Online Dating escrita por Sunny Deep, Ally


Capítulo 23
Capítulo 23 // starlight


Notas iniciais do capítulo

orientações de segurança para a leitura do último capítulo da fanfic: pegue uma água mineral (pq aqui todo mundo é hidratado, certo?), separem um tempinho, se esconda de todo mundo (preferencialmente num lugar bem confortável) e aproveite a leitura! sendo bem sincera, depois de dois anos, chegamos ao the last one, e eu só gostaria de agradecer por tudo, meus amores ♥ vcs arrasaram!
um bjão para a Paola Lira que fez uma recomendação MARAVILINDA que chega a manteiga derrete (e meu coração derrete todo junto tbm haha).
esse caps foi dividido em duas partes, é algo bem diferente dos outros, mas a gente tá bem feliz com ele :)
aproveitem, e não deixem de nos deixa sabendo o que acharam ♥



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capítulo 23

starlight

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[parte 1]

Albus

  Albus tinha dois grandes lemas de vida: não ferrar com os amigos, não ferrar com a família e — o seu principal mantra: — viver a vida como se estivesse vivendo em um constante episódio de CSI.

   Descobrir que Scorpius, o mala sem alça (e seu mais novo brother) com quem dividia um apartamento razoavelmente bagunçado, tinha um perfil em um site de relacionamento não tinha sido muito difícil. A zoação dele e dos outros amigos havia durado meses — e, na verdade, ele se orgulhava das chantagens bem sucedidas com aquela informação. Perceber que o cara tava muito na prima dele também tinha sido easy breezy. “E aí, qual é a da sua prima meio doidinha?” “A ladra de abajures vai junto na pizzaria?” “Ô, meu, você nem sabe quem me ajudou hoje...”. Albus havia cogitado até colocá-los de frente um para o outro e mandar se conhecerem de uma vez.

   E então, só por curiosidade, ele começou a prestar atenção em Rose também.

   Apesar de sua prima ser um tanto quanto fechada, e provocar diversos silêncios desconfortáveis entre seus pais, ela era extremamente expressiva. Bastava citar o nome de Scorpius uma única vez e suas sobrancelhas franziam-se, como se sua mente estivesse tentando resolver uma equação complicada. Fingia que não dava bola, fazia alguma pergunta desinteressada sobre o cara e roía as unhas logo depois — era quase sempre assim.

   Mas ele deu um jeito. Livrar-se de Scorpius no meio do campus da faculdade tinha sido uma sacada de gênio. Uma semana depois, quando entrou em casa, viu o abajur há tempos desaparecido em seu devido lugar e os dois pombinhos rindo na cozinha. Só que Albus era um cara chato, preocupado, e a possibilidade de Rose sair magoada daquele relacionamento (assim como em tantas outras vezes) o fez manter vista grossa nos dois.

    Quando Scorpius começou a agir estranho, e ter constantes crises existenciais (que significava meia hora olhando para o nada), Albus reparou que algo estava errado. A prima também não parecia muito agradável naquele meio tempo, mau humorada principalmente pelas brigas dela e Dominique. Sua primeira pergunta tinha sido “Cara vocês brigaram?”, e, com respostas pouco efetivas, por certo período (leia-se poucos dias) ele havia convencido-se que qualquer problema que fosse deveria ser resolvido por eles mesmos. No entanto, naquele dia em específico, suas suspeitas começaram a ficar mais sérias. E ele não tinha como não fazer alguma coisa.

    Vejam bem, as evidências eram muito claras na sua própria mente: seu rommie tinha passado meio litro de perfume, usado um sapato de pateta azul berrante, ficava encarando o próprio celular a cada cinco segundos e não demorou muito para sair agitado do apartamento.

    — Ah, mas esse negócio tá estranho...

    Albus seguiu ele até o café. Porra, não podia ser nada demais, é claro. Talvez era mais um encontro com Rose e tudo ficaria bem. Mesmo assim um pouco de precaução não custava nada, e ele poderia voltar para sua casa em paz - e ouvir sua música no volume máximo para irritar o maldito vizinho que o havia dedurado para a polícia um tempo atrás.

