Back to the Past escrita por Lady Di


Capítulo 2
Capítulo 2 - Death Penalty




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— Mas meu rei... – Uma voz masculina ecoara no ar. - Ela não desperta há três luas. Seus lábios estão secos como o Deserto Vermelho do Oeste, sua face pálida como a neve e ...

— Basta! – Outra voz trovejara.  – Ousas recusar a ordem de um rei? – Houve um breve estrépito de lâminas.

— N-Não senh...

— Não vedes claramente que esta mulher trata-se de uma bruxa? – O silêncio preencheu o ambiente, interrompido apenas por uma suave voz feminina.

— Meu senhor, se esta jovem fosse realmente uma bruxa, não credes que já estaria liberta?

— Lucy, minha querida filha, não caia nas armadilhas deste ser desprezível...

— Mas o q...?— A garota despertara de repente, seu coração ameaçava sair por sua boca e um fétido odor preencheu suas narinas no mesmo instante.

— É a bruxa! Acordou!! – Rachel pôde ouvir os sussurros ao fundo.

...

— Bruxa?  - Repetiu para si mesma deixando sua mente vagar até o Musical do Mágico de OZ. – Eu não me inscrevi para... – Os pensamentos corriam velozmente em seu cérebro e quando abriu os olhos para justificar-se sobre a peça, demorou um tempo para perceber que já estavam abertos, uma vez que a escuridão do local era imensa. Passando as mãos pelo rosto deu-se conta de que estava sozinha em uma pequena cela úmida e enferrujada. O medo apoderou-se de si enquanto tentava entender todo o ocorrido.  

— Kurt? Kurt?! – Chamou pelo amigo como o último fio de esperança. – KURT?! – Gritou desesperada, mesmo com a garganta inteiramente seca.

— Acalme-se, criança. – Uma voz arrastada tomou conta do ambiente, deixando uma Rachel ainda mais assustada. 

— Q-quem... é você? – Falou a esmo, na direção de onde ouvira o som.

— Mas que espécie de linguajar tu usastes? – Disse a voz. – De onde sois vós?

— O quê?! – Rachel cerrou os olhos. – Eu não estou entendendo.

Um breve silêncio se formou, fazendo com que a ansiedade tomasse conta da garota até a voz surpreendê-la novamente.

— Chamo-me Olven. – Falou calmamente.

— R-Rachel...

— Poderia saber o motivo do qual foste parar em um recinto como este, jovem?

— Eu... Eu não... Eu simplesmente n-não... sei! - Mais uma vez o silêncio estabeleceu-se naquele ambiente fétido e demorou um pouco mais do que o anterior para que Olven o interrompesse.

— Veja só... – Correntes arrastada puderam ser ouvidas. – Não pude pagar os tributos exigidos por Vossa Majestade, o Rei, e vim parar neste local. A masmorra do castelo real. Minha sentença acontecerá no próximo alvorecer.

— Sua sentença? – Assustou-se, soluçando duas vezes mais.

— Desmembramento de meus membros...

...

— Olá...? – Rachel ouvira uma voz ao longe – Senhorita...? Senhorita?!

— Hã...?

— Acredito que vós desmaiastes... Há quantas luas não comestes algo? – Olven falara calmamente.

...

— Você não está com medo? – Rachel tivera coragem para perguntar depois do segundo desmaio. 

— Estou preso neste local por um verão inteiro, minha cara. – Uma risada rouca saíra da escuridão. – Qualquer lugar seria melhor do que este.

Rachel engolira em seco.

— Ouvi dizerem que estás condenada por ser uma bruxa. Isto é verdade? – Olven continuou, interessado.

— Acha mesmo que se eu fosse uma bruxa ainda estaria aqui...? – De repente um pensamento lhe veio à cabeça. – Aliás... Onde estou?

— Oras! – Assustou-se o homem. - Devem tê-la maltratado em demasia... – Falou consigo próprio.

— Eu estava em um lugar... – Rachel alisou o machucado na cabeça com a mão. - Mas aí eu caí... – A adolescente buscava relembrar o que havia de fato ocorrido. - ... E agora estou aqui...

— Jovem Rachel, creio que tenhas perdido sua memória na queda. – Explicou-lhe.

Mas antes que Olven pudesse lhe dizer qualquer outra coisa, um estrépito fora ouvido, e logo em seguida, passos decididos e sincronizados envoltos por uma trépida luz alaranjada.

— Os guardas...— Pôde ouvir o sussurro do mais velho.

— Ponha-se de pé, bruxa. – Uma voz grave e tilintar de chaves assustaram a garota, que prontamente levantou e deparou-se com um homem loiro, armado com uma espada.

