Outono escrita por Makimoto


Capítulo 11
Capitulo 10 // Parte II — Desfecho Perfeito;


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, amada, tudo bem? Siiiim~ Como eu prometi, tô liberando a segunda parte do último capítulo agora. Eu queria muito postar e não aguentei esperar. Eu já disse algumas palavrinhas nas notas do capítulo passado, então vou deixar aqui só o que resta falar mesmo. Eu só queria agradecer a todo mundo que me acompanhou até aqui, que leu, que comentou, que me incentivou e, principalmente, que não me deixou desistir. Eu quis desistir várias vezes, confesso, e eu duvidei de mim mesma e da minha capacidade de terminar essa história. Foi difícil pra mim, mas agora é extremamente gratificante. Obrigada, de coração, eu dedico o final a todos os meus leitores lindos e maravilhosos~ ♥ (ps: nas notas finais, eu quero fazer alguns agradecimentos especiais)



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Durante algum tempo, os únicos sons ouvidos eram os da bola quicando, dos tênis friccionando sobre a superfície retilínea da quadra e o do apito do árbitro a cada falta cometida. O jogo seguia com inúmeras interrupções externas, dos apitos, dos juízes, e todos os jogares pareciam sedentos pela vitória. Àquela altura, nenhum dos dois times poderia afirmar com certeza confortável quem ia permanecer de pé no fim da partida. O placar pendia de um lado para o outro, enquanto a diferença entre os números se tornava cada vez menor, e a tensão que pairava na plateia ia se tornando mais e mais profunda.

A passagem do ala reserva estava bloqueada por uma dupla marcação. Perante aquela situação, ele fez a única coisa que poderia ser feita: um passe. Emiko agarrou a bola, quicou-a no chão e começou a se movimentar pela área esportiva.

Rei! — Emiko berrou antes de driblar a marcação adversária e, com um passe perfeitamente executado, entregar-lhe a esfera laranja.

O camisa 10, que já estava posicionado dentro do garrafão há exatos dois segundos, apanhou-a e, após saltar com um ângulos de inclinação e impulso perfeitos, encestou com uma enterrada.

O placar da casa subiu para setenta e três enquanto o dos visitantes permanecia estagnado no oitenta.

O treinador do time azul se descabelava e berrava, ao passo que os que estavam no banco ouviam sem questionar. O da Shunkashūtō, por outro lado, cruzava os braços, exibia sorrisos de triunfo e apenas balançava a cabeça mudamente dizendo “bom trabalho”.

Em momento nenhum o jogo parou. Imediatamente após um ponto outro era feito, outro o sucedia. Se um time roubava a bola, o outro pegava de volta. O erro de um era o rebote do próximo. A fadiga nada representava diante da possibilidade da conquista. Poderiam descansar quando o troféu do Campeonato de Basquete da Cidade de Kaiten estivesse bem colocado, e reluzindo sob as luzes, na estante do escritório esportivo.

Emiko estava concentrada em fazer os passes certos, para que Rei e o substituto de Naoki fossem capazes de marcar, e aproveitar as oportunidades incontestáveis que apareciam em seu caminho. Ela sabia que era a que tinha menos experiência na equipe. Não seria prudente agir de forma ousada e precipitada, uma vez que ainda não possuía a visão de jogo e a técnica necessárias para determinados níveis de jogadas. Era realista ao constatar que ela seria muito mais útil e eficiente se permanecesse na defensiva.

Kojima! — Gritou o camisa 11, substituto de Ryūma, quando passou a bola para a ruiva.

Em milésimos de segundos seus olhos percorreram a quadra. A marcação estava toda na cesta e o restante estava no ala, que tinha se deslocado para perto do garrafão naquele meio tempo. Era óbvio que eles estavam tentando passar a bola para ele. Sem saída, a garota passou a avançar com os adversários lhe acompanhando com os olhos.

