Conspiração escrita por Lura


Capítulo 8
Voltando para Casa


Notas iniciais do capítulo

Faaaaala galera!

Cá estou, com um novo capítulo bem antes do esperado (creio eu).

Nem eu estou entendendo esse ritmo de postagem, mas já alerto que as atualizações provavelmente não continuarão rápidas assim. Acho que isso é ansiedade para escrever logo a parte boa.

Enfim, espero que vocês gostem do capítulo.

Ah, como sempre, um agradecimento especial aos leitores que comentaram o capítulo passado: Giu Bloodie S2, GabbySaku, Vicky Scarlet e Miss Mandy. Peço também desculpas por não ter respondido os comentários de vocês ainda, mas prometo que o farei o quanto antes.



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Capítulo VII - Voltando para Casa

 

A bela ruiva - estonteante, diriam alguns - caminhava pelas ruas de Magnólia calmamente, alheia aos burburinhos e olhares famintos que provocava na macharada, por onde passava. De fato, não era sempre que Titânia tinha consciência do efeito que sua beleza exótica causava no sexo oposto, ou até mesmo no mesmo sexo.

Erza seguia seu caminho, preocupada demais para reparar na atenção que despertava, e distraída demais para se dar ao trabalho de arrancar a cabeça dos raros engraçadinhos que não tinham amor a própria vida e arriscavam um assovio.

Aquele sentimento estava a consumindo. E isso não era uma sensação tão boa assim, quando ele não estava por perto.

Há pouco mais de sete semanas, Jellal unira-se extraoficialmente a Fairy Tail. Aceitando a proposta do Mestre Makarov, o foragido aceitou adotar definitivamente a identidade de Mystogan, a fim de realizar serviços para a Guilda que… Bem, não poderiam ser feitos às claras.

Quando o rapaz lhe contou que aceitaria a proposta, Erza ficou feliz. Mesmo que soubesse que as viagens investigativas continuariam, ao menos agora, de tempos em tempos, ele retornaria a Magnólia e até mesmo poderia realizar as missões da guilda, como um membro oficial.

Todavia, ao mesmo tempo, ficou extremamente aflita. A ruiva não tinha certeza mas sentia que essas missões que o Mestre dava para Jellal não eram lá muito seguras. Tudo bem que ele não era nenhum jovenzinho indefeso, e tinha tamanho suficiente para se cuidar. Mas após o incidente com a Nihil Occultum, onde eles quase perderam a vida, o sangue frio da garota para conviver com o perigo já não era tão frio assim.

Erza sabia que Makarov pedira que o foragido continuasse investigando o desaparecimento de Lucy. Sabia que ele, possivelmente e provavelmente, continuava atrás de pistas que envolvessem a Nihil Occultum ou, quem sabe, o Conselho Mágico. Sim, era evidente que o Conselho poderia ter algum tipo de envolvimento. Embora Makarov nunca tenha permitido que o assunto prosperasse e ninguém dissesse em voz alta, todos desconfiavam do envolvimento do mais alto poder de Fiore, abaixo apenas da Monarquia, no sumisso da maga estelar durante três meses.

Com isso, fazia exatos 50 dias que Jellal estava em missão, e durante esse período, não mandara uma notícia sequer diretamente para a ruiva, o que a deixava com o coração na mão. Claro que preocupação não era o único sentimento que atormentava Titânia. Ela não admitiria para ninguém, mas seu peito as vezes latejava de tanta… Saudade. De uma forma que ela nunca havia sentido antes.

O sentimento que Erza nutria por Jellal não era recente. Embora ela soubesse há tempos que o que sentia era recíproco, os fantasmas do passado e as suas consequências projetadas no futuro jamais permitiram que pudessem ficar juntos. E ela lidava com isso muito bem, contendo toda a sua tristeza e reações desnecessárias em seu íntimo.

Entretanto, desde que foram confinados na base da Nihil Occultum, tudo mudou drasticamente. O primeiro beijo com Jellal, o primeiro contato intenso e apaixonado que compartilharam, despertou uma série de sensações em seu corpo que, quando ela lia nos livros nada inocentes de Levy, julgava serem extremamente exageradas. Mas não eram.

Após o suposto fim da Nihil Occultum, Jellal continuou com suas viagens, juntamente com Meldy, para desmontar Guildas das trevas. Mas eles mantiveram contato. As vezes em Megnólia, as vezes em outras cidades, quando a ruiva se afastou de seu time (em razão da falsa morte de Lucy) e resolveu fazer algumas missões sozinhas, os dois continuaram a se encontrar.

