Eu nunca dirigi tão rápido em toda minha vida. Graças a Deus não topei com nenhum guarda. Fui de Windsor a Londres em tempo recorde.

Quando eu tirei a chave da bolsa para abrir a porta de casa, minha mão tremia. Eu ja tinha pensado em mil coisas terríveis e me sentia a beira das lágrimas.

O andar de baixo da casa estava no mais completo silêncio, então eu subi as escadas correndo. Lydia dividia o quarto com Kitty e foi la que eu encontrei todas.

Lydia estava sentada no meio da cama, lágrimas escorrendo do seu rosto e todas as meninas em volta. Assim que ela me viu levantou-se correndo e se jogou nos meus braços.

—Eu sou uma idiota. –ela falou entre lágrimas.

—Claro que não! –falei na hora, abraçando-a –Ele é um animal, Lydia. Isso não vai ficar assim.

—Se meus pais sonharem com isso... –ela chorou –Meu pai... Meu deus!

—O que ele quer? –eu quis saber.

—20 mil libras. –Kitty falou, sua voz fraca.

—20 mil libras? –repeti incrédula –De onde ele acha que nós temos tanto dinheiro assim?

—Eu não tenho ideia. –Lydia falou em prantos.

—Ok, calma. –eu pedi respirando fundo –Vamos conversar sobre isso. Me conta tudo, desde o começo.

Lydia me explicou que conheceu George um dia quando estava chegando do mercado. Ele estava caminhando na calçada e a ajudou com as sacolas. Eu percebi que esse foi um dia que nós tínhamos marcado de sair e ele chegou aqui bem mais cedo. Ele se apresentou como Wicky (ele brincou que era um apelido tonto mesmo) e pediu o telefone dela. Eu repensei todas as vezes que falei dele e me toquei que sempre o chamei só de George, nunca falei do sobrenome dele para elas.

Ele estava saindo comigo e com Lydia ao mesmo tempo, uma das razões de ele não ter ido a festa do Bingley, provavelmente.

—Eu não sabia que ele estava filmando. –Lydia falou em meio as lágrimas.

—Nem que você soubesse, Lydia. –Jane falou de forma firme –Essas coisas são íntimas e não devem ser usadas dessa forma! Eu não acredito que ele...

—A questão é o dinheiro! –Mary falou inconformada –Como ele acha que você tem tanto?

Foi aí que eu me lembrei de algo. Quando George me perguntou da casa eu disse que era de uma amiga minha. As outras meninas sempre falavam da casa como “nossa”, mas eu nunca me senti a vontade para chamar assim, ja que nós não pagamos nem aluguel.

Eu falo “a casa de uma amiga”, mas Lydia (e as demais) tendem a falar “minha casa”. Ele pode muito bem ter entendido que a casa era dela, logo ela tinha que ter dinheiro. Uma casa em Notting Hill não é barato.

Meu deus, que bagunça.

Acabei contando a todas a história que Darcy me contara de como conhecia Wickham e o que ele fizera para Georgiana.

Havia essa voz dentro de mim insistindo que eu poderia ter feito algo para previnir tudo isso.

—Nem pense nisso, Lizzie. –Lydia falou de repente.

—Oi?

—Eu sei o que você está pensando e você está errada. –ela falou gentilmente –Você não podia ter feito nada para prevenir isso.

—Eu podia...

—Não ia adiantar nada. –Lydia insistiu. As outras meninas nem abriram a boca –Você podia ter contado a história inteira, mas você não sabia que eu estava saindo com ele e eu não saberia que era o mesmo cara. E você sabe que eu sempre fui teimosa...

—Lydia... –eu suspirei –Isso pode não ser culpa minha, mas com certeza não é culpa sua. Ele é um o criminoso. Extorsão é um crime grave e não é a primeira vez que ele faz isso. Quais foram as exigências dele?

—20 mil em três dias ou ele vai mandar o vídeo para nossos pais, os colegas de trabalho da Lydia e colocar na internet para quem mais se interessar. –foi Kitty quem respondeu.

—Como ele te falou isso? –eu insisti.

—Pessoalmente. –Lyidia informou –Ele veio até aqui.

Eu passei a mão pelos cabelos.

—O que vamos fazer, Lizzie? –Jane me perguntou preocupada, mordiscando seu lábio inferior.

—Isso depende. –eu falei sinceramente.

—Do que? –Mary quis saber.

—Do que a Lydia quer. –eu admiti sincera –Nós podemos tentar arrumar o dinheiro sem falar com ninguem. Eu conversei recentemente com Emma, talvez ela nos ajude.

Todos olhamos para Lydia. Ela estava mordendo o canto do seu dedão, como ela costumava fazer quando ficava nervosa. Se continuasse assim ele ia ficar em carne viva.

—Eu sei o que eu quero. –ela declarou por fim –Mas acho que precisamos ligar para ele.

XxX

Eu não vou negar: o plano da Lydia me chocou muito. Nós perguntamos várias vezes se ela tinha certeza, mas ela garantiu que sim, era isso que queria.

Eu liguei para Emma, Jane ligou para Marianne e assim por diante. Obviamente nós não conseguimos 20 mil libras (isso é muito dinheiro, principalmente nessa economia e sem termos como ligar para os nossos pais por socorro). Felizmente Jane, Mary e eu somos um poucos mais prevenidas e temos poupanças (mesmo elas não sendo la essas coisas).

No tempos que tínhamos conseguimos 13 mil libras, o que já é muito e não foi fácil de conseguir.

Assim que arrumamos o dinheiro Lydia ligou para Wickham e pediu para ele vir até nossa casa. Ela conversou com ele sozinha e falou do dinheiro. Ele fez charme a princípio, revirou os olhos, falou que tinha certeza de que ela poderia conseguir mais. Por fim ele aceitou o dinheiro como “uma entrada”. Ele disse que ia dar mais alguns dias para ela conseguir o resto.

Quando ele foi embora Lydia desmanchou no sofá.

—Deu certo? –ela quis saber.

—Eu gravei tudo. –Mary garantiu –Você tem certeza de que quer fazer isso?

—Ele fez isso comigo e com a irmã do Darcy. Vai saber com quantas mais. –Lydia soltou um suspiro cansado –Alguém tem que para-lo. Minha fama ja não é la essas coisas.

—Nós vamos ficar do seu lado. –Jane garantiu –Não importa o que os outros digam, o que aconteceça daqui para frente. Nós vamos ficar com você.

Os olhos de Lydia se encheram de lágrimas e ela abraçou Jane.

No dia seguinte, bem cedo, nós fomos para uma delegacia prestar queixa de extorsão.