse de amor pelo filho mais jovem, mas ninguém que estivesse dentro da Borson, ou participasse do ciclo financeiro de Wall Street poderia ignorar o fato de que Loki era merecedor daquela cadeira.

Ela olhou para Loki, assim como todos naquela sala, esperando alguma indicação de que ele concordava com aquilo, alguma indicação que ele ao menos estava ciente daquilo, mas o rosto branco e angustiado do rapaz dizia que ele, assim como todos os outros naquela sala, fora pego de surpresa, e Sif não pode deixar de sentir pena dele, não seria algo fácil de superar.

Loki sentiu-se fora do tempo. A ficha ainda não caía. Thor Presidente? Não podia ser. Aquele estúpido não estava preparado, apenas na sexta-feira ele veio feito um demente choroso lhe implorar ajuda para fazer um simples balanço. Será que ninguém mais percebia que isso era uma insanidade? Nem em seus piores pesadelos ele imaginou esse desfecho para a reunião.

—Obrigado a todos! – dizia Thor sorridente agradecendo aos abraços. –Pai, eu sou grato pela confiança. Garanto que não irá se arrepender. – falou Thor com seu melhor sorriso de comercial de pasta de dente e sua voz trovejante.

E Loki continuou ali sentado com seus olhos verdes cheios de lágrimas. “Por favor, não caíam!” – pensava desesperadamente. “Controle-se! Respire! Você vai parecer mais ridículo ainda!” – sua mente gritava. Tinha que sair dali antes que a humilhação fosse maior. Não podia chorar, não ia chorar. Não na frente deles. O jovem engoliu uma, duas, três vezes, sentindo a mágoa quente e líquida queimar em seus olhos. Sentindo a garganta seca e um bolo desagradável subindo por seu estômago, ia e vinha, subindo e descendo. Já não respirava direito, não enxergava com clareza... Ele ia surtar.

Todos estavam de pé felicitando Thor, todos menos Loki. Todos, gerente por gerente, diretor por diretor, iam parabenizando o loiro que era só sorriso, votos e promessas.

—Thor vai ficar comigo esses dias aprendendo tudo que puder. – dizia Odin sorridente. –Ele vai acumular a função de diretor financeiro, já que nos demonstrou bastante habilidade com o balanço. E em alguns meses assumirá definitivamente a presidência. – cada palavra de Odin era uma punhalada no coração do filho mais novo. O jeito como o pai exaltava o mais velho, a forma carinhosa como se referia a ele, e o olhar de puro amor que lhe direcionava, era como se Odin tivesse um único filho: Thor. E Loki sentiu tudo vindo de uma única tacada, a dor de tanta humilhação se tornava impraticável com mais aquele golpe em sua auto-estima. Ele sentiu o peso da rejeição de uma forma insuportável e esmagadora. Odin havia tomado uma decisão dessas sem ao menos pensar nele. Será que estava sendo egoísta ou pretensioso demais por em algum momento sonhar com algum reconhecimento dentro dessa empresa?

—Irmão? – a voz trovejante de Thor retirou Loki de sua desgraça pessoal. –E meus parabéns? – sorriu abrindo os braços, mas Loki não tinha estômago, não mais. Ele se ergueu trêmulo e pálido derrubando a cadeira e chamando para si toda atenção. A sala ficou em silencio com todos aguardando a reação do pobre filho preterido. –Loki? – Thor recuou o sorriso.

—Eu... Eu... – o mais jovem gemeu olhando para todos e para ninguém em especial. – Desculpem... Não estou me sentindo bem. – disse baixinho saindo da sala.

Sif o olhou sair. Nem mesmo Loki merecia passar por uma decepção como essa. De qualquer forma, eles eram família. Loki e Thor eram irmãos, Odin o pai deles. Eventualmente eles iam achar uma forma de contornar aqueles problemas. Ao menos era o que a moça acreditava, o queria acreditar.

O clima que se seguiu foi o pior possível. Alguns olhavam com pena para a porta que Loki havia deixado aberta ao passar, outros achavam a atitude do rapaz anti-profissional e sacudiam a cabeça em sinônimo de negação. Thor sentiu-se um pouco constrangido, como se tivesse participando da festa do ano como homenageado de honra, festa essa, que Loki havia organizado, mas não havia sido sequer convidado. Notando isso Odin interveio. –Ele só está cansado, sabemos que não foi um mês fácil para ele. – sorriu amarelo. Falaria com Loki em particular assim que pudesse, mas esse era o momento de Thor.

—Isso! É tempo de comemorações! – disse o loiro se voltando para os demais profissionais. –Daremos uma festa para comemorar as mudanças nessa empresa! – ele sorriu ganhando aplausos dos demais e um forte abraço de Odin. –Pai, eu te amo e vou fazer de tudo para lhe deixar orgulhoso.

—Eu já sou o pai mais orgulhoso do mundo, meu filho! – sorriu Odin.

(****)

 

Loki apenas precisava sair dali ou ele ia surtar. Aos tropeços saiu pelos corredores, não enxergava ou ouvia ninguém. Não atinava meio palmo à sua frente. Ele apenas tinha que sair. Conseguir um pouco ar puro e pensar... Ficar sozinho para recolocar as ideias no lugar.

Por hora ele apenas saiu da Borson fugindo pelo dia frio e nevado, ignorando tudo e qualquer coisa ao seu redor, apenas caminhou a ermo, levado pela revolta de ser mais uma vez deixado de lado, traído pelo próprio pai.


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Notas finais do capítulo

Ah, sim! Eu optei por colocar o Odin com os dois olhos intactos, achei que ia ficar estranho se ele tivesse perdido um olho tragicamente...

Beijos!