Um deles parou em sua frente e posicionou os braços de modo a impedi-la de arremessar.

Olhou para os lados e percebeu Rei à sua esquerda e o ala, marcado — agora por apenas um outro — à direita.

Quicou para Rei, passou por baixo dos braços alheios quando ele acompanhou a bola com as mãos, e entrou no garrafão. O ala-pivô, que entendeu a jogada, ensaiada mais de uma vez nos treinamentos da equipe, mal recebeu a bola e transferiu-a — através de um passe extremamente bem calculado que transpôs estreito entre os adversários — de volta para Emiko. Ela rapidamente a agarrou, saltou embaixo da cesta e marcou, sem fazê-la encostar no aro, mais dois pontos.

A torcida vibrou.

Agora estava setenta e cinco a oitenta.

Através da linha de fundo, o armador oponente entregou a bola para o ala, que deslocou-se pela quadra em silêncio, ao mesmo tempo em que a defesa se posicionava para interceptá-lo. Velozmente, livrando-se dos obstáculos, ele arremessou. O pivô vermelho saltou e conseguiu bloquear a bola, que foi caindo em forma de parábola, mas o armador rival, no intuito de aproveitar o rebote, apanhou-a e arremessou-a para uma cesta certeira.

O som estridente de um apito anunciou o fim do terceiro período e o início do último.

Emiko, suada e ofegante, juntou-se a Rei na caminhada em direção ao banco. Ela cumprimentou os outros com uma reverência de cabeça, parabenizando a todos pelo bom trabalho, enquanto o garoto lhe afagava os cabelos e dizia que ela estava indo muito bem.

Finalmente vou voltar para o jogo! — Naoki se espreguiçou quando o time titular voltou a se reunir. — Saio uns minutinhos e vocês deixam eles marcarem tanto assim!

É melhor a gente voltar mesmo. — O capitão manifestou-se com um ar divertido. — Eu já estava ficando cansado de ouvir os seus trocadilhos sobre bolas e genitália.

Kai, que estava alheio à conversa dos dois, sorriu quando Emiko se aproximou. Com os braços posicionados entre as pernas desleixadamente abertas, o rapaz olhou-a de baixo e ergueu um deles para tocar o queixo da menina. As bochechas da menina ficaram vermelhas e ela pareceu um pouco desconcertada com a atitude.

Nada mal, Kitsu. — Zombou em seu tom costumeiro. — Aposto que o Hibiki, onde quer que esteja, deve estar dando pulinhos de alegria. Ele era um puta irmão coruja, mesmo.

— Obrigada.

Nesse momento, todos os membros remanescentes da Shunkashūtō — Rei, Ryūma e Naoki — se voltaram para ela e fizeram sinal positivo em concordância.

Uma onda de felicidade se apoderou do coração dela.

Vamos lá.— Naoki se levantou e se espreguiçou. — Vamos dar uma surra nesses arrumadinhos.

Em pares, os cinco bateram as mãos e riram.

Emiko olhou para a arquibancada e reencontrou Hal e a mãe, que a observavam de longe, e o mesmo espaço vazio ao lado da mulher. Um aperto no peito deu forma à sua tristeza. Prontamente, no entanto, Kai apoiou a mão sobre o ombro dela, fazendo-a despertar de seus devaneios, e murmurou:

Vamos lá. Temos uma vitória para pegar.

————— ♣ —————

Havia alguma coisa diferente na atmosfera. No início da partida, era possível sentir uma tensão incontestável no ar, que abriu uma vantagem descomunal para o adversário, mas o time titular da Shunkashūtō, que só tinha voltado a se reunir ali, no quarto e último período do jogo, agora imprimia uma atmosfera de confiança. E muito embora seus rivais fossem incapazes de entender a razão, ou mesmo as pessoas distantes das arquibancadas, todos eles sabiam que mais de um obstáculo tinha sido vencido e mais um degrau rumo à glória tinha sido alcançado.

