Temporary Home escrita por Ruby Raiff


Capítulo 1
A quem pertenço


Notas iniciais do capítulo

- É uma história antiga, que por um acaso deu certo, eu nunca postei nenhuma das minhas histórias sobre crepusculo, mesmo tendo varias e achando que deveria postar( Mas se notarem eu já posto história demais e demoro a terminar, normalmente o minimo é dois anos)

— Enfim, eu gosto dessa One. É a UNICA one que consegui escrever até hoje. Eu sou adepta a longs. A ultima que tentei deu 25 mil palavras ou mais. A antes dessa já tem quase 50 capitulos. KKK'

— Espero que gostem também e que comentem dizendo o que acharam.

Enjoy

Ps.: Nas notas finais irei contar por que escolhi essa musica.



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Eu olhava pro grande salão onde Aro recebia alguns convidados com tédio. A eternidade muitas vezes é entediante, principalmente quando ela se passa com os Volturi. Você tinha fartura de alimento, bailes seculares fartos de dias, danças e diversões, mas depois voltava ao tédio que só podia ser preenchido por missões ou caso tivesse um parceiro.

No mundo vampirico ter um parceiro lhe ajudava a não odiar a própria imortalidade.   

A eternidade era frustrante a maior parte do tempo. Não, eu não sou ingrata. Sou resignada com meu destino ao ter que passar a eternidade ao lado dos Volturi, mas eu estava ali não por desejo de poder e sim pelo amor. Olhei pro meu lado direito encontrando Alec, meu companheiro e amor da minha eternidade. Hoje eu era uma Volturi, mas eu já fui humana. Eu já sofri e já tive muitos problemas no mundo vampiresco. 

Mas meus piores traumas eram da minha humanidade. De todas as minhas casas temporárias. 

little boy six years old(Um menininho de seis anos de idade)

A little too used to being alone (Acostumado demais a estar sozinho) 

Another new mom and dad (Outros mãe e pai novos.) 

Another school another house that will never be home (Outra escola, outra casa que nunca será um lar)

When people ask him how he likes this place (Quando as pessoas perguntam o quanto ele gosta deste lugar)

He looks up and says with a smile upon his face (Ele olha pra cima e diz com um sorriso no rosto)

Eu observava o novo casal que iria me adotar conversando com a dona do orfanato e contando da minha condição. Eu não tinha mãe, ela morrera a algum tempo ou eu nem sequer estaria ali. Homens maus fizeram coisas ruins com ela na minha frente, um dos homens maus tinha o filho dele com ele. O garoto não era muito mais velho que eu, talvez 12 ou 13 anos. 

O homem mau o obrigou a fazer coisas ruins comigo. Eu não o culpava. Ele era tanto uma vitima do homem mau quanto eu e minha mãe tínhamos sido. 

Na época eu tinha quatro. 

— Eu suplico que não a adotem se não tem certeza que poderão ficar com ela. – A moçado orfanato pedia. Eu gostava dela, sabe? Ela parecia realmente se preocupar com meu bem estar. Mas eu não me aproximava, eu preferia ficar sozinha e também estava cansada de ficar sozinha.

— Essa menina já passou por quatro famílias diferentes somente nesse ultimo ano. Ela é muito pequena, a mãe foi violentada ate a morte na frente dela e ela quase teve o mesmo destino. Foi estuprada e quase morta. 

Eu tinha seis anos, quase sete, a aquela altura do campeonato. As famílias não gostavam de mim. Me achavam perturbadora. Introspectiva demais. Eu não entendia, na época, mas adotar crianças com tantos traumas era algo complexo para a qual a maior parte não estava preparado.

— Não se preocupe, Senhora Tonks. Temos boas condições e daremos a ela um bom futuro. – Aquele casal parecia mesmo diferente, mas mesmo assim era o mesmo. Apenas mais uma casa temporária como minha mamãe costumava dizer. 

Eles se aproximaram de mim e se apresentaram. Era sempre assim. 

[...]

— Crystal... – A outra mamãe me chamou. Eu estava ali a mais tempo daquela vez. Já tinha quatro meses. Eu corri até onde ela estava. Gostava daquela mamãe. – O que achou da escola? Eu sempre pergunto e nunca me responde, querida.

— Foi boa. – Eu não podia dizer a verdade. Mamãe dizia que a verdade magoava as vezes, era melhor guarda-la. Eu não me encaixava na casa nova. Eu via janelas, portas novas. Uma casa nova, mãe e pai novos. Uma nova escola e novos colegas. Mas eu não sentia um lar ali como sentia nos braços de mamãe, mesmo quando não tínhamos onde morar. No frio quando éramos despejadas da casa de aluguel e tínhamos que passar algum tempo na rua, encolhidas uma a outra para nos esquentarmos. 

