Conspiração escrita por Lura


Capítulo 25
Hanami


Notas iniciais do capítulo

QUINTA RECOMENDAÇÃO, AEWWWW!!!

Olá, tudo bem com vocês? Pela saudação nada normal, deu para ver que estou mega contente, certo? Por isso, já vou de cara agradecer ao "Leitor 666" por ter se disponibilizado a recomendar a fanfic!!!

Caro "Leitor 666", eu achei sua recomendação simplesmente maravilhosa! Fiquei emocionada e muito contente em saber que você acha que a fic "tem tudo para ser a melhor história desse site". Sou grata por cada elogio, por cada palavra linda e por você ter dedicado um tempo para deixar suas considerações sobre a história. Como agradecimento, dedico este capítulo a você. É o mínimo que posso fazer, mas espero que te deixe feliz, já que ele retrata, talvez, um dos momentos mais fofos da fanfic.

Quero agradecer também aos leitores que comentaram o capítulo passado. São eles: Gutor, Giu Bloodie S2, Naruhina Love Forever, Trash, GabbySaku, Khaleesi, Happy Reader e Yuuki Chan. Beijão para vocês!

Ah, não posso deixar também de agradecer a ajuda especial que recebi da Khaleesi, que aliás, é uma leitora maravilhosa (Vocês já leram a fic "Sigilo"? Se não, corram lá!)! Eu praticamente tive uma crise por causa do capítulo dessa semana e ela me ajudou a resolver. Mais uma vez, obrigada, de coração!

Enfim, é isso. Espero que vocês gostem do capítulo tanto quanto eu gostei.

Até as notas finais!



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Capítulo XXIV - Hanami

Magnolia - 31 de março de x792

Lucy encolheu-se contra a parede, abraçando as próprias pernas. A murada de rochas brutas machucava seu dorso, assim como as pulseiras inibidoras de magia feriam gradualmente o seu pulso.

Mesmo que as costas doessem e, no canto do cômodo, houvesse uma cama desconfortável a sua disposição, ela preferiu permanecer sentada no chão. Não conseguiria dormir, de qualquer forma, assim como não havia conseguido, desde que fora trancafiada ali.

A maga estelar passara cada segundo de seu recente cárcere remoendo a própria situação, tentando compreender como exatamente chegara àquele ponto.

A cela em que estava enclausurada não possuía nenhuma janela. Nada que a ligasse ao ambiente exterior. Sequer ruídos transpunham as brutas paredes.

Estava no subsolo afinal.

No subterrâneo do Centro Provisório de Detenção Mágica de Magnólia, aguardando seu transporte para ERA.

E a realidade de saber que seu julgamento estava marcado, combinada com o ato de imaginar o que aconteceria consigo a partir do momento em que chegasse no berço do Conselho Mágico, fazia com que seu corpo tremesse ao ponto de quase convulsionar.

Desolada, levou as mãos a testa.

Não conseguia acreditar, nem ao menos entender a razão de tudo aquilo. Estava sendo falsamente acusada de crimes terríveis: Participar da construção do Portão do Eclipse e do Portal dos Mundos e, o pior de tudo, matar Yukino Aguria.

Dupla Traição e Homicídio

E, por mais leiga que a loira fosse em assuntos jurídicos, ela conhecia perfeitamente a pena que poderia ser aplicada a quem cometia qualquer um desses delitos:

A morte.

Considerando a melhor das hipóteses, na eventualidade de ser absolvida por algum deles, poderia ser sentenciada a prisão perpétua.

Contudo, sabia muito bem que as possibilidades não estavam a seu favor. Se ela estava naquela situação, era porque alguém muito poderoso queria que estivesse.

Queria silenciá-la? Ou existia algum outro objetivo sórdido por trás de toda aquela trama?

Novas lágrimas de desespero riscaram suas bochechas. Um soluço foi contido.

— Natsu… - Chamou baixinho, levando as mãos ao ventre, mesmo sabendo que não obteria resposta.

Pranteando em silêncio, Lucy acariciava a própria barriga, divagando o quanto aquela situação parecia irreal.

