A Flor da Carnificina escrita por Essa conta não existe mais, Niquess
Notas iniciais do capítulo
Olá! Bem, eu não ia postar esse capítulo hoje, porém, houve uma dúvida em relação ao enredo da estória, e eu acho que é mais do que uma obrigação minha explicar o que eu pretendo no enredo.
Eu comecei do inicio mesmo, antes que as gangues tivessem sido formadas. Pra mim fez todo o sentido explicar como tudo iniciou-se.
Se a estória estiver horrível, podem falar que eu irei dar meu jeito para que fique do agrado de vocês!
É isso. Beijoxxxx
– Então, qual foi o resultado do meu exame? - Perguntou Isaac, aflito.
– Você é HIV positivo. - Respondeu a mulher, com um olhar normal, como se dar aquela notícia fosse algo tão normal, como dizer que alguém está gordo, ou feio.
Isaac sentiu a garganta seca, e viu o chão embaixo de seus pés sumir de um momento a outro.
O rapaz saiu daquela sala transtornado, e passou por Fábio no corredor sentindo uma imensa vontade de chorar, sumir, morrer.
O outro rapaz seguiu este, que parou no ponto do ônibus que eles tinham que pegar para ir para casa.
– O que aconteceu? Me fala. Deu positivo? - Perguntou Fábio, falando a última parte em um tom mais baixo. Isaac balançou a cabeça e deixou as lágrimas rolarem por seu rosto moreno.
– Quer saber... Eu vou me matar. Eu não quero mais viver, eu vou me matar! - Falou Isaac, chorando e soluçando. Fábio o abraçou fortemente, encostando a cabeça do outro rapaz em seu peito.
– Vai ficar tudo bem... Existem um milhão de medicamentos que se pode tomar para que você fique bem. É melhor voltarmos lá e...
– Eu não quero voltar lá, eu quero sumir. Quero sumir! - Isaac soltou-se do abraço do outro e pegou o primeiro ônibus que passou ali, deixando Fábio parado, em reação. Ele até cogitou ir atrás do outro, mas manteve-se sentando naquele banco. Puxou um maço de cigarro do bolso e tragou um cigarro, enquanto tomava coragem de voltar no hospital para ver o resultado do seu exame.
O ônibus parou em uma comunidade carente que ficava na periferia da cidade. Isaac desceu e caminhou pelas ruas sujas e malcheirosas daquele lugar. Quando chegou em frente a uma casa com muro embolsado, e portão de metal que antes fora pintado de verde escuro, mas agora a cor predominante era o cinza do metal, colocou a chave na maçaneta e entrou.
– Que cara é essa? - Perguntou Aline, a irmã caçula de Isaac, que estendia as roupas dela no varal.
– Cata suas coisas, nós vamos sair daqui hoje mesmo. - Falou Isaac, limpando o resto de lágrima que sobrou em seu rosto.
– Vamos pra onde, então? - Perguntou Aline, sarcástica.
– Não sei. Pega tudo que é seu e põe em uma sacola, bolsa, mochila, sei lá. Vamos sair daqui antes que a Madame Ursula chegue e nos veja saindo.
– Mas não vou mesmo! Eu não quero ir pra rua de novo! - A garota terminou o que fazia e entrou dentro da casa.
– Ou você vem comigo, ou nunca mais vai me ver.
– Só quero que me diga pra onde nós vamos
– Só arrume suas coisas. - A caçula bufou, mas acatou o pedido do irmão mais velho, recolhendo suas roupas e ítens pessoais. Ela teria que ir, não iria ficar naquela casa sem o irmão.
Após a morte da mãe, Isaac e sua irmã foram para um abrigo, mas as coisas lá não eram tão boas como as pessoas costumam dizer, então os dois fugiram indo para as ruas. Por serem bonitos e saudáveis uma senhora que aliciava menores os levou para a sua casa onde viviam os menores que ela pegava da rua. Porém, eles não sabiam que lá iriam ter que vender o que para eles era a única coisa que eles tinham e ninguém podia tirar : o corpo.
Ao saber que estava doente, Isaac preferiu sair dali, cuidar de sua vida sem ter que cumprir ordens ou se prostituir para garantir o prato de comida do dia seguinte. Tanto ele, tanto sua irmã eram obrigados a tal coisa.
Os dois recolheram todo o bem material deles que estava ali, e sairam antes que a outras meninas e meninos chegassem, ou a própria Madame Ursula.
– O que deu em você? E ainda espero você responder pra onde vamos - Falou Aline, segurando uma mochila rosa e uma bolsa amarela, onde estavam seus pertences.
– Pra qualquer lugar. Só precisamos sair daquela casa.
– E por quê? Vivemos lá durante 9 anos da nossa vida, qual é o problema agora? - Isaac parou de andar e virou-se de frente a irmã, e com um olhar pesado, suspirou e voltou a falar.
– Eu estou infectado com o vírus HIV, eu fiz um teste hoje de manhã e descobri que estou doente. Não vou continuar vivendo naquela casa, ou te expondo a esse risco. - Aline arregalou os olhos escuros e ficou estática, sem reação.
– Espera, você... Como? Me fala... - A garota apertou o braço do irmão mais velho, que desvencilhou-se das mãos pequenas da irmã e continuou andando.
