Outono escrita por Makimoto


Capítulo 8
Capítulo 8 — Palavras em Eco;


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus amores, tudo bem com vocês? (✿◠‿◠) Eu sei que demorei um bocado dessa vez, mas a verdade é que eu tive que viajar e, desde que cheguei, mal tive tempo de respirar porque surgiu um monte de coisa pra fazer. E eu ainda tenho a one do Café com Letra pra escrever *dies* Eu tive muito trabalho pra fazer esse capítulo porque realmente não 'tava saindo, mas, todo dia, eu me forçava um pouquinho a continuar escrevendo, então ele foi construído com muito esforço. Eu espero sinceramente que vocês estejam gostando do rumo da história, mas eu adoraria saber também se não estiverem. Sugestões são sempre bem-vindas. E sim, eu vou ser má e vou manter o mistério do triângulo amoroso até o último momento do último capítulo. :v~ *corre pra não apanhar* Façam suas apostas!11!! Boa leitura. ♡ (ps: o trecho no final do capítulo pertence à música Payphone, do Maroon 5~)



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O eco da chuva caindo do lado de fora, mesclado à atmosfera gélida que tomava conta do lugar, manchava com melancolia o ar que cercava a quadra de basquete. Som constante de gotículas pingando preenchia a quietude que reinava no ambiente. O véu da noite que cobria o céu se tornava cada vez mais escuro, e imenso, engolindo tudo em seu negrume infinito.

A porta do depósito estava entreaberta, e, graças a isso, a luz da quadra entrava e iluminava fracamente a interseção entre as caixas de papelão que guardavam uniformes e bolas. Havia um rastro úmido que ia da porta até o interior do cômodo. Duas silhuetas podiam ser vistas no canto, uma do lado da outra, coladas para diminuir o frio do silêncio.

Você está tremendo. ― Kai murmurou, olhando para a menina, enquanto a trazia mais para perto com o braço que já estava em torno de seu ombro. ― Está com frio?

Eu estou bem. ― Emiko respondeu categoricamente.

Ele suspirou, esfregando a mão no ombro da ruiva, em uma tentativa mecânica de aquecê-la. Ela tinha vestido uma das camisas do time de basquete e ele, que tinha tirado o traje superior, exibia o peito definido e moreno. Não queria colocá-la em uma posição desconfortável, pressionando-a a falar sobre algo que visivelmente a perturbava, mas também sabia que, assim como ele fez, muitas pessoas estavam preocupadas e procurando por ela.

Emiko se encolhia, permitindo que os cabelos molhados ocultassem seus olhos tristes, enquanto tentava conter a mistura de raiva e ressentimento que crescia dentro de si. As palavras ditas pelo pai, junto ao sentimento da perda do irmão que nunca, em momento algum, tinha ficado menor, palpitavam em seu peito e a deixavam inquieta. Organizar as ideias era difícil, especialmente quando ela cogitava dizê-las, e a garota permanecia presa naquele dilema aterrador.

Ele nem sempre foi assim. ― Ela disse, com voz rouca, de repente. ― Quero dizer, chato sim, mas não tanto assim.

Não? ― Sabia que ela se referia ao pai. ― Ele tem cara de quem é assim o tempo todo.

Quando o Hibiki estava aqui, nós saíamos de vez em quando e fazíamos coisas juntos. Íamos ao teatro, ou ao shopping, e jantávamos fora também. Ele sempre teve esse temperamento difícil, mas quando o Hibiki estava aqui...

Soluçou, engolindo em seco após interromper a si mesma, enquanto seus olhos se avermelhavam e se enchiam d’água. Com os lábios tremendo, e o peito inflando e murchando repetidamente, a garota se encolheu ainda mais contra o peito do companheiro que a abraçava.

Quando o Hibiki estava aqui, era tudo mais fácil.

Ele falava muito de você. ― Refutou o moreno.

Hm?

Ele falava muito de você, o Hibiki. ― Encostou a cabeça na parede atrás deles. ― Pra mim, pra nós do time.

Emiko parou, por um momento, para processar a informação. Lembranças em flash, que passavam uma atrás da outra em um turbilhão de sorrisos e olhares, dançavam em sua mente que, mais uma vez, se tornava um labirinto.