E nesses encontros, que começaram com conversas tensas, logo o beijo tornou a se repetir. E eles foram gradualmente progredindo, fazendo os beijos virarem carinhos, e os carinhos amassos, até que, finalmente, na noite em que certamente avançariam o sinal de vez, Natsu entrou berrando feito um louco no quarto da ruiva na Fairy Hills, comunicando que Lucy estava viva.

É claro que o motivo que levou o dragon slayer a interromper um momento tão íntimo era mais que justificável, e nada no mundo poderia descrever a felicidade que Erza sentiu ao ter a companheira de time de volta, mas ela não conseguia deixar de se sentir frustrada.

Justo quando estavam tão próximos! E o pior de tudo é que, depois da escandalosa invasão de Natsu no dormitório feminino, todas as meninas descobriram seu relacionamento com Jellal. Antes, apenas Levy (que descobrira por acaso) tinha conhecimento dos encontros noturnos, e até ajudava a ruiva a encobrir a situação.

Agora, seu relacionamento com Jellal (ou melhor, com Mystogan. Erza não tinha ideia de como, mas todos na guilda, exceptuando o pessoal de seu time, pareciam ter esquecido a verdadeira identidade do mago, lembrando dele apenas como o antigo mago classe S da guilda) era do conhecimento de todos.

Também, graças ao fato de Titânia ter levado, por diversas vezes, o mago para dentro do dormitório feminino, ela foi orientada - na verdade, sutilmente convidada - a procurar outro lugar para viver. Os administradores da Fairy Hills, compreendendo as peculiaridades que uma moradia que comportasse tantas armaduras quanto a ruiva possuía, lhe deram o tempo que quisesse para procurar outro lugar. Com isso, mais de quatro meses se passaram, até que a maga finalmente encontrou um local agradável que atendesse suas necessidades. E estava voltando de lá agora.

Ainda perdida nos próprios pensamentos, a maga de armadura seguiu, até finalmente chegar a sede da Fairy Tail. Ao abrir a porta, contemplou brevemente o local.

Poucos magos estavam presentes, uns olhando o mural, outros bebendo espalhados. Os exceeds estavam todos conversando, no balcão. Em uma das mesas, Gray, Natsu, Gajeel, Wendy e Chelia se distraiam jogando Jenga¹. Em outra mesa, mais afastada, encontravam-se Cana e Levy, a primeira desmaiada de bêbada e a segunda lendo um livro qualquer.  Titânia caminhou até elas, tomando o lugar que ficava de frente para a baixinha.

— Yo, Erza! - Cumprimentou Levy, desviando os olhos do exemplar que tinha em mãos. - Gostou da casa? - Perguntou, curiosa. Naquela manhã, durante o desjejum na Fairy Hills, Erza tinha comentado que achara um lugar para alugar, e que o visitaria.

— Sim. - Titânia confirmou. - Até fechei negócio. - Comunicou.

— Sério mesmo? - Levy perguntou, ainda com uma pontinha de incredulidade. Erza tinha passado boa parte da vida residindo no dormitório feminino, ainda duvidava que ela iria sair. - Tem certeza disso Erza? Você não está se precipitando? Eu tenho certeza que se você conversar de novo com os administradores, eles vão deixar você ficar.

— Tenho sim, Levy. - Titânia respondeu. - Eu pensei nisso, nos últimos quatro meses. Acho que já está na hora de ajeitar o meu cantinho, assim como Lucy e os garotos. - Esclareceu.

— Hmm. Então talvez também seja a hora de eu arranjar o meu. - Pensou a baixinha, em voz alta, analisando mentalmente a privacidade de morar sozinha.

— Como? - Perguntou a maga de armadura.

— Nada não! - Voltando a si, a garota de cabelos azuis respondeu constrangida, agitando as mãos. - Mas então, me diga como é a sua nova casa! - Pediu, mudando de assunto.

Para sua sorte, Erza esqueceu-se totalmente do lapso da baixinha, e sorriu animada.

— Ah Levy, ela é uma gracinha! - Contou, empolgada. - Fica de frente para o rio.

— Como a da Lucy? - Indagou Levy.

— Sim! Na verdade, fica perto da casa da Lucy. Uns dois quarteirões eu acho. - Respondeu. - A construção não é muito nova. Na verdade, a maioria das casas daquele setor são bem antigas. - Explicava, gesticulando. - Mas graças a isso, consegui um preço ótimo. - Finalizou.