Era doloroso, mesmo lembrar, mas não pelo frio. Mamãe. Lembrar dela doía. Lembrar do que fizeram com ela doía. 

— Mentir não é bom, Crystal. Envenena a alma e faz machucado no coração. – A nova mãe se aproximou de mim e disse com um sorriso. Abaixei a cabeça, me sentia envergonhada por ter sido pega. – Seja sincera comigo. O que acha deste local?

Eu levantei o rosto com um pequeno sorriso no rosto. Eu não gostava de mentir, então supus talvez algumas pessoas aguentassem a verdade. Aquela mamãe tinha um rosto sincero e parecia realmente querer que eu vivesse bem naquela família. Ela cuidava de mim e fazia o máximo para poder me dar o que jamais tivera. 

Ela não podia ter filhos, eu soube eventualmente; Ela nunca falhou como mãe para mim. 

— É apenas uma casa temporária, não é onde pertenço. São portas e janelas pela qual passo. Uma nova mãe e pai, nova escolas e amigos, nova casa que nunca será um lar. É apenas uma parada. – Eu via os olhos da nova mãe arregalados pra mim, na época não entendia, mas anos depois eu descobrira que o que eu dissera fora maduro demais pra uma menina de sete anos. 

Ela ficara magoada na época, mas a nova mamãe entendeu, eventualmente. Tinha passado por muitas casas. Muitos locais que me devolveram. Ela atribuiu a fala a este fato. 


This is my temporary home (Essa é a minha casa temporária)
It's not where I belong (Não é onde eu pertenço)
Windows and rooms (Janelas e quartos)
That I'm passing thorugh (Pelos quais eu estou passando)
This is just a stop (São só paradas)
On the way to where I'm going (Na estrada para onde estou indo)
I'm not afraid because I know (Eu não tenho medo porque sei)
This is my temporary home (Essa é a minha casa temporária)

Uma memória ainda mais antiga. Eu estava parada vendo mamãe no canto de uma loja, conversava com um homem. Eu não o conhecia. Era estranho, baixo, gordo e velho. Era estranha a forma como olhava minha mãe, mas eu já acostumara. Mamãe era bonita. Tinha cabelos negros e cacheados, um belo rosto com pele branquinha, olhos verdes e era jovem. Se eu bem lembrava mamãe uma vez disse que tinha 18 anos. 

Eu nasci quando ela era novinha. 

 

Young mom on her own ( Jovem mãe sozinha)She needs a little help got nowhere to go (Precisa de uma ajudinha, não tem pra onde ir)She's looking for a job, looking for a way out (Procurando emprego, procurando uma saída)Cause the halfway house will never be a home (Porque o albergue nunca será um lar)At night she whispers to her baby girl (À noite ela suspira para a sua bebezinha)Someday we'll find a place here in this world (Um dia nós vamos encontrar um luz neste mundo)

— Preciso de um emprego. – Mamãe implorava ao homem – Minha filha e eu precisamos de dinheiro. Faria qualquer coisa por um emprego. 

—Não posso, garota. Você é jovem e bonita, mas não posso. O emprego não paga bem o suficiente para uma casa e despesas, sendo que não posso dar aumento sem me prejudicar. O único meio, menina, é algo um pouco mais pesado. Sinto muito. 

Na época eu não compreendia, mas o homem falava de prostituição. Mamãe tinha se retraído com a fala dele, o olhando feio. Ela lançou um olhar mal pro homem e veio pro canto onde eu estava, me pegou no colo e abracei seu pescoço. O colo da mamãe era quente e aconchegante. Passei meus dedos pequeninos pelos cabelos negros cacheados. Queria cachos também, mas meus cabelinhos eram lisos. Pretos também. 

—Não se preocupe, Crystal. Um dia encontraremos um lar nesse mundo enorme. 

[...]

Eu era uma adolescente a aquele ponto. Estudava em uma pequena escola numa reserva ao norte do Canadá, La push, em Forks. Era muito parecida com minha mãe biológica, mas tinha os olhos do pai que eu jamais conhecera. Não queria ir para onde meus pais adotivos queriam me levar, mas não tinha escolha. Nós tínhamos vivido em cidades grandes muito tempo, mas papai queria estudar e trabalhar na reserva. 

A pouco descobrira que minha mãe biológica tivera um pai que a expulsara de casa quando descobriu que a menina tinha perdido a virgindade e, por azar, dela tinha engravidado também. Era orgulhosa demais para voltar a pedir ajuda ao pai e acabara nas ruas comigo. Agora o velho estava doente e descobrira o que houve com a filha e a neta. 

Redenção de um moribundo. 