    Ficou observando o amigo tempo o suficiente para vê-lo descer da moto, permanecer no café por algum tempo e perceber que não era Rose sua companhia - quem agiria com aquele nervosismo ao ver a namorada? Além do mais, havia algo em sua mente, uma hipótese — mesmo que ele soubesse que o amigo não tinha uma vida restrita àquelas situações — de que ele estivesse ali para finalmente conhecer...

    Dirigiu-se para o Three Broomsticks, com certo peso na consciência de que aquele era um dos cafés favoritos dos primos, e depois de conseguir passar pelo muro de pessoas que aguardavam na fila do café, chegou até Scorpius.

Pigarreou, chamando sua atenção. Bom, aquilo um início.

    — Eu juro que se você tiver fazendo alguma coisa que machucaria a Rose eu te mato e jogo teu corpo ali nos fundos.

    Scorpius franziu o cenho, parecendo extremamente surpreso em vê-lo ali — e estranhamente... aliviado? Talvez, pensou Albus com um pouco de sarcasmo, por agora ter uma mente pensante ali que o impedisse de fazer merda? Mas não soube de verdade o motivo.

    Com um balanço de cabeça indicou uma mesa que recém liberada. Os dois sentaram-se um de frente para o outro. Porém, antes mesmo que o Potter abrisse a boca, o outro começou.

   —  Você sabe que não vou fazer nada pra magoar ela, Albus.

  — Mas veio conhecer a garota misteriosa que era seu match, não veio? — Albus levantou uma única sobrancelha enquanto inclinada a cabeça. Na sua frente o garoto comprimiu os lábios, respirando fundo. - E aí? Como você me explica a parte de que isso não vai magoar minha prima?   

  — Como você… — o encarou com plena confusão no olhar. Os dois sabiam o que ele queria verbalizar. Albus não tinha concreta certeza, mas como Scorpius não negou, sua suspeita estava correta: era mesmo a garota do site de relacionamento. — O fato é que você não vai entender, mas... não tem nada além de amizade entre nós dois. Bem diferente de mim e da Rosie. Eu... só acho que é válido descobrir quem ela só. Só isso.

   Albus assentiu. Não que acreditasse ou desacreditasse nas palavras dele, mas porque conseguia imaginar como aquela situação era bem ruim. Embaraçosa, até.

    — Nenhum problema então se eu ficar aqui vigiando vocês o encontro todo?

   Scorpius soltou um riso nervoso, coçando a barba rala. Ele sabia (e Albus sabia que ele também sabia disso) que não melaria o que quer que Scorpius tivesse combinado, no entanto as coisas se tornariam bem complicadas depois pra eles. Porque ele não correria pra contar à Rose sobre o encontro, mas também não deixaria o cara em paz até que ele se convencesse de que era importante que ela soubesse — por Scorpius, apenas ele, ninguém além de Scorpius.

    — Fique à vontade. — soltou um suspiro e se esticou na cadeira. — Não vou me prestar a te expulsar daqui na força.

    O Potter não poderia negar que, não importanto as atitudes do engomadinho na sua frente, o cara tinha um humor que aparecia nas melhores — e piores — horas. Deu risada.

    — Engraçadão, com medo de perder a pose né? Mas me diz um negócio, já que eu é que não vou me prestar a ser psicólogo amoroso seu perguntando sobre você e essa garota aí: por que diabos você tá usando esse sapato estranho?

    Scorpius deu um sorriso frouxo, e olhou para seus pés, como se lembrasse de algo.

    — É como uma piada interna. A gente combinou de vir usando alguma coisa que nos identificasse. Elvis, sabe, e seus blue suede shoes.

    Por alguns segundos ele esperou que aquilo não fosse mesmo verdade.

    — Queen Elizabeth, que trocadilho ruim. Espero que ela não seja tão espirituosa quanto você e que não venha vestida de Nancy Sinatra com suas botas inesquecíveis.

    — Essa foi boa, mas só prova que você é tão old school quanto eu pra lembrar dessa cantora numa hora dessas, cara. —  Bom, aquilo era mais ou menos verdade. — Mas não, ela vem usando um boné de time de futebol.

   — Ei, não ache que eu vou elogiar ela por causa disso. — Albus adorava futebol. - Não gosto de quem não é minha prima.

   Scorpius fez uma careta e desviou o olhar. Albus poderia dizer que ele estava envergonhado, mas não queria sentir muita pena dele naquela hora, ou muito menos se afeiçoar com essa garota.