Menos de quarenta e oito horas antes, ela encontrava-se em pânico, por se descobrir grávida do parceiro de time. Todas as dúvidas e inseguranças que sentira ainda estavam frescas em sua memória, assim como o desespero provado.

A ideia de ser mãe.

A responsabilidade de cuidar de uma criança, sendo tão jovem.

Como era possível que toda sofreguidão a que fora submetida com a notícia da gestação, agora parecesse tão pequena?

Tão irrelevante?

Sequer poderia dizer que temia pelos desafios da gravidez.

Agora, um único pavor infernizava sua mente. A maga estelar estava aterrorizada porque não sabia o que seria daquela criança.

Ou mesmo dela própria.

— Natsu! - Chamou, mais forte, já não conseguindo manter-se em silêncio. - Natsu, Natsu, Natsu! - Repetia para si mesma o nome do parceiro, como se fosse um mantra. Como se aquela palavra pudesse acalmá-la, assim como o rapaz que a denominava havia feito tantas e tantas vezes.

A loira sentia falta dos fortes braços do dragon slayer em torno de si. Sentia falta de seu timbre grave ditando bem próximo ao seu ouvido que tudo ficaria bem. Ela nunca estivera tão certa de que, se pudesse ter qualquer tipo de contato com ele naquele instante, por mais ínfimo que fosse, aquietaria-se de imediato.

Mas ela estava sozinha.

Completamente.

E nunca, em toda a sua vida, sentira o desespero de não ter ninguém ao seu lado com força tão avassaladora.

Derrotada, sentiu-se fraquejar e pender para o lado. Sem ânimo e sem vontade, não realizou o mínimo movimento para tentar impedir que toda a lateral de seu corpo colidisse contra o piso bruto. Pelo ardor crescente em sua bochecha, soube que havia esfolado-a com o choque.

Entretanto, nunca importara-se menos com as feridas pelo seu corpo. Do modo como havia caído, permaneceu. Por minutos ou por horas, não saberia dizer. Movia-se apenas para liberar o choro compulsivo, que ecoava pelo pequeno ambiente.

Em determinado momento, seus olhos pareceram não ter mais lágrimas para expulsar. A garganta, estava seca demais para que a maltratasse com mais lamúrias. Foi a consciência de que havia um pequeno ser em seu interior, que dependia de seu bem estar, que a motivou a levantar-se e ingerir toda a água trazida um bom tempo antes. Todavia, os dois pratos de comida que vieram junto, permaneceram intocados. Seu estômago revirava apenas por ter de se aproximar deles.

No instante em que preparava-se para retornar a parede que havia abandonado, o ranger da enorme porta metálica, único acesso a diminuta cela, atraiu a sua atenção.

Apreensiva, observou os terríveis agentes penitenciários inumanos, que mais pareciam sapos, entrarem. Ambos trajavam longos uniformes e ostentavam uma carranca.

— Lucy Heartfilia. - Chamou um deles, de forma monótona. - Você será transportada agora para ERA. - Comunicou.

A loira sentiu o próprio estômago afundar, e as pernas fraquejarem. Entretanto, uniu o restante de seu orgulho e obrigou-se a permanecer de pé.

— Aproxime-se para que seja algemada. - Ordenou o outro.

Sabendo que protestar ou fugir não era uma opção, a maga estelar caminhou a passos lentos em direção aos carcerários, estendendo os braços a frente assim que os alcançou.

Não demorou muito para que o primeiro a se manifestar, apanhasse uma grossa corrente e conjurasse uma magia, que uniu cada extremidade dela a uma das largas pulseiras inibidoras de magia em seus pulsos.

Sem demora ou delicadeza, os agentes seguraram-na pelos braços e praticamente a arrastaram para o exterior da cela. No intuito de não ferir os próprios pés, Lucy viu-se obrigada a acompanhar o ritmo imposto, por mais fraca que estivesse.

Enquanto transpunham os lúgubres corredores do centro de detenção, um único pensamento lhe dominou.

Seria levada para longe de Magnolia.

Para longe de seus amigos.

Para longe de Natsu.

Para longe de todos que poderiam ajudá-la.

