Conspiração escrita por Lura


Capítulo 21
Alguém Importante


Notas iniciais do capítulo

Yaaaaaay!

Mais uma vez apareço transbordante de alegria!

Eu já estava feliz antes, pois Conspiração superou o número de comentários de Vínculo Mágico, e olha que não estamos nem na metade da história. Para me deixar ainda mais contente, a fanfic recebeu a sua quarta recomendação!

*o*

Gente, é muita satisfação para uma pessoa só!

Por isso, seguindo a tradição, este capítulo é dedicado a BlueQueen!

BlueQueen, eu agradeço profundamente a sua disposição em dedicar um tempo para recomendar a fanfic. De todas as recomendações que recebi, a sua foi a mais técnica, pois detalhou especificamente o enredo e o contexto da história, destacando os pontos fortes, na sua opinião. Isso foi muito bacana, me ajudou a compreender um pouco mais o ponto de vista dos leitores. Por isso, aceite esse singelo agradecimento. =D

Também não posso deixar de agradecer muitíssimo aos leitores que opinaram sobre o último capítulo, que aliás, foi recordista de comentários até agora! São eles: Giu Bloodie S2, GabbySaku, Italo Azevedo, Saberus, Peter Flach, Gutor, Vicky Scarlet, Happy Reader, Khaleesi e Yuuki Chan.

Aliás, obrigada por todos que se dispuseram a comentar. Graças a vocês, a fic superou o número de comentários de sua antecessora! =D

Então, sem mais delongas, espero que gostem do capítulo.

Até as notas finais!



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Capítulo XX - Alguém Importante

 

Magnolia - 30 de março de x792

O mago de cabelos róseos caminhava de forma distraída em meio a muitidão que começava a tomar as ruas de Magnólia, contudo, desviando-se automaticamente de todo e qualquer obstáculo.

O tráfego obstruído, perturbava os demais habitantes, que faziam questão de gritar em meio a confusão, mas não era o bastante para tirar o dragon slayer do sério. Ele apenas seguia andando, com ambas as mãos postas atrás da nuca e, embora portasse um semblante indiferente inatingível, divertia-se lembrando o quanto Lucy estava exultante com a ocasião.

O desabrochar multicor das cerejeiras só aconteceria na noite do dia seguinte, mas nem por isso as pessoas que lotavam a cidade sentiam-se menos animadas. Inúmeros turistas chegaram, com dias de antecedência, apenas para garantir hospedagem privilegiada e um lugar de destaque, onde poderiam contemplar o espetáculo natural em toda a sua glória.

Os lucros no comércio, principalmente dos ramos hoteleiros e alimentícios, aumentavam consideravelmente nessa época, o que fazia com que inúmeros vendedores ambulantes, tanto naturais de Magnolia, quanto vindos apenas para a festividade, tomassem as vias com suas barraquinhas, dificultando o trânsito ainda mais.

Foi num desses vendedores que, em seu momento de desatenção, ao imaginar se Lucy realmente o esperaria voltar com o almoço, ou se, usando de toda a sua teimosia, cozinharia uma refeição completa enquanto estivesse fora, Natsu se chocou. O baque fez com que as diversas quinquilharias que o homem sustentava em uma bandeja de madeira, despencassem contra o piso de pedra.

— Gomen! - O mago do fogo desculpou-se enquanto abaixava, com o objetivo de evitar que os diversos objetos rolassem para longe.

— Tudo bem. - O senhor, que também empenhava-se na mesma tarefa respondeu.

Ambos recolhiam as mercadorias caídas rapidamente, pois sabiam que acabariam sendo pisoteados caso ficassem abaixados por muito tempo. Logo, pegaram tudo que podia ser salvo e levantaram-se.

— Algumas quebraram. - Dragneel observou, desgostoso, inúmeros caquinhos coloridos espalhados pela rua.

— Mas graças aos céus, a maioria não! - O vendedor respondeu, de forma positiva.

Natsu arqueou as sobrancelhas, ante a reação otimista do ambulante. Fosse outra pessoa, teria imediatamente ralhado com o rapaz pelo desastre e o intimado a pagar o prejuízo.

— Quanto eu lhe devo? - Perguntou. Mesmo chateado, sua consciência não deixaria que ele partisse sem repor o que havia sido perdido.

