Depois de uma série de perguntas, o grupo decidiu explorar a casa e encontraram, algo que acharam que nunca mais veriam.

Comida.

Havia um tipo de passagem secreta no chão da casa, pelo qual foi descoberta por Peeta, que caiu de bunda ao tropeçar em uma barra de madeira que estava fora do lugar. E para a sorte dele, havia comida debaixo dela, ou continuaria sendo ridicularizado por seus amigos.

Quando anoiteceu, puderam clarear o lugar com velas encontradas no local ou fogueiras improvisadas dentro de panelas grandes e fundas.

— Esse, é o melhor dia da minha vida. – disse Percy se encostando na parede de forma preguiçosa, passando a mão na barriga cheia.

— Nosso melhor dia! – corrigiu Hermione sorrindo e enchendo sua boca com mais sopa enlatada.

— Pois eu acho que vou pegar uma doença. – Disse Annabeth passando o dedo dentro da lata, capturando um pequeno pedaço de batata e colocando-o na boca.

— Se eu pegar uma doença pra poder comer, então que eu morra de dor no estômago. – disse Jace jogado no chão.

O grupo riu, e continuaram conversando, trocando latas, comendo frutas enlatadas, e compartilhando suas semelhanças. Nada era muito importante naquele instante. Naquele momento, eles se sentiram... normais. Como jovens que não tinham passados terríveis, terem visto criaturas grotescas, serem obrigados a matar sedentos e terem passado boa parte da vida perdidos. Eram apenas jovens normais, compartilhando seus poucos bons momentos, imaginando terem uma vida feliz e divertida. Seus corações estavam em paz.

Prim caminhou disfarçadamente até Tobias, se ajoelhado ao lado dele e cutucando seu ombro. Ele a encarou e ela deu um pequeno sorriso.

— Eles ficarão de fora. – ela sussurrou virando a cabeça para olhar os ruivos, que ainda estavam amarrados do outro lado da sala sozinhos.

— Acho que seria o correto, depois de tentarem matar Percy, certo? – disse Tobias dando de ombros.

Prim apenas ficou em silêncio. Na verdade ela não concordava com aquilo. Então se levantou roubando duas latas do meio do grupo e caminhou em direção aos Weasley.

— Creio que devem estar com fome. – ela disse estendendo uma lata para cada um deles.

Ron a encarou com as sobrancelhas franzidas. Não entendia porque a garotinha estava sendo tão gentil, mas ele estava com fome. Tentou pegar a lata mas lembrou-se de estar com as mãos amarradas.

— Hum... obrigado. – ele respondeu ainda sério, um pouco confuso.

A menina, de uma forma estranha o deixava feliz. Ela transmitia isso de uma forma sobrenatural.

— Qual é o seu nome? – a garota ruiva perguntou.

— Me chamo Prim. – ela abriu um sorriso doce ao dizer seu nome. – E você é a Gina?

A ruiva não conseguiu conter seu sorriso e acenou com a cabeça.

— Porque vocês queriam nos matar? – Prim pergunta com casualidade, usando o mesmo tom que se pergunta “está tudo bem?”.

Eles se entreolham antes de encarar Prim.

— Bom – a ruiva começa. –, seu grupo também faria o mesmo se visse dois estranhos invadindo o lugar deles.

Prim ficou uns segundos em silêncio e acenou com a cabeça. Em seguida sorriu, e tirou uma pequena faca escondida em sua bota.

— Espere! – gritou Ron se encolhendo e fechando os olhos, enquanto Prim acertava a faca nas cordas que prendiam seus pulsos.

Tobias, ao ouvir, ficou de pé em menos de um segundo e correndo em direção aos ruivos.

— O que você fez? – ele encarou Prim com a raiva transbordando de seus olhos escuros.

— Eu cortei suas cordas inúteis. – respondeu Prim, novamente com naturalidade.

Tobias segurou nos braços de Ron decidido a amarra-lo de novo, até que Prim soltou:

— Acha mesmo que eles irão nos machucar? – Tobias a encarou enquanto ela ficava de pé, encarando-o de forma séria. – Se eles quisessem fazer isso, teriam feito no momento em que cortei as cordas.

Prim se direcionou à ruiva e também lhe cortou as cordas.

— Podem comer agora. – ela sorriu de novo e caminhou em direção à Katniss, sentando-se ao seu lado.

Tobias ficou encarando os ruivos pegando as latas e colocando seja lá o que fosse dentro da boca. Encarou o grupo que permaneceu em silêncio e voltou a encarar os ruivos, que continuaram sentados onde estavam. Prim tinha seu jeito estranhamente doce, em meio ao caos. Era bom e ao mesmo tempo assustador, ele nunca conseguia entender como uma garotinha de doze anos podia estar certa muitas vezes apenas pelo seu julgamento inocente. E o que mais o incomodava era que boa parte das vezes em que ela estava certa, ele estava errado. Os Weasleys não eram maus, só estavam se defendendo.

Ele suspirou fundo revirando os olhos e disse:

— Querem se juntar ao grupo?

Ron encarou Tobias desconfiando de sua proposta.

— Xe refere à roda?— ele perguntou de boca cheia.

— Não. Me refiro ao grupo em si. – ele respondeu seco, não gostava de pedir desculpas. Ele não estava dizendo algo do tipo, mas o pedido para a entrada no grupo era basicamente um pedido de desculpas.