Vem. — O capitão, portando a bola após a marcação de ponto, murmurou para a ruiva. — Você está pronta?

Sim. — Ela balançou a cabeça decididamente.

Ele bateu a bola no chão e começou a caminhar, seguido de perto pela companheira, enquanto trocavam passes ao se aproximar da cesta inimiga. Naoki estava ao lado da cesta e Kai e Rei na lateral. Ryūma direcionou uma piscadela para a menina e ela captou a mensagem facilmente.

Ele quicou a bola para a garota, que se preparou para devolvê-la ao que ele se deslocou, mas, ao invés de fazer isso, resvalou por baixo dos braços do jogador que a marcava e tocou a esfera alaranjada para Kai. Sem demora, o ala posicionou-se na linha de três pontos, saltou o necessário e arremessou a bola.

Oitenta e nove.

A vantagem da Wakusei era de apenas quatro pontos.

Bom trabalho. — Ryūma deu um tapinha de leve nas costas dela.

Tudo estava de volta ao seu lugar.

O armador da Wakusei parecia nervoso, uma vez que o time adversário se comportava de modo cada vez mais desesperado, avançando indefinidamente na tentativa de fazer a Shunkashūtō recuar. A segunda, por sua vez, permanecia unida e era movida por uma vontade de vencer tão extraordinariamente palpável que era quase sólida.

Naoki! — Kai gritou, passando a bola para ele, mas o ala-armador azul pegou-a no ar antes que completasse sua trajetória. — Droga...!

Rei o marcou, mas ele conseguiu se esquivar e marcou com uma enterrada.

Não vai ser tão fácil. — O garoto que tinha acabado de marcar o ponto sussurrou para Kai com uma atitude claramente hostil. — Não comemorem antes da hora... Amadores.

Ele quis responder, mas Emiko tocou o braço dele e o fez ficar em silêncio.
Os minutos correram como milésimos. Mal a bola caía na cesta, voltava, e se voltava, retornava para a cesta. Apitos soavam e interrompendo o jogo. Cada segundo era importante. A contagem regressiva para o fim da partida era exibida enorme no telão da quadra, mas nenhum dos jogadores tirou o olho da bola. Ela ia e voltava com uma fluidez violenta, manipulada feito fantoche por aqueles que buscavam desesperadamente controlar o próprio destino, evidenciando o quão voraz era o confronto que ali ocorria.

Ryūma iniciava, com visão de jogo, e usava Emiko como ponte para alcançar o ala e o pivô. Enquanto isso, o time adversário abandonou a marcação de zona e apostou em uma mais específica. Bloqueios aqui e ali. A Wakusei recuperava a bola e partia para o contra-ataque. Marcava. O retorno para a quadra vinha marcado de ferocidade. Uma enterrada. Uma cesta de três. Outra enterrada.

O tempo se esvaía tão rápido quanto o deslizar dos grãos de areia em uma ampulheta velha. O apito do árbitro substituía o som do ponteiro do relógio, bem como as quicadas de bola evidenciavam a contagem regressiva. Gotas de suor respingavam no ar acompanhadas de um coral ofegante de suspiros desesperados. Azul e vermelho se mesclavam em um degradê borrado e violento, que se chocava e repelia, em uma dança sincronizada que beirava a perfeição.

Faltava pouco menos de dois minutos para o fim do período, e, portanto, da partida.

Era Ryūma quem detinha a bola.

Ele estava dividido entre Rei, que aguardava na lateral — marcado por um jogador — e Kai, na direção oposta, impedido por dois outros.

Em razão do posicionamento intrincado das equipes, o mais seguro seria entregar a bola para Kai e tentar um arremesso de três pontos. Confiava no drible do companheiro. Sua experiência lhe dizia que apesar da segurança da posse de bola, aquela jogada também poderia ser facilmente atrapalhada por um bloqueio na área da cesta. Seus olhos de águia, curtos e finos, percorriam a quadra em alta velocidade e traçavam — em milésimos de segundo — possíveis rotas de ataque.

