A Flor da Carnificina escrita por Essa conta não existe mais, Niquess


Capítulo 4
Capítulo 3 - Desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bem, eu não ia postar esse capítulo hoje, porém, houve uma dúvida em relação ao enredo da estória, e eu acho que é mais do que uma obrigação minha explicar o que eu pretendo no enredo.
Eu comecei do inicio mesmo, antes que as gangues tivessem sido formadas. Pra mim fez todo o sentido explicar como tudo iniciou-se.
Se a estória estiver horrível, podem falar que eu irei dar meu jeito para que fique do agrado de vocês!
É isso. Beijoxxxx



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/620748/chapter/4

– Então, qual foi o resultado do meu exame? - Perguntou Isaac, aflito.
– Você é HIV positivo. - Respondeu a mulher, com um olhar normal, como se dar aquela notícia fosse algo tão normal, como dizer que alguém está gordo, ou feio.
Isaac sentiu a garganta seca, e viu o chão embaixo de seus pés sumir de um momento a outro.
O rapaz saiu daquela sala transtornado, e passou por Fábio no corredor sentindo uma imensa vontade de chorar, sumir, morrer.
O outro rapaz seguiu este, que parou no ponto do ônibus que eles tinham que pegar para ir para casa.
– O que aconteceu? Me fala. Deu positivo? - Perguntou Fábio, falando a última parte em um tom mais baixo. Isaac balançou a cabeça e deixou as lágrimas rolarem por seu rosto moreno.
– Quer saber... Eu vou me matar. Eu não quero mais viver, eu vou me matar! - Falou Isaac, chorando e soluçando. Fábio o abraçou fortemente, encostando a cabeça do outro rapaz em seu peito.
– Vai ficar tudo bem... Existem um milhão de medicamentos que se pode tomar para que você fique bem. É melhor voltarmos lá e...
– Eu não quero voltar lá, eu quero sumir. Quero sumir! - Isaac soltou-se do abraço do outro e pegou o primeiro ônibus que passou ali, deixando Fábio parado, em reação. Ele até cogitou ir atrás do outro, mas manteve-se sentando naquele banco. Puxou um maço de cigarro do bolso e tragou um cigarro, enquanto tomava coragem de voltar no hospital para ver o resultado do seu exame.

O ônibus parou em uma comunidade carente que ficava na periferia da cidade. Isaac desceu e caminhou pelas ruas sujas e malcheirosas daquele lugar. Quando chegou em frente a uma casa com muro embolsado, e portão de metal que antes fora pintado de verde escuro, mas agora a cor predominante era o cinza do metal, colocou a chave na maçaneta e entrou.
– Que cara é essa? - Perguntou Aline, a irmã caçula de Isaac, que estendia as roupas dela no varal.
– Cata suas coisas, nós vamos sair daqui hoje mesmo. - Falou Isaac, limpando o resto de lágrima que sobrou em seu rosto.
– Vamos pra onde, então? - Perguntou Aline, sarcástica.
– Não sei. Pega tudo que é seu e põe em uma sacola, bolsa, mochila, sei lá. Vamos sair daqui antes que a Madame Ursula chegue e nos veja saindo.
– Mas não vou mesmo! Eu não quero ir pra rua de novo! - A garota terminou o que fazia e entrou dentro da casa.
– Ou você vem comigo, ou nunca mais vai me ver.
– Só quero que me diga pra onde nós vamos
– Só arrume suas coisas. - A caçula bufou, mas acatou o pedido do irmão mais velho, recolhendo suas roupas e ítens pessoais. Ela teria que ir, não iria ficar naquela casa sem o irmão.
Após a morte da mãe, Isaac e sua irmã foram para um abrigo, mas as coisas lá não eram tão boas como as pessoas costumam dizer, então os dois fugiram indo para as ruas. Por serem bonitos e saudáveis uma senhora que aliciava menores os levou para a sua casa onde viviam os menores que ela pegava da rua. Porém, eles não sabiam que lá iriam ter que vender o que para eles era a única coisa que eles tinham e ninguém podia tirar : o corpo.
Ao saber que estava doente, Isaac preferiu sair dali, cuidar de sua vida sem ter que cumprir ordens ou se prostituir para garantir o prato de comida do dia seguinte. Tanto ele, tanto sua irmã eram obrigados a tal coisa.
Os dois recolheram todo o bem material deles que estava ali, e sairam antes que a outras meninas e meninos chegassem, ou a própria Madame Ursula.

– O que deu em você? E ainda espero você responder pra onde vamos - Falou Aline, segurando uma mochila rosa e uma bolsa amarela, onde estavam seus pertences.
– Pra qualquer lugar. Só precisamos sair daquela casa.
– E por quê? Vivemos lá durante 9 anos da nossa vida, qual é o problema agora? - Isaac parou de andar e virou-se de frente a irmã, e com um olhar pesado, suspirou e voltou a falar.
– Eu estou infectado com o vírus HIV, eu fiz um teste hoje de manhã e descobri que estou doente. Não vou continuar vivendo naquela casa, ou te expondo a esse risco. - Aline arregalou os olhos escuros e ficou estática, sem reação.
– Espera, você... Como? Me fala... - A garota apertou o braço do irmão mais velho, que desvencilhou-se das mãos pequenas da irmã e continuou andando.
– Já disse para sairmos logo daqui. Não quero responder perguntas, só quero sair logo daqui com você. - Uma vã passou e Isaac fez sinal, entrando junto com sua irmã na mesma. Ele arrumaria algum lugar para ficar.