— E vai caber todas as suas armaduras? - Questionou a azulada.

— Pelo que observei, sim. A casa realmente tem muitos cômodos.

— Bem, isso é ótimo! - Exclamou a menor. - Fico feliz por você. Embora também fique triste porque uma das minhas companheiras de dormitório mais antiga vai se mudar. - Desabafou.

— Ah, Levy… - Erza sorriu, triste. - Também não estou feliz por deixar a Fairy Hills, mas creio que já está na hora. - Comentou. - Na vida, algumas mudanças são necessárias para que outras venham. - Concluiu.

— É. Eu sei bem o tipo de mudança que você está esperando ao ir morar sozinha, Erza. - Declarou Levy, abrindo um sorriso completamente malicioso.

Percebendo o tom da baixinha, Erza corou.

— Eu não sei do que você está falando! - Desviou o olhar, completamente desconcertada

—  Ah, qual é Erza! - Disse a menor, debruçando-se sobre a mesa. - Vai, me conta, não tem mesmo recebido notícias do Mystogan? - Indagou, fazendo Erza piscar confusa, por um instante. Por mais que soubesse que era necessário, ela ainda não tinha se acostumado a ouvir as pessoas chamando Jellal de Mystogan naturalmente.

— Eu preciso ir! - Aos tropeços, a ruiva levantou de seu assento, se afastando o mais rápido que podia da mesa que Levy ocupava.

— Ir para onde? - Questionou, divertida.

— PEGAR UMA MISSÃO! - A maga de armadura gritou em resposta, correndo pela guilda.

Afoita, Erza chegou a mesa em que o pessoal ainda jogava Jenga. Estava tão constrangida, que nem reparou o esforço que Gray fazia para retirar um bloco de madeira mais ou menos da metade de uma torre milagrosamente alta e instável.

— Gray, Natsu, vamos pegar uma missão! - Ordenou.

— Agora não Erza! - Fazendo um esforço descomunal para não derrubar a torre, Gray respondeu, puxando o bloquinho, cautelosamente. - Preciso vencer esses idiotas. - Anunciou.

— Vai vencer nada! - Natsu retrucou. - Aposto que a torre vai cair! Veja, está balançando. E você também está tremendo. - Blefou cantarolando, para atrapalhar o companheiro de time. - tremendo! tremendo! tremendo!

— Cala boca, idiota, você está me desconcentrando! - Rebateu o moreno.

Fora os magos do fogo e do gelo, que tinham acabado de entrar em uma discussão particular, os demais magos que ocupavam a mesa apenas observavam assustados a aura negra que encobria Titânia.

— Isso não vai prestar. - Gajeel comentou para Wendy e Chelia, que pareciam muito intimidadas.

— Eu disse que nós vamos sair em missão! - A ruiva praticamente rosnou, falando pausadamente.

— Não vai dar, Erza. - Natsu respondeu, sem desviar os olhos das ações de Gray, que tinha conseguido colocar o bloquinho de madeira no topo da torre sem derrubá-la. - Lucy chega daqui a quatro dias, quero esperá-la para irmos em missão juntos. - Falou, sem pensar muito nos efeitos de suas palavras. - Além disso, estamos jogando. E o jogo só termina quando a torre cai. - Completou.

Ao contrário de Wendy, Gajeel e Chelia, que perceberam a veia que latejava na testa de Titânia e acharam mais seguro se afastar um pouco da mesa, Natsu e Gray mantiveram-se alheios a esse detalhe, razão pela qual foram surpreendidos quando a ruiva desferiu um soco certeiro no brinquedo, desmanchando a torre e fazendo com que alguns de seus fragmentos, que voaram para todos os lados, os acertassem dolorosamente.

Itaiiii²! - Reclamaram, cada qual massageando a parte do rosto em que tinham sido atingidos.

— A torre caiu. O jogo acabou. - Comunicou Titânia.

— Maldita! - Exclamou Gray, sem um pingo de amor a própria vida. - Você enlouqueceu? - Perguntou, esfregando o nariz.

— Vamos logo pegar uma missão. - Determinou Titânia.

— Eu já disse que não quero ir! - Resmungou Natsu, alisando as bochechas.

Se antes Erza emanava uma aura negra, agora ela parecia estar em chamas. Claro que seus amigos não tinham culpa disso, mas também, como poderiam quantificar o caos que estava seu interior? O fato é que todo o estresse pela ausência e preocupação com Jellal vinha a tona com muita facilidade em situações como aquela.

