Defeitos de Fábrica escrita por Lorena Luíza


Capítulo 14
XIV. Trilho negro


Notas iniciais do capítulo

ESPERO QUE GOSTEMMMMMMMMMMM!



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A quantidade absurda de cicatrizes que sempre tive espalhadas pelo corpo nunca foi o suficiente para me fazer ficar calado.

As marcas podiam, sim, continuar no mesmo lugar, e o ódio também — quem sabe ele até aumentasse com o passar dos anos —, mas a relevância disso tudo em quem eu era e sempre quisera ser era igual a zero. Espancar-me, me colocar em escolas cada vez mais rígidas, tirar as únicas coisas capazes de me deixar feliz de verdade e usufruir de todos os adjetivos existentes para me chamar de lixo ingrato também não foi o suficiente.

Poucas foram as vezes em que me obrigaram a não dizer alguma coisa ou a não fazer algo que eu queria. Agir daquela forma com a Liana, falando bobagens para ela e tentando mudá-la, não conta nessas vezes. Eu o fiz por achar que isso era o certo e porque eu queria, não por ter sido obrigado por outra pessoa — e quem me obrigaria a isso, afinal? Se pessoa alguma além de mim se importava com como ela estava atualmente, então ninguém sequer teria motivos para querer proteger o seu futuro. Se eu não o fizesse por querer, ninguém me faria fazer isso, faria? Você faria?

Ficar calado nunca havia sido por minhas próprias escolhas e desejos, ao menos não no restante das vezes. Minha mãe sempre mandara nisso, como se somente o fato de ter me parido fosse o suficiente para poder me intimidar e trilhar os rumos da minha própria vida. Tudo, tudo poderia ter sido absolutamente diferente e melhor caso eu pudesse fazer minhas próprias decisões desde sempre. As coisas poderiam ter dado mais certo se ela não houvesse jogado fora a vida melhor que nós três podíamos ter, trocando-a por aquela criaturinha irritantemente perfeita que, como todos diziam, era a filha certa do pai errado e tudo o que eu, filho errado do pai certo, devia ser.

Antes de tudo, já é bom dizer que, mesmo sem Anderson para acabar com tudo, eu já não nasci sob circunstâncias normais e coisas assim. Minha mãe e meu pai nunca foram exemplos de perfeição e, para falar a verdade, eu não ficava nem um pouco feliz de me parecer com os dois em vários aspectos.

Mas havia algo que me fazia sentir-me não tão mal. Bem, eu me parecia mais com a minha mãe do que com o meu pai, e eu a preferia mil vezes a ele.

E por quê?

Porque ela não me deixara para trás em momento algum. Ainda que eu tenha passado anos e anos da minha vida às custas dos meus avós ou sem muita atenção de sua parte, ela não abriu mão de mim nas diversas vezes em que minha família materna, depois de já me encontrar criado, resolveu vir atrás de mim e quis levar-me com eles. Eu lembro-me muito bem de como ela cuidava de mim e do meu irmão quando éramos bem pequenos, e o único problema é o fato de ela ter mudado tanto com o passar dos anos. Isso sim foi o que realmente sempre veio acabando com tudo.

Eu tinha recordações de várias vezes em que ela me defendera quando eu era pequeno, e mais ainda de quando eu a defendera. Quando ela me buscava na escolinha, não era difícil aparecerem outras mães para cochichar perto de mim sobre o quão absurda e errada a minha família era. Elas sempre falavam como se a idade da minha mãe, o fato de ela já ter dois filhos e, principalmente, ser mãe solteira a fizessem ser alguém pior e uma mãe muito ruim para Anderson e eu. Mas não, ela não era. Eu juro que, com tudo o que já havia feito, ela ainda não era.

Mas menosprezar a minha mãe que havia acabado de sair da adolescência ainda não era bom para aquelas mulheres, definitivamente não era. Elas diziam ainda e com todas as palavras que ela era vadia, que na idade dela ainda brincavam de mamãe e filhinha com as bonecas ao invés de terem "bonecos de verdade". Falavam que ela não tinha vergonha na cara o suficiente para cuidar do pobrezinho do Anderson e de mim, jogando-nos em cima dos nossos avós que nem sequer tinham algo a ver com isso, e que no lugar do meu pai fariam a mesma coisa.