  Então, para passar o tempo, Scorpius entrou na fila para conseguir dois cafés enquanto ele o acompanhava para não deixar de manter vista grossa - e as coisas, mesmo que ele estivesse potencialmente incomodado com a situação, estavam ocorrendo normalmente. Até ele ver Rose. E então a merda estava feita. Os dois estavam esperando pelos cafés, e Scorpius estava muito bem camuflado pela fila de pessoas quando Albus entrou em pânico e tentou empurrá-la para qualquer lugar longe dali. Muito educado, ele sabia, mas era sua única chance de adiar revelações.

   Mas Scorpius apareceu, estupidamente, e então aqueles dois ficaram se encarando como se algo muito estranho se engenhassem no fundo de seus pensamentos. Isso quando Albus notou, e se surpreendeu, com o boné que Rose usava. Espera um pouco…

    Scorpis parecia ter notado a mesma coisa.

— Isso aí é um boné do...

 

Sim, dos Chudley Cannons. Invicto time do tio e dos primos Hugo e Rose - e,  para a infelicidade deles, constante perdedor de taças e competições.

— É, o icônico.

Bebericou do café (excepcional, aliás) e tentou convencer-se que a teoria que acabara de formular, enquanto alternava o olhar da cara pasma de cada um deles naquele momento de certo bem confuso, era realmente verídica.

    Não podia ser.

   Rose, sua Rose, aquela mesma que provavelmente se negaria até a dar em cima de alguém em um bar, tinha um perfil num site de relacionamentos?

É, senhoras e senhores, Albus estava se sentindo enganado — mas com uma puta vontade de rir da cara do casal. Então, no final de tudo, eles estavam namorando (ou quase namorando, quem teria certeza?)  sem saber que já tinham, talvez, flertado através de um site de relacionamento anteriormente?

Albus queria gargalhar e abraçar os dois, com toda a certeza. Mas, ao perceber que a feição de Rose havia mudado, reparou que sua animação não tinha sido sentida por ela também. O que era ruim, muito muito ruim.

— Você… — suas sobrancelhas estavam extremamente franzidas, péssimo sinal, e seu

olhar estava fixo em Scorpius. E então ela encarou Albus também, e ele não conseguiu fazer nada além de engolir à seco ao nível de mágoa que ela carregava.  

— Vocês.

Scorpius não conseguiu dizer nada. Muito menos Albus — mas o que ele diria quando sequer tinha entendido o que ela queria dizer com aquela única palavra? A mágoa era transparente em seu rosto e, naquele momento, o silêncio era a única resposta cabível. Nós, pensou ele, Nós o quê?

Mas Rose não fazia ideia disso, e parecia querer gritar com os dois a qualquer instante.

— Isso tudo era um plano de vocês? Pra me fazer de palhaça?

Seu amigo fez uma carranca enorme, e a encarou como se ela estivesse falando o maior absurdo, o que Albus realmente achava que era. O maior dos absurdos.

— Quê? Do que você está falando, Rose? — Scorpius indagou, dando um passo a frente. Em resposta ela recuou. Droga, Albus conhecia aquele olhar dela. Já tinha a visto usando o mesmo olhar pra se afastar da família quando sua mãe havia a pressionado.

— Ah, isso mesmo, se faça de desentendido! Poxa Albus, você?! Eu não…  

Ela tirou o boné com rispidez da cabeça, cruzando os braços logo em seguida.

— Espera aí, espera aí, que merda é essa de plano? — Albus quase engasgou. Não iria deixá-la tirar conclusões precipitadas, mesmo sabendo que ela o fazia com maestria. — O que eu ganharia fazendo um plano contra você?

— Pra rir de mim! Afirmar superioridade, eu lá vou saber Albus! As pessoas parecem estar constantemente querendo provar ser melhores que eu. Mas você…

 

Seu olhar berrava “VOCÊ ME TRAIU” e ele largou o copo de café na mesa mais próxima.  

— Bom, eu posso te dizer com todas as letras que não fiz porra de plano algum. Pelo amor de Deus, nunca que eu faria isso com você, e você sabe disso.

 

Eles tinham passado por muitas coisas juntos. Tinham gritado, gargalhado, chorado e se encrencado juntos tantas vezes. Incontáveis, até. Rose, no entanto, mesmo assim acreditava que ele faria alguma coisa por querer para magoá-la? Ela tinha perdido a noção?

