Moon escrita por SurfinBird


Capítulo 2
The Loom. Galaxy.




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Então Korra e Asami Sato partiram em certo trem de destino incerto a fim de recuperarem suas preciosas lembranças perdidas. Não encontraram nenhum condutor e se haviam pessoas sentadas nos outros vagões, eram silenciosas o bastante para passarem despercebidas. Qualquer manobra cabia à Asami. Durante o tempo que tiveram para conversar, elas combinaram que Korra poderia cuidar dos obstáculos naturais que encontrassem no caminho de sua jornada. Talvez abrir um rio, criar uma ponte, acender uma fogueira ou o que fosse necessário. Por outro lado, Asami usaria de sua incrível habilidade de construir máquinas e veículos a partir de sucata ou materiais inusitados. Mais parecia uma espécie de alquimia. Tudo indicava que poderiam formar uma grande dupla.

Através do vidro da janela, a noite parecia estrelada para Korra, mas achou que pudesse ser uma ilusão de ótica. Não sabia se pensava em espíritos olhando por ela ou mundos possíveis para se viver. Assim como Asami, não tinha lembranças de casa, como uma alma penada.

– Korra? Perdida em pensamentos? – Asami estava sentada logo à sua frente, no banco contrário.

– Mais ou menos. Lembrei de repente que já viajei de trem antes.

As estrelas nascem uma de cada vez e muito lentamente. Korra pegou no sono e “sonhou uma lembrança” do tempo em que ainda haviam poucas delas no céu e o mundo era um lugar mais sombrio. Desembarcava na estação de um país deserto de areia vermelha, uma parada obrigatória de dois dias, viajando naquele mesmo trem. Mas naquele tempo, o trem era mais vivo e milhares de pessoas circulavam por ele. Vestida formalmente, trajando um terno e chapéu, a morena com uma rápida olhadela nos arredores já podia concluir que não teria muito para ver em sua estadia relâmpago. Mas porque não dar uma chance ao lugar? Ao menos o hotel local teria um teto diferente para encarar ao invés do velho alojamento no vagão. Sua garganta já secava e tinha de manter a cabeça um pouco abaixada para proteger-se do sol com a aba do chapéu.

– Ei! Vocês! De jeito nenhum percam seu ticket ou não poderão mais embarcar! Não digam que não avisei! – O condutor Varrick apressou-se à porta, gritando para os passageiros.

No entanto, todos estavam prestando atenção em outra pessoa; a moça reluzente que descia a pequena escada de desembarque. Literalmente feita de cristal, dera mão à Korra para descer na estação. Asami Sato, acompanhante daquela outra moça, murmuravam os passantes, maravilhados com sua beleza e corpo cristalino. Korra era sempre gentil com Asami, e todos comentavam;

– Olhem, é como uma pedra preciosa!

– Vejam, que delicadeza!

– Reparem nesse brilho! –

Varrick ostentou uma careta de desdém e logo voltava para dentro, frustrado por ter sido ignorado. Tudo corria bem e feliz, mas o povo do deserto sofria e nem mesmo lucravam com as visitas dos ricos turistas. Um país feito para ser observado rapidamente, não para ser morado. A flor do beija-flor. Observando de longe, os moradores sonhavam em um dia serem capazes de viajar naquele trem negro, na esperança de uma vida melhor. Perto da estação, algo acontecia no famoso bar Moon, de Zhu Li Moon. Kuvira, um dos assíduos fregueses, pusera naquele instante seu revólver no coldre. Pagando sua última dose, jogou algumas moedas de mal jeito sobre o balcão, que rodopiaram fazendo um barulhinho.

– Tem certeza que quer fazer isso? – Zhu Li não parecia muito confiante em persuadi-la.

– É o único meio de escapar desse buraco. Trabalhando duro uma vida inteira, nenhum de nós pagaria mesmo metade do ticket. Eu não estou errada!

Kuvira dera mais alguns passos à frente, parando na soleira da porta. Estava de costas para a dona do bar e seus conhecidos. Fizera questão de não se virar uma última vez, convencendo-se de que não era uma despedida. Além disso, não queria que vissem seu rosto agora. Sua voz era firme e decidida, enquanto ela cerrava os punhos.

– Zhu Li, se eu morrer, não se aborreça com funerais. Meu corpo já será enterrado pelas tempestades de areia vermelha.

Asami com seu corpo de cristal destacava-se na multidão, e Korra tinha muito orgulho de andar ao seu lado. “Então são assim as mulheres de fora! ” Exclamou, Kuvira, encantada. A anti-heroína do país vermelho observava as duas mulheres de uma esquina, já com o revólver empunhado. Sim, agora elas teriam de passar por aquela rua para se dirigirem ao hotel. Estava decidido, seu alvo seria a mulher de chapéu, pois não seria capaz de machucar aquela dama de cristal. Chegou ao cúmulo de se desconcentrar de sua missão para sonhar que viajava com Asami, dançava com Asami, ria ao seu lado e tudo mais. Mas claro que nem mesmo sabia seu nome. Lá vinham as duas! Apressou-se e as rendeu com sua arma;

– O ticket dourado! Agora mesmo!