Ele disse, uma vez, que você machucou o pé tentando...

Descer de uma árvore. ― Ela completou debilmente.

Isso. ― Ele ergueu as sobrancelhas. ― Lembro perfeitamente o dia em que ele comentou isso com a gente, lá na quadra, porque não sabia se ficava preocupado com o seu pé ou ria do seu tombo.

Emiko demonstrava surpresa ao ouvir o relato de um acontecimento, outrora perdido em memórias mortas, narrado através da boca de outra pessoa; dos lábios de alguém que, assim como no passado tinha sido porto seguro de seu irmão, agora era o seu. Ela, que sempre se sentiu uma sombra da grandiosidade do outro, embora isso, com o tempo, tenha parado de machucá-la com tanta intensidade, sequer imaginava que os antigos companheiros dele a conheciam sem nunca a terem encontrado.

Até aquele momento, relembrar memórias do falecido irmão era um esforço árduo e dolorido, porque a falta da presença dele, e as marcas que ele havia deixado no mundo e nas pessoas que dele gostavam, ainda eram muito vívidas. Porém, pela primeira vez, tocar no nome de Hibiki não evocava tristeza, muito menos ressentimento, mas sim uma nostalgia gostosa e aprazível.

Você precisava vê-lo falando do baile do ano passado. ― Kai sorriu enquanto a abraçava mais firmemente. ― Estava aflito durante o treino, com a gente chamando a atenção dele várias vezes, e quando finalmente perguntamos o que estava acontecendo, ele ficava gaguejando e tremendo que nem uma vara de bambu.

“Disse que o baile estava chegando, nos perguntou se íamos, se pretendíamos levar alguém, e a gente achou estranho quando ele indagou se seria muito esquisito se ele levasse a irmã. Foi a primeira vez que ele realmente falou de você. Lembro que eu até tirei sarro da cara dele, pedi pra ele te apresentar para mim, e ele ficou todo nervosinho. Comentou que um amigo seu queria te levar para a festa, mas que ele não ia deixar, porque homem nenhum era bom pra você. Trouxe um monte de revistas de mulher, com fotos de vestidos, pedindo opinião sobre qual deles comprar pra você usar.”

Ela ouvia o relato taciturna e com o peito ardendo. Em sua mente, era capaz de imaginar claramente a situação descrita: mesmo a voz, o modo como o irmão gesticulava quando estava nervoso, os dedos coçando a cabeça. Divertia-a pensar no quão desajeitado ele deveria ter parecido falando de coisas que não entendia nada, pois, apesar de ser relativamente popular entre as garotas de seu ano, ele nunca tinha tido jeito para lidar com o sexo oposto sem parecer um completo desajustado.

― Sério? ― Murmurou a garota.

Sim. ― Respondeu brincalhão. ― Eu queria mesmo te conhecer.

Não, não isso. ― Ela mordeu o lábio inferior para tentar conter uma risada.

Sério. ― Kai se inclinou para trás, mantendo os braços em torno dela, a fim de fitá-la. ― Você era muito especial pra ele. E agora é especial para nós também.

Eu nunca conseguirei substituí-lo.

É claro que não. ― Ele beijou a cabeça dela carinhosamente. ― Porque ninguém pode substituí-lo, assim como ninguém nunca vai substituir você.

Emiko fechou os olhos, sentindo o corpo aquecido por dentro mesmo que o clima ao seu redor fosse gelado, desfrutando daquela sensação de segurança, de estabilidade, que recentemente tinha descoberto nos braços no moreno.

No hospital, o homem ― engravatado, bem vestido e de expressão severa na face ― andava de um lado para o outro no aposento da recepção. Pessoas entravam e saíam, eram atendidas pela moça no computador, e circulavam pela construção independente de sua presença ali. Checava o celular a cada cinco minutos, bufava, acentuava a expressão fechava e então voltava a caminhar.

A porta giratória emitiu som de campainha quando os rapazes do time a cruzaram e o pai de Emiko juntou-se a eles imediatamente.

Vocês a encontraram? ― Perguntou.

Não se preocupe, senhor Kojima, ela está bem. ― Ryūma tomou a dianteira. ― Kai está com ela e me enviou uma mensagem do celular dele.

Onde ela está? ― Kazuhiko cerrou os punhos e encarou os rapazes com impaciência. ― Onde aquela menina está?!

