Outono escrita por Makimoto


Capítulo 9
Capítulo 9 — Prelúdio Turbulento;


Notas iniciais do capítulo

Oi, seus lindos, tudo bem? Meu deus... Em primeiro lugar, perdoem-me tanto pelo demora como pelo sumiço. Eu tive alguns problemas, alguns foram graves e outros foram mais leves, mas tudo de juntou numa bola de neve que acabou me derrubando seriamente. Teve a morte de uma parente minha, alguns problemas com o meu pai, com coisas aqui em casa, problemas de /kokoro/ também e eu acabei ficando totalmente sem ânimo para continuar. Cheguei a cogitar desistir da história, mas... está /quase lá/. Está tão perto do fim, e eu disse a mim mesma que precisava terminar; não só por mim, mas por vocês também. E eu acabei sumindo, e não respondendo a maioria dos comentários que recebi, tanto porque eu só queria responder quando eu atualizasse (é um hábito meu) tanto porque eu queria estar totalmente bem pra fazê-lo. Mas eu sou profundamente grata por todo o carinho, todo o amor e apoio, que vocês têm me dado. Muito obrigada. Vocês são perfeitos, são os melhores leitores que um autor podia pedir! E eu prometo que responderei todo mundo que falta de hoje pra amanhã sem falta! Não 'tô ignorando ninguém! (╯︵╰,) Enfim... Eu fiz uma postagem no grupo do Nyah! no Facebook um tempo atrás explicando (principalmente para os leitores antigos) que eu fiz algumas modificações em alguns nomes da história. Conforme eu falei antes, Outono era pra ser uma oneshot, por isso eu nunca me preocupei em atribuir uma nacionalidade específica para a história, porém com o passar do tempo, eu vi a necessidade de atribuir uma identidade local para ela e isso foi o que me motivou. Pra ficar mais fácil, eu optei por trocar os nomes por outros que tivessem a letra inicial igual. Kai e Hal continuam assim, mas Emi se tornou Emiko, Ravech se tornou Ryūma, Nikko virou Naoki, Rhys mudou para Rei, Adda virou Honoka, Kian se tornou Kazuhiko e, por fim, Candal mudou para Chiyoko. O nome da escola mudou para Shunkashūtō e o nome da cidade é Kaiten. Espero que vocês não se incomodem, mas eu realmente precisei fazer isso. Mas sem mais cerimônias, pls, dêem uma lidinha! ♡♡♡ (ps: leiam as notas finais pq tenho mais algumas coisas a dizer)



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Quando o som frenético do despertador ecoou, a dona do aposento já estava de pé. Ansiedade a consumia, além de tê-la feito despertar diversas vezes durante a noite, porém sabia que não havia nada que pudesse fazer a respeito. Não conseguia parar de pensar nos acontecimentos que logo mais viriam à tona e evocar tais perspectivas fazia seu estômago embrulhar. Emiko esforçava-se para enxergar aquele dia como outro qualquer, no qual ela iria à escola e veria os mesmos rostos conhecidos, mas um alarme ressoava dentro de sua cabeça denunciando que de normal aquele dia não teria absolutamente nada.

Asseou-se rapidamente e, ao voltar para o quarto e se ver de frente para o guarda-roupa, percebeu que era a primeira vez em muito tempo em que precisava escolher peças de roupa para vestir que não fossem o uniforme escolar. Uma vez que era sábado, e que não haveria aula por conta do campeonato esportivo, todos os que participariam do evento — organizado pelos treinadores dos clubes da escola — estavam liberados para comparecer com quaisquer trajes desejados. Desde a morte do irmão, Emiko raramente saía de casa à passeio, reservando-se a ir da escola para casa, e de casa para a escola, desviando seu caminho apenas para a quadra em dias de treinamento.

Optou, por fim, por um suéter lilás opaco, uma calça cropped cinza claro e tênis branco. Abotoou o relógio também lilás no pulso, verificando rapidamente a hora, e amarrou o cabelo em um rabo-de-cavalo antes de se posicionar defronte um comprido espelho localizado na parede ao lado do armário.