 

• • 

 

A noite caía lentamente sobre a cidade de Magnolia, aumentando a ansiedade de todos aqueles que aguardavam, com expectativa, o momento em que as Cerejeiras se acenderiam em inúmeras cores. Entretanto, Graças a todos os acontecimentos recentes, poucas das milhares de pessoas que povoavam a cidade, perderam completamente a vontade de contemplar o espetáculo natural.

Era o caso do jovem funcionário do Conselho Mágico, cujos cabelos eram negros e espetados, e a lateral do rosto, marcada por uma cicatriz em forma de “x”.

Havia pelo menos quarenta minutos que Doranbolt jazia debruçado em uma das janelas do último andar do Centro Provisório de Detenção Mágica de Magnólia. Seu olhar, vago, embora estivesse direcionado ao horizonte, nada registrava. Seus pensamentos estavam um caos tão grande, que ultrapassavam as barreiras mentais e atingiam as físicas, provocando-lhe uma intensa dor de cabeça.

O moreno tentava, insistentemente, entender qual o propósito por trás da prisão de Lucy Heartfilia. Afinal, sabia ele, mais que ninguém, que a loira era inocente de pelo menos parte das acusações.

Doranbolt tinha ciência que o Portão do Eclipse havia sido construído pela princesa Hisui e seus servos, pois ele próprio havia tentado ajudar a limpar a bagunça causada pela sua abertura, alterando a memória de parte da população e dos membros do Conselho Mágico.

Da mesma forma, duvidava intensamente da participação da maga estelar da Fairy Tail no Projeto Heaven, já que a época de execução dos dois planos, praticamente colidiam. Não poderia a loira dedicar-se, duplamente, a Construção do Portão do Eclipse e do Portal dos Mundos, estando um em Crocus e o outro em Zamúria, bem em tempos da realização dos Grandes Jogos Mágicos, nos quais, aliás, marcou presença.

A hipótese mais óbvia de tudo aquilo, entranhava-se em sua mente feito uma praga: O Conselho Mágico sabia da inocência da maga e, ainda assim, levou a acusação adiante. Entretanto, o jovem recusava-se a acreditar que a entidade que servia com tanta devoção, fosse capaz de tal arbitrariedade.

Mais que isso: se fosse esse o caso, quais seriam os objetivos por trás da incriminação de Lucy? Por que o envolvimento da princesa Hisui sequer fora citado? E, finalmente, por qual razão o presidente Gran Doma, ciente de sua participação para ocultar as provas da construção do Portão do Eclipse, ignorou o fato, determinando que ele estivesse a frente da captura da maga?

A tormenta em que o moreno se encontrava, apenas piorara durante aquela tarde, quando, contrariando tudo que esperava enfrentar no decorrer daquele  dia interminável, encontrou-se com uma pessoa.

Natsu Dragneel.

O dragon slayer, aparentemente, aproveitando-se da oportunidade em que Doranbolt deixou o centro para se alimentar, o aguardou no caminho.

O funcionário do Conselho não entendia a razão mas, quando deparou-se com o mago do fogo, tentando manter sua identidade oculta da multidão ao trajar um longo manto vermelho, não conseguiu evitar de segui-lo em direção a um beco próximo. Mesmo sabendo que ele poderia tentar surrar-lhe por vingança.

Ou por justiça.

E talvez ele merecesse isso.

Apesar de seus temores justificados, Doranbolt o seguiu. Em oposição as suas expectativas, não foi desafiado ou confrontado.  Apenas recebeu um pedido um tanto quanto desesperado.

O pacote mediano escondido sob o seu sobretudo, era a prova disso.

E agora, ele encontrava-se com um terrível dilema em mãos.

Seguir o que sua mente dizia ser o certo, e entregar o embrulho as autoridades do Conselho ou atender ao favor requisitado por Dragneel com tanta veemência, que, embora parecesse inocente, poderia custar-lhe a vida profissional, caso fosse descoberto.

— Droga, Droga, Droga!!!— Gritou mentalmente, tomando a caixinha em mãos e pegando impulso para arremessá-la longe, através da janela.