— Não se preocupe com isso. - O comerciante deu de ombros, caminhando de volta em direção a uma das barracas montadas na calçada. - Foram apenas duas, e eu tive tanta culpa quanto você. - Explicou. - Além do mais, essas são apenas peças de mostruário. - Indicou os pequenos objetos, dispostos desordenadamente sobre a bandeja.

Só então, o jovem de cabelos róseos parou para observar melhor os produtos. Tratavam-se de inúmeras peças de vidro, entre as quais destacavam-se miniaturas, estatuetas, globos de neve, porta-joias e muitas outras coisas.

— São todas de vidro. - Comentou, impressionado com a beleza das pequenas peças. - Mas só duas quebraram! - Observou, curioso.

— Isso é porque elas são encantadas para que nunca se quebrem. - Contou o vendedor. - As duas que estragaram, eram bem antigas. Eu não tinha tanta habilidade com magia na época. Acho que é por isso que quebraram. - Divagou.

— Você é um mago. - O dragon slayer constatou o óbvio.

— Sou um vendedor, que usa magia de forma amadora nas peças que fabrica. - Corrigiu, constrangido, levando a mão direita até a nuca. - Prazer, Nathan Waarnemer. - Apresentou-se.

Também, só naquele instante, o mago do fogo observou melhor a pessoa com quem conversava. Tratava-se de um senhor gorducho, um tanto mais alto que ele. Os cabelos castanhos e a barba por fazer, estavam completamente salpicados por fios brancos, indicando que ele provavelmente tinha uns quarenta anos. As feições simpáticas conquistavam com facilidade, de forma que suas vestes surradas não interferiam na elaboração de uma boa impressão.

— Natsu Dragneel. - O rapaz apresentou-se, em resposta.

— Eu sei. - O homem revelou, enquanto deixava a bandeja em uma das bancas de sua barraca. - Não há que não conheça o Salamander, da Fairy Tail. - Explicou, ao receber um olhar desconfiado do garoto.

— Ah. - Murmurou, observando rapidamente a pequena tenda.

O jovem notou que, além das muitas peças expostas aqui e ali, no interior da barraca, havia uma mesa, com várias ferramentas espalhadas. Mas o que realmente atraiu a sua atenção foi uma prateleira, onde diversas lacrimas coloridas estavam dispostas.

Curioso, adentrou o espaço sem nem pedir permissão ou licença, para que pudesse observá-las melhor.

— Você fez todas elas? - Perguntou, impressionado. Ao aproximar-se, constatou que cada uma das esferas de vidro, tinha dentro de si uma miniatura. Umas retratavam paisagens e animais, outras, pontos turísticos de Fiore. Algumas ainda, tinham por tema ocasiões especiais, como o Natal e o Ano Novo. Contudo, todas eram preenchidas por um líquido aquoso e decoradas com glitter ou com inúmeros floquinhos brancos, que simulavam a neve.

— Fiz. - O comerciante confirmou, também adentrando a pequena tenda. - A maioria foi por encomenda. - Explicou. - As pessoas geralmente escolhem algo importante, que querem eternizar, e eu faço o serviço. - Contou, orgulhoso. - Você gostou? - Perguntou, assentando-se ante a mesa onde as ferramentas repousavam.

— Sim. - O jovem respondeu, meneando a cabeça positivamente. - São muito bonitas. - Elogiou.

Contemplando as pequenas peças, o mago do fogo não pôde evitar que seus pensamentos vagassem. Tanto que nem escutou o humilde agradecimento do vendedor.  

Sua mente foi preenchida com lembranças, especificamente do dia em que perdera uma aposta para Asuka, sendo, por consequência, obrigado a fazer as vontades da menina por um dia inteiro. Lembrou-se de como correu por Magnolia para cima e para baixo com a garotinha, Lucy e Happy, fazendo pequenos trabalhos. Posteriormente, descobrira que os serviços tinham por objetivo comprar de volta um globo de neve que pertencera a Bisca e Alzack, possuindo enorme valor sentimental.

Sem perceber, abriu um sorriso, revivendo as diversas memórias, até chegar em uma específica. Estava tão absorto, que nem sentiu as bochechas esquentarem, quando lembrou-se de seu quase primeiro beijo com a maga celestial, ordem de uma Asuka aparentemente possuída, que foi evitado no último instante pela insegurança da loira, que jogou o exceed azul na frente. Na época ele não entendera porque aquilo havia sido tão frustrante.

