capítulo 21

can't help falling in love 

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“Ah acho que agora é válido dizer…”

“Eu moro em Londres”

—RedHead0841

“Eu também”

—Loirosexy_

—-

— Como assim ele mora em Londres? - Dominique perguntou, incrédula. No entanto Rose apostaria sua coleção de CD’s antigos que sua prima não estava mais chocada que ela.

  Se fosse em outro momento, ela ainda apostaria que, para a acadêmica de medicina, aquilo até parecia coisa de filme, no qual a personagem principal descobre que na verdade o - importante ressalatar: suposto - cara da sua vida estava do seu lado o tempo todo. Com a diferença de que Hollywood não envolveria site de namoro, pessoas estranhas e apelidos quase sexuais no enredo - e  que loirosexy_ não era o cara da vida de RedHead0841, mas uma amizade que ela nunca imaginou fazer, e que agora era uma das melhores coisas que a garota tinha.

— Eu não sei… Nós estávamos conversando e então eu falei que vivia aqui, e ele respondeu que também. Foi tudo muito de repente. - respondeu, mexendo na tampa da sua garrafa d’água. - Isso é insano... Pensar que eu posso ter esbarrado por ele na rua, ou que ele seja um cara que eu achei esquisito no metrô semana passada. É muito doido.

Sua prima respirou fundo, olhando para o centro da mesa de madeira, com o lábio puxado para um único lado. Rose a conhecia bem o suficiente para saber que ela estava desconfiada, dando seu máximo para compreender algo, mas no fundo Rose também não queria descobrir a raiz do problema dela. Tinha percebido que não valia mais a pena.  

Dominique havia agindo assim nos últimos dias. Na verdade, mesmo que ambas tivessem aos poucos voltado ao eufemismo do que sempre haviam sido, existiam coisas que eram melhor não serem comentadas. Como Scorpius Malfoy.

Principalmente Scorpius Malfoy.

— De repente? — questionou mais uma vez, passando a unha pelo brinco solitário que usava.

  Rose suspirou, colocando sua garrafa d’água de volta à mesa da lanchonete do campus, onde elas estavam passando o raro tempo vago. Perguntou a si mesma se ter comentado o assunto tinha sido uma boa escolha. Talvez Lily teria sido mais compreensiva, pensou, mas não queria incomodar ela com seus problemas quando sabia que a prima estava num péssimo momento - “problemas com Felix, com minha coelha, com meu pai e, pra completar… péssimas notas” ela dissera em uma mensagem alguns dias antes. E Rose também não imaginava que Domi teria aquele tipo de reação. Estava guardando ela para o momento certo, mas aparentemente tinha escolhido um não muito bom.

— Sim… - preferiu dizer, sem comentar mais nada.

 Dominique não fazia ideia do porquê dela ter enviado a mensagem, do desespero de pensar que estava perdendo uma amizade - no mesmo dia em que seu estômago estava mais pesado que o normal por causa do almoço que teria com a família. A situação que parecia simples para Rose na cabeça da melhor amiga dela tomava proporções astronômicas. Estratosféricas… Ou qualquer outra hipérbole facilmente encaixável para a reação de Domi. Dominique era cheia delas, aliás.

  Mas ela não era um monstro. Quando percebeu o que estava fazendo, se endireitou na cadeira e passou as mãos pelo rosto.

— Desculpa. Droga, eu... Eu me preocupo com você, Rose, você sabe disso.

Rose assentiu. Sabia que era verdade, mas odiava quando isso sobrepunha toda a amizade delas. Há um tempo havia começado a se sentir assim, diferente; como se pudesse mesmo levantar a bunda do sofá e fazer alguma coisa por si, não porque haviam lhe convencido, mas porque ela queria. E era o que estava tentando fazer. E sentia como se a prima estivesse tão convencida que precisava estar constantemente ajudando ela que não via como Rose havia mudado por dentro - mesmo pouco, mas de forma significativa.

— Até demais, não é?

— Olha, não é por mal… É que…

— Eu sei. Tudo bem. Eu também me preocupo com você. Muito. Mas pelo menos eu deixo você viver e quebrar a cara, sabe. Não que eu goste, mas sim por que é importante pra você.  