Ele fitou o ala por alguns instantes e indicou Rei, discretamente, com a cabeça.

Agora estavam a pouco mais de um minuto do prelúdio e eles tinham a posse de bola. O placar estava em noventa e cinco para os anfitriões contra noventa e sete dos visitantes. Era de conhecimento geral que se errassem a próxima cesta, e o time adversário conseguisse aproveitar o rebote, dificilmente seriam capazes de recuperar a bola a tempo de marcar. Além disso, se nada fizessem, perderiam pela diferença. Um cesta de três lhes daria a vitória de que precisavam.

Não tinha outro jeito.

Os espectadores assistiam o desenrolar da cena com olhos vidrados. Quietude tomava conta do lugar tão profundamente que se tinha a impressão que era possível ouvir os corações alheios batendo em uníssono.

Ryūma tocou a bola para Kai, que livrou-se da marcação e avançou alguns passos, e flexionou os joelhos como quem se preparava para arremessar. Os rivais se posicionaram de modo a bloquear a bola, tanto no início da parábola quanto no final, já próximo à cesta. O que aconteceu, no entanto, fez a plateia exclamar em conjunto.

A esfera alaranjada, ao invés de subir, quicou no chão e voou em direção ao ala pivô no limite da linha de três pontos. Ele ziguezagueou a defesa e tocou para Naoki que, estava do lado direito e externo da área restritiva, e o segundo, por sua vez, focou a visão na cesta e lançou.

A bola se deslocava em uma parábola perfeita, quase em câmera lenta, enquanto o relógio dançava no mesmo ritmo. Todos observavam ansiosos. Aquela jogada podia definir mudar o rumo do jogo. Enquanto a Shunkashūtō torcia para que caísse dentro da cesta, os oponentes clamavam por um desvio. O juíz tinha o apito na boca e se preparava para as marcações finais. Os números do placar brilhavam em vermelho, lembrando-os constantemente da situação em que estavam, e do quanto aqueles pontos eram importantes.

Um tapa e a bola não entrou.

O pivô da Wakusei empurrou a bola para longe do aro e, após quicar no chão, caiu direto nas mãos do ala.

Foi como um sonho de vidro que se despedaçava.

Estavam todos cansados demais, desiludidos demais, despedaçados demais por um sonho que parecia se afastar junto com a bola. Observaram o adversário virar-se, vagarosamente, e dar os primeiros passos em direção à vitória declarada. A torcida da Wakusei se levantava, com os braços estendidos, gritando e pulando de alegria, ao cargo que a da Shunkashūtō se desfazia em decepção. Só o que restava, portanto, era um gosto amargo de derrota na boca.

O que a escola anfitriã não esperava, no entanto, era que a bola retornaria tão rapidamente para suas mãos. Muito menos através de uma tomada tão rápida, precisa e poderosa como a que Emiko realizou. A sede de vitória era tanta que sequer perceberam — ou não teriam tempo de fazê-lo, era difícil especificar corretamente — a diminuta figura se aproximando com a voracidade de um felino selvagem.

O adversário só teve tempo de olhá-la de lado, com a visão periférica, e enxergar o sorriso confiante estampado em seus lábios. Um sorriso que ela acreditava há muito tinha perdido e que só ali, no percorrer da ponte para a glória, tinha percebido que nunca tinha deixado de ser seu. Estava escondido, em algum lugar dentro dela mesma, oculto pelas sombras da dúvida e do pesar.

Os atletas próximos até tentaram impedi-la, mas Emiko era rápida demais, e percorreu o trajeto que a separava de seus companheiros de equipe sem paradas. A bola quicava no chão ao seu lado e o quatro enorme, em branco sobre o tecido vermelho frouxo que delineava seu corpo feminino, brilhava e reluzia.