Eu não conseguia deixar de pensar que se ele tivesse sido um pouco mais humano nem eu e nem minha mãe teríamos passado fome e frio nas ruas, para acabar vandalizadas e comigo num orfanato aonde me achavam perturbadora por estar lidando com os traumas da época. 

Mesmo hoje, eu era uma pessoa retraída. 

—Vamos, Crystal. – A minha mãe me chamou, era a mesma que me adotara aos seis anos. Eu ainda considerava aquela uma casa temporária, não meu lugar no mundo, mas era assim que fora pelos últimos oito anos. E eu a amava. Ela não desistira de mim e estava me estimulando a conhecer aquele homem horrível que destruíra a vida de minha mãe biológica, mas que, para a minha mãe adotiva, era minha ultima família. – Seu avô quer vê –la.

—Mas eu não tenho a mínima vontade de conhecer aquele velho ditador. –Murmurei amargurada e vi minha mãe vindo até mim. Seus cabelos loiros e crespos com pele bronzeada e olhos castanhos eram a prova de que não tínhamos a mínima ligação sanguínea.

— Ele é seu sangue, Crys. Seu ultimo parente de sangue. –Ela tinha me dito para convencer - me. Olhei pro espelho de corpo inteiro. Eu via uma garota de 14 anos com cabelos lisos e com um volume belo e atraente, grandes olhos azuis, com cílios grossos e uma franja espessa que cobria toda minha testa. Minha pele incrivelmente branca e vestia uma blusa de alças vermelha, um jeans e uma jaqueta de couro escuro. 

— Não me importo. A culpa de minha mãe biológica ter morrido é dele. – Retruquei simplesmente. 

Não foi fácil me convencer a ir até o hospital. Não foi mesmo, mas havia pouca coisa que aquela mulher não conseguisse de mim. Ela fora aquela que pegara uma criança perturbada num orfanato e criara com o carinho de uma mãe biológica.  

Por ela, eu fui. 

 

Old man, hospital bed(Velho senhor, cama de hospital)The room is filled with people he loves (O quarto está cheio com as pessoas que ele ama)And he whispers don't cry for me (E ele sussura "não chorem por mim")I'll see you all someday(Eu vou ver vocês todos um dia)He looks up and says "I can see God's face"( Ele olha pra cima e diz "eu posso ver o rosto de Deus")

Em poucas horas estávamos no hospital. O quarto estava repleto de pessoas, aparentemente eu tinha chegado aos últimos suspiros do velho. Ele estava na cama, seus cabelos brancos eram fartos para alguém adoentado há quatro anos, seus grandes olhos eram idênticos aos meus e ele me reconheceu imediatamente assim que passei pela porta. Talvez meus olhos não tivessem vindo de meu pai. 

Era a primeira vez que o vira e tentei ligar ele as poucas e distantes memórias que tinha de minha mãe, mas não a imaginava perto daquele homem. Eu me aproximei da cama dele o encarando silenciosamente. Tinham outras pessoas no quarto parecendo tristes e melancólicas. 

O homem na cama não era minha unica família viva e tinham amigos próximos dele também. Eu me perguntei o que essas pessoas pensaram quando ele expulsou a filha gravida de casa por puro conservadorismo exacerbado. 

— Crystal... – Ele sussurrou roucamente erguendo sua mão para pegar a minha, era firme para um homem moribundo – Você se parece com ela, minha doce e prepotente Charlotte... Eu sinto tanto pelo que causei a você e a sua mãe. 

— Eu... – Hesitei sem saber o que falar a aquele homem. – Não imagino o que falar ao senhor. Sinto muito. 

— Tão polida. Diferente de sua mãe, ela já teria berrado comigo há esta hora. Tinha um gênio tão forte, minha pequena Charlotte... – Ele sorriu a alguma memória que eu desconhecia da filha que ele contribuirá para a morte. Por causa dele, eu jamais conhecera realmente minha mãe. Eu não crescera com ela. – Peço perdão, Crystal, por tudo que fiz. 

—Não fez nada a mim e sim a ela. – Retruquei com toda a calma que pude reunir.  

—Eu sei, mas você quem está viva. E foi muito atingida por minhas ações. Soube o que lhe aconteceu. Novamente, perdão... –Ele murmurou e tirei minha mão da sua, não estava em boa situação, sempre fui rancorosa. Tinham pessoas pelo quarto chorando, mas aquilo não me atingiu. –Eu te amo, minha neta e gostaria de tê-la conhecido melhor. Eu gostaria de poder me redimir, de tirar esse rancor e tristeza que parecem tão enraizados em seu olhar.– Ele se virou para as quatro pessoas no quarto. –Não chorem por mim. Todos nos encontraremos um dia. 