Todavia, sentia como se uma força invisível mantivesse seus dedos pressionados no pacote, impedindo que ele fosse lançado.

— Por que eu não consigo? - Sussurrou para si mesmo, suando ante ao transtorno do momento.

Para azucriná-lo ainda mais, a voz comedida do mago do fogo, ressoava em sua cabeça, repetidamente:

“Eu sei muito bem que você é um dos cretinos que sabem da inocência da Lucy, mas não foi para acabar com a sua existência desprezível que eu vim aqui.”

Ele havia declarado, assim que percebera ser uma ocasião segura para falar.

“Eu tenho um pedido a fazer.”

Revelou, logo depois.

“Não venha me dizer que isso é impossível! É o mínimo que você pode fazer para tentar diminuir o sofrimento pelo qual Lucy está passando agora!”

Esbravejou, após uma intensa discussão ocorrida entre os dois, em razão do teor do tal pedido.

— Eu devia ter recusado! - Lamentou-se, tornando a esconder o embrulho no interior de suas vestes. - Por que tudo que envolve aquela guilda me deixa tão perturbado? - Questionou-se, levando ambas as mãos aos cabelos negros e puxando-os com força.

— Doranbolt! - Uma voz retumbou pelo corredor de pedra, fazendo com que ele perscrutasse em volta, assustado.

— Lahar! - Exclamou, aliviado, percebendo a aproximação do amigo.

— Algum problema? - O recém-chegado inquiriu, notando a diferença de postura do outro.

— Nenhum. - Mentiu.

Lahar analisou, por breves instantes, a situação do colega. Suas vestes, assim como os cabelos, estavam desalinhados. A testa e as têmporas estavam visivelmente úmidas pelo suor frio. Complacente, ajeitou os óculos de grau antes de falar:

— Ok. - Concordou, sem querer pressionar. - O Transporte de Heartfilia para ERA já está sendo preparado. - Mudando o assunto, comunicou. - Partiremos assim que escurecer. Entretanto, você foi dispensado da escolta. Pode permanecer na cidade, se assim desejar. - Avisou, um tanto curioso pela situação.

— Certo. - Assentiu, também instigado. - Então acho que o farei. - Comentou.

— Aproveite para descansar. - Orientou Lahar, antes de deixar o corredor, seguindo pela mesma direção pela qual viera.

No momento em que percebeu estar sozinho, Doranbolt suspirou, levemente frustrado. Sabia que, provavelmente, havia tomado a decisão mais estúpida de sua vida.

— Tenho que me apressar. — Mentalizou, enquanto deixava agilmente o corredor pelo sentido contrário.

 

• 

 

Uma vez alcançando o exterior do prédio, Lucy teve sua audição invadida por longínquos ruídos, dos mais variados. Desde o estourar de fogos e músicas animadas, que se misturavam formando uma desarmonia incômoda, até as vozes que lançavam-se ao vento, amplificadas pelos usos de microfones.

Todos aqueles barulhos captados, seviram apenas para lembrá-la de mais uma dolorosa verdade, que ela sequer havia tido tempo de remoer durante o dia, dado a sua triste situação:

O festival do Hanami estava acontecendo.

E ela perdera, mais uma vez.

Sentindo duas lágrimas abandonarem cada um de seus olhos e rolarem por suas bochechas, a maga estelar ergueu a cabeça ao máximo, encarando o firmamento enquanto ainda era empurrada pelos dois guardas asquerosos.

O céu já havia alcançado a tonalidade azul-marinho e jazia salpicado de inúmeras estrelas. Certamente, àquela hora, as Cerejeiras Arco-Íris já estariam reluzindo, em um belíssimo espetáculo de cores. Contudo, ela não poderia aproveitar a atração com seus amigos.

O festejo que ela ansiara durante anos poder participar. A data que aguardara com expectativa, nos últimos dias. Novamente, escorria pelos seus dedos, sem que pudesse fazer nada para reverter a situação.

Ao menos, consolava-se com o fato de que já havia contemplado o desabrochar colorido de uma das cerejeiras, colocadas estrategicamente por Natsu e Happy em uma embarcação que navegou pela vertente do rio que ladeava a rua de sua casa.