Ela o encarou no fundo dos olhos e suspirou. Ah, ela sabia. Albus nunca seria capaz de algo assim. Pareceu difícil de dizer algo, mas depois de ter fechado os olhos por alguns instantes ela olhou para baixo.

— Desculpa, Al. Mas… O que você está fazendo aqui, então? — questionou, seus olhos se movimentando rapidamente para todas as direções menos a de Scorpius. E isso fez Albus ficar com medo, o que não era incomum se tratando do fato de que ele estava constantemente preocupado com quem era importante na vida dele.

— Vigiando. Mas acho que essa explicação não precisa vir de mim, não agora pelo menos. — definitivamente não. — Enfim, acho que os dois precisam conversar e não quero ser o empata-foda do momento.

Rose fixou seus olhos nele.

— Espera, onde você vai?

— Qual é, Rose, você não precisa de mim aqui. — ele pegou o café de cima da bancada e se aproximou. Sussurou, mesmo sabendo que talvez Scorpius conseguisse ouví-lo. — Tenta pelo menos olhar na cara dele, ok? Não que eu saiba o que tá mesmo acontecendo, mas parece que uma conversa seria bacana, sim?

Ela não assentiu, ou respondeu. Não era mesmo problema de Albus, mas ele se importava de qualquer forma. Rose tinha uma necessidade questionável de fugir de tudo que a assustava, e mesmo que não fosse da conta dele (e teria de ouvir muito da irmã mais nova por achar que sabia o que ajudaria Rose quando provavelmente só ela mesma sabia), queria que as coisas dessem certo para ela. Eles eram família, afinal.

— Tchau, tampinha.

E Albus esperava que Rose também quisesse que as coisas dessem certo para ela, e tanto fazia se aquilo incluía ou não Scorpius. As coisas eram bem mais complexas que isso. Sempre eram.

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[parte 2]

Scorpius e Rose

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    As coisas, mesmo que isso parecesse loucura, olhando para sua garota (mesmo que só usasse o termo “sua” em seus pensamentos e de uma forma completamente involuntária — bem, mais ou menos involuntária), faziam sentido. Como era a vida, não é? Num dia um perfil aleatório o cumprimenta, trinta dias depois ele se vê envolvido numa amizade esquisita e muito divertida. Ele se vê adorando conversar com ela — na verdade, havia gastado boa parte de suas libras na conta da internet móvel por gostar de chamá-la em momentos aleatórios — e não consegue deixar de pensar no dia em que talvez os dois se conhecessem.

   E ali estavam eles. Ali estava ela. Como ele não havia percebido aquela grande coincidência? Com certeza ambos haviam sido muito burros por não perceber que estavam juntos mesmo quando ainda não estavam…

    —  Eu nem sei o que dizer — confessou, vacilante, olhando para o rosto da garota que, porra, melhorava tanto o dia dele.

   Rose mordeu o interior da bochecha, e se encostou na parede próxima, direcionando seu olhar a ele. Scorpius entendeu sua acusação desde o início. Entendeu quando ela enrubesceu de raiva e mágoa e se negou a olhar em seus olhos, e até mesmo quando ela acusou o primo de conspirar contra ela. Ele conseguiu ouvir as palavras dela antes mesmo delas saírem de sua boca. E mesmo assim estava surpreso.

   Sim, eles não se conheciam há tantos anos, não tinham tantas memórias inesquecíveis, mas mesmo assim…

    — Sinceramente eu também não, Scorpius. Eu também não sei. Talvez… A gente devesse só, sei lá, se afastar. Com certeza eu não vou saber lidar com isso, eu não sei lidar com isso, e você… Meu Deus.

    Ele esperou que ela completasse, terminasse o próprio raciocínio para quem sabe entendê-la melhor. Depois de algum tempo em silêncio nenhum, apenas os burburinhos ao redor e o barulho típico de um café, que ele reparou que ela não o faria.

    Scorpius não queria se afastar. Não queria jogar pro alto as últimas semanas, os últimos meses. Só ele soube como, de certa forma, tinha sido difícil dar adeus à redhead0841 — mas ele havia o feito por que era o certo, era o que fazia sentido. Tinha sido, e ele também tinha consciência disso, mancada aceitar marcar o encontro, mas… Ele não podia deixar ela afastá-lo.