— Você pensa em se encontrar com ele? - Dominique perguntou, depois de um tempo. - Você pode se decepcionar, sabe. E as coisas podem não ser mais como antes.  

A garota balançou a cabeça. No fundo, queria poder discordar, afirmar que a loira estava 100% errada e que tudo iria voltar aos eixos como há 3 meses, mas ela sabia que as coisas apenas estavam cada vez mais difíceis para si mesma. Todos os sentimentos não vividos - ou deixados de lado há anos - pareciam tomar conta de Rose quase como uma avalanche. E enquanto tudo isso parecia confuso, apenas algumas coisas se mostravam claras.

— Eu não sei. - Foi a única coisa capaz de dizer antes de voltar a beber da água. Não queria dizer que, na verdade, eles já estavam fazendo isso. Não haviam marcado hora, dia ou lugar, mas ambos pareciam inclinados a se encontrarem.  - Acho que vou tentar encontrar com ele e…

— Por um ponto final em tudo isso… - Dominique completou, quase como se estivesse afirmando um fato. Rose franziu o cenho, incerta de como interpretar o que ela tinha dito. Pela primeira vez, ela sentiu algo muito estranho na forma como a prima havia se referido à situação.

Mas então outra coisa surgiu em seus pensamentos: será que ela queria mesmo colocar um ponto final? Por mais que a Weasley fosse incapaz de negar tudo o que sentia por Scorpius, a última coisa que ela também queria era perder sua amizade com o loirosexy_, até porquê… Loirosexy_ veio muito antes do Malfoy.

Pelo menos era isso que ela se lembrava - se bem que a sua própria memória não passava muito além de livros clássicos franceses e seu mais novo vício em Masterchef.

— É, talvez…

— E o que seu namorado pensa disso?

Rose soltou uma risada esganiçada, céus que tipo de pergunta era aquela? Dominique só podia estar de brincadeira com ela, usando esse tipo de ironia. Mas então percebeu que, na verdade, apesar da estranheza da palavra, Domi não a tinha proferido em tom maldoso - com certo desconforto, talvez, mas nada além.

Piscou algumas vezes, pegando a garrafa novamente.

— Nós não somos namorados, mas acho que ele não vai se importar nem um pouco. Eu não vou fazer nada que eu me arrependa depois, Jesus, Dominique!  

— Se você diz… - ela pareceu abrir a boca para dizer algo mais, mas então percebeu que era melhor não. - Espero que dê tudo certo.

Eu também, pensou Rose. Dominique olhou o horário no relógio, e quase saiu correndo dali ao perceber que estava atrasada, mas sem antes deixar de abraçar a prima. A ruiva conseguia compreender a prima, na verdade. Ela estava indo encontrar alguém que havia conhecido em um site de relacionamento, a ideia poderia ser interpretada errada por qualquer um, mas… Seria muito errado ela estar ansiosa por conhecê-lo? Por se perguntar quem era a pessoa que talvez ele tenha encontrado por aí?

Sentia um carinho especial pelo loirosexy_, não podia negar. Ele era seu salvador de insônia no meio da semana, péssimo contador de piadas, um bêbado extremamente divertido, um incrível amante de música antiga, e … Céus, o que ela estava fazendo?

Será que encontrá-lo seria errado - ou melhor -, ela faria algo que não deveria?

  Levantou em um pulo da cadeira de madeira, colocando a mochila nas costas e saindo rapidamente até a estação de ônibus. Não, ela não chegaria a esse ponto. Sabia que não, estava se enchendo de perguntas bobas, e sem necessidade.

  Florence estranhou o excesso de pontualidade de Rose, mas preferiu não comentar nada. A garota agradecia por isso, na verdade. Os problemas do trabalho iriam preencher as partes do seu cérebro até conseguir esquecer das coisas malucas que começaram a rondar sua mente.

  Conseguir que isso acontecesse era outra história, na verdade. Quando o primeiro alívio no movimento da B&B aconteceu, Rose correu para o banheiro dos funcionários, onde ligou o próprio celular. Notificações de mensagem preencheram a tela de seu celular - que, aliás, parecia insistir em travar e desligar sozinho - deixando Rose mais ansiosa ainda.