E poucas pessoas podiam gabar-se de um fato ao menos semelhante.

Em meio as lágrimas, abriu um sorriso singelo pela lembrança. Desde muito antes, o mago do fogo demonstrara o quanto importava-se com ela. Sem resistência, permitiu que o sentimento de gratidão crescesse em seu interior, proporcionando-lhe, ao menos, uma centelha de paz.

Porém, logo em seguida, tal paz fora substituída por angústia e preocupação. Como estaria o dragon slayer? Como ele se sentia naquele exato momento? A loira não pôde evitar de temer que o rapaz tentasse alguma besteira, por sua prisão, e acabasse se prejudicando.

Sabia que Natsu era mais do que capaz disso.

Tais pensamentos ainda a atormentavam, quando percebeu que haviam alcançado a carruagem em que seria transportada.

Sem gentileza alguma, os agentes penitenciários a empurraram em direção a minúscula escadinha removível que facilitava o acesso ao elevado veículo, de modo que acabou por tropeçar e despencar em seu interior. Da mesma forma, não prestaram qualquer ajuda antes de fecharem as portas, lacrando-a sozinha na escuridão, que era quebrada apenas pela pálida luz da lua que transpunha as duas minúsculas janelinhas gradeadas.

Desanimada, apenas ajeitou-se no chão, apoiando as costas contra o banco fixado na parede direita, que ocupava toda a sua extensão.

Ela não conseguiria quantificar o tempo que levou para que o veículo finalmente começasse a se mover. Sentindo o corpo tremer pela movimentação irregular do transporte, abraçou as próprias pernas, reprimindo a vontade de caminhar até uma das janelinhas e despedir-se visualmente da cidade.

Lucy soube que haviam abandonado Magnólia no momento em que a carruagem ganhou estabilidade. Certamente, as rodas já não se chocavam contra as ruas de pedra do município, mas contra o asfalto liso da estrada. Desolada, sentiu novas lágrimas escorrerem.

De certa forma, a maga havia nutrido, a mínima esperança, de que alguém viria resgatá-la. Em sua mente, o momento do transporte, seria o mais propício para tal.

Mesmo sabendo que tal atitude não seria muito inteligente, sentiu o peito esmagar-se com a realidade de que nada de anormal havia acontecido. Um novo soluço de desespero abandonou sua garganta.

Estaria completamente só, por um longo período.

Alheia ao mundo por suas lamúrias, a maga foi pega completamente de surpresa quando um estalido disputou espaço com seu pranto, e quase caiu de susto ao ver um corpo materializando-se a sua frente.

Apavorada, teve um grito sufocado na própria garganta quando uma mão foi pressionada contra seus lábios.

Os olhos arregalados fixaram-se na figura perante si, como se para ter certeza de que ela realmente estava ali, e que não era a escuridão que andava lhe pregando peças.

Contudo, sua boca foi liberada apenas quando seus batimentos cardíacos normalizaram, ao ponto de não retumbarem audíveis pelo pequeno cubículo de metal.

— Doranbolt! - Exclamou, ainda incrédula, tentando certificar-se de que aquilo estava realmente acontecendo.

— Shiii! - O Mago do conselho chiou, pedindo que ela baixasse o tom.

— O que faz aqui? - Sussurrou, estupefata com a visita. Afinal, ali estava a pessoa que havia efetuado sua prisão.

— Uma burrada, provavelmente. - Respondeu ele.

A maga arqueou as sobrancelhas, expressando sua confusão, gesto ignorado pelo outro, devido a escuridão que preenchia o local.

— Olha… - Começou ele, demonstrando estar revoltado consigo mesmo, pelo que diria a seguir. - Natsu pediu que eu lhe entregasse isso. - Revelou, apanhando uma pequena caixa, que estava junto a outro objeto que, em razão da pouca luminosidade, não podia ser identificado.

— O que é… - Heartfilia começou, preparando-se para retirar a tampa do pacote.

— Não abra ainda! - Esganiçou, desesperado, fazendo com que a loira piscasse confusa. - Cubra-se com isso antes. - Ordenou, passando-lhe o outro objeto.