Percebendo a perigosa mudança na expressão da maga de armadura, os três magos que observavam a situação acharam melhor dar mais alguns passos para trás. Eles quase não puderam ver o movimento que a garota dos cabelos escarlate fez ao agarrar ambos os magos pelos cabelos e impulsionar suas cabeças para frente, fazendo com que suas testas se chocassem. Perplexos, Gajeel Wendy e Chelia presenciaram quando Gray e Natsu caíram nocauteados sobre a mesa.

— Como eu disse anteriormente, vamos pegar um trabalho. - Decretou a ruiva, segurando ambos os jovens pelas golas de suas camisas e arrastando-os em direção ao mural, como dois sacos de batatas.

— Certo… - Ainda atordoado com a cena, Gajeel falou. - Vocês querem continuar jogando?  - Perguntou para as meninas.

— Wendy! - Fazendo os três pularem de susto, Erza gritou, parando a meio caminho do mural.

— Hai! - Disse a garota, amedrontada.

— Você virá com a gente dessa vez? - Perguntou, virando o pescoço para encará-la.

— Gomen, Erza-san. - A dragon slayer respondeu, suando frio. - Tenho que aproveitar a presença de Chelia aqui para estudar com Grandine. - Justificou.

— Semana que vem eu volto para Margareth Town³ para passar um tempo na minha guilda. - Também nervosa, Chelia começou. - Aí Porlyusica-san nos dará uma pausa de alguns dias e Wendy poderá fazer algumas missões. - Contou.

— Certo. Titânia assentiu, sorrindo. Em seguida, continuou arrastando seus companheiros em direção ao mural.

A ruiva olhou brevemente os pedidos e, passando a segurar os dois magos com uma só mão, apanhou um panfleto, caminhando em seguida para o balcão, onde Kinana a esperava, atenta.

— Vamos pegar este, Kinana. - Scarlet avisou, entregando o folheto para a garçonete.

— Hmm… Seguranças em uma exposição de objetos mágicos… - A jovem de cabelos curtos comentou, lendo o panfleto. - Tem certeza que é o trabalho certo para a sua equipe? - Perguntou, receosa. Afinal, todos na guilda já tinham visto o quão instável estava o humor da ruiva naquele dia.

— Vai ficar tudo bem. - Erza respondeu, surpreendentemente calma. - Esses idiotas sabem ser responsáveis de vez em quando. E se nada perigoso acontecer, nem teremos que usar magia. - Emendou.

— Ok. - Kinana assentiu.

A garçonete estava prestes a registrar o pedido para a equipe de Erza, quando uma observação no panfleto escolhido chamou sua atenção.

— Heim, Erza… - Chamou.

— Quê? - A maga respondeu de imediato, fazendo Kinana recuar.

— É.. É qu-e… - Gaguejou, cautelosa. - Quantos magos irão nessa missão? - Indagou.

— Nós três iremos. - Respondeu, erguendo as formas quase sem vida de Gray e Natsu com uma só mão, com uma facilidade absurda. A moça de cabelos roxos teve a nítida sensação de ver as almas dos pobres coitados a ponto de abandonarem seus corpos. - Por quê?

— Então, é que… - A Garçonete continuou. - Aqui no folheto tem um aviso de que eles precisam de no mínimo quatro magos para o serviço. - Concluiu.

— Nossa. - Titânia falou, levando a mão ao queixo. Ocorre que a mão usada para realizar tal gesto era justamente aquela que sustentava seus companheiros de equipe, portanto, inevitavelmente os dois despencaram, causando um baque considerável contra o assoalho. - Não me atentei para isso. - Comentou. - Lucy está fora, Wendy não pode ir. Juvia e Meldy saíram ontem em uma missão… Será que a Levy toparia ir? - Pensava em voz alta, analisando suas possibilidades.

— Bem… Por que você não convida a Lisanna? - Sugeriu Kinana.

— Lisanna? - Erza repetiu.

— Sim. - Confirmou a jovem de cabelos curtos. - Ontem ela estava comentando comigo que não tinha ninguém para fazer missões com ela por enquanto, já que Elfman quer ficar com Evergreen até que Egeo complete pelo menos um mês de vida. - Contou. - E a Mira também tirou uns dias de folga para ajudar com o bebê. - Continuou.

— Certo. - Decidiu Erza. - Então por favor, segure o pedido por enquanto. - Pediu. - Vou perguntar a ela se quer vir com a gente.

— Tudo bem. - A moça respondeu, antes da ruiva pegar novamente os dois magos desmaiados pelas golas de suas vestes e os arrastar para fora da guilda.