Liloca P.

“OLHA ESSE VÍDEO HAHA É MTO A GENT…”

Stella

“Parece que você tá de sorte, viu, consegui falar c...”

teddy

“Na próxima a gente convida vocês duas pra ir n…”

Condomínio 13

“Clara: (imagem)”

ruivos lindos

“Albus: vou matar quem divulgou essa foto seu infel…”

scorps :)

“passo mais tarde aí pra te buscar?”

Sorriu ao ver a mensagem de Scorpius, com quem realmente queria falar. Era como se qualquer coisa que ele dissesse ou fizesse fosse o suficiente para fazer ela se sentir flutuando.

“Passo mais tarde aí pra te buscar?”

(scorps)

Rose pensou antes de digitar. Deveria falar sobre o loirosexy_ para ele? Seria péssimo conversar sobre isso por mensagem? Não sabia direito, e com o barulho da cozinha, que era logo ao lado do pequeno cômodo, ficava mais nervosa ainda. Falaria para Scorpius que estava combinando com um cara que, certo, sendo bem sincera, já tinha pensando em algo além de amizade? Céus, a vida real gostava de ferrar com as pessoas...

“Simm, horário de sempre :)”

“Viu”

“Preciso te falar uma coisa”

(Você)

A ruiva mal sabia como começar o assunto. Dominique a forçando fazer um perfil naquele site? O fato dela descobrir que na verdade - todo esse tempo - eles moravam na mesma cidade? Que ela estava desesperadamente ansiosa para conhecer ele? Definitivamente péssimos inícios!

“??”

“Não me diga que esqueceu as chaves do seu apartamente de novo ashuashua”

(scorps)

Uma risada saiu dos lábios dela. Até mesmo pilhada ele a fazia rir, droga! 

Mas não, Rose não havia esquecido as chaves de seu apartamento novamente, se bem que aquilo seria muito menos vergonhoso do que ter de falar sobre uma pessoa chamada loirosexy_, que ela conheceu num site chamado LoveTedx.

Pelo amor de Deus!

E se ela falasse, o que aquilo iria mudar entre Rose e Scorpius?

Levou um susto quando bateram com rispidez na porta, dando um pulo. Digitou o mais rápido que pôde e guardou o celular no bolso da calça, pigarreando e abrindo a porta logo em seguida, sorrindo amarelo para Jonathan, um dos cozinheiros.

“Tô escondida e me acharam, dps te falo bjs”

(Você)

   Porém seu nervosismo só piorou quando viu o reflexo da moto do lado de fora. Ouviu o risinho de Florence ao seu lado, quando entregava o avental à ela. Por favor, pensou, não é como se fosse a coisa mais romântica do mundo, mulher, se contenha! Mas não sabia ao certo se estava dizendo isso à sua chefe ou para si mesma.

    Estava chuviscando quando Rose foi para o lado de fora, e não deixou de sorrir quando ele lhe alcançou o capacete e outra jaqueta.

—Oi - cumprimentou, sorrindo. - imaginei que não iria gostar de se molhar tanto assim.

—Valeu - riu, usando o casaco de couro, que era maior que ela em todos os sentidos. Dos lábios dele também escapou uma risada também, a fazendo olhar braba em sua direção. - Eu não tenho culpa, ok?

Ele assentiu e a trouxe mais para perto, com sorriso aos olhos. Como nao esquecer quase tudo se ele agia assim com ela, como se ela fosse mais do que especial? Existia, no entanto, um incômodo no peito dela, como se o assunto que sussurrava em sua mente a impedisse de aproveitar aquele momento por completo. E essa era a pior parte.

Falar ou não falar?

—Florence já fechou as persianas - ele comentou, acariciando a bochecha pipocada de pequenas sardas da garota.

Ela sorriu lentamente, sem sequer perceber.

—Hm… E o que isso quer dizer?

Scorpius pareceu pensativo por certo tempo. Arriscou olhar discretamente para a lanchonete para então voltar a encará-la.

Que ela provavelmente tá espiando por outro lugar.

