Meu coração estava partido em pedaços com um vazio em seu centro, semelhante a um vidro após receber algum impacto sobre a sua superfície plana. Era idiotice minha me deixar levar ou me ferir por um ser tão absurdamente insignificante que até um simplório inseto tem mais importância.

Desde quando eu me sinto assim? Desde quando passei a me importar com os outros; Não, outros não, apenas com um. Desde quando me tornei fraco? Não sei porque disto, apenas sei que agora minha existência é o nada, ao menos nada sem ela junto a mim.

Realmente devo estar delirando, meu coração que raras vezes se alteraram tornou-se veloz.

Virei meu rosto quase sem muitas mudanças apesar do tempo, para fitar com meus olhos dourados a lua minguante, deixava meu longo cabelo prateado dançar ao vento que trazia pétalas de flor amarela, as favoritas dela. Agacho-me colhendo um punhado delas, a guardo em minhas vestes. Ainda agachado o vento que soprava do leste, fazia tanto meu cabelo quanto minha veste seguirem obediente nessa direção, eu pude sentir o cheiro do meu servo.

Ele não parecia como agir, andando de um lado ao outro por trás de uma árvore com medo de algo que eu pudesse ocasionar a ele.

━ Senhor, a Rin acabou de falecer. ━

Ainda agachado percebo algumas lágrimas escorrem por sobre a minha face alva, era a primeira vez que eu chorava e isso era angustiante, pois eu não conseguia repreender o sentimento que causava isso, sentia as gotas de minhas lágrimas caírem sobre meus punhos cerrados. Por estar de costas para meu servo ele não pode ver essa cena degradante.

━ Saia! ━

━ Mesmo ela tendo morrido o Senhor não se altera, o Senhor é mesmo inabalável. ━

Erguia-me ainda com meus cabelos e vestes balançando ao vento. Assumia então minha verdadeira forma, um cão de olhos vermelhos, presas colossais, dorso gigantesco, avantajado e musculoso, pelos brancos e intensos, cauda volumosa. Deixava para trás meu servo, seguindo para o meu reino ao céu. Lá eu poderia ver despejarem o corpo frágil, quebradiço e idoso dela ao mar, mesmo possuindo um rosto repleto de rugas, para mim ela continuava sendo a mesma criança de sempre, infantil. Minhas lágrimas tornaram-se chuva, uma chuva salgada que só caía na praia, e junto a ela eu joguei as pétalas recolhidas sobre o local, as mesmas caíram gentilmente pelo seu corpo sem vida.

Sua alma levantou do seu corpo, retornando a forma de quando era jovem, antes de deixá-la por completo ela alisou aquele corpo frágil, sorrindo calorosamente para ele, em seguida ela ergueu voo vindo em minha direção para que pudessémos passar a eterniade em meu palácio apreciando o horizonte. Para sempre juntos enfim. Com o seu alçar de voo as pétalas a sua volta saíram de cima daquele corpo, cpousando ao mar a sua volta e afundando com o corpo que um dia pertenceu a Rin.