Observou atentamente a própria imagem refletida. Respirou fundo, obtendo o máximo de fôlego possível, e concentrou-se em parecer confiante diante de si mesma. Ainda sentia o estômago borbulhando, e suas mãos tremiam ligeiramente, porém repetia que ia ficar tudo bem, que ia se sair bem, que não havia nada a temer. Podia ser corajosa com um pouco de esforço e certamente daria o seu melhor nas próximas horas. Sua expressão transpassava serenidade e plenitude, mas Emiko sabia que, no fundo, ela não passava de uma menina assustada demais com o mundo exterior. E enxergar essa pessoa cheia de dúvidas e incertezas só a deixava ainda mais apreensiva.

Seus olhos foram tragados em direção a um pequeno relicário pendurado em uma das quinas superiores do espelho. Pegou-o entre os dedos, delineando o formato de coração que a peça de prata tinha, e abriu-o com delicadeza. Havia uma foto dela e de Hibiki, com o rosto colado um ao outro, sorrindo alegremente. Lembrava-se perfeitamente do dia em que a fotografia fora tirada: tinham ido a um parque de diversões, no primeiro dia das férias de verão, para comemorar as boas notas da garota. Era uma lembrança boa, boa o suficiente para ser eternizada no cordão.

Podia sentir a presença de Hibiki cercando-a naquele momento. Era como se ele estivesse ali, ao seu lado, reforçando a certeza de que estava fazendo a coisa certa. Manter sua memória viva através do que ele mais amava fazer — jogar basquete — era o melhor modo de não deixá-lo morrer completamente ainda que sua existência carnal não pertencesse mais ao mundo dos vivos. Ele existiria para sempre dentro dela, eternizado com o sorriso bobo e bondade desajeitada costumeiros, e seria presenteado com a vitória em quadra com a qual tanto sonhou.

Emiko, vamos, querida! — A voz abafada da mãe foi ouvida através do corredor. — Já está ficando tarde!

A menina sorriu para si mesma no espelho, se encarando uma última vez, antes de suspirar e repetir mentalmente que tudo ia ficar bem. Prendeu o colar em torno do pescoço e, por fim, apanhou a bolsa de couro marrom onde carregava o uniforme de basquete.

Pronto, já estou aqui. — Ela murmurou ao se sentar na mesa para tomar café. — Porque está tão eufórica?

E eu não tenho razão para estar assim? — Honoka exclamou enquanto servia a mais nova. — Minha filha vai jogar uma partida importante hoje, e vai brilhar como uma estrela!

A mulher estava trajando um longo vestido azul — até a metade da panturrilha —, rente ao seu corpo feminino e voluptuoso, e calçava botas de cano médio levemente amarronzadas. Seus cabelos ruivos estavam presos de um lado por uma fita da mesma cor do vestido e deslizavam por cima do ombro direito.

Mãe... — Emiko respondeu um tanto desconcertada.

E não é exagero nenhum. — A outra sorriu abertamente. — Independente do que aconteça, hoje é o seu dia. E eu tenho certeza que vai dar tudo certo.

Emiko retribuiu o sorriso embaraçadamente.

E... — Ela hesitou em tocar no assunto. — Onde está o papai?

Ele foi para o escritório. — Honoka possuía um misto de calma e pesar na voz. — Mas tenho certeza que ele fará o possível para ir te ver.

Embora duvidasse da veracidade daquelas palavras, Emiko resolveu deixar o assunto morrer. Não podia se dar ao luxo de pensar só em si mesma agora; precisava estar bem para o jogo, para o time, porque eles precisariam dela em sua melhor forma.

Mas, ainda assim, queria que ele estivesse lá.

Acima de todos, queria que seu pai estivesse lá para vê-la.

Vamos indo? — Honoka interrompeu os pensamentos da menina quando percebeu que ela tinha terminado de comer.

Sim. — Emiko balançou a cabeça.

Ambas fecharam todas as luzes, desligaram os aparelhos eletrônicos e, em poucos instantes, cruzaram a porta de entrada.

