capítulo 5

can't take my eyes of you

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— Mas porque você tá ignorando ele? — Dominique perguntou, dando uma garfadas em sua salada — Eu achava que vocês estavam se dando bem. Sabe, com todas aquelas conversas e tal...

— E nós estávamos! Estamos ainda, na verdade... — Rose respondeu suspirando, mas logo abrindo a boca para começar, como sempre, com um discurso. — Até eu lembrar que a vida não se resume em passar o dia conversando com um completo estranho pelo o computador quando você tem um trabalho de evolução de expressões francesas pelo os séculos, roupa pra lavar, casa pra organizar, amigos reais pra conversar, e uma faculdade para manter.

E Rose não estava errada. Se nos primeiros dias ela estava empolgada o bastante para esquecer das coisas em sua volta, depois de uma semana a situação só piorou. Acredite, piorou muito. Primeiro porque a garota era sempre a melhor da turma e nunca chamavam sua atenção pelo simples fato de ser exemplar, mas estranhamente o professor a alertou sobre ter esquecido de entregar uma redação em língua francesa sobre um dos livros dados, e o prazo se esgotaria dali alguns dias. Claro, ele havia lhe avisado porque a ruiva sempre entregava extremamente antes do previsto – ainda bem, porque se ela tivesse perdido o prazo o Loirosexy_ seria excluído de sua vida definitivamente. Pelo menos por alguns dias.

E sim, Rose Weasley realmente estava se dando bem com o loirosexy_. Eles já haviam trocado segredos, filosofias de vida/espaço/e tudo mais, passado a madrugada conversando sobre filmes e sobre o futuro, mas aí ela se lembrou da faculdade.

E dos trabalhos, futuros estágios, livros para ler, provas e trabalhos.

Muitos trabalhos.

Tais trabalhos que a Weasley havia esquecido de fazer por culpa do Loirosexy_ estar sendo loiro e sexy com ela.

Então a garoa estava se policiando para não se dispersar muito e terminar de ler o livro do trabalho-quase-atrasado e tentar entender sobre o que se tratava, só que com Dominique ao seu lado essa tarefa era quase impossível.

— Mulheres são seres maravilhosos que conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo, não se preocupe. Você pode muito bem continuar falando com ele e continuar com sua vida... — argumentou a loira, que procurava por um tomate na salada enquanto a ruiva tentava ler o livro de literatura inglesa (o que não fazia o menos sentido já que ela estudava francês).

— Não, essa é minha decisão. Minhas coisas em primeiro lugar, loiro desconhecido em segundo.

— E é por isso você vai ignorar o seu futuro marido? Por causa ter esquecido de fazer alguns trabalhos, Rô? — continuou questionando e comendo sua salada verde e quase viva de tão natural que era.

— Ele não é meu futuro marido, Dominique, a gente é só amigos... — disse, olhando para a parede em sua frente, como se pensasse em algo. Estendeu a mão e pegou uma rosquinha no meio de várias outras e mordeu um pedaço. — Melhor: a gente vai voltar a ser amigos quando eu terminar esse trabalho.

Domi franziu as sobrancelhas sem acreditar no que ouvia da boca da prima, desde quando o futuro marido só voltava a ser o futuro marido depois de terminar um livro?! Era como quebrar todas as leis do amor em uma frase! E, como podemos perceber, ela venerava as leis do amor de forma extrema.

Revoltada, exclamou:

— E eu só vou voltar a ser sua amiga depois que você parar de comer tanto carboidratos — a estudante de Medicina apontou para o donuts de chocolate que a ruiva comia. Ah, pra uma só olhar aquilo já era um crime e para a outra a felicidade mais felicidade existente nesse mundo.

Por isso mesmo é que Rose odiava o fato de Dominique ser estudante de Medicina, ser fitness e tão persuasiva.

— Tanto faz — resmungou voltando para o livro.

— Isso sim é consideração com a nossa amizade, hein?

Rose revirou os olhos.

— Desculpa... — responder, jogando o donuts de volta ao prato - Eu só, argh!

— Argh?!

— Isso! Essa expressão resume tudo que está se passando na minha vida nesse momento. Eu preciso fazer um trabalho sobre um livro de língua inglesa sendo que estudo francês, “argh!”. Eu estou toda errada com meus cronogramas e não consigo cumprí-los , “argh!”, o Loirosexy_ toma tempo demais da minha vida, “argh!”, e eu não sei se isso é ruim. Argh! Argh! Argh!

É, a garota estava um pouco revoltada com a vida, mas seu humor oscilava às vezes e esse sentimento era comum. Quem nunca passou de feliz para triste?

— Que... Tocante — respondeu a outra, indiferente. — Você já parou pra pensar que se você entrar em um grupo de artes eles te entenderiam totalmente, já que mais um doido não teria problema? Acredite, você se enturmaria lá.

— Meu Deus, Domi! Eu estou estressada, só isso.