 

• •  

 

A pergunta certa para definir aquela situação era: “O que raios estava fazendo ali?”. Era isso que passava pela cabeça de Lisanna enquanto ela observava o dragon slayer do fogo se contorcer de tanto enjoo no acento a sua frente.

Tudo bem que a intenção de Kinana tinha sido boa. Ela realmente estava precisando pegar um trabalho, e estava bem chateada por não ter ninguém para lhe acompanhar em uma missão. Já estava pensando em pedir para integrar o time de Juvia provisoriamente, mas a maga da chuva e sua mais nova “parente” tinham partido antes que ela tivesse chance de pedir. Bem, ela estava decidida a aguardar o retorno das duas, mas Erza apareceu e pediu que ela completasse o time mínimo para a missão que ela tinha pegado. E como se dois magos jogados aos seus pés praticamente desmaiados durante a conversa já não fosse o suficiente para lhe convencer, Titânia ainda tinha insistido muito.

E ali estava ela. Em um trem, a caminho da cidade de Osimiri, sentada entre Gray e a janela, com Happy dormindo em seu colo, de frente para a ruiva, que naquele exato momento socava Natsu no estômago, para ver se ele desfalecia de vez e parava de perturbar. É, Erza não estava para brincadeiras.

— Algum problema, Lisanna? - A maga de armadura perguntou calmamente, ao perceber que era observada pela albina.

— Nada não! - A Strauss respondeu de imediato. - Bem, eu só estava pensando porque você escolheu uma missão de vigilância. Não parece muito o perfil do seu time. - Mentiu.

— Bem… - Erza parecia pensar. - É um pagamento bom para uma missão relativamente simples. - Começou. - São três dias de exposição, na parte da manhã e da tarde. Se nenhum atentado acontecer, não precisaremos nem usar magia.- Continuou. - Ah, e também  provavelmente retornaremos a Magnólia junto com a Lucy. Natsu não queria nem ao menos sair de Magnolia, temendo um desencontro. - Concluiu.

Imediatamente, Lisanna sentiu seu coração falhar uma batida. Em seguida, um desconforto conhecido se instalou em seu peito, fazendo-a se lembrar, mais uma vez, porque era tão ruim estar no mesmo ambiente que Natsu.

Desde que se declarara para o mago do fogo, a situação dos dois ficou extremamente desconfortável. Verdade que ela não se arrependia de nenhuma palavra dita, mas o retorno de Lucy tornou aquele momento tão… Constrangedor. Ela até arriscaria dizer insignificante.

Claro que a maga take over ficou feliz com a volta da colega de guilda. Não desejava o seu mal, de forma alguma. Tinha ficado abalada, como todos os outros, quando acreditava que a loira tinha se sacrificado para salvar a vida de alguns companheiros, incluindo a sua.

Mas ela sabia tembém que a volta de Heartfilia minara definitivamente qualquer ínfima possibilidade de ficar com Natsu. Isso porque a suposta morte da maga estelar foi mais do que o suficiente para abrir os olhos do dragon slayer para os sentimentos que ele nutria pela parceira de time.

Ela sabia que Salamander se esforçava para tratá-la com naturalidade, apesar de tudo. Mas as coisas não eram mais as mesmas, de jeito nenhum. Porque ele não conseguia mais disfarçar (ao menos não para ela) o quanto precisava de Lucy. E isso o fazia, se alguma forma, se sentir mal por Lisanna.

Naquele mesmo dia, por exemplo, quando o mago se deu conta da presença da albina na estação de trem, direcionou-lhe um sorriso amarelo. Não o sorriso enorme que direcionava aos seus amigos. Não o sorriso radiante que direcionava a ela.

Era tudo tão difícil. Tão doloroso. E, ao mesmo tempo, tão injusto. Lisanna o conhecia desde sempre. Ela que o consolava quando o mago se entristecia pela ausência de Igneel. Ela que construíra uma casinha para eles e, céus, ela até mesmo chocara o ovo de Happy! Se não fosse pelos dois anos que perdera longe dele, em Édolas, talvez hoje ela fosse o alvo de suas preocupações.

Mas a albina sabia que a vida não era justa. E estava disposta a guardar toda sua revolta apenas para si, sem jamais interferir no caminho escolhido por Natsu. Porque não era por ela que o olhar dele brilhava.

Era por Lucy.

Resignada, Lisanna suspirou, acariciando os pelos azulados do exceed, que havia adormecido.

