Atropelada Pelo Casamento escrita por Mrs Days


Capítulo 7
Não me atropele de novo


Notas iniciais do capítulo

Olá, flores.

Então, infelizmente esse é o último capítulo. Tenho que dizer que amei escrever essa fic e o jeito como ela foi recepcionada realmente me surpreendeu. Espero que o final satisfaça a todos como satisfez a mim

Beijos.



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Por um segundo pensei que pular da cama como se tivesse uma barata e gritar que porra estava acontecendo talvez não fosse a melhor maneira de agir diante de uma criança. Por isso optei por sorrir e acariciar os seus cabelos escuros até que a apreensão em seus olhos se dissolvesse um pouco.

— Está tudo bem, querida. — Abri os meus braços. — Quer vir aqui dar um abraço de bom dia na mamãe?

Eu sempre amei criança e saber que em um dos futuros eu teria uma filha tão linda quanto essa, fazia o meu coração – que no começo dessa jornada era murcho e raivoso – se encher de amor. Por mais que tivesse acabado de conhecê-la, ela era minha. A menina deitou a cabeça em meu peito e eu continuei acariciando os seus cabelos.

— Querida, você me ama? — Perguntei aleatoriamente. Talvez por estar conhecendo-a agora, tivesse que ter essa certeza. Ela mexeu a cabeça, assentindo. — E ama o papai?

Que eu não tenha escolhido um filho da puta.

— Amo. — Ela disse e levantou a cabeça para olhar para mim. — Mesmo quando vocês brigam.

Ergui uma sobrancelha.

— Você acha que eu e o papai brigamos muito?

Ela deu de ombros.

— Não. Só quando não concordam. Mas vocês se amam muito. Sempre me dizem isso.

Tirei um pouco de cabelo de seu rosto. Estava muito curiosa. Queria saber quem tinha me dado uma criança tão bonita e inteligente. E pelo o que ela tinha dito, nós nos amávamos muito. Isso me fez descartar Christopher imediatamente. Nem que brigássemos pouco e ele dissesse que me ama, nunca aplicaria o advérbio muito para intensificar o meu amor por ele.

— Querida, soletre o seu nome. — Pedi. Ela pendeu a cabeça para o lado, confusa. Sorri sem graça. — É apenas para eu saber se está indo bem na escola.

Ela balançou a cabeça e respirou fundo.

— H-A-D-A-R — Ela soletrou e sorriu — Hadar. Papai disse que você tem o nome de um planeta, então eu seria a sua estrela.

Senhor, quem é esse homem? Puxei a cabeça de Hadar em direção ao meu ombro e voltei a acariciar os seus cabelos escuros, aproveitando a oportunidade para fazer uma pequena prece de que o pai dela não fosse Christopher. Só tinha uma coisa que poderia responder a minha dúvida.

— Querida, você é feliz?

Hadar riu baixo.

— Sim, mamãe. Você e o papai também. São felizes há muito tempo. — Ela disse destacando o advérbio de intensidade. — Você não é mais feliz com o papai?

Acariciei o seu rosto, não gostando de ver o resquício de tristeza ali.

— Claro que sou, filha.

A cena ao meu redor começou a se dissolver, como se tudo fosse de gelo e estivesse derretendo. Pânico me tomou quando vi meus braços ficando vazios sem os traços de Hadar neles. Gritei, querendo que aquela mentira voltasse e meu peito se apertou ao saber que eu poderia ter tudo isso. Eu poderia ser feliz.

Tudo ficou escuro ao meu redor e eu envolvi os meus braços ao meu redor. Não queria me sentir vazia do jeito que fiquei quando soube da morte de Seth. Olhei para os lados, procurando por uma luz ou uma saída. Comecei a caminhar sem rumo, até ceder para a gravidade e cair no chão. Encarei o nada acima de mim e as lágrimas de raiva tomaram o meu rosto.

— Tudo bem, Deus. Eu já entendi. — Gritei para o nada. — A culpa de todos os meus relacionamentos terem sido uma porcaria foi totalmente minha. Eu desisti do amor há muito tempo e comecei a correr atrás do tempo, para que eu não morresse sozinha. E olhe como eu estou. — Abri os braços, gesticulando. — Eu desisti do amor, então eles desistiram de mim.

Meus pensamentos foram se clareando aos poucos diante das minhas palavras. Todos os meus namorados representavam uma parte de mim que já me era esquecida. Tyler seria o meu eu apaixonado, porém em busca da independência; Seth era o meu lado aventureiro, que queria experimentar o mundo; Riley representava a Júpiter sedutora, que tinha certeza que caso se esforçasse, teria qualquer um aos seus pais, mesmos os proibidos; Carter era o meu eu profissional, que ainda não estava pronto para colocar a carreira em segundo plano; E Christopher era simplesmente o monstro desesperado por compromisso que eu tinha me tornado depois de tudo isso.

— Você já tomou uma decisão, Júpiter?