    Mas se ela fizesse aquilo, se Rose desse meia volta e batesse a porta do café, ele pelo menos diria o que precisava dizer. Talvez não o correto, mas o que ele sentia que era necessário para sua própria sanidade - que se resumia em “o que ele provavelmente remoeria por madrugadas à fio por nunca ter dito”.

   Ele só podia ser muito estúpido mesmo.

  — Sabe o que eu acho? Você tem medo. — afirmou, com a voz calma, encostando-se ao seu lado na parede cor marfim. — De várias coisas, mas de principalmente sair magoada. E foda-se que seu primo é uma das pessoas que mais viveu com você, ou qualquer coisa do tipo, você precisa parecer estar preparada para as coisas antes mesmo de saber se elas aconteceram ou não. E então você julga as pessoas, acusa as pessoas de…

   Ela lhe lançou um olhar mortífero, daqueles que fariam até mesmo o Papa pedir afastamento.  

— Você sabe não tem o direito de me dizer qualquer merda sobre mim, você nem mesmo me conhece! — interrompeu, contrariada. Tinha que medir o volume de sua voz, as pessoas já lançavam olhares indiscretos em sua direção. Mas o que ela podia fazer sendo que estava irada?! Não queria ouvir mais ninguém falando algo como se soubesse de uma verdade absoluta sobre ela, como se ela já não soubesse daquelas coisas. Sabia que era errado, dramático e exagerado, mas não poderia aceitar aquelas coisas tão facilmente. Era contra sua própria natureza. — A gente tá junto há o que, poucas semanas? Não vem se achar o espertalhão agora, tá legal.

  Scorpius não respondeu. Não poderia, na verdade, pois sabia que ela não estava errada. Mas parecia — ele sabia que isso não fazia sentido algum — que ele a conhecia por muito mais tempo. A sensação era de que soubesse quase exatamente o que ela passava porque já havia ouvido desabafos dela, mesmo imaginando o rosto de outra pessoa por trás deles, mesmo que não a compreendesse por completo. Não respondeu porque não adiantaria. Não queria brigar com ela. Queria, na verdade, que ela falasse com ele, que ela confiasse nele — mesmo que, talvez, fosse pedir demais para alguém que estava junto com ela há poucas semanas.

   Que ela saísse e o deitasse feito um palerma aí. O estrago já estava feito.

— Só me responda uma coisa — ouviu ela murmurar, lentamente, como se fosse tão doloroso de falar quanto pensar nas palavras. — Você conversava comigo e depois ria de mim, da minha burrice? Você sabia disso tudo?!

  Céus, nunca! Ele queria chutar a própria moto (seu bebê) só pela mera possibilidade de um dia fazer isso. Scorpius não era assim, não era como os ridículos protagonistas de filmes B da década de oitenta.

— É claro que não, Rose! Eu não sabia que era você, eu juro. Rose, olha pra mim por favor. Eu juro que não sabia. — ele queria tanto que ela acreditasse nele que até deixaria de jogar Mario Kart com seus amigos por um, não… dois, meses. Ele adorava aquela merda. — Qual é, você acha mesmo que eu viria com esse sapato, um pedido aberto para virar piada até do Albus, se eu soubesse, se eu planejasse algo? É claro que não.

  Céus, dois meses sem ganhar do Albus. Droga. Mas Rose deu uma rápida checada em seus sapatos e ele viu o canto de seus lábios tremerem. Ele era uma piada até mesmo pra ela agora. Tinha que repensar seguir os conselhos de seu pai, mas não conseguia se segurar. Quando ela levantou o olhar e ele viu que ela queria bater nele — mas pela piada no momento indevido — não se importou por ser uma piada.

— Eu sei que você está se segurando, no fundo, no fundo mesmo, pra não rir. Até você sabe disso.

 Ela mordeu o lábio e olhou para o lado, como se algo a perturbasse. Sem avisar nada, ela e o puxou pela jaqueta seguindo o caminho até a porta.

— Vem, essas pessoas vão começar a nos gravar daqui a pouco, fala sério.

 Scorpius quis rir naquele momento. A louca que invadiu a apartamento do Albus ainda existia, e ele adorava ela.