————— ♣ —————

Mesmo ao longe era possível perceber a diferença na atmosfera da escola Shunkashūtō. Havia uma placa ao lado do portão, com os dizeres “Torneio Esportivo” em kanjis enormes, e uma faixa comprida logo acima do arco por onde várias pessoas — alguns estudantes, outros não — entravam. Todos vestiam roupas comuns e sorriam enquanto conversavam. Adultos acompanhavam alguns deles. O lugar era o mesmo, mas havia qualquer coisa de diferente naquele dia, uma excitação no ar, que só quem tinha algo a perder conseguia sentir com totalidade.

No pátio, haviam várias barracas uma ao lado da outra e dispostas organizadamente em linha reta. Diversos aromas diferentes, que se misturavam no ar, evidenciavam que comida estava sendo vendida por alunos que se voluntariaram em contribuir com o torneio de alguma forma. Grupos de adolescentes enfeitavam o cenário aqui e ali, animados e empolgados, enquanto alguns já se dirigiam para a quadra que, no presente momento, ainda estava vazia.

Kojima! — A garota, que até então estivera distraída observando a paisagem ao seu redor, voltou o corpo na direção da qual ouvira a voz extremamente familiar. — Aqui, somos nós!

Era Ryūma, acompanhado de Kai, que desviavam das pessoas no caminho para se aproximarem de onde ela estava. O primeiro trajava uma camiseta azul simples, calça jeans e um tênis marrom que combinava com a cor do seu cabelo, enquanto o segundo ostentava uma jaqueta de couro, que cobria a regata cinza por baixo, jeans surrado e um coturno negro e liso. Eles acenavam à medida que chegavam mais perto e a mãe da menina, dona de um olhar curioso, posicionou-se mais perto dela.

Quando o olhar de Emiko cruzou com o de Kai, suas bochechas ficaram mais quentes e vermelhas de imediato. Era a primeira vez que o via desde o incidente no hospital. Memórias do que acontecera, da proximidade de ambos, do silêncio sufocante que os cercava e do modo como ele a encarou — como se estivesse enxergando sua alma —, fizeram-na estremecer de tal forma que a mãe, muito sabiamente, percebeu a mudança no ar. Honoka sorriu, especialmente quando notou o embaraço mútuo no rosto do moreno, porém nada disse.

Bom dia. — Ryūma cumprimentou as duas com um sorriso amigável.

Mãe, esses são Takeda Ryūma, o capitão do time, e... — Ela fez uma pausa quando tornou a olhar para o outro. — Nomura Kai, ele... ele é o ala.

É um prazer conhecê-los. — Honoka curvou-se rapidamente e falou em tom jovial. — E obrigada por tomarem conta da minha menina.

Não é nada. — O capitão devolveu educadamente.

Enquanto os dois trocavam palavras de cortesia, Emiko e Kai se encaravam em silêncio. O único som que os cercava eram os murmurinhos alheios, todavia eles conversavam sem a necessidade de palavras. O rapaz, com as mãos nos bolsos, oferecia-lhe um sorriso amigável, e ela, em resposta, forçava uma retribuição. Seu coração retumbava dentro do peito ao retomar as lembranças dos dias anteriores. A ruiva tentava se controlar, e não deixar transparecer seus dilemas e inquietações, mas Kai sabia; ele podia enxergar em cada traço do rosto da menina.

É melhor irmos andando. — Ryūma os interrompeu, fazendo-os voltar à realidade de modo súbito, causando certa aflição. — O treinador quer conversar conosco e nos passar as últimas instruções antes do jogo.

C-Claro, o treinador. — Emiko gaguejou, voltando-se para a mais velha. — Mãe, eu tenho que...

Não se preocupe, querida. — Honoka a tranquilizou. — Eu estarei nas arquibancadas.

Depois de se despedir da mais velha, que murmurou um “boa sorte” ao ouvido da filha, Emiko se juntou aos dois membros do time de basquete e embrenhou-se com eles na multidão. Ryūma ia mais a frente, abrindo caminho, enquanto o restante o acompanhava a certa distância.

Sua mãe é bonita. — Kai disse de repente, fazendo Emiko olhá-lo surpresa. — E, considerando que eu também conheço seu pai e ele não é o cara mais charmoso do mundo, agora sei a quem você puxou.