— Não sou nenhuma bru... – Mas a fala morreu quando Rachel percebeu um outro guarda, um pouco mais franzino que o outro, retirar um pergaminho no bolso interno de suas vestes e coçar a garganta, um pouco desconfortável.

— Vossa Alteza, Rei Russel Terceiro, ordena que esta mulher que aqui se encontra, tenha um julgamento justo para que as devidas medidas sejam tomadas. Caso seja culpada pelos crimes de bruxaria, a mesma será queimada na Fogueira da Praça Central. Se for absolvida de suas acusações, poderá ter uma vida digna, como qualquer outro cidadão do reino. O julgamento fora prorrogado para acontecer no sétimo nascer do sol. Até lá, a prisioneira deverá ser tratada como qualquer capturado. E pela imensa bondade e compaixão de Vossa Majestade, não serão negados comida ou água. – O homem guardou o papel novamente no interior de suas roupas e aguardou os movimentos do outro, que parecia perdido em pensamentos. - Hã-hã... – Coçou a garganta o guarda franzino, indicando algo com a cabeça.

O loiro pareceu despertar, rapidamente entregando a Rachel uma jarra com algo que parecia água e uma tigela com alguma coisa que lembrava comida.

A garota deu uma boa olhada no que lhe fora entregue. Não havia talheres, muito menos um copo. Mas mesmo assim tomou toda a água em questão de segundos, não importando-se com os olhares fixos em si.

— Onde estão as minhas coisas? – Perguntou aos guardas, enquanto tomava coragem para comer o mingau esverdeado.

— Os pertences? – Perguntou o loiro, confuso.

— Sim. – Rachel revirou os olhos. – Onde se encontram os meus pertences?

— Por ordem do Rei, todos os prisioneiros deverão ser revistados e seus pertences permanecerão na sala da guarda até segunda ordem. – Respondeu o franzino, automaticamente, como um cão adestrado.

— Oh... – Rachel soltou um suspiro. Seu mais novo Iphone encontrava-se em sua mochila. Queria tanto ligar para Kurt ir buscá-la e dizer que tudo não passava de um mal-entendido.

Saiu de seus devaneios quando ouviu a grade se fechar novamente e a luminosidade se desfazer aos passos dos guardas.

...

Acordou de repente, com o barulho da tempestade caindo do lado de fora, e, desajeitadamente, procurou se aquecer, mas nada adiantava. As pedras que a cercavam estavam congelantes e suas roupas não eram preparadas para o frio que fazia naquela noite.

— Por qual motivo vós não criastes ainda uma de vossas magias para escapar? - Uma voz melódica assustou-a.

— O-oi?! – A garota pôs-se de pé prontamente, olhando para os lados, ignorando o frio que a atingia em cheio fazendo seus lábios tremerem. Foi então que percebeu um breve trepidar de fogo e uma sombra projetada na parede oposta. Uma sombra feminina.

— Se és uma bruxa, não consigo compreender o porquê de não escapar deste lugar desprezível. – A voz rouca falou, pensativa.

— Mas o quê? Q-que horas são? – Rachel demorou um pouco para lembrar onde estava, mas a outra a interrompeu no mesmo momento.

— Indaguei-me por diversas vezes nesta lua sobre o local de onde viestes. – A voz ganhou forma, mesmo com a pouca luz da tocha, quando uma loira alta de olhos esverdeados deu mais alguns passos, ficando praticamente frente a frente de Rachel, se não fosse pelas grades da cela. – Nenhum de nós conseguiu compreender muito bem o que falas.

A garota de cabelos mais escuros franziu o cenho, não adiantaria discutir, e pigarreou de forma sucinta:

— É dia ou noite?

— Noite... – Respondeu a loira, também com o olhar compenetrado.

— E... Quem é você? – A menor sentia que o frio que ali fazia iria matá-la.

— Quinn. – Falou sem muita importância, com os olhos verdes percorrendo toda a extensão da prisioneira.

Um silêncio se formou entre as duas. Rachel sentia sua respiração doer enquanto inspirava. Devia ter pego um resfriado daqueles. Ocorreu-lhe que realmente não haveria a menor chance de interpretar Elsa no fim do ano. Perderia a aposta que fizera com Mercedes na semana passada. A morena passou a se sentir incomodada sendo observada daquele jeito pelos olhos de avelã esverdeados, mas ficara ainda mais incomodada com as crises de tosses que a atingiram.

