Anteriormente, em Trust...

Avistei e porta de um quarto e quando entrei no mesmo, congelei com a imagem que vi. Kate se sentava devagar na cama, passando a mão sobre os cabelos. Quando seu olhar encontrou o meu, ela também paralisou.

– Rick? – sussurrou.

Eu apenas virei as costas e sai em passos firmes em direção à saída, ouvindo seus passos atrás de mim, e sua voz chamando meu nome cada vez mais alto. Porém, eu não conseguia pensar em nada além de sair daquele lugar, e apagar aquela imagem da minha memória. Bati a porta com força, ainda em choque, e me encaminhei de volta para o elevador.

Definitivamente, a noite não seria ótima.

Nem perto disso.

Kate’s POV

Não sei quanto tempo passei paralisada e com o olhar fixo na porta fechada em minha frente. Também não sei em qual momento comecei a chorar, mas conseguia ouvir meus soluços em meio á toda aquela situação, que eu nem mesmo sabia ao certo como e por que aconteceu. Senti um par de olhos me encarando de cima a baixo repetidamente, então fiz o mesmo, e me dei conta que estava vestindo apenas minha roupa intima, assim como o homem ao meu lado.

Eric se aproximou lentamente, e acho que esse movimento me fez voltar à realidade, pois não tive tempo de pensar, apenas ouvi o som de minha mão se chocando fortemente contra seu rosto.

– O QUE VOCÊ FEZ? – gritei alto, o que o assustou, fazendo-o recuar um passo e levar a mão ao rosto vermelho.

– Kate! Calma... Eu... Você não se lembra? – ele perguntou com um ar de deboche, o que me deixou com ainda mais raiva, se é que isso era possível.

– Me lembrar de que? Você só pode estar brincando...

– Nossa noite... Foi maravilhosa. Você estava...

– O que? Não! Eu nunca faria isso! – o interrompi, começando a sentir as lágrimas tamparem a minha visão novamente. – Eu estou com Castle! Eu te disse, como você... – então eu parei, e senti minhas pernas bambearem quando entendi o que estava acontecendo.

– Kate...

– Você fez isso! Você planejou tudo! Como você foi capaz? – falei com o tom de voz elevado novamente, desta vez saí em disparada em direção ao quarto, e alcancei minhas roupas espalhadas pelo chão, vestindo-as.

Escutei seus passos atrás de mim, e quando me virei para encará-lo, não pude acreditar no que vi. Ele estava rindo. Ele estava simplesmente rindo, enquanto vestia sua camisa tranquilamente. Senti meu sangue subir e caminhei em sua direção, pronta para atacá-lo novamente, quando de repente, a imagem de Castle aqui neste mesmo quarto me veio em mente.

Castle.

Eu precisava ir atrás dele, precisava que ele soubesse que nada aconteceu, precisava fazer com que ele acreditasse em mim. Porém, lembrei-me da escuridão de seus olhos me encarando minutos atrás, e da expressão de decepção em seu rosto, quando ele saiu sem dizer uma só palavra. Qualquer que tenha sido a intenção de Eric, eu resolveria depois. Nesse momento, ele era o que menos me importava.

Já vestida e com as chaves do carro em mãos, eu segui para a porta, sem antes ouvir a sua voz dizer naturalmente:

– Obrigada pela noite passada, Kate. Foi incrível.

Bati a porta com força e sem olhar para trás, sentindo o chão desmoronar aos meus pés. Alcancei meu celular e quando o desbloqueei, havia uma mensagem de texto de Castle, enviada a cerca de uma hora atrás.

“Estou a caminho.

ps: você tem razão, eu estava mesmo inquieto!

X, Rick”

Subi um pouco mais a tela, e encontrei a mensagem que eu supostamente o enviei. A raiva que senti não podia ser descrita em palavras. Desci rapidamente e entrei no carro, tentando ligar para o celular de Castle, que caía direto na caixa-postal em todas as tentativas. O desespero estava começando a tomar conta de mim.

...

Toquei a campainha inúmeras vezes, e Martha abriu a porta com um sorriso, que foi substituído por uma expressão de confusão quando me viu.

– Katherine?

– Martha, o Rick está? Preciso mesmo falar com ele. É urgente!