— Natsu-san? - Nathan chamou, incerto.

— Heim? - Tirado de seus devaneios, o mago de cabelos róseos piscou, constrangido.

— Você estava olhando os globos e, de repente, saiu de órbita. - Comentou, entre risos.

— Ah! - Exclamou, sem graça. Nos últimos dois dias, sua vida tinha virado uma bagunça tão grande que, quando menos percebia, já estava afundado nos próprios pensamentos. - É que eles me fizeram lembrar de alguém. - Justificou.

— Entendo. - O homem comentou. - Por isso você está vermelho? - Perguntou, em tom sugestivo. O dragon slayer sentiu o estômago congelar.

— Eu não estou vermelho! - Contestou, agitando os braços atabalhoadamente.

— Está mais vermelho agora. - Contou o comerciante. - Pensando bem, você parecia bem distraído enquanto caminhava, Natsu-san! - Lembrou. - Ao ponto de quase me atropelar. - Brincou. - Estaria, naquele momento, pensando nesse alguém? - Sugeriu.

Natsu estava estupefato. Por ser quase que inteiramente leigo em assuntos amorosos, ficara completamente atônito perante as deduções daquele desconhecido.

— E-eu não sei do que você está falando! - Gaguejou, desconversando descaradamente.

— Diga-me - Instigou. -, no que estava pensando? - Perguntou, balançando as sobrancelhas de forma irritante.

Acuado sem nem saber o porque, Salamander olhou em volta, em busca de qualquer desculpa que satisfizesse o curioso a sua frente. Sem pensar direito, falou a primeira coisa que lembrou ao contemplar o amontoado de pessoas agitadas que preenchiam a rua:

— No Hanami! - Mentiu, sem nem perceber que sua resposta era um tanto ilógica. Afinal, Natsu não era dotado de muita astúcia.

— Isso não faz sentido. - O ambulante questionou. - Quem raios fica tão distraído, apenas pensando no Hanami? - Perguntou, retoricamente. Todavia, aparentemente deu-se por vencido,  apanhando suas ferramentas e começando a trabalhar em um produto ainda informe, para alívio do outro.

O mago do fogo estava preparando-se para seguir seu caminho, quando a voz de Nathan prendeu sua atenção, mais uma vez.

— Você deve gostar bastante do Hanami. - Presumiu.

— Não exatamente. - Respondeu Salamander, casualmente.  

— Como assim?! - Surpreendeu-se o homem, esbugalhando os olhos esverdeados. Ademais, o garoto não estava distraído por causa disso? - Pensei que os habitantes de Magnolia apreciassem muito a ocasião. - Externou.

— Não é que eu não goste. - Corrigiu-se. - Para mim, a razão da comemoração não importa tanto, desde que eu possa estar com meus amigos. - Contou, de forma simples.

— Entendo. - Comentou o mais velho. - Mas você parecia especialmente preocupado com o Hanami, para quem não liga para a comemoração. - Observou, astuto.

— É porque alguém importante para mim gosta muito do Hanami. - Natsu revelou, impulsivamente.

— RÁ! - Comemorou o comerciante, levantando-se e apontando o dedo para o rapaz. Só então, o garoto se deu conta de que havia sido passado para trás.

Ao perceber que havia falado mais do que deveria, Dragneel levou ambas as mãos até a boca, como se esse gesto pudesse socar novamente as palavras ditas garganta a dentro. O vendedor riu ante a atitude infantil do rapaz, e falou entre risos:

— Aposto que essa pessoa importante é a mesma da qual você estava se lembrando, ao observar as lacrimas. - Presumiu.

— Pare de falar essas coisas! - Salamander pediu, exasperado. - Está me assustando! - Confessou.

Nathan parou tudo o que estava fazendo e lançou ao jovem um olhar piedoso. Foi só o assunto vir à tona, que uma certa dose de confusão e angústia tornara-se perceptível em seu semblante. Complacente, suspirou.

— Olha garoto, eu não sei exatamente o que está te preocupando, mas acredito que você vai se sair bem. - Falou, em tom tranquilizante.