  Os dois pararam no lado de fora, e ela encarou o lugar em volta. Como não tinha percebido a moto dele ali fora? Além de sua miopia, mais ou menos corrigida pelos óculos, ela estava tão cega pelo Scorpius e todo o rush que não percebeu a série de coincidências? Ela era tão estúpida… Será que Dominique, aquele tempo todo, estava tentando avisá-la sobre isso?

  Scorpius parecia bastante inseguro e aquilo era uma novidade para ela. Bom, não realmente, mas… Era estranho, era confuso e se sua própria mente mal trabalhava corretamente em episódios normais do dia à dia naquelas situações era como se simplesmente falhasse.

  Tinha sido assim com seus pais, com sua família, com os primos com quem não mantinha mais contato e os namorados que a decepcionaram. Ela era péssima sob pressão. Ela era tão errada, uma máquina em defeito constante, sempre necessitando de reparações. Seus bugs não mudavam no dia pra noite — nem mesmo se quisesse.

  Seria muito mais fácil se afastar dele, fingir que nada tinha acontecido e seguir em frente. Era assim que ela fazia, não era? Então porque diabos ela queria tanto abrir a boca? Queria tanto fazer diferente?

   Scorpius não iria se importar, ela sabia disso. Ele não iria dar as costas enquanto ela colocava tudo pra fora. Na verdade, e isso deixou Rose um pouco intrigada, ele olhava como se esperasse que ela fizesse mesmo aquilo. Esse garoto não tinha nenhum senso de defesa ou sanidade, não?

— Eu….—  que se dane, agora. -— Isso vai completamente contra mim, sabe. Eu sou exagerada, eu sou dramática, uma doida de pedra. Tenho péssimo dedo pra escolhas e tô sabendo de todos os meus defeitos até de trás pra frente. Ou alguns, pelo menos. Como eu costumo afastar as pessoas e arranjar desculpas esfarrapadas pra me isolar, me auto-sabotar e agir por impulso. Mas você entende o esforço de eu não sair correndo agora, mesmo depois de você olhar nos meus olhos e quase, veja bem eu disse quase, me fazer rir? E… bom, me fazer acreditar, de verdade, que isso é apenas uma coincidência?

   Merda de monólogo, Rose - pensou consigo mesma. Odiava monólogos. Eram as piores partes dos filmes que ela gostava de assistir. Fazia parecer que as pessoas diziam as coisas completamente confiantes e bonitas e aquilo era tudo menos um discurso confiante e muito bem elaborado. E bonito. Aquilo era um desespero. E ela percebeu, e quase quis dar risada de si mesma, que nunca tinha se aberto pra ninguém sobre aquilo. Sobre suas atitudes. Odiava preocupar os outros, encher os outros com seus problemas - que, pra própria Rose, não faziam tanta diferença assim. Era um monólogo de desespero. E alívio.

— Eu sou assim… Eu não consigo ir além. Só que nesse exato momento, olhando pra você, pra essa estúpida moto atrás de você, tanta coisa vem na minha cabeça, tanta coisa, Scorpius... Eu quero rir disso tudo, mesmo, eu só… Não consigo. Por que existe uma parte minha que acha que não pode ser tão simples resolver uma nóia minha, não pode ser tão simples ser feliz, saca?! Que se eu aceitar que pode ser você vai rir da minha cara e então todo mundo que eu conheço vai aparecer e fazer o mesmo, porque não pode ser tão simples. Pra todo mundo pode ser a coisa mais fácil e pra mim é… isso me sufoca, e é uma merda.

 Só faltava ela chorar, ali, no meio da rua, feito uma boba. Com todo mundo passando em volta. E o pior é que ele iria abraçá-la se ela deixasse, e Rose não iria querer largá-lo até que parecesse patético demais. Scorpius olhava pra ela como se nada mais importasse e, merda, ela gostava demais dele.