Ela parou, suspirou e tudo ao seu redor voltava a acontecer em câmera lenta. Seu olhar se cruzou com o de Kai. Ele a encarava atônito. A ruiva girou a cabeça e olhou para a arquibancada, onde estavam sua mãe e Hal, lado a lado, torcendo e balançando os braços freneticamente, e isso a fez mais certeza do que ela tinha que fazer.

Tornou a encarar o moreno e uma ligação mágica formou-se no ar. Ele confiava nela, e ela precisava fazer o mesmo. Aquela bola carregava consigo todas as esperanças e os sonhos novos da garota. Todos os seus medos, incertezas e receios estavam lá também. Ela precisava ceder, e queria ceder, desejava desprender-se de um passado doloroso e saltar em direção a um futuro novo e brilhante. Queria sentir o sabor de acordar sem se sentir culpada por estar viva, sorrir sem medo de soar arrogante, mas, principalmente, ser feliz sem a sensação de estar deixando algo importante para trás.

E queria fazê-lo junto com ele.

Ele a olhou de volta, mostrando que o laço era recíproco, e tomou a Bola dos Sonhos para si. Girou os calcanhares, simultâneo ao passar dos últimos segundos do relógio, e arremessou da linha restritiva para uma cesta de três pontos.

Três, dois, um.

O apito final ecoou na quadra.

A torcida se levantou em um pulo e urrou. Confetes caíram do teto, vindos de algum lugar entre as barras de ferro que sustentavam o ginásio. Muitos se abraçaram, se parabenizaram, e riram abertamente. Os jogadores reserva, sentados no banco, também comemoravam, gargalhando, assoviando para os titulares, e o técnico, ostentando uma expressão que mesclava alívio e felicidade, descruzou os braços e finalmente se permitiu sorrir. Sentiu os olhos marejados, tamanho era o orgulho do time que ele, com tanto afinco, treinou, e ele não conseguia lembrar de nenhuma sensação ou jogo mais emocionantes que aqueles.

Demorou um tempo até que a ficha caísse para os jogadores principais — de ambos os times — e, simultânea à felicidade que brotou nos semblante dos vencedores, o restante, incrédulo pela derrota, observava a comemoração alheia sem realmente acreditar no que estava acontecendo. Os números no placar subiram, marcando assim o resultado final, e o narrador anunciava no sistema de som, oficialmente, a vitória do time da Shunkashūtō.

Naoki urrou, em sua voz grossa e nada discreta, e abraçou Rei que não pôde fazer nada além de rir e reclamar divertidamente de estar sendo sufocado. Ryūma, que se preparava para juntar-se ao resto, alcançou o capitão da Wakusei que deixava a quadra cabisbaixo. Cumprimentou-o, felicitou-o pelo excelente jogo, e arrancou do outro — que não esperava uma atitude amigável como aquela — um sorriso genuíno e doce. Os juízes se reuniram na bancada para compilar as últimas informações.

Emiko estava perdida em meio à empolgação enquanto procurava conhecidos na torcida enlouquecida. Avistou Hal acenando e a mãe, sutilmente desajeitada, tentando não se desequilibrar por causa dos empurrões. Ainda havia um espaço vazio ao lado dela que, apesar de todo o apoio que a menina recebeu das outras pessoas, ainda era insubstituível.

Perguntou-se se era assim tão errado querer que seu pai estivesse ali para suporta-la. Ele era, com certeza, a pessoa cuja presença a garota mais desejava naquele momento. Queria que ele a visse vencer, queria mostrar para ele que foi contrariando suas ordens que provou que podia fazer qualquer coisa.
Assim como Hibiki disse que ela faria.

Seus olhos se ergueram em direção à outra extremidade da quadra onde ficava a porta iluminada fortemente pela luz vinda do lado de fora. Ali, à contraluz, ela viu uma silhueta grande e robusta. Precisou espremer os olhos para adaptá-los à forte luminosidade e perceber, com notável surpresa, que se tratava de seu pai.