Korra era cabeça quente e não se intimidou, partiu logo para a briga. Com um chute esperto, conseguiu levantar terra para cegar os olhos de Kuvira. Arriscou um giro veloz e um segundo chute visando o peito de Kuvira, mas que fora bloqueado. Outra Korra, outra vida, portanto não era capaz de dar ordens aos elementos ou transformar-se em um gigante. Para piorar a situação, Kuvira também sabia lutar e conseguira surpreender Korra, agora já apontando o revólver em sua direção. Tentando defendê-la, Asami colocou-se na frente e acabou levando uma coronhada na cabeça. Crash! Sprinzke! Scratfaploft! Um único golpe certeiro fora o bastante para quebrar o corpo de cristal de Asami em mil pedacinhos, explodindo luzes para todas as direções. Korra gritou até rasgar a garganta e Kuvira, horrorizada, deixou cair a arma e caiu de joelhos na areia. Não demoraria para que a xerife Bei Fong chegasse para prender Kuvira.

Os milhões de pedacinhos brilhantes do que fora Asami tornaram-se estrelas que deixariam a noite mais iluminada. Aos poucos, milhares de almas juntavam-se à ela e todos os satélites. O tempo correu indefinidamente até aquela mesma história se repetir, mas diferente. Em um mundo mais estrelado, Korra desembarca do trem negro em na estação do país vermelho. Com um salto animado, ela desce e se espreguiça, lançando os braços para o alto.

– Vamos, Asami! Você está muito molenga hoje!

Asami carregava uma mochila e seguia Korra com pouca pressa. Carregava uma expressão madura e não era feita de cristal. Ao contrário, era mesmo uma garota bastante durona e teve aulas de autodefesa com seu pai. Era esperta para sair de situações complicadas e sabia consertar qualquer máquina. Assim que alcançou Korra, caminhou ao seu lado, apanhando-a pelo pulso.

– Ei! Não vão esquecer o maldito ticket! Quem perder esse papelzinho ficará preso nesse buraco calorento para sempre! Não adianta chorar depois! – Varrick gritava, dando um grande susto em todo mundo na estação.

Enquanto isso, no bar Moon....

Seis balas para uma arma, Kuvira as carregava uma por uma. Fazendo uma pequena demonstração gratuita para a plateia bêbada de fregueses assíduos do bar, sem errar uma única vez, Kuvira explodiu cinco copos de vidro em praticamente dois segundos. Não muito feliz com o prejuízo desnecessário, Zhu Li bateu palmas lenta e sarcasticamente.

– Zhu Li, se eu conseguir, não se aborreça mais com esses trastes. Prometo que volto para te buscar, e então viajaremos juntas pelo mundo.

– Eu estou bem aqui, obrigada. – Zhu Li cortou, e Kuvira lhe lançou um olhar de quase pena, nada ofendida.

Os bêbados do bar tinham certa organização engraçada; quando um deles caia, os outros carregavam até certo canto reservado. Muitos não tinham para onde voltar, então dormiam naquele cantinho. Mais pareciam um bando de irmãos, tão parecidas eram suas feições, e podia se dizer que eram até bem unidos. Todos estavam torcendo por Kuvira, e alguns até sonhavam em fugir com a pistoleira perigosa e enfim, casar com ela.

“Engraçado, parece que conheço essa mulher de algum lugar. ” Kuvira pensava, ao deparar-se com Asami, que por sua vez andava ao lado de Korra. Balançando a cabeça negativamente para afastar os pensamentos, resolveu concluir que era apenas uma impressão por ela parecer muito atraente. Korra também lhe parecia bonita, com aqueles olhos contrastantes e todo o resto, mas não gostava dela por alguma razão. Kuvira fora invadida por uma tontura repentina, mas conseguiu concentrar-se afinal. Empunhando o revólver, surpreendeu as duas turistas em seu caminho para o hotel.

– O ticket dourado! Agora mesmo! – Gritou, imperativa.

De imediato, Korra cerrou os punhos para brigar, mas Asami fora mais rápida. Com um movimento relâmpago, sacou o florete da bainha e desarmou Kuvira ao mesmo tempo, em um gesto praticamente teatral. Seus cabelos negros voaram para o lado, acompanhando a trajetória de seu braço, que terminou apontando a espada para cima como uma antena para o céu. Kuvira não teve outra alternativa senão recuar e correr, quando Korra pisou no revólver para que ela não ousasse pegar de volta.

– O que foi isso? O que ela queria? – Korra perguntava, confusa, coçando a cabeça.

– Não sei. Vamos embora daqui! – Asami passou o braço para puxar Korra para perto, querendo de repente andar bem junto dela. Korra se aconchegou bem ao seu lado, tomando seu braço.

– ‘Sami, eu podia cuidar disso!

– Eu sei. – Asami mantinha-se tranquila apesar de tudo, terminando com um beijo no topo da cabeça de Korra.

Afinal, não adianta começar com o pé direito em um maldito deserto. Em dois dias, o trem negro partiu e Asami estava à bordo, com Korra, é claro. E muito tempo se passou até o presente, quando Korra pegou no sono e sonhou as memórias de vida passada. Mas não toda essa história contada, muito menos os pensamentos de Kuvira, mas apenas imagens soltas aqui e ali. O céu era muito mais estrelado agora.

– Quanto tempo eu dormi? – Korra coçou os olhos, notou com um sobressalto que agora Asami estava sentada ao seu lado, dividindo o mesmo banco no vagão.

– Uns quinze minutos.

– Parecia uma vida! – Bocejou e sacudiu as pernas, Asami desatou em risos, baixinho. – Eu sonhei que viajava para algum lugar, e você estava comigo. De alguma maneira, nos perdemos no caminho, mas agora te encontrei de novo. Para onde será que esse trem vai nos levar, afinal?

– Eu não sei, Korra, mas você sabe o que dizem, ‘aproveite a viagem’.

Korra deitou a cabeça no colo de Asami, sentindo carícias em seus cabelos. Em pouco tempo, estaria dormindo de novo. Sonhando lembranças, talvez.


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