E elas falaram isso tudo na minha frente. Não tenho ideia de quantos anos tinha, mas com certeza era bastante novo.

E então a minha mãe apareceu para me buscar e fez um devido barraco com as duas. Ficou feio? Ficou horrível, puta merda. Mas ela não estava errada. Ela tinha feito as suas cagadas, sim, mas isso não era motivo para escutar coisas assim de gente que nem sequer conhecia. E eu me orgulhei disso, de quem ela era e de como ela havia agido e como agia naqueles tempos. Deixei-a me pegar no colo mesmo que já fosse grandinho para isso e nós fomos embora.

Ela nunca mais me buscou na escola depois daquele dia.

Eu, minha mãe e meu irmão moramos um tempão com os meus avós maternos, que eram chineses e se sentiam os gostosões por terem algumas lojas de bugigangas pela cidade. Minha mãe não se dava bem com os próprios pais e eles brigavam o tempo inteiro, o que havia sido só mais um motivo para, quando eu tinha uns cinco anos, nós termos saído de São Paulo e ido para Sorocaba. Voltamos para a casa dos meus avós quase dois anos depois por falta de dinheiro e, com isso, eu só ficava cada vez pior, já que todas aquelas brigas e mudanças somadas ao quão confuso eu estava por causa do alguém diferente que minha mãe se tornava só me faziam um pirralho ainda mais desconfiado e estranho.

Eu ficava cada vez mais chato, mais quieto e antissocial. Não abria a boca para falar com ninguém a não ser que me perguntassem. Já sendo da mesma forma que eu sou atualmente, não via a necessidade absurda de algumas pessoas de ser reconhecido, de ter amigos ou simplesmente alguém para me querer. Se houvesse, tudo bem — se não houvesse, então tudo bem também. Podia doer muito às vezes, ainda mais quando o culpado por isso não era eu, mas isso não significava que eu morreria por isso. "Eu não vivo sem fulano ou fulana" era algo que jamais sairia da minha boca.

Mas e o Anderson diante disso tudo, dessa treta toda? Ah, o Andy ainda era um amor, por que não seria? Estava sempre correndo atrás de fazer novos amigos e sofria quando os perdia, porque era muito sentimental, doce e gentil. Claro que estava tudo bem com ele, pois não era aquele filho da puta quem vivia sendo chamado — e feito — de lixo. O que falavam sobre ele sempre na minha casa, tanto os meus parentes quanto as visitas?

"Tão educado, aquele menino. Divertido e carinhoso, só sabe trazer felicidade para casa. É meio burrinho, mas e daí? Ajuda nos negócios da família mesmo sendo bem pequeno e não arruma briga com ninguém. Nunca traz problemas e é mesmo um exemplo de boa criança. Não merecia ter nascido sob circunstâncias tão ruins, não é?"

E o que falavam sobre mim?

"Mas e aquele outro, que não sabe aproveitar todas as oportunidades que já teve e só traz desgostos? Para que serve a escola tão cara que os seus avós paternos lhe pagam, se a única coisa que ele sabe fazer era ficar excluído num canto, responder mal os professores e procurar todas as formas de ser esquisito e anormal? Não importa se é inteligente ou não; ele é estranho. Não tem respeito pelos outros e não quer seguir o destino bom que a família paterna lhe proporciona, muito menos ajudar nas lojas da materna como todo o restante dos parentes faz. É o mais velho, mas o menor e não um belo exemplo para o irmão mais novo. Poderia ser um bom menino, aproveitando a influência boa de todos os seus avós, mas prefere escolher os trilhos negros da vida e jogar fora tudo o que a vida lhe dava.

"Seu pai e seus avós têm dinheiro, não têm? Então por que não ser alguém bom e dar orgulho a eles para conseguir ainda mais benefícios? Imagine o quão bem nós viveríamos se esse menino não fosse assim, todo cheio de manias e só gostando de tudo o que é errado. Bom, mas ainda bem que temos o Andy."