A cena que se seguiu foi emocionante até para mim e meu coração de pedra.  

—Já posso ver a face de Deus. –Ele murmurara debilmente olhando para o teto, uma lagrima solitária escorrendo pelo canto dos olhos. Ele desmaiara logo depois, varias enfermeiras tinham entrado no quarto após isso. Aquele homem que eu chamei de avo por poucos momentos morrera naquela mesma noite e assim eu descobrira algo. 

A vida em si também era uma casa temporária.

[...]

—Sinto muito por seu avô. –Disse um colega de escola meu. Era meu único amigo e também um grande amor platônico. Eu lhe dirigi um sorriso. Seth tinha mudado tanto. Estava muito mais alto e corpulento, tinha cortado os cabelos e parecia com febre o tempo inteiro. Eu gostava dele desde que era um rapaz magricela e brincalhão, mas era absurdo aquela mudança física. – Soube o que houve.  

— Não se preocupe, Seth. Eu apenas o conheci por alguns momentos. – Disse olhando o mar revolto da praia de La push. Meu amigo passou o braço pelos meus ombros e senti meu coração acelerar no aconchego de seu calor. 

—Você é tão fria que as vezes me intimida, sabia? –Ele me perguntou me olhando de esgoela. Eu dei um pequeno sorriso e ele correspondeu, estávamos bem próximos e minha mão tremeu com nervosismo. 

— Como eu o intimidaria Seth? –Perguntei com humor, ele era tão seguro, tão bem humorado e tão incrível – E não sou tão fria. 

— Você me intimida o tempo inteiro, Crystal. – Ele tinha murmurado para mim suavemente. Seus olhos queimando nos meus e o ar ficou preso na minha garganta – Eu sempre tento, crio coragem e acabo desistindo quando olho nos seus olhos. 

—Tenta o que? – Perguntei me questionando se eu desmaiaria ali mesmo. Seth não me respondeu, não com palavras, mas a proximidade lhe facilitou para que seus lábios apenas tocaram os meus suave e lentamente. 

Eu não sabia, mas Seth também era apenas uma casa temporária. 


This is my temporary home (Essa é a minha casa temporária)
It's not where I belong (Não é onde eu pertenço)
Windows and rooms (Janelas e quartos)
That I'm passing thorugh (Pelos quais eu estou passando)
This is just a stop (São só paradas)
On the way to where I'm going (Na estrada para onde estou indo)
I'm not afraid because I know (Eu não tenho medo porque sei)
This is my temporary home (Essa é a minha casa temporária)

Seth tinha me convencido a usar aquele final de semana para poder ir até Seattle fazer minhas compras de rotina. Não costumaria ir, normalmente, com a onda de crimes, mas o modo como Seth dissera que Seattle estaria segura hoje me deu certeza.

Eu confiava nele e Seth acabara se tornando conhecido por ter um bom instinto desde que tínhamos começado a sair. 

Eu fiz as compras como sempre, mas acabei demorando demais, todavia não estava preocupada. A tranquilidade da área era conhecida, apesar de estar vazia. Não era um local particularmente propenso a crimes. 

A rua estava vazia quando comecei a abrir meu carro, então ouvi um barulho as minhas costas.

Eu não me virei pra ver o que era, estava procurando a chave do carro no chaveiro. Eu tinha que parar de arrumar chaves pra tudo. Então, repentinamente, eu senti uma mão fria segurar minha nuca e me girar, vi olhos vermelhos de demônio e cabelos loiros de fada num rosto branco de querubim. Meu coração acelerou, o sangue pulsou nos meus ouvidos e eu me tencionei como que num instinto animal e primordial de que estava perante um predador. 

Então ela sorriu e seus dentes rasgaram minha garganta enquanto eu olhava assustada pra ela. Quando senti seus dentes em minha traqueia olhei por cima do ombro da garota que seria meu fim e vi um rapaz de cabelos escuros, olhos igualmente carmins e rosto de querubim. Ele nos olhava apavorado. 

Eu queria dizer a ele que não precisava ter medo. A vida era temporária. Uma casa temporária.

Não me importava de partir daquela casa temporária com o rosto dele sendo a ultima coisa que eu veria. 

—Jane, não!

A voz dele foi a ultima coisa que eu ouvi. Foi um bom final... Se tivesse realmente sido um final. 

[...]

Queimava. Eu só sentia fogo. Só havia o fogo. Eu gritava, me debatia e lutava. Queria morrer, queria que o fogo se extinguisse com o fim da minha vida. Queria matar quem me jogara na fogueira, mas depois de um tempo comecei a tentar contar quanto tempo faltava pra morrer. Quanto tempo podia queimar e não morrer? Não parecia lógico. 