Novamente, Natsu o encarou de forma desconfiada. Afinal, em menos de cinco minutos, um completo estranho havia arrancado dele mais informações sobre seu relacionamento com Lucy do que ele havia comentado em voz alta nos últimos quatro meses. Até mesmo a sua angústia com a situação, o ambulante havia captado.

— Como pode ter certeza que vou me sair bem, se nem ao menos sabe pelo que estou passando? - Inquiriu, uma leve nota de ironia na voz. Afinal, ele apenas tinha um filho para criar. Problema pequeno.

O comentário, minimamente ressentido, deixou transparecer que, o que o dragon slayer estava enfrentando, não era algo simples de se resolver. Certamente, muito mais que uma paixonite adolescente. Diante de tal conclusão, o homem mais velho pensou por quase um minuto, antes de formular uma resposta:

— Por que você é muito novo, mas já captou a essência do que é amar alguém. - Contou, por fim.

— Quem disse que eu amo alguém? - Ainda mais corado, o dragon slayer questionou. - E mesmo que eu amasse, não consigo entender o que quer dizer. - Admitiu, irritado.

O vendedor o encarou, com uma gota na cabeça, percebendo que a perspicácia do dragon slayer não era proporcional a sua força. Talvez fosse melhor fazer um desenho.

— Colocar a felicidade de uma pessoa a frente da própria. - Continuou, pausadamente. - Você está alegre pelo Hanami, apenas porque alguém que é importante para você aprecia a data. - Explanou. -  Essa é a essência. - Concluiu o raciocínio.

— Eu ainda não entendo o que você está falando. - Cruzando os braços, o rapaz resmungou. O comerciante suspirou frustrado.

— O que eu quis dizer, em suma, é que se você tem a capacidade de colocar o bem estar da pessoa que ama acima do próprio, então terá forças suficiente para lutar por ela, independente de qual seja o problema que enfrentem. - Tentou novamente, com outra abordagem. - Na verdade, é até meio desnecessário eu explicar a teoria de algo que você já pratica. - Observou. - Como chegamos nesse assunto mesmo? - Perguntou, com a cara deslavada.

— Seu desgraçado, você que ficou xeretando onde não devia! - Acusou Salamander.

— Oh, certo. - Limitou-se a dizer o outro, voltando sua atenção para o trabalho manual que desenvolvia anteriormente.

Natsu passou os olhos uma última vez pela barraca, antes de decidir deixar o local. Envolvera-se de tal forma na sequência de acontecimentos, que acabara se esquecendo que tinha que levar o almoço de Lucy. Se Porlyusica sequer desconfiasse que deixou a maga estelar passar fome, ainda mais estando anêmica, certamente arrancaria sua pele para fazer tapete.

Porém, de certa forma, sentia-se ajudado. Aquela tensão, guardada no fundo de seu peito, que nem mesmo a satisfação de contemplar a alegria de Lucy por causa do Hanami fora capaz de dissipar, já não existia. Ele percebeu que, assim como prometera a loira, realmente poderiam seguir em frente, enfrentando o que quer que o futuro os reservasse.

— Como você consegue fazer isso? - Indagou, a meio caminho da saída.

— Isso o quê? - Nathan devolveu a pergunta, enquanto moldava a nova peça.

— Perceber tanta coisa, sem que eu falasse nada. - Respondeu.

— Na verdade - Começou o vendedor, novamente encarando o jovem. -, você falou mais do que deveria. - lembrou.

— Ora seu… - Esbravejou o mago, enquanto o mais velho ria.

— No decorrer dos anos, graças ao meu ofício, inúmeras pessoas apaixonadas vieram até mim, atrás de presentes especiais. - Contou. - Fui capaz de aprender algumas coisas, apenas observando. E também de extrair pequenas informações, que fossem capazes de me auxiliar na produção da lembrança perfeita. - Emendou.

— Caramba, você é enxerido mesmo. - Concluiu o dragon slayer, fazendo outra gota aparecer na cabeça do ambulante. - De qualquer forma, obrigado. - Agradeceu, caminhando para fora da tenda. -  Nunca imaginei que poderia encontrar ajuda aqui. Na verdade, não achei que pudesse encontrar em lugar algum. - Confessou, parando brevemente na entrada.

— Tenha um bom Hanami, Natsu-san! - Desejou o comerciante com um sorriso brando, recebendo como resposta apenas um aceno do mais novo. - Jovens! - Exclamou, fitando as costas do mago, antes de voltar ao trabalho.

