A Flor da Carnificina escrita por Essa conta não existe mais, Niquess


Capítulo 29
Capítulo 28 - A maçã não cai longe da árvore


Notas iniciais do capítulo

Boa noiteeeeeeeeeeee!
Mais um capítulo para vocês, e não se esqueçam:
Um review ajuda o leitor a continuar a história, e faz bem pro coração.
BJS



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César estava mexendo em seu notebook sentado na mesa da cozinha da família de Jaqueline, enquanto a mesma comia pão com manteiga e nescau. O marido respondia emails que eram tantos seus, tanto de sua esposa que não havia sequer colocado as mãos naquele notebook. Um daqueles emails era de Seji, e antes de abri-lo, César olhou para a esposa que mastigava o alimento destraída e abriu a caixa de email dela.
No email, Seji havia escrito:
''Você é uma cadela, jaque! Ficou de me mandar notícias, e até agora só sei que você chegou no Brasil zzzzzzZZZZZZZZz. Duas revistas me ligaram pedindo seus contatos, mas você não manda sinal nem de fumaça hahaha. Eu recusei, disse que você estava posando para fotos aí nesse buraco, e eles disseram que irão retornar o convite daqui a dois meses.
Mas vamos ao que interessa. E SUA FILHA? já encontrou a menina? Como ela é? O César já está sabendo ou você ainda está sendo discreta? Eu quero saber detalhes, querida!
Você sabe que eu odeio mandar email, mas você não responde minhas mensagens, então eu tive que apelar.
Beijos sua safada, e vê se responde.''

Assim que terminou de aquele email, César sentiu seu estômago embrulhar. Ele e Jaqueline estavam casados há tanto tempo, e ela nunca havia revelado que tinha uma filha. Então aquela cicatriz na barriga dela não era cirurgia coisa nenhuma, era uma cesária. E outra, aquele era o GRANDE motivo para ela querer tanto ir para o Brasil, a ponto de abrir mão do desfile de sua estilista favorita.
O marido manteve seus olhos vidrados na tela no notebook durante um tempo, e só mudou o foco de seu olhar, quando sua esposa ficou de pé, e ligou a torneira para lavar o copo que usou.
– Jaqueline, acho que o Seji te mandou um email - Falou César. Jaqueline não esboçou reação nenhuma, e assim que terminou de lavar o copo, caminhou até o marido e se posicionou atrás dele.
– O Seji mandando email? - Jaqueline riu debochada - Ou alguma modelo morreu, ou ele quebrou a unha do dedo mindinho.
– Você quer que eu leia para você? - Pediu César, com um tom sarcástico em sua voz.
– Quero. - Jaqueline sentou ao lado de César e esperou o marido começar a ler o email. Inicialmente, a loira segurava um grande sorriso nos lábios, que sumiu totalmente quando César proferiu a palavra FILHA.
– Então Jaque, já encontrou sua filha? - Falou César, ficando de pé e caminhando furioso até o quarto. A loira imitou os movimentos e seguiu seu marido.
– Ótimo, agora você já sabe pra quê eu vim pro Brasil. Eu tenho uma filha de 8 anos e quero ter a guarda dela. Eu não quis te envolver nisso tudo porque... porque eu queria ter as coisas certas. - Falou Jaqueline com a voz trêmua. Geralmente, ela nunca se importou com o que seu marido achava sobre ela, ou sobre as coisas que ela fazia, mas aquilo deveria ter sido conversado anteriormente.
– Porque você nunca me contou? Eu confiei tudo em você, e você nunca me disse absolutamente nada sobre essa menina. Então é por isso que foge tanto do assunto filhos? Você teve uma e não quis saber dela? - Aquelas palavras feriram Jaqueline. Era verdade, e a verdade dói.
– EU NÃO ABANDONEI MINHA FILHA! - Gritou Jaqueline.
– Se não fez nada de errado, porque me escondeu isso durante tanto tempo, Jaque? - Falou César, sem alterar sua voz. O homem sentou na cama e olhou decepcionado para a mulher.
– Eu... - Jaqueline começou a chorar e deitou na cama, chorando intensamente. Ao ver sua esposa naquela situação, César deitou ao lado dela, e a puxou para um abraço.
– Eu não vou abandonar você. Eu só queria ter descoberto isso há mais tempo. - Falou César, apoiando a cabeça de Jaqueline em seu peito.
– Eu conheci a garota há uma semana. Ela é tão linda... - Jaqueline soltou-se do abraço do marido e sentou na cama - Seu nome é Carolina. Eu gostaria de chamá-la de Clara, se eu pudesse, mas não fui eu quem criei.
– E ela sabe que você é a mãe dela?
– Não... Nem desconfia. Sua avó disse que eu era uma professora da escola onde ela trabalhava.
– O que pretende fazer? O que pretendia né, porque agora que eu sei, seus planos mudaram.
– Eu queria brigar legalmente para ter a guarda dela. Ela vive em um bairro horroroso, uma casa horrorosa, e nós temos tanto dinheiro...
– Vou ligar para um amigo meu que é advogado, e ele vai nos ajudar, porque eu também estou com você nessa. - Jaqueline sorriu. Ela definitivamente tinha sorte, pois ser casada com um homem rico, que se importava com ela de verdade era difícil demais. Para agradecer a gentileza e compreensão de seu marido, Jaqueline deu a ele uma coisa que eles não tinham há bastante tempo: sexo.