Me lembrei dos olhos vermelhos da garota. Me lembrei do garoto com aparência de anjo. Me lembrei da dor. Eu só sentia dor. Não conseguia me fixar por muito tempo em nada além da queimação. Do desejo intenso de morrer logo pra ter sossego. 

Naquele momento eu desejara até ter morrido naquele dia aos quatro anos. Ser estuprada e morta doeria muito menos do que aquilo. Eu estava delirante e aqueles pensamentos eram desesperados, mas eu só entendia a queimação. Era parte de mim. 

Queimar se tornara parte de mim. 

[...]

— Eu sou um monstro. – Minha voz de sinos ao vento me provou. Eu estava sentada na maca de uma sala. Um rapaz a minha frente. E outras dez pessoas mortas e ensangues ao meu redor. Eu era uma vampira agora. A queimação fora a transformação e a sede sua consequência. As pessoas a minha volta eram minhas vitimas. 

— Não é. É uma vampira. É bem diferente. – A voz suave me respondeu, ergui os olhos para ele. O garoto de rosto de querubim que eu pensara que não me importaria de morrer se minha ultima visão fosse seu rosto. –Meu nome é Alec. Alec Volturi. 

—Meu nome é Crystal. Por que fui transformada, Alec? – Ele era bonito, tinha as mesmas feições de querubim que a menina que me mordera. Ele era o anjo que eu me lembrara durante a transformação. 

—Minha Irma iria se alimentar de você. Você me olhou quando ela a mordeu e fui incapaz de deixar que ela a matasse, mas você já tinha visto e tinha veneno no seu organismo. – Ele explicou calmamente, com uma franqueza surpreendente. Todos os vampiros eram tão sinceros? Assenti, apesar da atordoação – Nós somos a realeza no mundo vampiresco, os Volturi. Nos temos poder e proteção. Mantemos a ordem e as regras. Eu sou parte disso.  

— Por que está me contando isto? – Perguntei já sentindo a queimação novamente. Eu estava com sede. Queria mais. Ele me olhou meio confuso – Sobre quem são. 

—Queremos que se una a nós. – Disse breve e sinceramente. Sabia que se meu coração ainda batesse teria se acelerado e não entendi o porquê. Meu corpo me fazia ter impulsos estranhos, eu queria me lançar nos braços dele. Por que eu queria aquilo? Eu sentia como se ele... Fosse meu. 

Eu sentia aquela ligação estranha do ultimo momento da minha vida humana. De olhar nos olhos carmesim de Alec Volturi e não me importar de estar perdendo a minha vida. Aquilo era confuso. Eu não compreendia. 

— Eu... Preciso pensar. 

[...]

Eu não permaneci com os Volturi a principio. Viajei pelo mundo e em poucos meses ouvia boatos sobre um clã que confrontaria os Volturi e o fato deles estarem reunindo pessoas. Todavia quando ouvi o nome deles, da família deles, fiquei assustada com a familiaridade. Eu me lembrava de memórias lamacentas e distantes, com vozes roucas e feias onde eu já ouvira aquele nome com muita frequência. 

Eu não me tornara o tipo de vampira que se apegou demais a memórias humanas. Durante minha transformação tinham sido os olhos de Alec e seu rosto de querubim que vinham até mim... Então, minhas memórias humanas eram fracas. Amum dizia que eu esquecia a maior parte delas com o tempo.

—Cullen? – Questionei surpresa, meus tempos como recém nascida estavam sendo passado no oriente, um local pelo qual sempre me interessara, e ali conhecera alguns vampiros curiosos. Eu gostava mais de Benjamin e Tia, apesar de Amun e Kebi não serem tão más companhias, bem... Kebi não era. 

Amum era super protetor com aqueles com quem colocava sob sua asa. 

—Sim, eles apareceram enquanto você estava fora caçando. – Tia explicou entrando no local, assenti meio assombrada. Eu vivera com vampiros o tempo inteiro e não soubera. Me lembrava da amiga de Jacob, Bella. Ela não namorava um Cullen? Ela era vampira? Jacob... Seth... 

E eu tinha pensado a pouco em voltar quando me controlasse e encontrar Seth. Minha mãe também era alguém de quem eu pretendia procurar saber... Alec mantinha contato virtual comigo. Ele me informara que eu tinha sido dada como desaparecida. Minha mãe sofria minha falta, mas ele tinha me aconselhado a deixar assim. Era melhor. Quanto a Seth... Quantas mentiras podiam ter sido contadas a mim? Senti o ódio se inflamar dentro de mim lentamente. 

Era muito fácil sentir ódio passional naquela forma jovem. Amum, quem mais me instruía sobre aquele mundo, dizia que passaria com o tempo. 