Ficando ainda mais atarantada, a jovem constatou que, o que o moreno lhe entregava, tratava-se de um grosso cobertor negro.

— Para que tudo isso? - Perguntou.

— Você vai entender quando abrir a caixa. - Respondeu. - Vou deixá-la sozinha agora, para que tenha privacidade. - Avisou. - Mas volto em breve, para recolher o cobertor e o pacote. Ninguém pode sequer imaginar que estive aqui. - Contou, antes de sumir, abandonando-a novamente na escuridão.

O momento de dúvida da maga estelar, durou pouco tempo. Afinal, o funcionário do Conselho havia dito que aquela caixa fora enviada por Natsu. Fosse verdade ou mentira, não pôde conter-se mais, tratando de logo estender a coberta sobre si, improvisando uma tenda, para logo destampar o pacote. Porém, dado a escuridão dominante, não conseguiu visualizar seu conteúdo.

Curiosa, colocou a mão em seu interior, sentindo o tato ser agraciado com a textura de vidro, lisa e gélida.

— O que é isso? - Questionou-se, em voz alta, virando a caixa para que o objeto que ela continha deslizasse para sua mão. - Uma lacrima? - Indagou, sentindo o formato esférico.

Contudo, percebeu que, junto ao pesado orbe, outro objeto, aparentemente feito de papel, caíra do pacote.

Deixando a caixa e o papel de lado, a maga tateou a esfera com ambas as mãos, quando um brusco solavanco, provavelmente provocado por um buraco na estrada, fez com que seu corpo se agitasse por inteiro. Preocupada, segurou a peça com maior força, temendo derrubá-la.

Todavia, algo muito curioso chamou a sua atenção. Por um breve instante, Lucy teve a impressão de ter visto um lampejo de luz vindo de suas mãos, no exato instante em que o veículo estremecera. Curiosa, sacudiu o orbe ante ao próprio rosto, ficando estarrecida com o resultado daquele simples gesto.

Agora ela entendia o motivo de ter um cobertor tão grosso sobre sua cabeça.

De olhos arregalados, admirou a projeção de inúmeras cores a sua volta. A fonte? O pequeno globo decorativo que tinha em mãos.

Uma vez ativado, pôde contemplar os detalhes do lindo artefato. A pequena lacrima continha nada menos que a miniatura de uma linda cerejeira que, ao ser agitada, liberava incontáveis folhas pelo líquido aquoso e emitia múltiplas cores de sua copa.

A grama verdinha que sustentava a árvore, o caminho de pedras que a ladeava, até mesmo os móbiles prateados em formato de estrelas, que enfeitavam seus galhos. Tudo era tão perfeito e delicado, que lhe tiravam o fôlego e as palavras.

Encantada, tornou a sacudir a lacrima, para que sua magia perpetuasse, reparando, então, que o papel que ignorara, junto a caixinha, tratava-se de um envelope.

Ansiosa e, aproveitando-se da iluminação gerada, abriu-o apressadamente, encontrando, como esperado, uma carta direcionada a si.

Uma carta redigida com caligrafia sisuda e garranchosa.

A folha branca refletia com facilidade a luz multicolorida, destacando as letras negras gravadas com determinação. Sem delongas, a loira percorreu o papel com os olhos, sentindo uma enxurrada de sentimentos invadi-la a cada palavra que assimilava.

“Essa foi a única maneira que eu encontrei de passar o Hanami com você.”

O pouco capricho dedicado ao escrever, não desmereciam, sequer em um milésimo, o valor daquelas palavras.

O peito da maga contraiu-se, dolorosamente, ante a constatação.

Natsu sabia o quanto ela sonhava em participar do Hanami e havia se arriscado para transformar isso em uma realidade.

Pela segunda vez.

Emocionada, mal percebera que grossas lágrimas pingavam de seu rosto, manchando o papel.

— Natsu… - Chamou, com a voz chorosa, vendo as diversas cores dançarem a sua volta. A jovem desejava tanto a presença do dragon slayer, que seu peito chegava a arder, dolorosamente.