Marli assistia um programa qualquer na televisão, e Carolina dormia em seu colo. O aparecimento de Jaqueline havia abalado completamente suas estruturas. Primeiro sua doença que tinha feito ela parar de trabalhar em um de seus empregos para poder se tratar, e agora aquela mulher, que quando pariu sua neta ainda era uma menina. Porém, talvez Deus escrevesse certo por linhas tortas, e Jaqueline aparecer do nada fosse obra dele, para quando ela morresse, sua neta não ficasse desamparada.
Quando Marli ia colocar sua neta para dormir, sentiu uma dor absurda embaixo de seu ventre, porém conseguiu ignorar.
– Carol, acorda - Falou Marli, segurando a voz para não transparecer sua dor.
– O que foi, mãe? - Carolina ainda chamava Marli de mãe, algumas vezes.
– Vai pra cama dormir. - Carolina olhou confusa para sua avó e caminhou lentamente até o quarto que ela dividia com a mulher. Marli foi para a cozinha e colocou um pouco de café em uma xícara, talvez fosse bom para passar aquela dor miserável. Enquanto isso, pensou em tudo o que poderia fazer para tornar a situação agradável para aquele momento, e para o futuro de Carolina.
A mulher pensou também seu filho, e onde ele estaria naquele momento. Carolina havia revelado para ela o horror que era o apartamento de seu pai. Sujo, fedido e abafado. As palavras de Carolina serviram para manté-la longe daquele lugar, e para agoniar o coração materno de Marli. Por mais que seu filho houvesse vacilado com ela, ainda era seu filho.

Aline ficou de pé e esfregou as mãos em sua roupa. Naquele momento, sacanagem e destino eram as palavras que piscavam na cabeça morena da garota. ''Mas que azar do caralho'' - Pensou Aline.
Ermina ia para sala sentar no sofá para evitar os enjoos, quando viu Aline em pé, ao lado da porta da saída.
A ruiva que estava destraída, levou um susto ao ver a garota morena em pé, a mesma garota que tentou roubar seu ponto de prostituição e irmã do cara que a deixou interessada.
– Mas olha, vejam só... - Falou Ermina, com um tom debochado na voz, sentando no sofá.
– O que você tá fazendo aqui? Tá me seguindo? - Perguntou Aline, cruzando seus braços.
– Eu? Pra quê eu iria perder meu precioso tempo indo atrás de você? Por favor... - Falou Ermina, dando uma risadinha perversa no final.
– Você mora aqui? Se morar pode me falar, que eu saio agora! - Falou Aline. Ermina ficou de pé para encarar Aline frente a frente.
– Não moro não. Eu vim com o meu namorado pegar umas coisas, e logo vou trabalhar, até porque eu tenho um nome a manter - Aline riu do que havia acabado de ouvir. Ter que escutar Ermina falar sobre ''o nome a manter'' fez Aline sentir pena e graça ao mesmo tempo. Como alguém conseguia sentir orgulho de ser prostituta? Ela não entendia, e esperava nunca mais entender.
– Ótimo, bom trabalho para você! - Falou Aline, passando por Ermina indo em direção à cozinha, mas a ruiva não perdeu tempo e puxou os fios negros e longos da morena pela raíz, e a trouxe de volta, enrolando o cabelo de Aline para que ela sentisse dor e não pudesse andar. Ermina aproximou sua boca no ouvido da morena e disse:
– Eu detesto gente debochada- Aline tentou se soltar, mas quando mais ela resistia, mais doía.
– Me solta... - Ermina soltou um risinho e apertou ainda mais os fios negros.
– Toma cuidado comigo, porque eu sei como acabar com a sua raça. - A ruiva soltou os cabelos de Aline e voltou para o sofá. Aline, por sua vez, sentia vontade de chorar, mas não ia dar o braço a torcer para dar o gostinho da derrota para Ermina. Então, foi até a cozinha e pediu para Cristiano mostrar onde ela iria dormir.
Ermina sentia-se empodeirada toda vez que ela mostrava para alguém quem é que mandava, mas esse alguém sempre eram mulheres, porque ela não tinha toda essa ''força'' para agir com homens. E ver Aline por ali a fez lembrar que seu irmão também poderia pousar por perto, então iria se informar sobre a estadia daquela garota e descobrir quando aquele rapaz lindo que a ajudou iria aparecer.