— Ainda estão aqui? – Perguntei e Benjamin assentiu – Posso ver o líder?

Benjamin me guiou pela casa decorada com imagens de deuses egípcios e espólios de antigas batalhas da qual Amun participara até a sala onde ele se reunia com o líder, eu imaginava quem encontraria, eu fora ao hospital de Forks uma boa quantia de vezes e não foi surpresa encontrar Carlisle e sua esposa Esme junto a Amun e Kebi. 

— Crystal pediu para conhecê-los. – Benjamin explicou enquanto eu me aproximava. Eu olhei para eles e encontrei ambos me olhando surpresos. Carlisle, que eu vira tantas vezes em minhas enevoadas memórias humanas e indistintas, estava a minha frente com um glorioso corpo imortal.

Um vampiro médico. 

— Oh, Carlisle está é Crystal. É uma recém-criada que tem estado conosco nos últimos dois meses, ela é brilhante. Se acreditasse no dom que ela tem... – Amun se interrompeu quando viu a maneira que eu olhava para Carlisle e como ele me olhava – Se conhecem?

—Eu a conheci humana. Uma das desaparecidas de um ataque de recém-nascidos a um bom tempo. – Carlisle murmurou surpreso. 

—Não. Eu fui transformada pelo veneno de Jane Volturi. Ela pretendia me matar, sabe? Preferiram me poupar. Valia mais viva. – Respondi simplesmente, as palavras dubias e ariscas propositalmente, então os encarei fixamente. – Estive cercada de Vampiros e nunca soube. Vai me dizer que Seth... Jacob... 

—Não. Eles são humanos. – Ele suspirou e me lançou um olhar de desculpas - Ou pelos menos algo semelhante. Eles são transmorfos... Deve se lembrar dos boatos de lobos gigantescos...

—Eram eles... – Eu senti o ódio queimar em minhas veias congeladas. Era tão fácil me exaltar naquela forma; eu costumava ser uma pessoa controlada até me tornar vampira. Em alguns meses descobriria que não passava da fase de recém-nascida. Só que agora tudo que eu sentia era ódio, ultraje e indignação. Traíção. – Quantas mentiras, Carlisle. 

— Sentimos muito querida. – Esme murmurou intervindo. Ela devia conhecer o gênio recém criado bem, com tantos vampiros ao redor. - Bella gostava tanto de você, ela sofreu por semanas quando soube que você tinha desaparecido. Se culpou por tanto tempo... É por ela que estamos aqui. 

Eu ouvi pacientemente de que eles precisavam de nossa ajuda, não explicaram o por que, apenas que tínhamos que ir, mas diferente de Amun, Kebi, Tia e Benjamin eu tinha saído naquele dia. Ouvira os boatos e não estava disposta a ir contra os Volturi. Mesmo para um vampiro jovem, talvez principalmente para um jovem, era possível ouvir as histórias passadas dos Volturi. Eu não iria me arriscar por pessoas que só me ofereceram mentiras e traições. 

Seth. Ele estaria lá também... Uma fisgada soou no meu coração gélido.

—Sinto muito, mas não pretendo ajudar, Carlisle. Vou partir. Não estou preparada para encontrar com Seth novamente, ainda mais sendo... – Hesitei e sai do cômodo, ainda pude ouvir Amun dando mais detalhes de minha transformação e de meu dom que começava a se manifestar. 


This is our temporary home(Essa é a nossa casa temporária)

Tinham se passado três anos. 

Eu não sabia usar muito bem meu dom, mas era o suficiente para me manter parecida com humana quase o tempo inteiro. Ele me dedicava à capacidade de causar ilusões nas mentes humanas ou vampirescas e em alguns casos em torna - lãs realidades, como o meus olhos,que eu sempre ocultava da população. 

Eu vivia entre humanos com facilidade com um dom de camaleão como o meu. E eu também os caçava, mas daquela vez eu tinha decidido voltar a Forks. O dia nublado e suavemente chuvoso era tão familiar, eu sabia de tudo que tinha acontecido na "guerra fria" contra os Volturi, Vladimir e Stefan tinham me contado tudo. Eu conhecera muitas pessoas nesses tempos.  

Passara um tempo inclusive no sul. Não era um lugar agradável, se você não for alguém disposto a disputar território ou ser peça de xadrez no jogo de quem quer. 

O norte era melhor, andei entre as florestas em velocidade humana. Sentindo os cheiros...  cachorro molhado e de vampiros. E um mais... Humano. Quase isso. Talvez fosse a hibrida, Reneesme. Eu sabia que estava perto da mansão quando ouvi barulhos de passos e então um grande lobo cor de areia me atacou. 