Ela corou, colocou o cabelo atrás da orelha, e tentou esconder o sorriso.

————— ♣ —————

Era possível ouvir a balbúrdia das pessoas na quadra de longe. Elas se distribuíam sobre os degraus esparsos, animadas para o jogo entre as escolas Shunkashūtō e Wakusei que aconteceria nos próximos minutos. Pais, responsáveis e mesmo estudantes de ambas as instituições aguardavam ansiosamente para o início da competição enquanto as equipes que a disputariam se reuniam para discutir e receber as últimas instruções. O clima era de alvoroço — agitação geral e contagiante — que se propagava no ar e salpicava sobre os presentes o êxtase e a curiosidade que antecede um evento como aquele.

Na sala localizada no interior do local, embutida embaixo das arquibancadas, o time anfitrião se reunia. O treinador, posicionado na frente de uma pequena lousa onde exibia estratégias e posições de jogo, enquanto quatro dos jogadores estavam sentados prestando atenção em cada detalhe. Emiko estava sentada ao lado do capitão, que, por sua vez, tinha Naoki e Rei bem próximos. Kai, o ala, permanecia recostado à parede que adornava a porta de entrada. O som que imperava no local era o da voz do técnico repetindo palavras-chave que remetiam a sequências que eles deveriam se lembrar no calor do momento.

Vocês entenderam? — Indagou autoritário. — Tentem se lembrar disso, mantenham as estratégias básicas em mente, e, em quaisquer circunstâncias em que fiquem impossibilitados de agir, passem a bola para o Ryūma. Ele vai saber como reposicionar a situação. Não façam nenhuma loucura. — E então ele fulminou Naoki com o olhar. — Ficou claro?

Naoki ergueu os braços, como quem não tem o que protestar, e o homem mais velho esperou que todos concordassem para dar continuidade à sua fala. Ele suspirou e sentou-se sobre a mesa onde costumava escrever os relatórios esportivos.

Eu sei que vocês estão nervosos. — Encarou cada um deles e podia enxergar o nervosismo estampado em suas feições. — Mas tentem não ficar. É um jogo. Quero que façam de tudo para vencer, que dêem o melhor de si, mas que entendam também que independente de uma vitória ou de uma derrota, vocês devem sair daquela quadra de cabeça erguida. Porque estar ali e dar tudo de si já é o o suficiente para que se tornem vencedores.

A amenização da conversa tornou a atmosfera em torno deles menos tensa. Emiko suspirou, sem desviar os olhos do treinador, e logo em seguida sentiu o peso da mão de Kai sobre seu ombro. Ambos trocaram olhares rápidos, e confidentes, e por um breve momento a menina voltou a sentir próxima a presença do irmão. Era um sopro de aconchego que tomava conta do seu corpo e fazia respirar melhor. O capitão tinha confiança no olhar, uma decisão e uma vontade de vencer que a inspiravam, que a compeliam a seguir em frente, que a faziam querer vencer simplesmente para honrar a confiança que ele, e o resto do time, tinham depositado nela.

A gente vai vencer a Wakusei. — Naoki afirmou enquanto abria as pernas, sentado na cadeira de modo desleixado, e apoiava os cotovelos no encosto. — E se a gente não vencer, bom, vamos na sorveteria aqui do lado e afogamos as mágoas.

Todo mundo riu.

Ryūma posicionou-se ao lado do técnico, que lhe passou a palavra com um aceno de cabeça, e ele proferiu um longo e lento suspiro antes de vislumbrar a face de cada um dos membros que compunham o time de basquete da escola Shunkashūtō.

Tudo o que precisava falar já foi dito, e muito bem colocado, pelo treinador, e eu não pretendo me alongar aqui, mas eu gostaria de propôr que nós parássemos um pouco e lembrássemos de uma pessoa muito importante. — Ele fitou Emiko diretamente enquanto se pronunciava, denunciando que sua fala seguinte seria direcionada principalmente a ela. — O Hibiki.

A ruiva, que até então estivera com os olhos fixos no chão, mergulhados em vaguidão, ergueu a cabeça e encarou o capitão. Kai descruzou os braços e, depois de fitar as costas da menina que se endireitava na cadeira, finalmente se aproximou quando julgou ser importante para ela. Naoki e Rei se entreolharam e balançaram a cabeça, ao mesmo tempo, em concordância com o que Ryūma dissera.