— Tocante — Dominique repetiu dando mais uma garfada na salada. — E com isso você não conversa com ele fazem duas semanas, o que pode ter resultado em um afastamento de ambas as partes. Ele deve ter novidades.

— Não tem.

— Então tá — colocou dois pedaços de alface na boca.

Rose imaginava como ela ainda não havia ficado verde ou se transformado em um coelho de tanto comer salada. Dominique seria um coelho fofo. Fofo, sensual, que atrai todos os outros coelinhos e que come muita salada. Com certeza.

Talvez Dominique fosse um coelho e Rose não sabia.

— Você vai ficar verde de tanto comer salada — Rose constatou, tentando decidir entre terminar o donults ou ler o livro. Ou nenhum dos dois. Talvez enxotar Dominique dali seria algo mais interessante, mas como elas dividiam o apartamento seria complicado.

— Foco, Rô, foco. Você pode terminar os seus trabalhos e ao mesmo tempo falar com o seu futuro marido — Dominique deu um gole em seu suco de laranja, repetindo aquela mesma coisa. — E quem sabe você não aproveita e começa uma dieta ou não vai na academia...

Ela ia matar aquela...

— Dominique! — suspirou e largou o livro — O problema é que ele sempre acha uma forma de me deixar completamente... Perdida.

Rose tinha vergonha de admitir aquilo, mas era a verdade. Um garoto em um site de namoro com o nickname mais ridículo de todos os tempos deixava ela perdida. Não, espere! Claro que não, que afirmação mais idiota essa! Ela não estava perdida. Estava em casa, com a prima, em uma rua razoavelmente afastada do centro da cidade, perto do apartamento de outros estudantes. E ela tinha o celular dela ao lado.

Mas, bom, era melhor pensar assim. Muito mais fácil.

“Bom, isso é o suficiente para hoje” — pensou Dominique. Forçar a barra não seria interessante, principalmente com aquela ali. A loira iria juntar os dois, obviamente, de alguma forma; mas tinha calma. As coisas iam se ajeitando, devagar, mas iam se ajeitando.

— Uhum... Falando em perdido adivinha quem eu soube que acabou de chegar na cidade... — Domi falou com animação pra Rose, que a encarou sem entender o porquê da pergunta.

— Bem, muita gente acabou de se mudar pra Londres... — A Weasley respondeu sem ainda entender.

— Vamos lá, coloque essa cachola aí para trabalhar!

“Certo, em Londres existem Oito Milhões de habitantes, dos quais eu conheço menos de cem. Dez por cento vive fora daqui e apenas cinco tem a possibilidade de virem. Mas destes cinco 4,7% são parentes, que provavelmente teriam avisado por que papai não gosta de surpresas, e vovó também não. Sobram então 5,3%... Mesmo assim são muitas pessoas.”

— Não faço a mínima ideia, desculpe.

— Caramba, Rose. Nós estávamos falando sobre isso ainda ontem!

— A namorada do Albus? — hesitou um pouco, achando aquilo rápido demais. Pois, obviamente, Rose achava relações amorosas supervisionadas por Dominique aceleradas demais e não achava isso bom. Não mesmo.

A prima concordou animada.

— A gente devia ir visitar eles, sabe? Ajudar com a mudança, fazer perguntas, ver se tem um anel... — Rose jurou que tentou não levar aquilo na malícia.

— Ahm... Sim, tudo bem.

— Senhor, eu não sei como eu aguento vocês dois!

— Vocês dois?

— Sim, você e seu desânimo. Juntos, vocês são um ódio!

— Ah, obrigada. E — a ruiva forçou uma voz animada — meu Deus, claro que a gente vai! Vamos fazer pulseirinhas da amizade juntas e ser felizes!

Domi a olhou como se fosse um ser estranho e não catalogado, murmurou um “tocante” e voltou para sua salada sem fim.

— Vamos amanhã, pode ser? — falou Rose, agora séria.

— Amanhã eu tenho cabeleireiro, mas podemos ir sim.

— Como se durasse o dia inteiro... — resmungou a outra.

— O quê você disse?

— Que eu acho que tenho que comprar mais verduras para as suas saladas.

— Nossa, que fofo. Obrigada, prima! — exclamou, levantando e levando o prato (o único sobrevivente da refeição) até a cozinha. Rose revirou os olhos. Não conseguia mais ver coisas verdes na sua frente e nem morta compraria mais coisas dessa cor.

Virou a cabeça para dar uma olhada no livro que teria de ser lido em dois dias no máximo e vislumbrou o carregador do notebook na mesinha de centro. Ela bem que poderia dar uma olhad... Não! Abriu na página certa e continuou lendo, se concentrando ao máximo no que estava fazendo. Rose tinha estipulado um prazo menor para ler o livro: até o outro dia de manhã. Isso! E depois faria a redação e estaria livre! Mas claro, ela não queria admitir que o motivo para querer estar livre o mais rápido possível era unicamente um loiro por aí — sem nome verdadeiro, sem idade real, sem endereço conhecido. Apenas um loiro, com o qual era começou a conversar do nada.