Apenas um milagre do destino poderia mudar o curso de sua situação amorosa.

 

• •  

 

Quatro dias depois.

— Você está certa disso? Não prefere ficar mais alguns dias e pensar a respeito? - Org perguntou, encarando a maga estelar.

— Estou certa, senhor. - Lucy respondeu, com convicção.

— Minha jovem. Eu lhe ofereci uma porposta de emprego bem generosa, que inclui, além do salário avantajado, moradia e alimentação. - Insistiu. - É uma chance rara, que merece ao menos ser considerada. - Alertou.

— Eu entendo. - Heartfilia falou, encarando o membro do conselho, que estava sentado atrás de sua escrivaninha. - E entendo também que o senhor não fez essa proposta apenas pelo meu desempenho profissional. - Declarou, fazendo o membro do conselho erguer as sobrancelhas. - Sei que o seu real objetivo é me manter afastada da civilização. - Concluiu.

— És realmente uma moça esperta. - Encarando-a fixamente, o empregador constatou. - E se foi capaz de deduzir isto, talvez também já tenha desvendado meus motivos. - Ponderou.

— Talvez. - A loira respondeu.

— Lucy. - Levantando-se, o velho chamou, em tom de alerta. - Alguém muito poderoso se encarregou de fingir sua morte durante quase três meses. Você sabe que não está segura lá fora, não sabe? - Questionou.

— Eu sei. - Abaixando a cabeça, a maga da Fairy Tail respondeu. - Mas também não posso simplesmente me esconder aqui. - Justificou. - Entenda: Existem pessoas mais importantes que a minha própria vida lá fora. E eu não vejo sentido em viver se não for ao lado delas. - Concluiu.

— E você já pensou que talvez essas pessoas estejam mais seguras longe de você? - Indagou o membro do conselho, fazendo com que ela arregalasse os olhos, surpresa. Ela ainda não tinha analisado a situação por esse ângulo, mas as palavras do velho eram a mais pura verdade. Tanto que boa parte dos seus amigos quase perderam a vida durante o projeto Heaven.

— Mesmo assim eu… - Lucy fraquejou. - Eu não posso decidir isso dessa forma. - Completou. - Me desculpe. E obrigada por tudo. - Curvou-se levemente, antes de dar meia volta e caminhar em direção a porta.

Quando a maga estelar estava prestes a tocar a maçaneta, ouviu seu nome ser chamado novamente pelo senhor.

— Pois não? - Respondeu. Virando apenas o torso para encará-lo.

— Eu não fiz essa proposta apenas para mantê-la isolada. - Org começou. - Eu estou realmente satisfeito com o seu desempenho profissional. - Revelou. - Você ajudou muito Alexandria, e por isso serei eternamente grato. - Concluiu, arrancando um sorriso da maga.

— Obrigada. - Agradeceu. - E adeus. - Despediu-se, abrindo a porta e retirando-se do escritório.

Observando os luxuosos corredores pela última vez, Lucy caminhou em direção a saída. No exterior da propriedade, a carruagem que levaria Laxus e ela para a estação já estava preparada.

Finalmente, ela voltaria para casa. Finalmente reencontraria Natsu.

 

• •  

 

¹ Jenga:  Jogo de habilidade física e mental, em que os jogadores se revezam para remover blocos de uma torre, equilibrando-os em cima, criando uma estrutura cada vez maior e mais instável à medida que o jogo progride (Wikipédia).

² Itai: Interjeição de dor.

³ Margareth Town: Cidade onde se localiza a guilda de magos Lamia Scale.

 


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?

Ponto para quem chutou que a Lisanna iria na missão!

Eu realmente acreditava que conseguiria escrever sobre a missão do time de Natsu ainda neste capítulo, mas achei que ficaria muito fracionado, grande e cansativo. O que eu estou percebendo com isso? Que, para ficar decente, Conspiração provavelmente terá mais capítulos do que eu planejei. T-T

Por um lado isso é bom, mas por outro é angustiante. Quero logo chegar na parte boa. xD

No próximo capítulo, a viajem de Lucy e Laxus é interrompida com um grave acontecimento. Durante a pausa, Lucy descobre que o seu time resolveu sair em missão, em Osimiri, cidade que fica no caminho para Magnólia. Enquanto isso, Gray, Erza, Natsu e Lisanna concluem seu trabalho sem maiores problemas, quando um estranho aparece, mostrando que a estadia deles em Osimiri não seria tão tranquila assim.

Bem é isso. Espero que tenham gostado.

Até mais!