Todo mundo aqui conheceu o Hibiki. — Ele começou a falar utilizando um tom brando. Lembrar do irmão de Emiko, de quem já havia sido muito próximo, evocava uma nostalgia que ele não sabia se era gostosa ou dolorosa. — Ele era alegre, divertido e espontâneo. O tipo de pessoa agradável de se ter por perto. E ele era amigo de cada um de nós aqui. E irmão da Emiko. Todos nós gostávamos dele, alguns mais outros menos, e de formas diferentes, mas o fato é que, junto com ele, nós perdemos um pedaço do nosso coração. Um pedaço que nunca poderá ser reposto, porém cuja cicatriz vai nos tornar mais fortes, mais resistentes e mais unidos.

“Uma vez, ele me perguntou o que eu estava fazendo aqui e o que eu esperava do basquete. Eu não soube responder. Eu era o capitão do time e fui pego desprevenido por um cara que tinha acabado de entrar. Ele me disse que amava o basquete; que mais do que vencer campeonatos, ou provar para o pai dele que ele era bom, ele amava o basquete e a sensação que tomava conta dele quando estava na quadra. Gostava de confiar em seus companheiros de time, de dividir com os outros o rumo de seu destino, e que ele queria mostrar para a irmãzinha dele que, independente do que ela escolhesse, assim como ele, se fosse feito com amor a levaria a qualquer lugar que ela desejasse.”

Ryūma olhou para Emiko quando disse a última frase, arrancando uma expressão de espanto da garota, seguida de um sorriso tímido. Ela sentiu, ao mesmo tempo, o peso da mão de Kai sobre seu ombro. Girou a cabeça para olhá-lo, a tempo de vê-lo sorrir com determinação, e se sentiu envolta por uma atípica sensação de conforto e proteção.

Não vamos te deixar fugir nem que você queira, Kitsu. — Kai murmurou. — Você agora é parte do bonde e a gente vai ficar junto.

Vamos honrar a memória do Hibiki... E dar essa vitória a ele. — Proferiu Emiko, com as bochechas vermelhas, recebendo resposta positiva de seus amigos.

Cercada pelas pessoas em quem mais tinha aprendido a confiar, e que a viram passar de uma completa desajeitada para alguém que tinha domínio da bola e sabia o que estava fazendo, Emiko, pela primeira vez em muito tempo, se sentia feliz e verdadeiramente bem. Ela teve a impressão de perceber um duplo sentido na palavra frisada por Kai, mas não teve muito tempo para pensar a respeito, pois sua atenção fora capturada pelos outros membros do time que conversavam animadamente entre si.

Vocês já sabem como a coisa funciona. — Gabou-se Naoki. — Passa a bola para mim que é ponto garantido.

Só se for o ponto que você vai levar na cabeça quando cair e bater com ela no chão. — Kai devolveu em tom de brincadeira.

Quer apostar? — O mais alto insistiu, estendendo a mão para consumar o pacto. — Que os pontos da vitória vão ser meus e não seus?

Desafio aceito. — O moreno apertou a mão do outro exibindo uma expressão cheia de si.

Emiko observava a confusão tentando não rir muito alto e achando graça da situação.

Quem não marcar os pontos vem para a escola vestido de mulher. — Rei se aproximou dos dois e propôs. — Com peruca e tudo mais.

Ambos olharam para o ala-pivô, depois se entreolharam, até que por fim balançaram a cabeça em concordância.

Detesto interromper a festa, mas é melhor nos apressarmos e irmos andando. — O técnico falou enquanto os impelia a sair da sala. — Temos que estar na quadra bem antes da partida começar para irmos nos posicionando e analisando o time da Wakusei.

Dito isso, deixaram a sala e voltaram a se reunir no corredor que, passando por baixo das arquibancadas, dava direto na área esportiva onde o jogo aconteceria. Era possível ouvir mais claramente os espectadores conversando e também podiam enxergar certa movimentação dentro da quadra.