Ergui os olhos, vendo Zeke parado na minha frente com a sua típica expressão neutra. Surpresa e aliviada por não estar mais sozinha na escuridão, levantei-me e o abracei num pulo. Zeke deu um passo para trás, surpreso, mas vi um pequeno sorriso em seus lábios.

— Onde você estava, Ezequiel?

Ele pressionou os lábios juntos.

— Tinha alguns assuntos pendentes. — Deixou em aberto. Arqueei uma sobrancelha, questionando-me mentalmente o que um anjo poderia ter de pendência. — Então você já decidiu?

Sorri.

— Sim, Zeke. Leve-me de volta.

Ele pegou em minha mão e sorriu.

— Foi um prazer conhecê-la, Júpiter. Espero que tome a decisão certa.

Apertei meus dedos contra os dedos, sentindo-me saudosa.

— Também, Zeke. Muito obrigada.

O vento me tocou.

*******

A primeira coisa que senti foi a luz contra as minhas pálpebras, incomodando-me. Em seguida veio a dor. Não algo angustiante, mas me fazia preferir o estado de coma. Esse pensamento foi logo jogado no lixo assim que escutei o ronco típico de minha mãe, fazendo-me abrir os olhos de supetão apenas para vê-la. Ela estava dormindo com a mão ao redor na minha e a cabeça em minha coxa. Preferi manter minha atenção ali e nas agulhas em meus braços.

— Mãe. — Chamei-a suavemente, vendo seu corpo se mexendo um pouco. Apertei os meus dedos ao redor dos dela. Isso por um segundo me fez lembrar Zeke. Queria ter me despedido melhor. — Mãe, acorde.

Ela reclamou um pouco antes de abrir os olhos e saltar da cadeira para me dar um abraço.

— Júpiter, graças a Deus. — Ela agradeceu e seus olhos se encheram de água. — Eu e seu pai estávamos tão preocupados. — Ela se virou para o sofá onde meu pai dormia e chamou. — Keith, acorde. Júpiter despertou.

Assim como minha mãe, meu pai veio correndo me abraçar. Eu e ele nunca tínhamos sido próximos depois da separação dele e da minha mãe, mas isso não me impediu de ficar emocionada com as suas lágrimas. Percebendo que estava chorando, meu pai limpou o rosto com rapidez e forçou um sorriso.

— Eu vou chamar o médico. — Ele disse saindo da sala e fungando mais um pouco.

Minha mãe deu um sorriso complacente.

— Seu pai sempre foi uma manteiga derretida. — Ela esclareceu e pegou em minha mão, tirando uma mecha do meu cabelo escuro do rosto. — Querida, estou tão feliz que acordou.

Curiosidade me abateu.

— Quanto tempo fiquei apagada?

Minha mãe pressionou os lábios.

— Dois dias, mas pareceram anos. — Escutamos um murmurinho na porta e ela sorriu. — Seu médico. Ele estava fazendo de tudo para trazê-la de volta.

A porta se abriu, deixando que meu pai entrasse acompanhado do médico. Minha boca ficou aberta quando os olhos verdes de Zeke se fixaram nos meus e ele deu um sorriso contido enquanto se aproximava da cama para verificar os meus sinais vitais. Queria xingá-lo e expor seu lado cretino, porém estava em choque com tudo o que acontecia.

— Tudo certo, senhorita Jensen. — Ele terminou de anotar algo na ficha. Virou-se para os meus pais. — Sua filha está ótima, uma perna quebrada apenas. Vamos mantê-la por aqui por mais alguns dias apenas para a observação e depois ela terá alta. — Dirigiu-se em direção a porta, parando para olhar para os meus pais por cima dos ombros. — Tem duas visitas para Júpiter.

Franzi o cenho olhando para os meus pais. Minha mãe estava com os lábios pressionados com força, fazendo com que acentuasse as suas bochechas e enrugasse os cantos dos seus olhos, em uma típica expressão de repreensão. Meu pai tinha os punhos fechados e respirava com força, em uma demonstração clara de raiva. Não precisei ser nenhum gênio para saber uma das pessoas que estava me esperando.

Que filho da puta cara de pau.

— Deixe-o entrar. — Eu disse ao médico/Zeke. — Deixe Christopher entrar.

Meu pai deu um passo a frente.

— Nem pensar. Ele não chega mais perto da minha filha. Não com todos os ossos inteiros. — Encarou-me e viu que eu estava firme em minha decisão. Suspirou, revirando os olhos. — Tudo bem, ele entra. Mas eu fico. — Cruzou os braços, firme em sua decisão.

Zeke assentiu, parando apenas por um segundo para sorrir para mim e depois saiu. Se não tivesse com uma das pernas quebradas e içada, teria ido atrás dele querendo explicações. E por Deus, que fossem ótimas. A porta se abriu um minuto depois, fazendo com que eu tivesse a visão desagradável do sorriso cínico de Christopher.

— Júpiter — Ele sussurrou o meu nome como se estivesse aliviado. Veio na minha direção com os braços erguidos querendo me envolver neles. — Estava tão preocupado que...