 

• 

 

— Veja! Não é o Natsu? - Meldy perguntou, apontando o dedo para o jovem que caminhava do outro lado do rio, sem constrangimento.

— É ele sim. - Juvia confirmou. - Deve estar levando o almoço para a Lucy. Já que ela está adoentada, ele vem cuidando dela, como sempre. - Deduziu, ao ver o pacote que o mago carregava, sem conseguir conter a inveja em suas palavras.

A maga da água admirava profundamente o jeito que os dois colegas de guilda se relacionavam: Com grande companheirismo, sem barreiras. Certamente, estavam muito mais próximos de avançarem para um relacionamento romântico do que ela e Gray, já que o último, que antes apenas fugia de suas investidas amorosas, agora parecia até mesmo evitar a sua presença. Tristonha, suspirou.

— Vamos, Juvia-chan! - Vendo o estado depressivo da companheira de time, Meldy chamou, puxando-a pela mão. - Quero visitar todas as barraquinhas antes que anoiteça. Amanhã, com certeza isso aqui ficará intransitável, por causa do Hanami. - Comentou.

Hai. - A Loxar mais velha concordou, seguindo a mais nova.

Mesmo que, no dia anterior, tivessem visitado parte das feirinhas formadas pelas ruas, na intenção de distrair a mulher chuva da grosseria perpetrada pelo mago do gelo, a rosada decidira continuar com sua exploração consumerista, pelo mesmo objetivo: Juvia tinha se distraído enquanto faziam compras, mas, após retornar para o dormitório, ficou depressiva novamente.

Disposta a fazer a amiga esquecer do moreno que, na sua concepção, não poderia ser mais idiota, Meldy a arrastava pelas vielas, adentrando em tantas tendas quanto possíveis e divertindo-a com qualquer besteira. Entretanto, sabia que a alegria da azulada seria apenas temporária. Bastou ver o quanto ela encarara com certa inveja o fato do dragon slayer do fogo cuidar com tanto empenho da maga estelar, para entender.

A verdade era que a maga sensorial não entendia ao certo o ponto em que o pretenso relacionamento entre Juvia e Gray começou a desandar. Claro que o romance dos dois - se é que as investidas unilaterais da azulada podiam ser consideradas assim - nunca chegou a se concretizar. Contudo, nos meses que sucederam a batalha com a Nihil Occultum e a suposta morte de Heartfilia, os dois haviam sim, se aproximado bastante.

A maga da água havia contado a ex-Crime Sorcière, em uma das várias noites que passaram em claro para conversar trivialidades, que havia feito diversas missões em companhia do mago do gelo - apenas dele, importante salientar -, no período entre a suposta morte da maga estelar e seu milagroso retorno.

Mais que isso, a Loxar mais velha afirmou que, nessas ocasiões, sentia como se as barreiras que a separavam do discípulo de Ur, estivessem cedendo, lentamente. O moreno parecia muito mais a vontade em sua companhia, e até mesmo a convidava para os trabalhos.

Porém, bastou a loira retornar, restabelecendo a formação original de seu time, que havia se desintegrado em razão da dor da perda, para que Fullbster voltasse a ignorar Juvia, tornando-se ainda mais distante e frio que nunca.

Claro que, de princípio, Meldy imaginou que a azulada estava exagerando, motivada pelos ciúmes excessivos que sempre nutrira em relação a Heartfilia. Contudo, nos quase quatro meses que transcorreram desde sua entrada para a Fairy Tail, a rosada fizera questão de observar cada movimento de Gray e Juvia, buscando descobrir qualquer coisinha que fosse capaz de ajudar sua amiga. De fato, o que vira, não foi nada animador. A companheira de time continuava impiedosamente sendo ignorada, rejeitada e, por vezes, até mesmo verbalmente maltratada pelo cueca gelada (a maga sensorial adorava a forma que Natsu o chamava).

Para piorar a situação - ou melhorar, dependendo do ponto de vista -, até mesmo as reações da maga da chuva ante ao rechaço de seu amado, estavam mudando. Se antes Juvia chorava dramaticamente, inundando a guilda e encharcando os desavisados, todavia, sendo tomada por uma onda de otimismo cinco minutos depois, agora, ela apenas abaixava a cabeça e marejava os olhos, sem conseguir disfarçar a mágoa que evidentemente a preenchia.