Ryūma encarou os companheiros de time ― Naoki e Rei ― em busca de uma resposta e encontrou apenas a que ele já tinha recebido pelo telefone móvel minutos antes.

Desculpe, senhor Kojima, mas... ― Ele respirou fundo e foi firme: ― Não podemos dizer.

Como ousa? ― Seu rosto tremia de nervosismo. ― Você e esses moleques... Isso é tudo culpa de vocês e desse basquete... ela é minha filha e eu exijo saber onde ela está imediatamente!

Ela está chateada, o senhor está alterado... só vão acabar discutindo novamente. ― O capitão do time foi irredutível. ― Não se preocupe, senhor Kojima, ela está bem e eu prometo que ela chegará em casa em segurança. Tem a minha palavra.

O homem custou a aceitar o que o mais novo dizia, mesmo com o discurso articulado e educado do rapaz, e, depois de lançar um rápido olhar para as portas que levavam ao corredor onde o quarto da esposa estava localizado, voltou-se para ele em um visível conflito interno. Respirou fundo, passando a mão sobre a barba cheia, através do queixo, e colocou as mãos na cintura enquanto dava voltas no mesmo lugar.

Eu estava nervoso. ― Naoki e Rei se juntavam à Ryūma naquele momento. ― Eu não queria ter gritado com ela, mas não pude evitar. Honoka me deu um susto. E aquela menina é teimosa. Não cansa de me afrontar.

Com todo respeito... ― Rhys se pronunciou. ― Eu acredito que ela não está tentando afrontar o senhor. Nunca esteve.

E o que mais ela poderia querer fazendo isso? ― Franziu o cenho e abriu os braços em indignação. ― Ela nunca gostou de esporte nenhum, sempre viveu com a cara enfiadas nos livros, e de repente ela decide que quer jogar basquete? O irmão dela fez a mesma coisa, disse que queria viver disso, de jogar basquete, quando eu já tinha planejado toda a vida dele!

Aí é que está. ― Ryūma voltou a falar, mantendo o tom educado e polido. ― A Emiko acredita que o senhor não pensou no lado do irmão dela, que o senhor não se colocou no lugar dele, para entender o que ela pensava. E é isso que ela está tentando fazer agora.

O rosto de Kazuhiko voltou a ficar vermelho e ele demonstrou claro descontentamento ao ser questionado quanto à suas habilidades e funções como pai.

Eu não tenho nada a ver com isso, senhor Kojima, e nem posso imaginar o tamanho do sofrimento que é perder um filho... ― Ryūma se pronunciou, dando, de certa forma, razão ao homem para que ele ficasse calmo. ― O senhor não foi o único que sofreu com isso. A Emiko também sofreu muito.

“Ela só está tentando preservar, e até manter viva, as lembranças que ela tem do Hibiki da maneira dela. Pode ser que o senhor não concorde, ou não entenda, mas pode ter certeza que não ela não está tentando afrontá-lo. Ela gosta muito do senhor e quer muito a sua aprovação e o seu apoio. E por isso ela fica tão chateada com o fato de vocês não conviverem tão bem. Nós também conhecemos o Hibiki e também sofremos com a morte dele; todos nós. Eu sei que o senhor acha que nós somos seus inimigos, que afastamos o Hibiki dos planos que fez para ele, mas ele tomou uma decisão por conta própria e a seguiu. E independente do que ele quisesse, nós o apoiaríamos.”

De súbito, Hal, para quem Kazuhiko havia ligado minutos antes em busca do paradeiro da filha, atravessou a porta do hospital e se deparou o homem conversando com os rapazes enroupados com o uniforme de basquete. Por ter sido alguém que sempre frequentou a casa de Emiko, e, naturalmente, que sabia do juízo que seu pai fazia do time, achou a situação demasiada estranha.

E acho que é isso que a Emiko precisa agora. ― Ryūma finalizou com um sorriso amigável. ― Um pouco de apoio.

Hal percebeu as feições de Kazuhiko suavizarem gradativamente enquanto o cansaço e o peso da vida, antes ocultos pela raiva e os traços severos que se encaixavam perfeitamente em seu rosto quadrado, se tornavam mais aparentes. O jovem sorriu diante da cena, que ele reconhecia ser uma rara ocasião, e desejou internamente que Emiko pudesse estar ali para vê-la também.