— Que você demorou dois dias para vir me visitar porque sentiu culpa? — O interrompi. Ele deu um passo para trás, como se tivesse levado um tapa. — Olhe, Christopher, não vamos alongar com isso. Eu não quero casar com você, assim como você não quer casar comigo. — Puxei o anel de noivado de meu dedo e o estendi na sua direção. — Só saia da minha frente e vai viver a sua vida, tudo bem?

Ele estava claramente em choque com as minhas palavras, demonstrando isso olhando do meu rosto para o anel em sua mão e de volta para mim, como um peixe morto. Bufei com a minha paciência no limite e a língua coçando para realmente dizer o que fazer com o anel – o que incluía introduzi-lo em um local bastante desconfortável.

— Júpiter — Ele tentou novamente. Encolhi-me em um sinal claro de que não o queria. Isso encheu seu rosto de raiva. — Se você quer assim, tudo bem. Adeus.

— Dê um alô para a sua secretária por mim. — Pedi vendo-o fechar a porta com raiva. Suspirei, passando a mão por meu rosto e encarei os meus pais que aparentavam estar orgulhosos. Antes que qualquer um de nós três dissesse alguma coisa, vi a porta se abrindo novamente de supetão. Revirei meus olhos. — Veio para o segundo round, Christopher... Tyler! — Exclamei surpresa. — O que está fazendo aqui?

Tyler fixou seus olhos castanhos esverdeados carregados de preocupação na minha direção, vindo com passos decididos até mim. Seus cabelos loiros haviam escurecido, adquirindo um tom de castanho claro e seu corpo tinha se desenvolvido, deixando de ser de um adolescente de dezenove anos e se tornando de um homem de vinte e nove. Ele não disse nenhuma palavra antes de segurar o meu rosto entre as suas mãos e me beijar com ardor.

Desde o momento em que abri os meus olhos, foi ali que tive a total convicção de estar de volta ao mundo real. Meu coração – que há tanto tempo ficou adormecido – retomou suas batidas descompassadas, reconhecendo-o. Segurei o seu rosto, sentindo a barba por fazer roçando em minhas palmas e sorri contra os seus lábios. Aquela era a Júpiter que eu queria ser.

— Desculpe por demorar tanto tempo — Ele disse pondo a testa na minha e me encarando com tanta intensidade que fez minhas bochechas corarem. — Mas não te esqueci um dia sequer, JJ. — Deu um riso fraco. — O primeiro amor nunca nós esquecemos, certo?

Perifericamente vi os meus pais saindo do quarto, dando-nos privacidade e eu agradeci por isso. Sabia que teria que explicar o surgimento desse momento mais tarde, mas naquele momento tudo o que importava era que Tyler estava ali. E, aparentemente, meus pais tinham superado o ódio contido que tinham contra ele.

— Foi você, não foi? — Questionei. Ele abaixou os olhos, envergonhado, sabendo exatamente do que eu estava me referindo. — Foi você quem me atropelou.

Ele suspirou.

— Algum tempo depois que você foi embora nossos pais se tornaram amigos e quando viram que eu queria sim algo para o meu futuro, resolveram me dar uma chance de me aproximar. Porém você não estava mais ali para que eu lutasse. Passei anos escutando seus feitos através dos nossos pais: sua faculdade, sua formatura, seus namoros — Ele pausou e suspirou, triste. — E seu casamento. Eu não podia deixar isso acontecer. Queria ter chegado a tempo do Fale agora ou cale-se para sempre. — Deu de ombros, bem humorado. — Lembro-me de que você gosta de momentos de drama. Só que aquele idiota do seu noivo...

— Ex-noivo — O interrompi. Ele me encarou com um meio sorriso que retribui prontamente. — Só para deixar claro.

— O idiota do seu ex-noivo estragou tudo quando fugiu que nem um covarde, fazendo você ir atrás dele. JJ, não foi proposital. Você realmente me pegou de surpresa e não deu tempo de frear. — Ele pausou e respirou fundo, como se estivesse agoniado. — O que quero dizer é me desculpe e não case com outro idiota. Sei que temos objetivos diferentes, mas podemos conciliar e...

Coloquei meu polegar em sua boca.

— O que acha do meu nome?

Ele franziu o cenho.

— Eu amo o seu nome, Júpiter. — Ele beijou a palma da minha mão sem desviar os olhos dos meus. — Você é meu planeta e quero te dar todas as estrelas que merece.

Mordi meu lábio inferior em uma tentativa falha de conter a emoção.

— Tyler, podemos tentar novamente sim, mas só se você me prometer uma coisa. — Pedi dando um beijo leve em seus lábios. Ele piscou, esperando a minha proposta. Sorri diante do caleidoscópio de possibilidades que estava parada bem na minha frente. — Não me atropele de novo.


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Notas finais do capítulo

Está na hora de dizer adeus, mas antes digam o que acharam da escolha de Júpiter e a razão por todos os seus relacionamentos darem errado. Sentirei saudade de vocês. Beijos.