Vão se trocar. — Ordenou o treinador. — Mas não demorem. Não quero ter que ir buscar ninguém pela orelha.

————— ♣ —————

Depois de colocar o uniforme avermelhado que representava fielmente a escola Shunkashūtō, Emiko, que estava sozinha no vestiário feminino, suspirou e tentou acalmar seus ânimos. O enorme seis estampado na frente e atrás delineavam as curvas modesta da menina. O silêncio reconfortante que pairava no ar, preenchendo o vazio com um estranho sentimento de paz, só a lembrava que aqueles eram os últimos momentos de calmaria que ela experimentaria em muito tempo; que, a partir do momento que cruzasse os portões da quadra, e estivesse com a bola nas mãos, tudo em sua vida seria diferente.

Ouviu, de repente, o som da porta batendo. Puxou o zíper da bolsa para fechá-la e virou-se na direção correspondente esperando encontrar alguma garota que havia se perdido tentando achar o banheiro. A imagem que seus olhos captaram, no entanto, e que os fez se arregalar, foi uma totalmente inesperada.
Hal.

Oi. — Ele se aproximou, com as mãos nos bolsos, com um sorriso charmoso nos lábios.

Oi. — A garota respondeu meigamente. — O que você—

Vim aqui te desejar boa sorte. — Hal a interrompeu e prontamente se explicou.

Ele parecia, no entanto, querer falar alguma outra coisa, pois a encarava sem nada dizer por vários segundos. E passou algum tempo assim.

Obrigada. — Ela agradeceu com um sorriso modesto. — Você está bem?

Ele pensou em responder que não, mas não disse nada. Em vez disso, executou passos curtos e lentos na direção da menina que, sem entender, não se moveu. Quando o outro estava perto o suficiente para que ela percebesse seu peito inflando e murchando sob sua respiração ligeiramente nos olhos, ele a abraçou sem aviso prévio.

A princípio ela não soube o que fazer, e suas mãos ficaram suspensas no ar, mas logo em seguida seus dedos se agarraram à camisa branca do rapaz. Ele tinha tamanho o suficiente para que ela pudesse esconder o rosto em seu peito e permitir que apenas os seus olhos ficassem a amostra. O nariz, colado aos trajes de Hal, aspiravam seu perfume doce e inebriante. Emiko fechou os olhos por um instante, ao passo que seus músculos relaxavam, e apertou-o timidamente contra si.

Fazia tempo — desde o parque, onde conversaram aprazivelmente pela última vez — que ela não ficava tão próxima do outro. Tinha esquecido o quão bom era o cheiro dele, o toque, o modo protetor como a contornava. Desejara senti-lo assim, tão perto, tão junto, por tanto tempo que tinha parado de se perguntar se um dia aconteceria. Era tão bom, tão aconchegante e quente, como os primeiros dias do outono.

Lembrou-se repentinamente do dia em que ele lhe perguntou que aroma tinha. Pega de surpresa pela indagação, ela tentou definir, mas ele acabou rindo da expressão de idiota que ela tinha feito. Foi num dia de verão, quando o sol queimava alto e não havia ninguém além deles na estação de trem, e tudo com o que eles precisavam se preocupar era chegar em casa no horário certo.

Eu terminei com a Chiyoko. — Ele anunciou, de repente.

As palavras de Hal ecoaram com violência na mente de Emiko — talvez pela surpresa, ou pelo choque de ouvir uma coisa que ela não cogitava nem mesmo em pensamentos distantes — e ela piscou diversas vezes em resposta. Umedeceu o lábio inferior com a língua e sentiu uma pontada no peito.

O que aconteceu? — Indagou, sem, no entanto, saber se queria ouvir a resposta.

Nós não brigamos nem nada. — Confessou a fim de tranquilizá-la.
O cheiro de doce do perfume dele penetrava as narinas de Emiko e a deixavam molenga.

Ele estava muito perto.

Perigosamente perto.

Eu gosto dela, e a respeito muito, e creio que não seria justo continuar uma relação na qual eu não estou presente de corpo e alma. Ela é uma pessoa bacana demais e não merece isso. E ela sabe que...