A impressão que se tinha era a de homem fraco, e cansado, que desmoronava em silêncio atrás de uma porta fechada.

————— ♣ —————

Não acredito que você ficou mesmo trancada na biblioteca! ― Exclamou Kai. ― Quero dizer, já ouvi falar de gente que gosta de entrar na leitura, mas...

Pois é. ― Ela balançou a cabeça em confirmação ao passo que abraçava as próprias pernas. ― Eu queria muito terminar o livro, e eu sempre gostei da biblioteca... Escondi-me atrás das prateleiras, esperei fechar, e fiquei por lá mesmo.

Você é maluca, garota. ― Ele riu.

Nem tanto assim. ― Ela forçou um sorriso.

Já não havia mais lágrimas em seus olhos, embora ainda estivessem inchados, e os pensamentos dolorosos sobre seu irmão e a briga com o pai tinham esmaecido de sua mente. Os assuntos passavam de um para o outro de modo espontâneo e era como se o tempo não existisse. A vida fora do depósito da quadra de basquete, os pesadelos e murmurinhos que tanto a incomodavam, pareciam tão distantes naquele momento que ela chegou a desejar permanecer naquela casca, no porto seguro atrás da porta, por tanto tempo quanto fosse possível.

Você nunca fez nenhuma loucura? ― Perguntou ela genuinamente interessada.

Loucura eu faço o tempo todo todo. ― Ele deu de ombros e inflou o peito com orgulho. ― Não tem nem graça comentar.

Claro que tem! ― Ela insistiu voltando a encostar a cabeça no ombro dele. ― Vai, me conta alguma coisa bem louca que você já fez.

Eu já saí da sala do diretor pela janela. ― Murmurou como se não fosse nada demais.

Sério? ― Ela arregalou os olhos na mesma posição. ― E você conseguiu se safar dessa?

Claro que não. ― Ele gargalhou só de lembrar. ― Depois eu tive que limpar os banheiros da escola por três dias.

Trocaram palavras por mais de uma hora, conversando sobre a escola, sobre gostos e interesses pessoais, sem se preocuparem com o relógio que corria. A chuva diminuía gradativamente do lado de fora, e sons de relâmpagos complementavam a atmosfera atípica, enquanto aquele pequeno e aconchegante pedacinho do paraíso ― para ela ― parecia isolado e autônomo em relação ao resto do mundo.

E de amor? ― A garota indagou de repente; demonstrando hesitação antes de finalizar a pergunta.

Hm?

Você já fez alguma loucura de amor?

Ela não olhou nos olhos dele, e ele, na mesma posição, abraçou-a mais firmemente. Emiko percebeu que os dedos dele, que estavam sobre seu braço desnudo, tremeram de leve ao passo que uma quietude constrangedora nasceu ali.

Já. ― Ele respondeu, de súbito, quando a ruiva acreditava que a pergunta ia perder-se no ar. ― Já fiz sim.

O que você fez?

Eu já quase soquei um cara por causa de uma garota.

Você quase...

Silêncio.

Interrompeu a própria fala quando uma ideia transpassou sua mente. Foi célere como um raio, e brotou de fonte desconhecida, mas a intensidade cuidadosa com a qual ele tinha dito a frase e o silêncio que se seguiu depois dela acentuaram significativamente as suspeitas da menina.

Nenhum dos dois disse nada por certo tempo, que se arrastava como um prisioneiro acorrentado aos seus grilhões, intimidados pelo constrangimento natural da situação. Emi tinha vontade de confirmar seus palpites, enquanto Kai temia que ela o fizesse, pois não sabia dizer se seria capaz de mentir, todavia ambos permaneciam em silêncio.

Ela é uma boa garota. ― Kai irrompeu o silêncio um pouco desajeitado. ― É simpática, mais divertida do que pensa, e com certeza mais bonita do que ela acha que é. Não é do tipo que depende das pessoas, ou que precisa de proteção, mas tem dificuldade em admitir quando necessita de ajuda.

Podia escutar o retumbar do coração dele mesmo com a cabeça apenas em seu ombro; era alto, forte e constante.