– Já disse para sairmos logo daqui. Não quero responder perguntas, só quero sair logo daqui com você. - Uma vã passou e Isaac fez sinal, entrando junto com sua irmã na mesma. Ele arrumaria algum lugar para ficar.
A vã parou em frente a uma praça e Isaac e a irmã desceram. Aline ainda estava confusa, as coisas tinham acontecido rápido demais, e ela queria explicações, queria saber o que realmente o irmão tinha. Queria um lar mais rápido possível.
– Ótimo, uma praça. -Falou Aline, sarcástica.
– Não é só uma praça, é onde vamos ficar durante um tempo. Eu vou dar um jeito de tirar a gente daqui, está bem?
– Nós ficamos naquela casa durante 9 anos, e você não fez nada! E assim, de um dia pro outro, você aparece falando que está doente, que não quer mais ficar morando com a Madame Ursula e nós traz pra rua, pra gente morar em uma praça. Puta que pariu, hein?! Você acha que a gente vai parar de se prostituir só porque saimos da casa da Madame?
– Não necessáriamente nós vamos ter que nos prostituir, Aline. Aqui estamos livres, fazemos isso se quisermos, não como obrigação.
– Uma hora vamos ficar com fome.
– Cala a boca. Eu tenho alguns contatos, e logo logo nós vamos para a casa de um amigo meu.
– Você está me deixando mais confusa ainda.
– Confie em mim.
Fábio assistia os noticiários locais, enquanto comia um prato de miojo. Ele devia ter ído ''trabalhar'', mas não conseguia. Passou o dia procurando por Isaac, e não teve nenhuma pista dele. Sentia-se tão preocupado que não tinha cabeça de sair de casa e se deitar com outro homem, algo tinha que mudar nisso. Não queria que o que aconteceu com Isaac acontecesse com ele, então determinou para si que nunca mais iria se prostituir. Porém o dinheiro não ia brotar em árvores, e ele teria que arrumar um outro meio de garantir o aluguel e a comida, e sabia como resolver isso, tinha contatos.
Inácio tinha acabado de sair de uma chopada com os amigos, e como rotina, caminhava por uma praça até o metrô para voltar para casa. Porém, naquele dia o caminho não foi o mesmo, enquanto ele atravessava a praça bem arborizada, mas infestada de moradores de rua, um sujeito mal encarado encostou com o canivete nas costas de Inácio, na altura dos rins. O garoto tremeu inteiro por dentro, e devagar retirou as coisas que foram pedidas pelo ladrão que anunciou o assalto e exigiu a carteira e o celular do rapaz.
Enquanto Inácio entregava, o ladrão foi atingido por uma garrafa de vidro que fora lançada em sua cabeça, e o meliante acabou desmaiando pelo golpe que levou.
– O...brigado - Agradeceu Inácio, enquanto, ainda com as mãos tremulas colocava seus pertences em seu bolso.
– Se eu fosse você corria, ele pode ter algum comparsa e querer matar você.
– E você? Eles podem querer te matar...
– Se não forem eles, será a vida, então não me importo. Vai logo, moleque!
– Qual é o seu nome? Você fica sempre aqui? Você me salvou, cara!
– Que mané salvei! Eu só preciso me meter em confusão pra ser respeitado. Já falei, mete o pé! - O rapaz balançou a cabeça e saiu correndo em direção ao metrô.
Isaac encarou o corpo desmaiado no chão, e virou-se em direção do quiosque onde ele tinha se instalado com a irmã, e se surpreendeu ao ver a mesma olhando embasbacada para o que ele tinha feito.
– O que foi, Aline?
– Podem nos matar, seu idiota! - Esbravejou a garota. O mais velho sorriu, ele nunca tinha ferido alguém, e aquilo o fez sentir um prazer imenso por dentro, mesmo que tenha sido para defender um desconhecido.
– E se tentarem nos matar? O que você vai fazer?
– Morrer por sua causa! Eu quero sair daqui - Falou a garota, iniciando um choro.
– Pois vamos continuar aqui, quero aprender com você as manhas da rua. Ninguém mais vai ferir a gente, Aline.
Inácio chegou afoito em casa, e se sentiu aliviado ao ver que só a empregada estava em casa.
– Boa noite, inácio - Falou Cleusa, que limpava a cozinha antes de ir embora.
– Boa noite. Cleusa, você conhece algum morador daquela pracinha perto da choperia onde meus pais e eu frequentamos?
– Hm... não mexo muito com eles. Por quê? Alguém te roubou?
– Quase - O garoto abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água - Quando iam me roubar, um cara me defendeu. Um mendigo muito bem cuidado.
– Sua mãe é delegada, você é um dos poucos que pode ficar imune a esse tipo de coisa.
– Não Cleusa... Eu quero saber do modo de vida deles, como eles vivem...
– Não mexe com o que você não conhece. Pois bem, eu vou pra casa. Caso queira jantar, já sabe.
Inácio sentia-se fascinado. 1. Porque ele tinha sido salvo por um desconhecido, e ninguém tinha se arriscado por ele como aquele cara tinha feito. 2. Ele sentiu o que aquele cara tinha e ele não: Liberdade.
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Explicações nas notas do capítulo
Beijuxxxxx