Jaqueline havia acordado empolgada naquele dia, e já se arrumava para poder ir até a casa onde sua filha vivia com sua avó paterna. A loira passava lápis de olho de frente ao espelho, quando viu seu marido se aproximando dela e a abraçando por trás.
– Já está arrumada assim? - Perguntou César, dando um beijo no pescoço alvo da esposa.
– Claro, vou lá bem cedo e vou conversar com aquela mulher que tá criando a minha filha. - A loira terminou de se maquiar e guardou sua maleta de maquiagem na mala, e saiu do quarto, sendo seguida por seu marido.
– Eu vou entrar em contato com o Ricardo Cavassin, um amigo meu que é advogado. - Falou César, caminhando em direção ao banheiro.
–Muito obrigado, César. Eu te amo - Falou Jaqueline. César quase nunca ouviu sua esposa dizer: eu te amo, e escutar aquilo era energizante para ele, e iria fazer o que fosse só para ouvir aquilo mais vezes de Jaqueline.
– Eu também te amo. Muitíssimo. - Falou ele, olhando ternamente para sua mulher, que mandou um beijo solto e caminhou até a cozinha.
Ao chegar no cômodo, Jaqueline viu sua mãe e suas duas irmãs comendo na mesa. A loira deu um beijo na bochecha da mãe, e sentou-se junto com as irmãs, mas assim que praticou a ação, sua irmã Joana ficou de pé e saiu da mesa sem pronunciar nenhuma palavra sequer.
– Não liga Jaque, uma hora ela para. - Falou Maria.
– Eu não tô nem aí pra ela, Maria. Escuta, cadê meu pai? - Perguntou Jaqueline.
– Ele está no fundo dando comida para os passarinhos - Falou Cristina, sentando no lugar que estava sendo ocupado por sua filha mais nova. Jaqueline levantou e foi até os fundos ver seu pai. Quando chegou, viu o homem que tinha os cabelos completamente brancos e lisos, e usava uma barba da mesma cor de seus cabelos, limpando uma gaiola concentrado. Jaqueline sabia que seu pai não era tão velho, mas parecia ter mais idade.
– Bom dia, pai - Falou Jaqueline. Bernardo olhou para a filha e deu um sorriso de lado.
– Bom dia, minha princesa. Onde vai? - Perguntou Bernardo, limpando suas mãos na calça que usava.
– Vou ver minha filha. Eu contei pro César, ou melhor, ele ficou sabendo - Falou Jaqueline, dando uma risadinha - E estou indo na casa onde ela está vivendo para vê-la de um jeito ou de outro.
– Espero que dê tudo certo. - Bernardo foi até o tanque que havia no local e ligou a torneira para lavar suas mãos - E com certeza vai dar. - Jaqueline caminhou até o pai e lhe deu um abraço apertado.
– Eu senti sua falta, pai. - Falou Jaqueline.
– Também senti - Falou Bernardo, retribuindo o abraço.
– Bem, agora eu vou tomar café e ir atrás da minha princesa - Jaqueline se soltou do pai e voltou para a cozinha. Bernardo amava suas filhas, mas assim como Jaqueline, sentia curiosidade de conhecer seus outros filhos, saber como eles eram, onde estavam. Porém, não passava de curiosidade, porque o homem estava disposto a manter aquele segredo como estava. Mas ver sua filha completamente animada para ver sua neta, o fez perceber que a maçã nunca cai longe da árvore.