Vestido em um terno caro e cinzento, Kazuhiko estava parado logo adiante. Ele a olhava em silêncio, sem desviar, mas, diferente do esperado, não era uma expressão fechada que ele trazia no rosto. Estava sorrindo. Tinha assistido o jogo inteiro e ainda estava sorrindo. O coração da ruiva retumbou dentro do peito, ansioso e agitado, tanto porque ainda não conseguia acreditar no que estava vendo, quanto pelo fato de não ter ouvido um único berro de reprovação e desprezo saindo da boca dele.

Sequer conseguia se lembrar da última vez que ele tinha sorrido.

Kazuhiko balançou a cabeça, em um aceno positivo, dizendo mudamente à filha que estava tudo bem. E que ele estava ali. Ainda haviam manchas de ressentimento, e ambos sabiam que a dor da perda de Hibiki nunca se tornaria menor — apenas tolerável —, mas havia no ar a estranha certeza que, dali em diante, eles podiam se consertar.

Emiko piscou abruptamente, para refrescar os olhos marejados, e eles saltaram quando ela teve a ligeira impressão de ter visto alguém atrás de seu pai. A silhueta era extremamente familiar, embora fosca e translúcida, quase impossível de enxergar. Vestia o uniforme vermelho de seu time. Não podia ser um reserva.

Era ele.

Hibiki.

Emiko sentiu vontade de chorar. Era por causa dele que estava ali, naquela quadra, cansada e suada, mas genuinamente feliz e profundamente realizada. A felicidade estava onde ela menos esperava. Era a primeira vez em muito tempo que ela sentia que era capaz de realmente fazer o que quisesse.

“Então era assim que você se sentia...”

A garota foi abruptamente arrancada de seus pensamentos pela chegada chamativa de seus companheiros. Naoki a abraçou por trás e a levantou. Ela riu, acompanhada dos outros três, e recebeu um afago carinhoso do capitão.

A gente conseguiu, baixinha! — O pivô mal era capaz de conter sua excitação. — E graças a você!

É, ninguém esperava aquela sua chegada. — Rei a elogiou.

Não foi nada demais. — Sem graça, ela limpou o suor da testa. — Quer dizer, até o Naoki podia fazer isso.

Claro que eu eu podia... — Depois que percebeu a ironia, ele deu um tapinha nas costas dela. — Ei, mais respeito com seu senpai, mocinha!

O capitão estendeu para ela o pequeno troféu dourado que carregava em mãos. Tinha recebido do juíz depois de cumprimentar os jogadores adversários.

É seu. — Ele disse categoricamente. — Eu recebi dos organizadores.

Meu? — Emiko perguntou.

Sim. — Confirmou Ryūma com uma expressão amigável. — Seu, nosso, e do Hibiki também.

Emiko concordou.

Depois que todos a cumprimentaram, foi a vez do ala. Kai se aproximou enquanto suspirava e era fácil para ela ler o que suas expressões diziam. Estava feliz, orgulhoso e tão encantadoramente bonito quanto da primeira vez que ela o vira. Quando estava com ele, sentia que tudo era natural. Não precisava fingir ser forte, durona, nem se sentir envergonhada por ser a menos experiente naquilo que faziam. Estava aprendendo, com um passo de cada vez, e não se importava em fazê-lo se pudesse ser ao lado dele.

Você foi incrível, Kitsu. — A mão dele alcançou uma mecha de cabelo que escapava do rabo-de-cavalo e colocou-a carinhosamente atrás da orelha. Depois, seus dedos deslizaram pela lateral do rosto alvo da menina. — Jogou bem, se esforçou, superou a si mesma e merece essa vitória tanto quanto o resto de nós. Eu disse para confiar em mim; porque eu confiava em você.