Ela gargalhou,apoiando a testa no ombro já úmido dele. Rose sabia que algum comentário espertinho sairia dele. Na verdade, sabia mais algumas pequenas coisas sobre o mutante que, tempo atrás, era um completo desconhecido. Eles procuravam passar o máximo de tempo possível juntos, e, mesmo que fosse difícil que isso acontecesse, eram os melhores poucos minutos do dia dela.

Sentiu as gotículas começarem a molhar seu cabelo. Pegou o capacete que estava no banco e se desviou dos braços de Scorpius.

— Vamos, a gente tá se molhando à toa.

—

O caminho da lanchonete até o apartamento de Scorpius não era longo, pelo contrário, o caminho havia sido muito mais rápido que Rose podia esperar, ainda mais com a chuva que tomava conta de toda a cidade.

Provavelmente o fato do trajeto ter parecido diminuir alguns metros se dava por conta dela ser incapaz de prestar atenção em todas as paradas e luzes que eles haviam passado por.

Sua cabeça só conseguia pensar nele e em como isso parecia completamente contraditório.

Ela não pensava nele romanticamente, esperava que não, mas se sentia insegura de estar fazendo a coisa certa ou não

Aquilo chegava incomodar Rose, porque ela estava pensando tanto em alguém que mal sabia se era real quando havia uma pessoa de carne e osso em sua frente?

Rose afobou seu rosto nas costas quentes de Scorpius na tentativa que todos aqueles pensamentos desaparecessem de uma vez só de sua cabeça. Ela não podia fazer aquilo com si mesma e muito menos com Scorpius.

Rose não iria contar sobre o loiro.

—Hey- Malfoy chamou a atenção e fazendo ela  finalmente se dar conta que ele havia estacionado a moto na frente de seu apartamento.

—Está tudo bem? - Perguntou como se tentasse abrir a pequena e teimosa cabeça de Rose com o verdadeiro profissionalismo de um (futuro) médico buscando entender o que fazia a garota que ele gostava tanto estar daquela forma.

—Sim. - Rose murmurou com rapidez, seu cérebro já estava bagunçado o suficiente por conta própria. - Por que a pergunta?

Ela não queria ouvir a resposta, não de verdade. Tinha medo que ele conseguisse ler seus pensamentos. Talvez ele conseguisse. As leves gotas se amontoavam em suas roupas e na superfície livre da moto, mas nenhum deles parecia se importar com isso.

Ela queria poder convidá-lo para subir, para jantar food-truck e assistir, se não caísse de sono antes, Friends (que ela nunca tinha dado tanta bola assim, mas era a favorita de Scorpius e ela deveria admitir: era ótimo para dias chuvosos como aquele). No entanto, eles tinham conversado sobre a situação deles e como forçar a barra com a Dominique não seria a melhor alternativa, e Rose se sentia péssima pela confusão mental que remoia há horas.

Não parecia certo sentar ao lado dele normalmente como se tudo estivesse ok quando a maior parte de seu raciocínio parecia tão revirado quanto as próprias meias nas gavetas do quarto dela.

—Por nada, eu só achei que vocês estava meio… estranha. - Scorpius deu uma risada leve no final com o objetivo de diminuir a tensão da pergunta do ar.  - Você pode me contar qualquer coisa, seja lá o que for… eu vou estar do seu lado. - O loiro disse se aproximando de Rose, com os lábios comprimidos em uma fina linha, as mãos passando por seu rosto e então a prendendo em seus braços, fazendo todo o frio da chuva desaparecer.

Rose encarou os olhos cinza dele, e se amaldiçoou mentalmente por não reparar que ela também não era a única com problemas. Céus, como era egoísta… O abraçou com mais força, porque estava acostumada a vê-lo sempre feliz e tentando fazer graça de tudo que não percebeu como desta vez ele também não estava em seu melhor dia.

E isso fez com que ela se odiasse ainda mais; por estar pensando em outro enquanto no fundo, mesmo, só queria que a ideia de encontrar seu amigo virtual não fosse tão atrativa assim.

— Eu também, Scorpius, eu também…

Rose só esperava que seu mutante não a odiasse por isso tanto quanto parte dela o fazia.