A chuva estava fina e batia suavemente sobre o carro.

Com Alexy tagarelando sem parar, só conseguia pensar em uma coisa, uma coisa que estava naquela cidade que eu deixei. Meu coração bate forte ao me lembrar do nosso último momento naquela sala da escola...
Por que aquela maldita diretora tinha que confiscar meu vídeo game portátil justo no último dia de aula!? Ele deve estar se sentindo abandonado e esquecido...

Sim, viajem para a casa da minha tia-avó desconhecida sem nada para me descontrair. Sinceramente, quando esse carro vai parar? Deve ter alguma estação de trem por perto. Tem que ter.

Não tinha.

Tenho que me preparar mentalmente para passar o resto das férias nesse lugar abandonado pela ciência e tecnologia. Eu vou conseguir sobreviver! Eu quero, eu posso, eu consigo. Meu bebê me espera em Sweet Amoris.

Não gosto de ar livre, mas o ar daquela casa conseguia ser pior. Enquanto caminhava pela cidade a noite, pude ouvir gritos e música. Segui o som, era um parque de diversões. Aquela cidade não estava tão abandonada assim afinal de contas. Ao entrar, não pude acreditar nos meus próprios olhos, sentada em um banco, observando as crianças nos carrinhos de bate-bate enquanto bebia um milk shake, estava Kate. O que aquela garota faz aqui?

– Kate! – A chamei. Ela me olhou espantada e sorriu.

– Armin! O que faz aqui?

– Pagando meus pecados, e você?

– Que tal pagarmos nossos pecados juntos? – Ela disse rindo, será que não notou quantos sentidos essa frase tem? – É meu último dia aqui. Está com alguém?

– Não. – Respondi e ela me encarou duvidando. – Se estivesse, não estou mais.

– C-certo – corou, e antes que eu fizesse o mesmo, resolvi falar.

– O que estamos esperando? Em qual brinquedo gostaria de ir?

– Hm... – fez uma leve careta de dúvida. – Kamikaze! – Um sorriso ansioso surgiu em seu rosto, deixou o resto de milk shake em cima do banco e enlaçou meu braço, me puxando para a fila da bilheteria não muito longe dali.

Deuses, será que ela não poderia escolher um brinquedo mais calmo, como o carrossel ou a roda gigante?

E diante aquela euforia, como se fosse sua primeira vez em um parque de diversões, acabei fazendo as graças dela. Será que ela tinha noção do qual persuasivo era aquele sorriso infantil?

Depois de mais cinco brinquedos gritando e rindo, no outro dia sem dúvidas estaríamos sem voz.

Já estava tarde, e nós, com fome. Saímos do parque e andamos até uma lanchonete perto dali. Kate tentava não rir enquanto comia seu sanduíche, eu já tinha desistido de fazer isso. O celular dela toca, a tia estava preocupada.

Poupei um trabalho para sua tia e fiz um favor para mim. Acompanhei-a.

Nesse momento, estou jogado na cama. Já perdi a conta de quantas vezes repassei essa noite na minha mente, de quantas vezes repassei aquele beijo. O beijo que sorrateiramente tomou o lugar de: “Boa noite, nos vemos em Sweet Amoris.”