Ela olhou para a arquibancada uma última vez. No meio da comemoração, não conseguia enxergar Hal nem sua mãe. A frase que ela tinha dito para o garoto no vestiário, minutos atrás, voltou à sua mente com força:

“Espero que compreenda as decisões que eu tomar.”

Emiko mordeu os lábios e apertou o troféu em sua mão direita. A escolha já tinha sido feita. Restava a ela tomar as rédeas de seu próprio destino e abrir caminho em direção ao futuro que aspirava. Um sonho tinha se realizado, mas ainda haviam muitos sonhos para viver. E ela pretendia fazê-lo sem hesitação.

Com a mão livre, ela agarrou a camisa de Kai e o puxou em sua própria direção. Seus lábios se uniram perfeitamente. No início ele pareceu surpreso, de olhos abertos, mas logo se fecharam involuntariamente conforme os lábios dela, cuja maciez ele desejou sentir por muito tempo, se espremiam contra os seus.

Ele enlaçou os braços nas costas a ruiva, trazendo-a mais para perto, enquanto ela o envolvia pelo pescoço. Seus narizes se roçaram enquanto se beijavam, permitindo a cada um aspirar o cheiro natural do outro, senti-lo e assimilá-lo, enquanto o abraço se tornava cada vez mais aconchegante. Tudo o que outrora os cercara pareceu ínfimo comparado com o desejo que nutriam um pelo outro e pela força com que permitiam que seus sentimentos fluíssem para fora. Uma torrente de sensações os envolveu no que durou aquela momento mágico e extremamente delicioso.

Tira esse sorriso bobo da cara. — Ele sussurrou, por fim. — Eu ainda nem comecei.

Hal os observava de longe, da grade da quadra, sem que o vissem. Seu peito ardia, mas seu semblante não transparecia nada disso. Ela tinha feito uma escolha e cabia a ele acatá-la, mas não sem luta. Ele a amava. Ao mesmo tempo em que passava a nutrir uma intensa raiva de Kai, sentia que passara a respeitá-lo um pouco mais. Ela o escolheu; ele não era, definitivamente, um cara qualquer. Um adversário à altura, talvez. Por ora, precisava sair dali.

Virou o rosto e desapareceu entre a multidão que escoava para a saída.

Que bonitinho, vocês dois, o novo casal de pombinhos. — Naoki brincou. — Mas vamos parar com essa melação toda senão eu vou acabar vomitando.

Não seja tão chato, Naoki. — Rei chocou o ombro contra o dele, oferecendo ao pivô um sorriso confidente e uma piscadela atrevida. — Eu sei que você também pode ser bem romântico quando quer.

O loiro pareceu desconcertado e apenas bufou.

Abruptamente, Naoki enfiou a cabeça entre as pernas de Emiko e ergueu-a em seus ombros. Ela gritou, com medo de cair, mas logo tornou a rir. Todos estavam felizes e orgulhosos de si mesmo. Era a ligação perfeita, a intimidade perfeita, eles agora eram um time unido. A sensação de pertencimento que Emiko experimentava era indescritível, mágica e intensa, ela sentia que ia explodir de felicidade a qualquer momento.

Ergueu os olhos para o teto coberto, esticou o troféu o mais alto que pôde e murmurou dentro de sua própria mente:

“Irmão, essa vitória é sua.”

Parecia um sonho doce.

E, se fosse, ela rezava para nunca mais acordar.


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Notas finais do capítulo

Como eu disse anteriormente, tenho agradecimentos especiais pra fazer. Eu infelizmente não conheço todos os leitores intimamente ou fora daqui, porém tem algumas pessoinhas que me apoiaram um pouco mais intimamente e a quem eu preciso me dirigir publicamente. Lunna Ely, a leitora mais rápida, que sempre é a primeira a comentar, que sempre recomenda a história para outras pessoas e me dá orgulho demonstrando amar a história tanto quanto eu!