Pranteando copiosamente, tornou a agitar o globo, garantindo que sua luz resplandecesse por mais alguns minutos. Sabia que logo Doranbolt voltaria para levá-lo, portanto, queria aproveitar cada segundo daquele maravilhoso espetáculo.

Com uma mão no ventre e a outra sustentando firmemente o presente, desfrutou do único objeto físico que a ligava ao mundo exterior.

Que a ligava ao pai de seu filho.

A pessoa que amava.

Sim, pois Lucy amava Natsu. Havia constatado isso há pouco tempo, tanto que nunca dissera a ele. E agora, a necessidade de que ele tomasse conhecimento dessas palavras, queimava em seu interior. Seu maior desejo era unir-se a ele e falar tudo o que sentia, sem receios.

Seu breve momento de felicidade, foi quebrado no instante em que escutou Doranbolt materializar-se em meio ao comboio.

O rapaz não conseguiu evitar o olhar de pena, ao presenciar uma Heartfilia desolada emergindo do grosso cobertor. Seu semblante desamparado era iluminado pelos últimos resquícios luminosos lançados pelo lacrima.

Preocupado em ocultar as evidências de sua visita, não tardou a pedir que a maga estelar lhe devolvesse o globo de vidro, juntamente com a carta e o cobertor. Juntos, ajeitaram tudo, para que nada parecesse suspeito.

— Você se teletransportou por todo caminho até aqui? - Inquiriu Lucy, tentando dispersar a intensa tristeza que se alastrava em seu interior.

— Tem uma outra carruagem transportando dois presos homens, logo atrás. - Explicou. - Eu apenas peguei uma carona. - Emendou.

— Mas isso não parecerá suspeito? - Perguntou, preocupada.

— Não se preocupe. - Tranquilizou ele. - As memórias de todos que me viram já foram devidamente alteradas. - Confidenciou. - Assim como terei que refazer as suas. Me desculpe, mas é para nossa segurança. - Justificou-se.

Antes que a loira pudesse protestar, o funcionário do Conselhou envolveu suas têmporas com as mãos, apagando de suas lempranças qualquer evidência de que fora ele quem trouxera o presente  de Natsu.

Seu objetivo inicial era modificar a lembrança de toda a viagem, como se aquele lacrima jamais tivesse chegado as mãos da garota. Entretanto, num surto de culpa e pena, que ele ainda não conseguia entender, decidiu por manter os momentos que ela passou contemplando-o. Afinal, ela ainda passaria por muitas provações. Merecia ao menos recordações felizes e motivadoras.

Aliviado, assistiu o momento em que a consciência da maga devanesceu, vendo-a cair em sono profundo. Cuidadosamente, acomodou-a no chão, antes de desaparecer, parando em algum lugar aleatório da mata ao redor.

Dentro do veículo, Lucy dormia, tranquilamente, o que não havia descansado nas últimas duas noites.

A cada minuto, aproximava-se mais do local onde seria julgada.

Entretanto, a doce inconsciência não permitia que ela se afetasse por tudo que lhe ocorreria no momento em que pisasse em ERA.

 

 


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Notas finais do capítulo

E então??? O que acharam???

A todos os leitores que chutaram que o Natsu daria um globo para a Lucy: Sim, vocês acertaram!!!

Gente, como eu amei escrever isso! Eu idealizei esse trecho tantas vezes na minha cabeça (embora quase tenha mudado os planos de última hora). Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu.

E o próximo capítulo se chamará...

...Julgamento!!!

Ou algo relacionado a isso. Enfim, já deu para ver do que se trata, né? De qualquer forma, se tudo correr bem e eu não precisar dividi-lo, teremos altas surpresas, hehe. Espero ansiosamente para publicá-lo.

Enfim, é isso.

Ah, não! Não é só isso não, tem mais. Semana passada eu postei dois spoilers deste capítulo lá na página do face. Eu posto lá para que os leitores que não curtem esse tipo de coisa não sejam prejudicados. Talvez eu faça o mesmo essa semana. Se alguém se interessar, é só dar uma conferida. Segue o link:

https://www.facebook.com/lura4/

Agora sim, até mais!



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