E o que falavam ao mencionar nós dois?

"Todos os adultos da rua não querem que suas crianças brinquem com o Alex, que é seco e não faz amizades, mas está tudo bem se for com o Andy. Quem quer trocar Pokémon ou brincar com os gatinhos que o Alexander esconde atrás da casa dos avós? Não, ninguém quer — sabe que a vizinha disse que ele tem jeito de psicopata e acabará afogando os bichinhos um dia, né? Mas brincar de pega-pega e jogar no videogame que o Andy ganhara do papai dele, que era super legal e morava no Japão, aí está tudo bem. Não tem problema, não. Podemos até chamar ele pra dormir em casa que está tudo bem também."

"O Andy é super legal, mesmo. Empresta as suas coisas para todos os amiguinhos da escola e nem fica bravo quando as quebram, meu filho disse que ele é um amor. Todos podem perguntar para ele coisas sobre a China e o Japão, ele sabe tudo, tudo mesmo! O Alex até pode até ir para uma escola melhor que a dele e fazer cursos de outras línguas, canto e alguns instrumentos, mas de que vale isso tudo se ele é tão estranho e antissocial? O Andy só faz bateria e é muito bom nisso, mas de que adianta o Alex saber muito mais se ele só sabe agir como um metido?"

"Vocês já repararam que ele parece até uma garota com aquele tamanho e aquele rosto? Se os pais não o mandassem cortar os cabelos e o vestissem em algo mais normal, certeza que pareceria ainda mais uma menina — todo mundo até já ouvira que ele gosta de garotos, tá sabendo que estão dizendo isso pela escola? É verdade mesmo?

E aquelas músicas horríveis que escuta? Pelo amor de Deus, a Érica disse que uma das únicas coisas que ele pede para o pai é para enviar esses CDs com esse tipo de música para ele ouvir. Isso lá é música de criança escutar? Como vocês estão criando esse menino?"

Era sempre assim. Sempre, sempre e sempre.

Sempre gente me perseguindo por eu não fazer absolutamente nada certo, mas também não fazer nada errado. E eu sinto falta desse tempo em que eu apenas escutava esse tipo de coisa, porque escutá-las e sofrer fisicamente por causa delas não foi muito melhor.

Antes de começar a crescer e, consequentemente, a piorar mais ainda, eu era praticamente um guarda-costas do Anderson. Eu não podia sair de perto dele em momento algum. Meus avós e minha mãe não ficavam em casa, então eu não tinha tempo para porra nenhuma além de ver se o precioso Andy estava bem, se havia comido, se dormia direito e coisa assim. Era como se eu fosse uma porra de empregado para ele, só que sem remuneração e sem um único "obrigado" no final de cada dia.

Como se não bastasse, havia tanta gente que o odiava quanto gente que o amava. Não era incomum apanhar por ele ao menos uma vez por semana e escutar um "você é o mais velho e já não faz nada para ser um exemplo, então não fez nada mais do que sua obrigação" em agradecimento. Eu tinha que ficar o meu tempo livre inteiro atrás dele, evitando que babacas gritassem em seu ouvido ou arrancassem o aparelho auditivo para jogar em cima de alguma casa. E quando eu não impedia, a culpa era de quem? Claro que era minha. Aí eu apanhava de novo.

Mas era óbvio que eu não ficaria para sempre apanhando apenas por causa disso. Como eu disse, quanto mais eu crescia, mais como anormal os outros me viam e mais eu tomava no cu por causa disso. Não tenho consciência de quantas vezes gente que não me conhecia já me espancou no meio da escola ou rua, mas parei de contar na décima — e isso já faz muito, muito tempo.

E não, não acabou ainda.

Eram cada vez mais reclamações chegando aos ouvidos da minha família, tanto da escola quanto dos vizinhos. A escola reclamava de eu ser motivo de baderna e tirar a atenção dos outros alunos como se escutar bosta e apanhar fosse culpa minha, como se eu andasse com uma porra de uma placa piscando e implorando para que ficassem olhando para a minha cara, me apontando, rindo de mim ou me chamando de bicha. As pessoas pichavam palavrões nos muros da casa dos meus avós como se soubessem o quanto eu me foderia por causa disso.