— Sua coriza é evidente. – A rouquidão interrompeu o silêncio mais uma vez. – Por que não faz algum tipo de feitiço para livrar-se disto? – Os olhos da estudante reviraram em suas órbitas.

— Não. Sou. Uma. Bruxa!! – Rachel explodiu de repente, dando alguns passos mais para frente e ficando ainda mais perto, em desafio. – Você não acredita que se eu fosse uma bruxa, eu estaria aquecida, com os cabelos feitos e longe daqui a muito tempo?? – A mais alta silenciou-se novamente, cravando seus olhos na face da outra.

— Estais usando algum tipo de truque, feitiço ou algo assim? – Questionou a loira, fazendo Rachel perder a paciência de vez.

— Esquece... – Deu de ombros, perdendo a esperança de continuar a argumentar. – Só quero ir para casa, ver meus pais e falar com Kurt que estou precisando da indicação da terapeuta Junguiana dele.

— De onde vens? – Pelo canto dos olhos Rachel pôde ver a sombra da loira se movimentar.

— Lima, Ohio. – Sussurrou a mais baixa, mesmo sabendo que Quinn não entenderia e assim que viu a expressão de dúvida da loira, viu que estava certa, mas assustou-se de imediato, quando a face mudar de questionamento para raiva.

— O que estais fazendo com meu colar?!

— Hum?! – Rachel deu um passo para trás. – Seu colar?! Eu achei na excursão! – Segurou o cordão, como forma de protegê-lo. Havia adquirido grande apreço pela peça.

— Eu o perdi na lua passada! - O som das grades se abrindo se fez presente. – Fiz com minhas próprias mãos em meu décimo quinto ano de vida.

Rachel afastou-se ainda mais quando a loira adentrou no local.

— Se não acreditas em mim, por que não vedes a pequenina pedra esmeralda gravada com o brasão de minha família? Um leão. – Quinn chegou mais perto e a garota não pôde mais recuar, uma vez que já estava encostada na parede fria.

Mesmo relutante, Rachel passou a analisar o objeto e com surpresa se deparou com um símbolo de um leão rugindo. Isso significava que a mais baixa talvez não estivesse ficando louca como Amanda Bynes. Se Rachel encontrou o colar no museu e o mesmo pertencia à Quinn, isso poderia dizer que estavam em alguma cidade próximas de Lima. Uma cidade que nevava muito, tinha um dos mais horrorosos sotaques do mundo e possuía um dos piores tipos de pena de morte...

— Então? O que achastes? – Quinn se aproximou, tentando olhar a peça.

— É seu. Definitivamente. – Estendeu a mão para a loira, que pegou o objeto com felicidade. – Desculpe, Quinn. Eu o encontrei no museu. – Deu de ombros. – De qualquer forma, Kurt achou horroroso mesmo...

— Não tenho conhecimento sobre o que viria a ser um museu, mas peço que aguarde um instante. – Pediu a mais alta, movendo-se de forma estranha. – Apenas mais um momento, por gentileza. – Foi então que a prisioneira percebeu que a outra retirava um de seus diversos casacos rudimentares de pele e lhe entregava, séria. - Aceite.

— É isso que fazem por aqui? – Perguntou Rachel com certa rebeldia, sem apanhar a manta quente. – Cuidam do resfriado de um prisioneiro para depois matá-lo?

— Se não queres, não há necessidade de atingir-me. – A loira deu as costas para sair da cela.

— Não! – Rachel pediu em desespero. – Desculpe! – Andou até a jovem, que se virou de supetão. – Estou morrendo de frio! – A pequena garota vestiu de imediato a manta, sentindo-se mais leve. – Obrigada.

— Embora eu ainda tenha meus questionamentos de que vós podeis vir a se declarar como uma feiticeira, Rachel, eu aceito suas obrigações.

— Ainda tem dúvida? – Perguntou uma baixinha incrédula naquilo que ouvia.

— Estive com meu cordão até o nascer da lua de ontem. – Quinn suspirou cansada, enquanto fechava a cela. – Como vós explicais o surgimento do mesmo em suas mãos? – Os olhos avelã a fitaram, desconfiados.

— E-Eu sei tão quanto você! – Rachel defendeu-se. Ela mesma sabia que aquilo tudo era uma situação definitivamente estranha e não sabia se defender daquela acusação.

— Veremos no julgamento em praça pública. Lhe resta uma lua. Aproveite-a. Sua fogueira já está sendo preparada. – A voz calou-se, assim como Rachel. Mas Quinn deixou a sala com passos apressados, ao ponto que Rachel deixou-se escorregar lentamente até o chão. Aquilo definitivamente não poderia estar acontecendo...


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