César ligou para seu amigo advogado, e este disse que estava em Berlim resolvendo problemas, e só iria voltar para o Brasil em um ano, o que era dificultoso, porque sua esposa tinha pressa. Porém, Ricardo havia recomendado sua irmã Denise, que no momento trabalhava como delegada, mas poderia ajudá-lo já que ela era advogada também. O irmão de Denise passou os contatos dela para o amigo, que anotou tudo para procurá-la.

Denise havia acordado morrendo de dor de cabeça. Passou sua noite bebendo e se intumpindo de analgésicos para poder dormir, e ao ver seu reflexo no espelho viu o quão horrível estava. Haviam bolsas gigantes emoldurando seus olhos, e os mesmos estavam vermelho cor de brasa. A mulher pensou duas vezes se ia ou não ia trabalhar, e resolveu ir para poder refrescar sua cabeça, já que ficar em casa não iria ajudá-la com absolutamente nada.
Assim que mulher saiu do banheiro para ir até a cozinha tomar café-da-manhã ouviu seu celular tocando, e correu para atender na esperança de ser Fábio, mesmo que não houvesse o que dizer, ou fazer, mas era um número completamente desconhecido, e mesmo assim a mulher atendeu.
Alô?
– É você Denise Cavassin?– Perguntou a voz masculina do outro lado da linha.
Sou eu mesma. Quem é?
Eu me chamo César Luson, e sou um antigo amigo do seu irmão. Ele me passou seu número, porque estou precisado resolver um problema urgentemente e me disse que você também é advogada.
Só o Ricardo lembra disso - Denise riu rapidamente - Bem, se você quiser podemos nos encontrar na hora do almoço. Pode ser?
Pode, eu aproveito e levo minha esposa para vocês conversarem sobre essa questão.
Podemos almoçar naquele restaurante Japonês ao lado do hospital universitário. Conhece?– Sugeriu Denise.
Eu não sei onde fica, mas posso me informar. Ao meio-dia?
Ao meio-dia.
Estarei lá. Obrigado e bom dia– Os dois desligaram a ligação e Denise voltou para seu universo de amargura. Desceu as escadas e viu que sua empregada Cleusa havia acabado de chegar.
– Bom dia, Cleusa. - Falou Denise, sentando à mesa.
– Bom dia dona Denise. A Aline está de folga hoje? - Perguntou Cleusa, maliciosamente, e Denise engoliu seco.
– Ela não está mais aqui. - Cleusa, que colocava o leite na xícara da patroa, sorriu.
– Sério? Por que?
– Não te interessa, Cleusa. Ela não trabalha mais aqui, assim como o irmão dela. Inácio já foi para a faculdade?
– Ele nem passou por aqui. - Denise olhou cética para a empregada.
– Estranho. Deve ter ido dormir na casa daquela garota. Não gostei dela - Denise tomou um gole de seu leite - Pra falar a verdade, odeiei. Meu filho merece alguém melhor, garota feia... - Cleusa ouviu as palavras da patroa e manteve-se calada e pensativa, acreditou ser a causadora da demissão de Aline, e aquilo a satisfez.


Jaqueline voltou até a casa de Marli, e desta vez ela ia falar sério com a mulher. Apertou a campainha e percebeu que havia uma janela aberta no alto da escada. Talvez alguém estivesse em casa. Jaqueline tocou uma, duas, três, quatro, cinco... várias vez até cansar e perceber que não tinha realmente ninguém em casa. E quando a loira virou desapontada para dar uma volta no bairro enquanto desse tempo para chegar alguém, deu de cara com Fábio, que fumava distraído andando em direção à casa de sua mãe.


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