Suas tentativas, também, ficavam cada vez mais tímidas e incertas, para não dizer mais espaçadas. No geral, a maga da água vinha fazendo suas aproximações de forma retraída, como se cada movimento que Fullbuster realizasse, pudesse machucá-la. A ex-Crime Sorcière diria que ela estava perdendo as esperanças. Mas não de uma forma boa, de modo que pudesse partir para outra, e sim afundando na própria desolação, sentindo-se miserável por não poder evitar de dedicar um sentimento tão grande e genuíno a alguém que só lhe retribuia desprezo.

Dessa forma, a nova integrante da Fairy Tail sentiu, inevitavelmente, crescer em seu interior uma birra tremenda pelo discípulo de Ur.

Isso era até irônico, se parasse para pensar. Meldy havia construído, nos primeiros anos de sua vida, um ódio descomunal pelo mago do gelo, por acreditar que ele havia sido o culpado pela morte de sua mentora, e responsável por todo o sofrimento de Ultear.

Sua raiva pelo moreno era tão absurda, que a jovem, na época uma criança, havia decidido dar cabo da vida de Fullbuster, estando disposta até mesmo a sacrificar a própria se fosse necessário, como, de fato, quase chegou a fazer.

Se não fosse por Juvia, Gray, há muito estaria morto. Se não fosse por Juvia, Meldy teria se afundado de vez em todo o ódio em meio ao qual crescera.

A maga da água foi a primeira pessoa a demonstrar para a maga sensorial, o quanto o amor motiva uma pessoa a lutar e sobreviver. Até então, a pequena criança acreditava que tudo isso não passava de tolices inventadas. Mais que isso, a mulher chuva foi a primeira pessoa a valorizar a vida de Meldy. Abraçando a própria inimiga, a estranha jovem de cabelos azuis mostrou o quanto sua existência era importante.

Apesar de amar muito Ultear, a jovem de cabelos róseos tinha consciência de que a filha de Ur a guiara de forma errada, nos primeiros dez anos de sua vida, embora tenha passado os sete seguintes tentando se redimir de tal ato. Contudo, fora Juvia quem a ajudou a dar o primeiro passo para fora das trevas que a encobriam. E isso, Meldy jamais esqueceria. Tanto que, passara a nutrir por Loxar uma admiração gigante, seguida de um grande afeto, que só aumentaram quando ela aceitou de bom grado ceder seu sobrenome para que a rosada pudesse recomeçar a vida na Fairy Tail. Juvia tinha se tornado não apenas uma amiga e companheira de time, mas o mais perto que Meldy tinha de um parente.

Por outro lado, não conseguia manter a simpatia pelo mago do gelo. O ódio mortal que outrora havia sentido, tinha sim, desaparecido, e nos sete anos que a Ilha Tenrou ficou submergida, a garota não manteve qualquer sentimento negativo em relação a ele. Mas bastou integrar oficialmente a guilda e constatar a frieza com que ele tratava a maga da água, para criar certa aversão ao moreno.

— Veja, Mel-chan! - Juvia gritou, fazendo com que a maga sensorial pulasse de susto. Tinha se distraído ao ponto de se esquecer que caminhava por uma avenida apinhada de gente. - Uma barraquinha de doces! - Apontou, animada.

Meldy sorriu, ante a animação da companheira, ficando imensamente aliviada por ver seu semblante mais alegre. Ela ainda não havia se habituado a sensação, mas seu peito se aquecia sempre que a maga da água se alegrava.

— Temos que provar todos eles! - A nova integrante da Fairy Tail, que por sinal era muito comilona, exclamou, puxando a jovem de cabelos azuis em direção a pequena tenda.

A mulher chuva ria ante ao deslumbre da maga mais nova frente a tantos quitutes. A garota de fios rosados realmente parecia disposta a degustar tudo o que o pequeno comércio oferecia, tanto que ambas demoraram muito mais do que previam apenas naquele local.

Um bom tempo depois, finalmente deixaram a barraca, completamente satisfeitas e carregando diversos pacotes para que pudessem continuar com a comilança durante a madrugada. As duas companheiras de time conversavam alegremente, planejando as roupas que usariam de noite, na algazarra que aconteceria na sede da Fairy Tail - chamada por muitos de Pré-Hanami - e no festival, que ocorreria durante todo o dia seguinte.