Ele me lançou longe e eu deixei que meu corpo colidisse contra uma arvore. 

Eu estava com meu dom ativo, então pareceria humana. Me levantei um pouco no chão, lentamente o suficiente para ser ambígua sobre ser humana ou não, e vi o cão ganir e choramingar ao me olhar. Ele se enfiou na moita e quando voltou era Seth, com uma bermuda e sem camisa como eu o vira tantas vezes. 

Ele ainda tinha o mesmo rosto de menino de antes. 

— Seth... – Murmurei e ele me segurou pelos braços me erguendo e me abraçando. A força dele não era nada para mim, mas se fosse humana iria doer. Senti minha cabeça doer pelo esforço, não era antiga e não era boa usando meu dom. 

—Eu sabia que era mentira. Sabia que Carlisle tinha se enganado e que não era vampira. –Ele sorriu e tocou seus lábios nos meus, o cheiro de cachorro molhado me sufocou e era repugnante. Como eu não sentira aquilo antes? Eu era humana, obviamente, e não sentia direito. Só isso podia explicar aquele cheiro repulsivo ter passado despercebido. 

Meu poder caiu e ele se afastou bruscamente. 

— Meu dom cria ilusões. E algumas vezes as torna reais, mas eu não posso manter muito tempo. Sou muito jovem. – Respondi simplesmente. Ele me olhava assustado, como se seus maiores pesadelos estivessem se concretizando ao esquadrinhar meus olhos vermelhos, e eu podia o ver respirando fundo. Conferindo o cheiro. – Eu sou uma vampira, Seth. E você um maldito mentiroso, um transformo! Mentiu pra mim enquanto era humana!

— Crys... Eu... –Ele tinha olhos assustados pra mim. Seth era uma criança. Ele viveria muito, talvez tanto quanto eu mesma, com minha imortalidade, mas ser vampira me amadurecera muito mais do que ele naqueles anos. – Como?

Como... A passionalidade, ainda não totalmente controlada, explodiu para fora de mim. 

—Como?! – Berrei furiosa com ele, meus olhos flamejando com sua ingenuidade estupida. – Você me mandou pra Seattle naquele dia! Os Volturi estavam lá e Jane tinha sede. Teria morrido se Alec não a tivesse impedido e me salvado. 

— Volturi?! – Ele parecia assustado e cambaleava para trás. Seus olhos estavam lacrimejados. Se Seth não tivesse mentido tanto para mim, se eu não estivesse tão irritada, eu teria sentido compaixão. Seth me amara um dia e agora eu me tornara aquilo que ele considerava mais repulsivo. – Eu... Sinto muito, não devia ter lhe mandado a Seattle. Eu apenas... a queria segura naquele dia.  

— Se tivesse me contado a verdade eu teria estado segura. – Respondi e respirei fundo, me retrai com o cheio e a consciência me atingiu. Eu e Seth agora éramos inimigos de raça e nunca mais ficaríamos juntos. O olhando eu conseguia entender que não o amava mais. Não havia nada de atraente nele a mim. Não havia nenhuma vontade de correr até ele, de beija - lo e de me deixar ser abraçada por ele. Eu sentia que ele não era meu. Ter ido até ali fora um erro. – Mas agora acabou. Eu apenas vim para ver com meus próprios olhos a mentira que você sempre foi. Como me enganou e mentiu pra mim em cada momento que tivemos juntos. 

— Eu te amei, Crystal, e menti pra te proteger! – Ele estava gritando comigo agora e lagrimas corriam pelo seu rosto. 

—Então, olhe pra mim e veja se ama o que vê Seth. – Retruquei friamente. Seth engasgou e eu vi a resposta em seus olhos quando ele não conseguiu falar – Pois bem. Eu também já não o amo.  

A vida humana tinha sido uma casa temporária. Assim como Seth. Agora eu iria atrás de uma permanente. 

[...]

Eu vagara por mais quinze anos em prol de conhecer o mundo que eu nunca tivera a chance de ver antes. Ocasionalmente, Alec me informara sobre a minha mãe. Ela sofrera um luto intenso pelo meu desaparecimento, mas ela adotara outra criança. Minha mãe era gentil assim. A minha perda não fechara seu coração. 

Então, o veneno que corria em minhas veias me puxou de volta para onde eu viera. Pelo menos como vampira. Meu dom tinha melhorado com os anos, agora eu o mantinha por tempo indefinido, não chegara a tentar um limite, mas já ficaram cinco dias sem me cansar. Os anos distantes do local que me chamava para retorno também tinham sido para me compreender. 

Eu então voltei a Voltera. A casa dos Volturi. 