Meu avô era só mais um dos filhos da puta com quem eu tinha de lidar. Cada palavra que eu dizia, cada olhar que eu lançava a ele era motivo para me encher de porrada e me chamar de ingrato. Ele perguntava e perguntava quantas pessoas queriam ter a minha família e o quanto o Andy merecia ter nascido no meu lugar e ter o que eu tinha. Tudo isso porque ter a cara que eu tinha, agir como eu agia e ser quem eu era não eram válidos para a pessoa de quem eu havia sido gerado.

Claro, o meu pai era rico e apenas isso já o fazia muito superior para o meu avô, mesmo. Como se eu tivesse de viver pelo que ele e a minha família queria, não por mim mesmo.

Ainda que eu faltasse cuspir em cima deles quando apareciam na minha casa, querendo me levar com eles para passar a porra do fim de semana consigo e, acima de tudo, ignorando o meu irmão como se ele fosse um pedaço de bosta, os meus parentes paternos ainda assim faltavam se jogar no chão para que eu pisasse em cima deles. Eu tinha nojo daquelas pessoas, que ficaram indiferentes a mim quando eu era uma criança realmente pequena e depois queriam se arrepender e compensar tudo com a sua merda de dinheiro.

E eu usufruía disso, sim. Muitas das únicas coisas capazes de me deixar feliz de verdade eu só conhecera por conta deles, ainda que elas somente fizessem o meu avô dizer ainda mais que eu lhe dava desgosto e me bater como se isso fosse me tornar o seu ideal de neto — ou seja, com o intuito de me transformar numa cópia barata do grande e perfeito Andy.

Eu não vou dizer que odiava o Anderson ou tinha inveja dele naquela época. Ele era ele e eu era eu, apenas isso. Nós tínhamos tantas diferenças quanto quaisquer irmãos em qualquer parte do mundo. O fato de ele ser mais normal ou mais sociável do que eu não o culpava por coisa alguma.

Não era ele quem falava mal de quem eu era, muito menos quem levantava a mão para mim. Para falar a verdade, ele chorava muito mais que eu quando o nosso avô decidia descontar a raivinha nas minhas costas. Trancava-se no banheiro e ficava lá o dia inteiro, soluçando como um idiota e falando que tudo era culpa dele mesmo sem saber de porra nenhuma do que estava acontecendo.

Ele não era um filho da puta.

Ainda.

Mas então nós fomos crescendo. As coisas mudaram. Eu não acho que tenha mudado, mas ele sim. Não era mais o garotinho bobo, brincalhão e até bem carinhoso que sempre fora, mesmo que eu sempre tenha visto isso como algo razoavelmente irritante. Tornara-se nojento, por mais que a face e os atos inocente ainda prevalecessem. Dando orgulho a sua mãe cobra que já trocara de escamas tantas vezes em sua vida, tornara-se traidor, falso e ingrato. Sim, era o ingrato era ele, não eu. E ele era ingrato a mim.

Não era como se não houvesse uma única pessoa no mundo inteiro que não fosse com a minha cara, e o contrário disso se mostrou bem possível a partir de quando eu fiz uns onze ou doze anos de idade. As coisas não haviam mudado e meu avô, para a minha felicidade, não havia morrido ainda, mas isso não me impediu de conhecer gente que não se aproximava de mim com o intuito de me tirar, me bater, me pedir resposta para alguma lição ou me perguntar como dizer algum palavrão em japonês.

Certo, a última coisa eles faziam. Todo mundo fazia. Ser julgado como japonês só por ser asiático é uma bosta (ainda que, tecnicamente, eu realmente tenha algo de japonês e não tenha escolhido isso).

E então eu fizera amigos. Gente que escutava o mesmo que eu, que fazia o mesmo que eu e que gostava de coisas parecidas com as de que eu gostava. Eu não fui, ao contrário do que todo mundo pode pensar e talvez ainda pense, uma pessoa sozinha desde sempre. Eu conhecia muitas pessoas. O mundo não se resumia à uma grande massa escrota, no fim das contas. Tinha gente que prestava. Não muito, mas até que prestavam o suficiente para alguém como eu.