Enquanto a cena se desenrolava, passos eram ouvidos no corredor. Kai, que tinha sido enviado pelo treinador para saber se estava tudo bem e apressar a garota, se deslocava calmamente em direção ao vestuário. Ele imaginava que Emiko tinha se atrapalhado, talvez tropeçado ou deixado alguma coisa cair, e que a encontraria apoiada no chão procurando o tal item, mas parou subitamente, na porta, quanto ouviu a voz daquele cuja presença o irritava de modo irracional.

Era impossível ouvi-lo com clareza, graças à grossura da porta, e o outro foi forçado a aproximar os ouvidos dela. Estalou, em sua mente, o som de um objeto de vidro se quebrando com violência no instante em que o ouviu pronunciar:

... Eu te amo, Emiko.

Não podia acreditar. Emiko simplesmente era incapaz de acreditar no que estava ouvindo. Permaneceu em choque por dados instantes, absorvendo as novas informações, enquanto percebia o próprio coração acelerar sem que ela lhe tivesse dado permissão para isso. Um turbilhão de pensamentos desconexos tomou conta da mente dela, perguntas sem resposta, futuros incertos, e, pela primeira vez, ela se perguntou o que verdadeiramente sentia por Hal.

Era impossível não se perguntar o que o futuro lhe reservava se decidisse permanecer ao lado dele. Questionamentos como "é verdadeiro?", "é recíproco?" e "o que vai acontecer depois?" irromperam sem dó o interior da menina ruiva. Queria aquilo. Quis aquilo por muito tempo e agora estava ali, diante dela, ao seu alcance como jamais antes estivera. Desde a infância, desde o dia em que, timidamente, se aproximou do garoto novo e estrangeiro que havia se mudado para a sua rua, com aquele jeito pomposo de quem sabia exatamente o que queria, havia uma semente de amor dentro do seu peito. Uma semente que cresceu, durante anos e mais anos, alimentada de sorrisos e gentilezas.

"E se eu pudesse..."

O sangue do ala do time da Shunkashūtō ferveu e seus punhos se fecharam instantaneamente. Sentiu a raiva tomando conta de si, queimando seu estômago e garganta, tentando compeli-lo a entrar ali e socar o rosto de Hal até que ele estivesse machucado demais até para revidar. Suas sobrancelhas convergiram em direção ao centro de seu rosto perfeitamente desenhado, denunciando o nível alarmante de fúria sob a qual ele se encontrava naquele momento, e precisou se segurar muito para não cometer uma loucura.
Foi então que percebeu o quanto ele próprio gostava de Emiko.

"Não a toque", era o que ele queria vociferar.

Um instinto sem origem, e infeliz, o fez aproximar os olhos escuros das pequenas, compridas e paralelas aberturas no topo da porta. Através delas, observou, embora não sem ser invadido por uma onda de cólera quase ensandecida, Hal tomar a ruiva pelos ombros, sem que ela pudesse ter qualquer chance de reagir, e beijá-la diretamente nos lábios.

O baque do punho fechado de Kai batendo na parede do lado de fora fora alto o suficiente para irromper o silêncio doloroso que se propagava no local antes que ela o deixasse.


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Notas finais do capítulo

POR FAVOR NÃO ME MATEM! ヾ(´囗`。)ノ Asuahsasuahsua~ *corre* Eu gostaria de agradecer o LukeBlaze pela recomendação MARAVILHOSA que ele escreveu pra mim e dizer que nem tenho palavras pra agradecer. Muitíssomo obrigada! E gente, o próximo capítulo é o único. Em pretendo, esse mês, lançar uma oneshot spin-off de Outono, para a coletânea de Natal do Café com Letra (um grupo de escrita que organizo/administro), e provavelmente falarei um pouco mais sobre o Naoki e o Rei, hihihihi~ ♡ E também pretendo lançar uma cena "pós-fim" depois do último capítulo, e vai ser bem de comédia, então fiquem ligados. Mais uma vez obrigada por tudo, pelo carinho, pelo apoio, por tudo! ♡♡♡ Eu vou responder todos os comentários de hoje pra amanhã, não se preocupem, e amo vocês seus lindos! ♡



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