A vã parou em frente a uma praça e Isaac e a irmã desceram. Aline ainda estava confusa, as coisas tinham acontecido rápido demais, e ela queria explicações, queria saber o que realmente o irmão tinha. Queria um lar mais rápido possível.
– Ótimo, uma praça. -Falou Aline, sarcástica.
– Não é só uma praça, é onde vamos ficar durante um tempo. Eu vou dar um jeito de tirar a gente daqui, está bem?
– Nós ficamos naquela casa durante 9 anos, e você não fez nada! E assim, de um dia pro outro, você aparece falando que está doente, que não quer mais ficar morando com a Madame Ursula e nós traz pra rua, pra gente morar em uma praça. Puta que pariu, hein?! Você acha que a gente vai parar de se prostituir só porque saimos da casa da Madame?
– Não necessáriamente nós vamos ter que nos prostituir, Aline. Aqui estamos livres, fazemos isso se quisermos, não como obrigação.
– Uma hora vamos ficar com fome.
– Cala a boca. Eu tenho alguns contatos, e logo logo nós vamos para a casa de um amigo meu.
– Você está me deixando mais confusa ainda.
– Confie em mim.

Fábio assistia os noticiários locais, enquanto comia um prato de miojo. Ele devia ter ído ''trabalhar'', mas não conseguia. Passou o dia procurando por Isaac, e não teve nenhuma pista dele. Sentia-se tão preocupado que não tinha cabeça de sair de casa e se deitar com outro homem, algo tinha que mudar nisso. Não queria que o que aconteceu com Isaac acontecesse com ele, então determinou para si que nunca mais iria se prostituir. Porém o dinheiro não ia brotar em árvores, e ele teria que arrumar um outro meio de garantir o aluguel e a comida, e sabia como resolver isso, tinha contatos.

Inácio tinha acabado de sair de uma chopada com os amigos, e como rotina, caminhava por uma praça até o metrô para voltar para casa. Porém, naquele dia o caminho não foi o mesmo, enquanto ele atravessava a praça bem arborizada, mas infestada de moradores de rua, um sujeito mal encarado encostou com o canivete nas costas de Inácio, na altura dos rins. O garoto tremeu inteiro por dentro, e devagar retirou as coisas que foram pedidas pelo ladrão que anunciou o assalto e exigiu a carteira e o celular do rapaz.
Enquanto Inácio entregava, o ladrão foi atingido por uma garrafa de vidro que fora lançada em sua cabeça, e o meliante acabou desmaiando pelo golpe que levou.
– O...brigado - Agradeceu Inácio, enquanto, ainda com as mãos tremulas colocava seus pertences em seu bolso.
– Se eu fosse você corria, ele pode ter algum comparsa e querer matar você.
– E você? Eles podem querer te matar...
– Se não forem eles, será a vida, então não me importo. Vai logo, moleque!
– Qual é o seu nome? Você fica sempre aqui? Você me salvou, cara!
– Que mané salvei! Eu só preciso me meter em confusão pra ser respeitado. Já falei, mete o pé! - O rapaz balançou a cabeça e saiu correndo em direção ao metrô.
Isaac encarou o corpo desmaiado no chão, e virou-se em direção do quiosque onde ele tinha se instalado com a irmã, e se surpreendeu ao ver a mesma olhando embasbacada para o que ele tinha feito.
– O que foi, Aline?
– Podem nos matar, seu idiota! - Esbravejou a garota. O mais velho sorriu, ele nunca tinha ferido alguém, e aquilo o fez sentir um prazer imenso por dentro, mesmo que tenha sido para defender um desconhecido.
– E se tentarem nos matar? O que você vai fazer?
– Morrer por sua causa! Eu quero sair daqui - Falou a garota, iniciando um choro.
– Pois vamos continuar aqui, quero aprender com você as manhas da rua. Ninguém mais vai ferir a gente, Aline.

Inácio chegou afoito em casa, e se sentiu aliviado ao ver que só a empregada estava em casa.
– Boa noite, inácio - Falou Cleusa, que limpava a cozinha antes de ir embora.
– Boa noite. Cleusa, você conhece algum morador daquela pracinha perto da choperia onde meus pais e eu frequentamos?
– Hm... não mexo muito com eles. Por quê? Alguém te roubou?
– Quase - O garoto abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água - Quando iam me roubar, um cara me defendeu. Um mendigo muito bem cuidado.
– Sua mãe é delegada, você é um dos poucos que pode ficar imune a esse tipo de coisa.
– Não Cleusa... Eu quero saber do modo de vida deles, como eles vivem...
– Não mexe com o que você não conhece. Pois bem, eu vou pra casa. Caso queira jantar, já sabe.
Inácio sentia-se fascinado. 1. Porque ele tinha sido salvo por um desconhecido, e ninguém tinha se arriscado por ele como aquele cara tinha feito. 2. Ele sentiu o que aquele cara tinha e ele não: Liberdade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Explicações nas notas do capítulo
Beijuxxxxx