Eram cada vez mais pessoas. O grupo de gente que eu conhecia aumentava e aumentava e eu apenas conhecia cada vez mais pessoas, algumas delas — muito poucas — se tornando mais íntimas comigo, outras menos. Nós não nos respeitávamos muito mais do que quaisquer amigos, mas éramos unidos todos por um mesmo motivo.

Uma garota e um cara. Alguns dos únicos que, a longo prazo, não haviam simplesmente preferido o Anderson ao conhecê-lo e me deixado para trás. Antes disso, era sempre o mesmo. Eu podia parecer interessante à primeira vista, ao menos enquanto estava evitando que conhecessem o tão encantador e doce Andy, e então era só um deslize para todos simplesmente me esquecerem e irem embora. Era praticamente sempre dessa forma.

Eu não era bom o suficiente, mas ainda assim ele também não era.

Porque eu podia não ser legal, divertido, brincalhão ou carinhoso, mas eu estava ali sempre. Eu não sumia ou simplesmente me cansava das pessoas de uma hora para outra. Quando eu ficava com alguém, eu não passava a fingir que havia esquecido-a em uma semana ou até menos. Eu não tinha uma coleção infinita de amigos para poder fazer isso, mas ele tinha e ele fazia.

Ele não era perfeito. Ele era falso e volúvel. Apaixonava e desapaixonava com a mesma frequência em que trocava de roupas, já sabendo que não demoraria muito para outro alguém aparecer e ficar no lugar de quem se fora. Se demorava para eu gostar e encontrar alguém, e daí? Isso era problema meu. Para ele, a única coisa que perderia roubando as pessoas de quem eu gostava era a minha confiança — e ela já havia ido pelo ralo logo na primeira vez em que isso aconteceu.

Mas não, não era todo mundo que me trocava por ele — e com o tempo, cada vez eu me importava e evitava menos isso, já que eu não era mais idiota para confiar em todo mundo tão facilmente. Quase todo mundo, para falar a verdade. Havia um ou dois alguéns em que eu realmente confiava e que jamais me haviam trocado — ao menos com quem eu tivera relacionamentos amorosos, e mais algumas pessoas de quem eu era até bastante amigo. Mas os principais eram aqueles dois, pois eles haviam aberto as brechas para eu conhecer todo o restante de gente que eu poderia ou não levar comigo pelo resto da minha vida.

Eu estava na sétima série quando o conheci, mas já a conhecia desde a terceira. Quando conhecera a garota, eu a odiava, diferentemente de como fora com o cara. Eu gostei dele assim que o conheci, mas a detestei de primeira.

É, eu gostava caralhamente dele e odiava muito ela. Tipo, muito. Se eu fui rude com a Liana quando a conheci, vocês não imaginam o quanto eu já fui cu com essa garota — ela deve ter sido a primeira pessoa a se aproximar de mim mesmo já sabendo do quão perfeito o Andy era e, mesmo assim, eu ainda não era lá muito amigável nessa época. Não que depois disso eu tenha me tornado.

Ela era irritante, estranha e perseguidora. Um milhão de vezes mais grudenta que a Liana, porém com o acréscimo de uma boca sujíssima, um talento nato para se meter em briga por causa dos outros e uma aparência eterna de menininha de dez anos.

Ele era talentoso para caralho, ainda mais estranho que ela, seis anos mais velho que a minha pessoa e o alguém mais legal que eu já conhecera. Era amigo de algumas pessoas estranhas da oitava série mesmo que não estudasse naquela escola, e um dia me chamou para ir conversar com eles. Foi ele quem me deu real incentivo e chances e para correr atrás do que eu queria de verdade para mim.

Os papéis dos dois se inverteram drasticamente depois de algum tempo. Ela se tornou uma das pessoas que eu mais amava — ou a única —, e ele uma das que eu mais odiava. Diferenças à parte, nenhum dos dois desapareceu da minha vida mesmo depois de todos esses anos, assim como quase todo o nosso grupo. Nós podíamos nos separar por tempos e tempos, mas sempre nos juntávamos outra vez, fosse num momento ou noutro, eu querendo isso ou não.

