Aquela ligação era o retorno da mensagem que Felicity deixou na secretária eletrônica de Palmer. Mesmo que tivesse se arrependido no mesmo segundo que desligou o telefone, ela tinha que contar logo a ele sobre a gravidez.

– Ray? - atendendo.

Oliver não olhou para ela enquanto a conversa fluía. Pegou a bandeja sobre a mesinha e levando para a cozinha.

– Eu sei que essa notícia não deveria ser dada por telefone, mas não aguentei esperar.

A voz dela começava a ficar embargada e isso era demais para Oliver. Segundos depois ele se trancou no banheiro para não pegar o telefone da mão dela e desligar na cara do Palmer.

A frustração era sufocante e saber que ela teria um vínculo eterno com alguém que não era ele o enlouquecia.

– Oliver? - Felicity o chamou, batendo na porta.
– Saiu em um minuto.

Lavou o rosto tentando ignorar toda aquela inquietação. A encontrou parada no meio da sala, o encarando quando abriu a porta.

– Você está bem? - quis saber quando o viu sério demais.
– Eu que deveria perguntar isso pra você.
– Estou falando sério, Oliver.
– Eu também. O que importa aqui é você. - dando a volta no sofá e parando na frente dela. - Só você.

A conversa com Ray foi mais calma do que esperava. Ele estava em Tóquio resolvendo alguns problemas da empresa. Voltaria em duas semanas, já que Felicity não permitiu que ele adiantasse seu retorno. Ela estava bem e não tinha nada que ele pudesse fazer por ela agora, uma vez que já tinha o que precisava bem na sua frente.

– Não vai perguntar sobre a ligação. - se aproximando mais dele.
– Você quer me contar?
– Quero.
– Então sou todo ouvidos.

Ele pegou sua mão e a conduziu até o sofá. Ambos sentando de lado, ficando de frente um pro outro.

– Antes de eu te contar, preciso esclarecer que só liguei pra ele ontem porque entrei em pânico e precisava contar logo o que estava acontecendo. Só que como caiu na caixa postal e ele só viu agora.
– E como o Palmer reagiu? - engolindo em seco ao falar aquele nome.
– Foi melhor do que eu esperava.
– Ele está vindo pra Starling?
– Não, ainda está em Tóquio.
– Ainda? Mas quando ele pretende voltar? - já se alterando.
– Em duas semanas. - ele ia falar algo, mas ela o interrompeu. - Eu pedi que ele não viesse antes do tempo.
– Mas você precisa dele aqui. - levantando e indo até a janela. - Já que ele é o pai que assuma o papel do jeito certo.

Mesmo que ele estivesse de costas para Felicity, ela sabia o quanto ele aquela situação era complicada. Mas exigir a presença de Palmer não era algo que ela imaginava partir de Oliver.

– Ele disse que pegaria o primeiro voo para vir embora. Só que eu disse que estava tudo bem comigo e que ele podia resolver o que fosse preciso lá sem se preocupar.
– Isso mostra que ele da mais valor pra empresa do que pra você. Que tipo de homem é esse que escolhe ficar do outro lado do mundo quando descobre que você está grávida? - virando e a encarando.

Ela precisou segurar o sorriso que estava prestes a estampar seu rosto ao vê-lo reagir assim. Cruzou os braços e se ajeitou melhor no sofá.

– Eu gosto muito do Ray, sempre me tratou muito bem. Sei que ele vai dar o suporte que preciso com o bebê.
– Não é só para o bebê que ele tem que dar o suporte, Felicity.
– E que tipo de apoio você acha que ele deveria me dar?

Aquela conversa estava seguindo para um rumo diferente do que esperava, mas se tinha que ser sincero com ela, aquela era a hora.

– Ele deveria se casar com você e dar tudo o que você realmente merece.
– Se casar comigo? Em que época você acha que estamos, Oliver?
– Não interessa, você merece uma vida completa. Uma casa com conforto e estabilidade. É isso que ele tem que te dar, o melhor.
– Mas essa não é a vida que eu quero, Oliver. Não com ele.

Por anos ela observou outras mulheres entrando e saindo a vida de Oliver. Sempre se perguntou como seria se ela tivesse essa chance.

– E com quem você quer ter essa vida? - sendo direto, mesmo que tivesse medo do que pudesse vir.
– Com quem você acha? - sentando mais na beirada no sofá.

Levando uma mão ao rosto dela, ele sentiu o alivio preencher seu peito com a constatação de que ela se referia a ele. Fez o contorno de seu queixo com a ponta dos dedos, sentindo a pele macia que por tantas vezes quis tocar.

– Eu estou a sua disposição para te dar o que você quiser. Não vou mais negar o que sinto e muito menos te manter longe.

Ela nunca teve coragem de dizer a ele o que sentia, mas depois da noite passada e das atitudes dele, as coisas podiam seguir por um novo caminho.

– E como vai ser quando ele voltar, Oliver?
– Eu que tenho que te perguntar isso. Como vai ser?

Ela fechou os olhos quando a mão dele amparou seu rosto, inclinando a cabeça para o lado. Estava prestes a dizer coisas que sabia não terem mais volta, mas sabia que valeria a pena.

– Não vou te dar uma relação normal. Porque vamos começar pelo sentindo oposto do que seria o certo.
– Você diz pelo bebê?
– Sim, por ele. - afastando o rosto de sua mão e o encarando.
– Mas você vai deixar que eu faça parte disso?
– Se você estiver disposto a me aceitar com esse adicional. - sorrindo. - Sim, vou.

A poucos dias ele nem mesmo conseguia pensar em ter Felicity além da convivência normal. Sempre que se pegava pensando nela o receio de vê-la nas mãos de algum lunático o mantinha longe. Só que agora tudo era diferente, sentia uma necessidade desesperadora de estar com ela, porque o único inimigo que via a sua frente era Ray Palmer.

– Eu topo.
– Topa? - surpresa, mesmo que fosse essa a resposta que esperava dele.
– Topo, mas quero que me prometa uma coisa.
– O que você quiser. - ficando ainda mais na beirada do sofá, segurando sua mão.
– Quando você achar que estou indo longe demais, quero que me fale. Você sabe que não sei lidar bem quando sou contrariado e algo me diz que o Palmer vai fazer o possível para me tirar do sério.
– Ele não vai fazer nada, pode ficar tranquilo.
– Me prometa.
– Ok, prometido. - levantando e se colocando entre suas pernas.

Oliver envolveu os braços em sua cintura, enquanto ela apoiava os braços em seus ombros. As fantasias que ambos guardavam para si mesmos começavam a se realizar.

– Então, não está esquecendo nada? - sorrindo ao vê-lo encarar seus lábios sem piscar.
– Esquecendo? Acho que na verdade quero recordar algo que fizemos ontem.
– Não até que você seja um cavalheiro e diga as palavras mágicas que o momento pede.

Sem entendeu de imediato o que ela queria, mas enquanto as mãos dela contornavam seu rosto em um carinho lento ele lembrou a pergunta que queria ter feito a ela antes de Ray Palmer aparecer em sua vida.

– Felicity Smoak. Aceita namorar comigo?