Foi enquanto rejeitava de forma dramática uma das sugestões de sapatos oferecidas pela Loxar mais velha, que a mais nova notou-a parar de forma abrupta. Curiosa, seguiu o olhar da amiga, em busca de descobrir a razão de sua pausa.

Desanimada, suspirou. Gray vinha seguindo despreocupadamente pela calçada, exatamente em direção a elas. Contudo, tinha a cabeça baixa e ambas as mãos no bolso, não reparando a presença das companheiras de guilda.

Meldy observou, com um aperto no peito, a forma deslumbrada com que a azulada encarava o moreno. Como se o simples fato dele caminhar fosse mais importante que tudo a sua volta, mereçendo uma parada obrigatória para que fosse contemplado. Os olhos não negavam seus sentimentos, ao contrário, pareciam transbordar de tanto amor e ternura. Qualquer indício de mágoa se fora apenas por encontrá-lo.

Quando o mago do gelo finalmente ergueu a fronte, deparando-se com as duas jovens a menos de cinco metros de onde se encontrava, arregalou levemente os olhos. Gesto ignorado pela jovem apaixonada, mas não pela outra, que, como sempre, observava tudo muito atenta.  

— Gray-sama!!! - Juvia não pôde evitar de gritar, o timbre exalando excessiva exultação apenas por vê-lo. O braço livre das compras que trazia, ergueu-se e agitou-se em uma saudação animada.

Meldy quis estapear a parceira de equipe por tal ato. Fullbuster não merecia ser saudado com tamanha alegria, não quando vinha tratando a maga da água com tanta indiferença. Porém, a revolta direcionada a amiga logo desapareceu, dando lugar a uma raiva intensa, ao ver que o discípulo de Ur nem se prestara a responder o cumprimento, antes de desviar da rota que vinha traçando, adentrando um beco qualquer, ignorando a presença de ambas.

— Ele fingiu que nem viu a gente… - Murmurou, estupefata.

Juvia, por sua vez, estava tão atônita que nem percebera que seu braço ainda estava congelado no alto. Apenas seu semblante demonstrava o quanto aquela atitude havia partido seu coração. Mais uma vez.

— Eu vou matar aquele desgraçado! — Vendo os olhos da companheira marejarem, Meldy pensou, rangendo os dentes e erguendo os punhos cerrados.

 

• 

 

A noite ergueu-se sobre Magnolia, mas nem o breu que trazia consigo foi capaz de aplacar a agitação das ruas. Pelo contrário, a animação das pessoas, anfitriãs e visitantes, parecia crescer a cada minuto. O comércio, tanto local quanto ambulante, continuava a todo vapor, aproveitando cada segundo da ocasião festiva para lucrar.

E não era apenas nas ruas que o entusiasmo se fazia presente. Em uma das antigas casas ladeadas pelo rio, uma certa maga loira mal podia conter-se de ansiedade. Ela havia contado os minutos, esperando sem paciência alguma a noite chegar oficialmente, para que pudesse abandonar seu repouso. Lucy sempre levava os avisos de Porlyúsica muito a sério, portanto, não se arriscaria a levantar ao crepúsculo, por exemplo. Só começaria a se arrumar quando o céu estivesse completamente negro.

Natsu, apenas observava as reações da parceira, rindo vez ou outra. A jovem parecia uma pipoca, agitando-se ansiosa, sobre o colchão. Quando os últimos indícios de claridade abandonaram o firmamento, não pôde evitar de sorrir, ao constatar o brilho que os olhos da jovem emitiam. Realmente, Nathan estava certo. Ele sentia-se imensamente feliz, apenas por vê-la daquela forma.

— Finalmente! - A maga estelar exclamou, erguendo o tronco em um rompante.

Ela teria se levantado em um salto, se seu corpo não fosse novamente empurrado de forma delicada contra o colchão, pelas mãos firmes do dragon slayer.

— Natsu? - Perguntou incerta. Contudo, qualquer dúvida que tinha se esvaíra quando o mago se posicionou acima de seu corpo.

— O repouso acabou. - Declarou ele, fitando os olhos da loira com intensidade.

Lucy desviou o olhar, completamente corada. Contudo, ela sorriu.