Ter aqueles dois e o resto dos meus "parentes" por perto era uma das únicas coisas que me fazia sentir-me realmente em casa.

Odiando-nos ou não, bem, nós éramos uma família. Eles estavam comigo para andar ao meu lado, ainda que uma hora ou outra sempre me dessem uma pequena rasteira ou chutassem uma pedra para me fazer tropeçar e rir da minha cara.

Mesmo nunca tendo me incomodado, a minha solidão não durara para sempre, então significava que a família podre, todos os meus problemas e a influência da Liana sobre mim também não durariam.

Ao menos era isso o que eu esperava, e era atrás disso que eu correria atrás.

Nada dura para sempre
Eu só sigo o meu caminho

Nós não chegamos ao fim de nossas vidas
Por que não podemos nos ver olho a olho?
Nós não chegamos ao fim de nossas vidas
Será que vocês simplesmente me deixarão em paz?

Qual é o sentido de especular sobre a vida (de alguém)?
Nossa jornada não é justa, apesar de tudo
Então, por que vocês todos não vão cuidar de suas próprias vidas?
Só se vive uma vez!

Agora eu sei no fundo do meu coração
As pessoas ao meu redor não aceitam o caminho que escolhi
É por isso que eu decidi fazer o que eu quero
Independente das consequências
Não importa o que aconteça, eu não voltarei atrás

Que seja!
Eu sigo o meu caminho! O meu caminho!
Eu não estou vivendo por você
Agora finalmente posso demonstrar isso em palavras
Eu já não me importo
Eu sigo o meu caminho! Eu sigo o meu caminho!
Eu não posso mais aguentar isso
Eu estou mudando
E nunca mais voltarei a ser o mesmo

Nós não chegamos ao fim de nossas vidas
Por que não podemos nos ver olho a olho?
Nós não chegamos ao fim de nossas vidas
Será que vocês simplesmente me deixarão em paz?

Não importa o que aconteça, até que vocês desistam
Não há como eu voltar a ser o que eu era
Eu não posso esperar! E trilho meu próprio caminho!
Não importa o que eu faça, sempre me ridicularizam
Se vocês não notaram, eu estou sozinho outra vez
Mas isso não significa que eu tenha que viver pelo bem dos outros!

Não há nada sem sentido
Até que chegue o fim,
Eu trilho o meu caminho

Com o tempo, vão entender
Que todos vocês não podem vencer contra mim
Reúna a sua sorte, porque isso não vai durar para sempre
Vocês não podem fazer nada por sua própria conta, certo?
Saiam fora da minha primeira história!

Cansei de viver dia após dia atendendo suas expectativas
Egoísta, mas eu gosto de viver minha própria vida
Louco? Ou vocês que são?
De jeito nenhum eu vou perder
E se vocês vão me dizer o que fazer...

Eu serei o "hater" se for preciso!
Esta é a minha política
Cansei de ser intimidado
Tudo se resume a mim
Mova-se ou está tudo acabado, simples assim!

Libero o meu caminho
Encontro o meu caminho
E viveremos nossas vidas

Não importa o quanto deseje e sonhe
Eu não posso mais voltar, certo?
Qualquer pessoa com responsabilidades está vivendo intensamente
Pois mesmo que tenhamos dúvidas e preocupações,
Nada vai mudar
Simplesmente erguerei minha voz até o fim

Que seja!
Eu sigo o meu caminho! Eu sigo o meu caminho!
Eu não estou vivendo por você
Dessa forma, irei finalmente encará-los
Ninguém poderá dizer mais nada
Não há nada impossível, é por isso que não abandonamos a esperança, não é?
Eu já me dei conta

Nunca mais serei o mesmo de novo!
Nós não chegamos ao fim de nossas vidas
Por que não podemos nos ver olho a olho?
Nós não chegamos ao fim de nossas vidas
Será que vocês simplesmente me deixarão em paz?
(Black Rail, MY FIRST STORY
Música tema do personagem Alexander Hoáng)


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, beijões e me deem reviews pelo amor de Deus pq eu to pobre