— Quem é você? –Um vampiro alto e magro me recepcionara. Eu não acreditava que ele não se lembrasse de mim por mais que tivéssemos nos visto pouco. Éramos vampiros e tínhamos memórias perfeitas e imaculadas. Eu sabia exatamente que aquele era Dimitri Volturi.

—Meu nome é Crystal. Eu vim para me unir aos Volturi. 

Enquanto Demitri me guiara até a audiência com Aro eu me lembrei do rapaz de cabelos escuros, irmão de Jane, que pedira pela minha vida. Sempre que eu falava daquilo com Benjamin ou Tia, eles me diziam que talvez ele fosse meu parceiro, por isso me salvara. Alec tinha vivido muitas e muitas vidas, portanto era mais sábio e poderia reconhecer-me. Eu era apenas uma criança perto dele, juntando meus anos humanos aos vampiros eu tinha pouco mais de três décadas. 

Eu mostrei toda minha vida a Aro, que se deliciou com cada pedaço dela e de meu dom. Eu era uma arma, ele comparou meu dom a de uma brasileira chamada Zafrina, mas meu dom era mais voltado a mim mesmo. Ele queria saber se eu poderia projetar, mas com tão poucos anos de existência... Não tinha como ter certeza. Era algo que ele poderia trabalhar com os anos. 

— Mas não se preocupe minha cara! O seu é superior. Tenho que agradecer em muito a Alec e Jane por terem me proporcionado o prazer de tê-la em nosso mundo. – Aro disse em animação – Bem vinda ao nosso mundo. 

Demoraram outros dez anos para que eu tivesse coragem de perguntar a Alec o porquê ele me salvara. Eu gostava da companhia de Alec e tinha o amado mais a cada dia desde que chegara aos Volturi. Nós quase sempre pairavam um para o outro inconscientemente. Não declaramos uma parceria, não falamos daquilo e deixamos tudo acontecer no ritmo dos imortais. Não havia motivo para pressa. 

Nós tínhamos a eternidade. 

— Seus olhos. Eu vi tudo que procurei por toda a eternidade neles, então não poderia deixar jamais Jane matar alguém tão importante para mim. – Ele me respondeu me encarando com intensidade, era vermelho no vermelho. Éramos iguais, compatíveis. Naquela noite estávamos sentados no telhado do palácio do relógio. A brisa balançava meus cabelos negros e mexia suavemente nos fios castanho escuros dele. – Seus olhos não são mais azuis, mas contem a mesma pessoa que naquela época. Minha Crystal. A pessoa que amei desde o momento em que a vi. 

Quando Alec me beijou eu sentia o mundo rodar e se posicionar finalmente em seu eixo, ele era o que eu esperara. Ele me completou e nos braços dele eu finalmente me sentira em casa. Um eco de braços de uma mulher que fora destruída, mas que me passara a mesma sensação, só que agora com todos os sentimentos potencializados da vida vampírica. Seus lábios se moviam com suavidade sobre os meus e seus braços me rodeavam me aproximando a cada instante mais. 

— Eu te amo, Alec. –Murmurei suavemente. 

— Eu também te amo, Crystal. 

[...]

Eu encontrara minha casa permanente em Alec. A vida, os locais e as pessoas eram temporários e nos abandonavam, mas o amor de um vampiro não. Era único e nos deixavam de uma maneira que só acontecia uma única vez. Eu era uma humana com uma percepção além de todas que sentira isso na vida humana, que nenhum local era meu lar. 

E como vampira eu também tive minhas casas temporárias. O Egito com Benjamin e Tia, a Romênia com Stefan e Vladimir, México com Maria. E talvez os Volturi talvez fossem uma casa temporária, pois eu não me encaixava em todo ali. Todavia Alec era minha casa permanente. Eu fora feita para ele e ele para mim, sempre seria assim. 

Olhei para ele, encarando a imensidão vermelha de seus olhos. Se um dia ele abandonasse os Volturi eu iria junto. Por que eu pertencia a ele. 

O amor de Alec era minha casa.

Não importava aonde eu estivesse, Alec Volturi era a minha casa permanente. 

 


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Notas finais do capítulo

Bem, a primeira vez que tive contato com essa musica foi numa fanfic Sirius Black e Oc. Eu não lembro mais muito da história, se não me engano eu tinha 12 anos quando li essa historia. Atualmente tenho quase 17. Eu lembro que ouvi a musica enquanto lia a tradução e começara a chorar. Um ano depois minha avó morreu e essa musica se tornou ainda mais especial pra mim, pois me lembra ela demais. Principalmente da jovem mulher e no final do homem no hospital. Não consigo ouvi - la sem me emocionar.

E eu amo a Carrie Underwood ♥ Espero que tenham gostado e é só

Ruby ' s Kiss



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