– Eu achei que ele estava com você. – agora, a expressão de confusão estava no meu rosto também, o que foi percebido pela mulher à minha frente, que continuou – ele entrou, e saiu alguns minutos depois com uma pequena mala em mãos. Quando o perguntei onde estava indo, ele disse que iria para os Hamptons com você, então não o questionei. Ele se despediu e saiu às pressas. Acho que...

Não deixei que ela terminasse, saí em disparada em direção ao elevador. Quando saí, senti uma chuva leve e fria se iniciando, antes de entrar no carro e ir atrás de Castle, de novo.

...

Estacionei o carro em frente à grande casa e desci, caminhando rapidamente até a porta de entrada, me molhando um pouco na chuva que havia engrossado.

Bati na porta uma, duas, três vezes, já sentindo minhas pernas bambas, e o medo se aproximando. Não sabia ao certo o que diria a ele, e nem como iria explicar tudo, mas sabia que ele me ouviria. Ele me conhece o suficiente para saber que eu nunca faria aquilo. Ergui minha mão para bater na porta pela quarta vez, quando ela se abriu.

Não consegui identificar a sua expressão quando me viu. Ele estava cobrindo a entrada com seu corpo, então comecei a falar de onde estava sem me importar com a chuva que á essa hora já havia me encharcado.

– Rick, você precisa me ouvir. – soltei um soluço, o encarando na espera de uma resposta que não veio, então prossegui – Nada aconteceu, eu juro. Acredite em mim, Eric deve ter colocado algo em minha bebida... Aquela mensagem... Amor, eu não a escrevi. Rick, por favor. Me deixe entrar, vamos conversar. Você sabe que eu nunca faria isso com você. Eu am...

– Ricky, estou pronta pra conhecer a piscina! – fui interrompida por uma fina voz feminina descendo as escadas.

Mais uma vez naquele dia, meu mundo desabou. Pude notar que Castle se assustou, e virou o corpo na direção da garota que se aproximava, abrindo espaço para que eu pudesse enxergar dentro da casa. Ela tinha os cabelos loiros e na altura da cintura. Trajava apenas um roupão de seda, e tinha um sorriso nos lábios. Castle virou-se novamente em minha direção, e quando seu olhar encontrou o meu, eu balancei a cabeça negativamente, olhando de um para o outro repetidas vezes. A moça parou, encostando-se nele.

– Quem é essa? – perguntou inocentemente, me olhando da cabeça aos pés.

Minhas lágrimas se misturaram com as gotas de chuva que inundavam meu rosto. Tudo parecia estar girando ao meu redor, e eu me sentia como se estivesse levando uma facada nas costas. Dei meia volta e fui em direção ao carro, ouvindo sua voz pela primeira vez, gritando meu nome.

– Beckett... Kate, espera!

Entrei no carro e dei a ré, me afastando rapidamente. Entrei na mesma estrada onde estava minutos atrás na direção contrária. Pisava fundo no acelerador, querendo ir para longe o mais rápido possível.

As lágrimas desciam descontroladamente pelo meu rosto, minha respiração estava ofegante e eu não sabia para onde estava indo. A chuva estava cada vez mais forte e eu conseguia sentir o meu coração acelerado. Mas nada disso importava agora. Eu não podia parar. Eu só precisava me afastar de tudo, achar uma forma de fazer essa dor desaparecer, e acordar desse horrível pesadelo. E foi com esses pensamentos que eu ouvi um barulho ensurdecedor, junto com um grande baque na lateral do passageiro, e o movimento do meu carro sendo afastado para fora da pista. Dizem que quando você se encontra perto do fim, um filme se passa em sua mente, e então, isso foi exatamente o que me aconteceu. Pensei em minha mãe, relembrei alguns dos melhores momentos dos quais passamos juntas... Depois, pensei naquele dia em que cheguei em casa com meu pai, e dois detetives nos esperavam. Pensei também, em todos os passos que já dei em minha vida e o quão longe havia chegado. E por ultimo, pensei nele. O homem que me ensinou a amar novamente, que me mostrou o lado bom da vida em todos os ângulos. Lembrei de seu abraço, de seu beijo e de todas as vezes que pude sentir o seu amor, e então, lembrei de sua voz gritando o meu nome pela última vez, há alguns minutos atrás. Até que meus olhos lentamente se fecharam, não mais suportando ficarem abertos, e tudo escureceu.