Mesmo suas falhas são bonitas... ― Ele continuou. ― O modo como ela mexe no cabelo quando está nervosa, ou a risada em resposta às minhas piadas. Eu gosto do seu jeito forte, durão, e ela se sente fraca mesmo quando todos ao redor dela a acham uma pessoa muito forte. Principalmente eu.

“Ela tem problemas, problemas graves, mas tenta enfrentá-los do jeito dela. E eu sei o quanto isso a machuca. Tento fazê-la rir, tento brincar, até tirar uma com a cara dela, só para vê-la brava ou rir bobamente. Porque eu sei que colocá-la contra a parede, ou lembrá-la deles, não a fará se sentir melhor. Ela deve me achar infantil por causa disso, ou apenas alguém que não se importa com a dor alheia, mas a verdade... é que eu estou o tempo todo perto dela porque quero ter certeza de que ela está bem.”

A respiração entrecortada da menina era especialmente evidente em meio à quietude do local. Não sabia se deveria se erguer e encará-lo, mas ele o fazia por cima da cabeça dela. Também não tinha certeza de quem ele realmente estava falando, embora, no fundo, alguma coisa lhe dissesse que era de si, e ela definitivamente não queria agir como uma pessoa petulante e egocêntrica.

Imagens rasgadas do conflito que ele e Hal tiveram na sala de aula lhe assaltaram os pensamentos e ela via com clareza a expressão agressiva estampada no rosto dos dois. Depois viu Kai na quadra, concentrado em mirar a bola no cesta, com o olhar travado em algum lugar no futuro. Em seguida, o sorriso dele com o qual ela se deparou, naquele mesmo dia no hospital, quando deixou o quarto da mãe enfurecida e tudo o que desejava era um instante de conforto.

Deu-se conta de que ele estava presente na maior parte das memórias agradáveis que veio construindo nas últimas semanas. Fazendo piadas, rindo, chamando-a de apelidos bobos. Fazia parte do antro no qual ela se sentia mais confortável ― o basquete ―, onde havia encontrado pessoas que ela realmente admirava e que, de certa forma, complementavam o elo com o irmão que ela tanto buscava.

Moveu-se devagar, erguendo a cabeça lentamente, enquanto seu coração palpitava acelerado. Mordeu o lábio inferior inconscientemente. Seus olhos acompanharam os traços fortes e masculinos do pescoço dele, no trajeto até o rosto, e só parou quando foram atravessados pelo olhar firme de Kai.

Ele tinha olhos escuros como a noite, que combinavam perfeitamente com as nuances amarronzadas de sua pele, conferindo-lhe uma aparência misteriosa e rústica. Os dela, amendoados, estavam hipnotizados pelas pedras negras que cintilavam em sua face. Era a segunda vez que estava tão perto dele e se sentia tão perdida quanto na primeira.

Podia sentir sua respiração morna, o olhar do rapaz sobre si, e não conseguia parar de fitá-lo. Ele se sentia da mesma forma. Em um movimento sincronizado, ambos passaram a inclinar o rosto com sutileza na direção um do outro, incapazes de interromperem a ligação ótica que havia se estabelecido ali.

“Eu esperei você.”

A voz de Hal estalou mentalmente no exato instante em que os lábios deles estavam prestes a se tocar, provocando o recuo instantâneo da garota. Kai, que demonstrava ter despertado de um transe, também se recompôs e se deu conta de quase se aproveitou, mesmo que inconscientemente, da garota em um momento de fragilidade. Definitivamente não era a sua intenção, havia sido tão vítima do momento quanto ela, mas sentia-se mal da mesma forma.

Eu preciso ir. ― Ela anunciou.

Trêmula, ergueu-se do chão, agarrando-se à camisa seca na qual estivera envolta até o presente momento, e quase tropeçou ao fazê-lo. Kai a olhou de baixo, em um pedido mudo para que ficasse, nem que fosse para permanecerem quietos um ao lado do outro, mas pôde ver a confusão no olhar da garota de quem gostava e foi incapaz de pronunciar uma única palavra.

E então ela partiu, atravessando a porta já entreaberta do depósito, transformando sua silhueta à contraluz na última visão do rapaz.

"But even the sun sets in paradise..."


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Notas finais do capítulo

Sugestões, reclamações...? Aceito. ♡



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