Um forte arrepio tomou seu corpo quando as mãos calejadas do dragon slayer subiram sob a blusa de seu pijama, entrando em contato direto com a pele de sua cintura. Sem opor resistência, levantou os braços quando ele começou a erguer o tecido, permitindo que ele retirasse a dita peça.

Então ele a beijou.

Furiosamente, fazendo questão de evidenciar seu desejo a cada segundo, Dragneel tomou a boca de sua parceira.

Suas línguas se exploraram de forma insana, cada movimento aquecia gradualmente o corpo de ambos. E nem a intensidade do beijo foi capaz de fazer com que a loira ignorasse o forma forte com que os dedos de Natsu pressionavam suas coxas. Entorpecida, limitou-se a entranhar as próprias mãos nos fios rosados.

O mago do fogo não fez questão de se afastar, para continuar despindo a garota. Foi enquanto maltratava o pescoço alvo que puxou o pequeno shorte para baixo, com certa impaciência. Arrancou a própria camisa logo depois.

Erguendo-se para contemplar a maga, que jazia apenas com as roupas íntimas, notou o quanto ela parecia incerta, mesmo que aquela não fosse a primeira experiência de ambos. Involuntariamente, recordou-se das palavras proferidas por Nathan, naquela tarde:

"Colocar o bem estar dela acima do próprio."

Sentindo um peso incômodo pela lembrança, controlou-se ao máximo, respirou fundo e perguntou:

— Havia algum motivo, além da gravidez, para que você me evitasse?

Lucy corou com mais intensidade. Ainda não estava habituada àquele tipo de situação. Por mais que desejasse seguir, o constrangimento, entre outras coisas, a restringiam, fazendo com que ela se sentisse um tanto patética.

— Você pode me dizer, Lucy. - Encorajou-a. - Pode me dizer qualquer coisa. - Declarou, transmitindo confiança. A jovem inspirou diversas vezes, antes de se manifestar:

— É que ainda é vergonhoso… - Admitiu, reticente. - E também… - Continuou, o rubor em sua face atingindo um outro nível. - Machuca um pouco, sabe. - Emendou, desejando intimamente desaparecer da face da terra, relembrando-se da primeira noite de ambos.

A maga recordava como sentira-se extasiada com todos os toques de Natsu em seu corpo. Lembrava-se da sensação de descoberta de ambos, da timidez e da curiosidade. Era verdade que tinha apreciado todos esses momentos, mas o que veio em seguida… Foi um tanto complicado e doloroso. Mesmo assim, ela não impediu que ele prosseguisse. Apenas mordeu os lábios e contorceu o semblante, engolindo a pontada pungente que cada investida provocava.

— Então é isso? - Piscando aturdido, Salamander inquiriu, num misto de alívio e amargura. - Eu machuquei você? - Perguntou aborrecido.

— Não! - Heartfilia exclamou de imediato, levantando-se. - Não intencionalmente! - Tratou de corrigir, vendo a reação negativa do outro. - Isso é normal, eu acho. - Contou.

Mesmo diante da explicação, Dragneel já não parecia disposto a prosseguir. Antes, estava tão inebriado, que ignorara completamente o desconforto da parceira. E isso fez com que sentisse mal.

— Você… - Perguntou, sem jeito. - Quer continuar? - Questionou, alisando os cabelos de forma nervosa, sem, entretanto, quebrar o contato visual que mantinham no momento. Eles estavam tão próximos, que suas respirações chegavam a se fundir.

Em resposta, Lucy apenas deitou, acomodando-se contra o colchão. Sua tensão era palpável, mas nem por isso ela deixou de abrir um sorriso tímido.

Natsu, compreendendo a deixa, tornou a inclinar-se sobre ela, selando seus lábios, dessa vez, de forma cálida, para que a maga ganhasse confiança.

Gradualmente, foi aumentando a intensidade de cada toque e cada gesto, até que, novamente, a tornasse sua.




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Notas finais do capítulo

E, é isso.

Nada muito evidente, porque não é o meu estilo de escrita. Espero, sinceramente, que vocês tenham gostado. :3

No próximo capítulo, teremos farra na Fairy Tail, regada por alguns momentos fofos e alguns de descobertas. Ah, se tudo sair como eu planejo, também teremos momentos tensos.

Gostaria muito de saber a opinião de vocês sobre o capítulo.

Até o próximo!



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