— E você quer que seja complicado? Você quer ter que sofrer por não conseguir deixar essa velha Rose de lado? Eu não quero que você tome uma decisão por pressão, por medo, mas porque você sente que é o certo pra você. Não é uma mudança que vai acontecer hoje. Não é você lidando de uma forma normal, talvez, não sei se essa seria a palavra certa, que tudo vai mudar. Mas talvez começar seja muito importante. Sabe essa estúpida moto aqui atrás? Ela não é nenhuma coisa mágica, mas pode nos levar pra qualquer lugar. Basta você pedir. Quer, sei lá, sair da cidade e ir até a casa dos seus avós? Ir pro terraço do seu prédio, ou qualquer lugar que te faça bem? — ele já estava próximo dela. A cada palavra que saia de sua boca, cada desabafo (o primeiro deles face à face) que Rose dizia, ele parecia mais próximo. Scorpius tocou em sua mão e enlaçou seus dedos nos dela. Tão fácil. — Nós estamos em Londres, garota. E a Inglaterra é praticamente toda sua.  

   Tão fácil. Ela poderia fazer isso. Subir na garupa da moto e tentar ser menos insegura e cheia de receios, aos poucos. Ela só precisava começar, dar um primeiro passo. Não mudaria sua situação conturbada com a mãe (mesmo que as duas estivessem… em algum lugar melhor que antes), ou suas brigas com Dominique (com a qual Rose não poderia viver sem, e sabia disso) e seus desentendimentos com os outros. Mas era um primeiro passo, afinal.  

— Ahm… Tudo bem. Mas antes eu quero fazer uma coisa.

— E o que seria essa coisa? — ele perguntou sorrindo, e colocando uma mecha do cabelo ruivo dela atrás da orelha. Ele adorava aquela cor. Era tão Rose — independente se mais de vinte garotas ruivas estivessem passando por eles agora.

  Rose se afastou, recolocou o boné, dando um breve e pequeno sorriso de canto logo depois. Pigarreou e balançou as pernas.

— Elvis Presley então?

  Não demorou muito para ele entender o que ela queria dizer com aquilo.

 Elvis. O ícone. — sorriu. — Se eu fizer alguma piada sobre seu time você me perdoaria?

  Ela balançou a cabeça, analisando a pergunta. O loiro sabia que Rose estava se esforçando para mudar seu humor atual. E ele ficou feliz em perceber que ela parecia um pouco mais animada.

— Você, Scorpius, talvez. Mas você está saindo do personagem, então não. Eu estou te conhecendo agora, lembra? Seria muita falta de respeito da sua parte.

 Claro, ele não era apenas Scorpius agora.

— Mas eu sempre fui insolente com você — provocou. — Eu Scorpius e eu loirosexy.

 Rose não conseguiu segurar a risada e assentiu, inclinando-se para frente.

— Muito bem, portanto saiba que eu, redhead0841 dou meia volta e saio daqui no momento em que você fizer sua piadinha.

— E a Rose Weasley? O que ela faria?

 Só ele mesmo, aquele ridículo pretensioso na sua frente para conseguir diminuir sua tensão com um único comentário sobre seus sapatos azuis exóticos, e conduzir a conversa pra um ar muito mais leve. Rose estava muito perdida. Se ele, com apenas alguns minutos, conseguiu fazer o mundo parecer mais leve então ela estava completamente perdida. Na verdade, estava assim desde o dia em que o conheceu.

— Se ela não nutrisse sentimentos fortíssimos pela sua pessoa, ela faria o mesmo. O que nos deixa num impasse.

 Ele estava sorrindo abertamente, mesmo que tentasse conter sua expressão.

— Muito complicado esse impasse, não?

— Sim, com certeza.

— E há alguma forma de reparar os danos causados pela minha piada sobre seu time?

 Muito bem, talvez ela ficasse um pouco braba sim por ele ousar falar mal de seu amado Chudley. Ela não tinha aquele boné (uma relíquia) simplesmente por ter.

— Talvez. Mas chegaríamos a outro impasse. Como Scorpius, você saberia muito bem como me distrair, eu Rose, agora como loirosexy seria demais você me beijar. Você não chegaria a esse ponto.

Ela só estava o provocando, era óbvio. Tão redhead e tão Rose Weasley ao mesmo tempo. A vida era mesmo engraçada. Ele sorriu, por que estava aliviado e feliz, porque, mesmo que fosse egoísmo, ele não queria largar daquela garota. Não mesmo.

— Ah! Você que pensa minha cara, redhead — sorriu, passando os braços pelos ombros dela e a puxando para perto. — você que pensa...

