— É melhor que você se acomode, Vossa Alteza. – Rachel apontou para um espaço vazio na cama.

Quinn segurou as pontas do vestido e caminhou até o móvel enquanto Rachel pegou a primeira almofada que viu para poder sentar confortavelmente.

— É melhor que soltes meu travesseiro de ventre antes de iniciar seus dizeres.

— O quê? – Rachel olhou da almofada para Quinn repetidas vezes.

— Eu faço uso deste utensílio em vossas mãos, senhorita Rachel, para colocar em meu ventre, por debaixo de minha vestimenta.

— Você finge que está grávida?

— De modo absoluto! – Quinn endireitou-se. – Todas as moças da corte fazem igualmente o uso. Meredith, minha Ama, ensinou-me que é deste modo que devemos mostrar para os cavaleiros que estamos sadias e que podemos carregar um filho no ventre.

— Quinn! – Rachel se endireitou no lugar. De repente ficou bastante desconfortável naquela posição. – Você tem o que? Dezessete anos? Pensa em ter um filho agora?

— Não precisa recordar-me, Rachel. – A loira suspirou. – Eu sei que já passei da lua.

— Hã? – A morena estava boquiaberta.

— Mas não se assustes. – Colocou uma mexa clara atrás da orelha, mostrando a face ruborizada. – O rei Russel Terceiro arranjou-me o casamento com o Príncipe Arthur Stringer Amênico Matteo, das Terras do Sul.

— Seu pai te arrumou um casamento?? – Rachel levantou-se e passou a andar de um lado para o outro, tentando assimilar as informações que ouvia. – Você vai casar com aquele playboy metido a bonitão? Foi ele que me prendeu, sabia?

— Dizem os boatos que Arthur é um excelente caçador. – Deu de ombros. Parecia ter aprendido o movimento rapidamente com o tempo em que esteve na presença da morena.

— Pelo menos ele tem a mesma idade que você, né?

— Definitivamente seremos julgados por Arthur ser apenas dez anos mais velho. Mas meu pai, assim como o Rei Claus, pai de meu futuro esposo, disseram-nos que resolverão qualquer boato que circular em ambos os reinos.

— Claro que resolverão. Mandarão para a forca todos que derem um pio sobre o assunto.

Quinn a olhou de soslaio.

— Você quer mesmo casar com ele, Quinn? – Os olhos de Rachel quase suplicavam uma resposta negativa. Ninguém deveria se obrigado a casar.

— É meu dever como princesa. – Respondeu a mais alta, simplesmente.

— Sabe... – A morena se escorou na pilastra do dossel da cama. - De onde venho, a sociedade mudou por completo. Agora, para que uma mulher seja considerada um “padrão de beleza”... – Rachel fez um sinal de aspas com as mãos. – Ela deve ser o mais magra possível. Embora eu não concorde com isso. Muito menos meus amigos.

A loira analisou o corpo da garota a sua frente, deixando-a desconfortável mais uma vez.

— Então vós sois considerada neste padrão de beleza.

As bochechas de Rachel adquiriam um tom avermelhado.

— Eu tenho meus rituais matinais. – Tentou não demonstrar que a observação de Quinn a afetou. – Tirando meus pais... – Rachel pensou um pouco. – Posso contar com meus melhores amigos, Mercedes, Kurt e Tina, que me fazem diversos elogios. Não tantos quanto eu gostaria, mas servem para deixar minha autoestima alta. – Sorriu com a lembrança dos amigos. – E sim, tento manter a silhueta com exercícios matinais. Não quero ter problemas cardíacos como meu tio Bryan. Mas veja só a Mercedes. Ela tem um peso fora dos padrões, é linda, saudável, carismática, tem os garotos a seus pés e possui uma autoestima inabalável. – Rachel sentiu saudades da amiga e queria que ela soubesse o quanto a admirava. – Embora ela deva entender de uma vez por todas que sou eu quem deve ganhar os solos.

— Oh... – Quinn ergueu a sobrancelha direita fazendo o máximo de esforço humanamente permitido para poder compreender tudo o que era dito por Rachel, embora a dificuldade de entendimento estivesse mais alta ainda por conta da velocidade em que a morena falava.

— Só que as outras pessoas da escola têm dificuldades em ver a minha beleza. – Sentou-se na beirada do móvel. – Eles sempre fazem piadas sobre meu nariz e o fato de eu ser judia. Mas eu não ligo. Tina, Mercedes e Kurt enfrentam coisas piores. Estamos sempre juntos. Um apoiando o outro. Nossa força nos mantém unidos.

— O que é escola? O que é judia? – Empolgou-se a garota dos olhos avelã, se aproximando um pouco mais da outra.

— Calma. Chegaremos lá. – Rachel suspirou. Tinha um longo caminho para trilhar.

— Onde eu vivo as pessoas não têm casamentos arranjados por seus pais. Elas é que escolhem e só se elas quiserem, e definitivamente, não casam com menos de dezoito anos. – A mais baixa podia ver o brilho nos olhos da garota a sua frente, apaixonada pelo que ouvia. – Na nossa idade, Quinn, curtimos muito a vida. Beijamos na boca, nos apaixonamos e desapaixonamos, temos o coração partido... – Rachel parou de repente: – METAFORICAMENTE! Coração partido quer dizer que nós nos decepcionamos amorosamente! – Corrigiu, com medo de que Quinn pudesse interpretar de outra maneira. - ... E até transamos sem firmar nenhum tipo de compromisso.

— Até transamos? – Quinn repetiu sem entender.

— Até temos relações amorosas, carnais, com outra pessoa e essa pessoa pode ser tanto uma mulher quanto um homem ou, se você for adepto, pode fazer isso com diversas pessoas ao mesmo tempo. Embora os direitos LGBTQs ainda não estejam 100% aceitos. Estamos lutando por isso. Meus pais são gays também, então estou em todas as paradas LGBTQs.

Rachel desviou seu olhar sonhador para Quinn e por um instante achou que havia a quebrado.

— Quinn?! – A falta de resposta a preocupou. – Quinn! – Se aproximou da princesa e passou a mão repetidas vezes na frente do rosto delicado.

— De... Defini... Definitivamente, Rachel... – Quinn ainda parecia um pouco aérea. – Tens muitas informações. – Engoliu em seco. – Está difícil compreender tudo o que dizes como algo normalizado.

— Quinn... – Rachel ajoelhou-se na frente da futura rainha. – Estamos falando de seiscentos anos afrente. Eu sei que é extremamente difícil. Mas tente fazer uma força e ouvir o que falo sem julgamentos extremistas.

A loira piscou algumas vezes e concordou com a cabeça.

— Quer que eu continue?

Mais uma vez recebeu um aceno positivo da loira.

— Bom...

A conversa foi tão longa, contando ainda com diversos vídeos no youtube sobre a sociedade no século XXI, que Rachel teve o prazer de apresentar para a loira (embora não soubesse como conseguia conectar a internet), que ambas não perceberam que o sol já havia nascido há algum tempo e as Aias estavam a poucos passos de adentrar no quarto da Princesa Lucy Quinn.