   Ele poderia beijá-la (e era óbvio que esse era seu objetivo), mas não poderia deixar, também, de fazer o mesmo que ela. Se inclinou e sussurou:

— Os Chudley tão muito mal na classificação, você deveria tirar esse boné antes de ser apedrejada na rua.

   E era claro, ele riu da cara raivosa dela. Rose disparou diversos tapas em seu peito até ele soltá-la (o que não foi nem um pouco difícil) enquanto ele ria de seu grito de guerra. Ela não era fraca, e sabia disso, assim como também estava ciente que ele só não emitia som nenhum de dor por orgulho (e, claro, por conseguir se esquivar).

  A maioria pessoas ao redor com certeza apenas desviavam dos dois jovens irritantes, enquanto os mais interessados davam risada da improbabilidade da situação. Rose não pensou sobre isso. Tinha decidido dar um primeiro passo, e faria aquilo com o melhor bom humor que poderia — no entanto, levando em conta que Scorpius estava presente, ela duvidava que poderia ser ao contrário.

  Rose já havia parado de estapeá-lo, mas ainda estava segurando seu braço, quando ele a trouxe novamente para perto. Sorrindo, segurou seu rosto, e a beijou. Tão simples e tão todo o resto também. Na verdade ele nunca cansaria de fazer isso:incomodá-la para logo então beijá-la. Rose era extremamente irritável, e era, também, muito beijável. E ele adorava ela e aquele seu jeitinho doido.  

— Que tal então um passeio? — perguntou, espelhando o sorriso que ela dava para ele.

  Sua garota olhou para o lado, fixando o olhar na moto. Por alguns segundos ela pareceu pensativa.

— Não me diga que você está noiando aí na sua cabeça — continuou abraçado à ela.

Rose revirou os olhos.

— Eu tô, não posso simplesmente pedir pro meu cérebro parar. E, além do mais, você não pode sair me beijando desse jeito, sabe, afeta meu cérebro. - e então suas bochechas arrosearam e ela pareceu bem irritada. — Afe, que merda. Tá vendo, uma semana atrás eu nunca diria isso pra você! Eu guardaria a sete chaves. Você está me estragando.

  Scorpius riu, e a puxou para caminharem até sua motocicleta.

  — Ainda bem — sussurrou, sorrindo.  

  Ele deu o único capacete que trazia para ela (e ela ajeitou seu boné na dele, rindo), e, quando subiu na moto e o abraçou se aconchegando, não conseguiu não dar um pequeno sorriso. Era engraçado. Ela havia acordado para conhecer o loirosexy, havia saído da expectativa para a revolta, da revolta para a tristeza e, para logo então, um certo torpor, uma felicidade. Parecia tão certo ela estar ali, ter tomado a decisão de não dar as costas à ele.

  Eles, talvez, passariam o resto do dia juntos. Esconderiam seus celulares, aproveitariam o tempo que tinham, e depois voltariam a realidade. Aquela era a realidade, também, mas parecia muito melhor que todo o resto. E as coisas continuariam a ser bagunçadas de vez em quando, algumas erradas da mesma forma. Eles errariam como qualquer casal (céus, Rose ainda tinha reviravoltas no peito quando lembrava que eram mesmo um casal) mas essa não é a vida afinal de contas? Eles estavam juntos, queriam estar juntos, e era isso que importava. Sem planos. Por enquanto só o agora — e a otimista visão de que seriam, e estariam, juntos por muito mais tempo.

Scorpius sentiu a vibração de uma risada nas suas costas.

— O que foi? — perguntou, curioso, ajeitando o boné para que ele não caísse de sua cabeça. A moto roncou. 

— Nada, é só que… Eu realmente acho que algumas pessoas de dentro do café estão gravando a gente.

Ele gargalhou e acelerou a moto, saindo de sua vaga e indo para qualquer lugar com sua garota, e a garota com seu mutante. 

 

   

   

    

 


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Notas finais do capítulo

AI SENHOR
me digam eles são uns fofos não são?
AIN morremos de amores
estamos mto ansiosas pelos reviews de vcsss então não esqueçam de nos dizer aí nessa caixinha de texto bunitinha o que acharam, tá? ainda nesse mês a gente libera um epílogo bem fofis desses dois que é pra fechar com chave de ouro. um beijão, meu amores, e obrigada de verdade por tudão ♥ vcs não tem ideia de como mudaram nossa vida!



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