Ron encarou Gina, que igualmente o ficou encarando. Ela acenou com a cabeça de forma microscópica, e Ron se voltou para Tobias.

— Aceitamos – ele sorriu, quase apertando a mão estendida de Tobias, mas antes que o fizesse, ele recuou a mão.

— Só vou te avisar uma coisa. – Tobias estreitou os olhos. – Qualquer atitude suspeita com nosso grupo, você está fora. Ouviu?

Ron suspirou como se estivesse entediado com a proposta, mas concordou. E enfim tocaram as mãos.

+++++

Apesar de terem acordado várias e várias vezes à noite tentando ficar alerta com sedentos, o grupo inteiro nunca havia dormido tão bem na vida.

Quando já estava amanhecendo, metade já se encontrava de pé, inclusive os ruivos. Prim se manteve adormecida até tarde e se juntou a todos um pouco depois. Ficou por um momento encostada no batente da porta feliz, por ver que o grupo estava crescendo.

— Sabe? – Hermione franziu as sobrancelhas pensativa. – Acho que deveríamos ficar aqui. Temos comida, abrigo, não precisamos nos preocupar tanto com sedentos, aqui é uma localização difícil, não seria tão fácil nos encontrarem e nos matarem.

O grupo permaneceu em silêncio. Não era má ideia, afinal, a casinha era aconchegante. Os fazia lembrar por um momento de que não estavam vivenciando... bem, o fim do mundo e a extinção da própria espécie.

— Acho que devem ter outras casas inteiras por aqui. Podemos nos dividir, viver como pessoas normais. – Hermione deu de ombros, com orgulho evidente em sua expressão.

— Ah, sem essa! – Tris a encarou como se estivesse louca. – Não dá para viver como pessoas normais. Obviamente nós vamos olhar em volta e ver tudo caindo ao nosso redor. O mundo já não nos pertence mais.  – ele suspirou cansada – Acorda e não se ilude, para que no fim não fique tão magoada! – e voltou a permanecer calada.

— De todas as pessoas que eu já conheci, ninguém conseguiu ser mais negativo que você. – Katniss se pronunciou ficando de pé.

Tris a encarou cansada e deu de ombros.

— Só estou falando a realidade. – franziu de leve as sobrancelhas e saiu da casa. Katniss podia vê-la caminhar em direção a uma pequena praça, pela janela de vidro.

Ela suspirou e revirou os olhos soltando um grunhido, impaciente com as atitudes daquela garota.

— Katniss. – Annabeth se aproximou. – Eu sei que Tris está sendo um pouco rabugenta, não colaborando com nossas ideias. Também sei que ela não foi a única que sofreu, perdeu amigos, família e amigos. Mas...

— É exatamente isso que ela tem que entender. Ela não é exclusiva para ter direito de descontar tudo em nós. – Katniss interrompeu irritada.

Annabeth suspirou fechando os olhos, para manter a calma.

— Sim, mas cada um de nós lhe dá com sua dor do seu jeito. – Annabeth olha ao redor, observando todos do grupo. – É o jeito dela de lhe dar com a dor dela, que ficou reprimido dentro dela por tanto tempo. Tenha paciência com ela.

Annabeth sorriu e se afastou. Antes de subir as escadas, ela encarou Hermione com um sorriso.

— E eu adorei sua proposta. – e subiu as escadas.

O grupo discutiu sobre ficar. Revistaram os remédios de primeiros socorros na bolsa de Katniss, e tinha mais que suficiente, pois deixou de ser usado desde o tiro na perna de Annabeth e Lena, que foi uma história boa de se contar para os rapazes, que ficaram curiosos. A água estava em pouca quantidade, mas de acordo com Ron e Gina, havia água potável perto da cidade em uma caixa d’água, e o mais importante, havia bastante comida. Daria para viverem tranquilamente por meses, até cuidar para que durasse mais.

Ficaram discutindo sobre o assunto por horas. Enquanto Katniss estava longe com seus pensamentos. Após alguns poucos minutos, saiu da casa de fininho. Olhou para os lados e traçou o mesmo caminho que Tris, até chegar em uma pequena praça, com vários brinquedos infantis. Mas não eram tão infantis, pois haviam vários corpos de crianças e alguns adultos mortos, e muito sangue pelo chão.

Tris estava sentada em um balanço enferrujado, com uma boneca em suas mãos, que Katniss concluiu ter sido tirada das mãos de uma das crianças mortas.

— Este lugar não me parece muito legal para refletir. – Katniss disse após sentar em um dos balanços ao lado de Tris.

Ela a encarou de soslaio, mas sorriu com seu comentário sarcástico.

— Não importa muito – ela deu de ombros. – é assustador, mas é silencioso. Morte não é algo tão ruim, representa paz. – Tris ergueu os olhos e Katniss reparou que eram claros, mas não conseguiu definir de que cor eram. Pareciam ser verdes, ou cinzas.

Ficaram em silêncio por um momento, podendo ouvir apenas a respiração de ambos. Era tranquilizador. Katniss teve que admitir que Tris tinha razão. Ela também ergueu os olhos e suspirou fundo, mordendo o lábio antes de dizer o que pretendia.

— Me desculpe por ter sido tão grossa com você Tris. Você está sofrendo e eu não compreendi isso.

Tris a encarou franzindo as sobrancelhas, surpresa com suas palavras.

— Na verdade eu nunca fui muito compreensiva mesmo. – Katniss deu de ombros abaixando a cabeça. – Às vezes não sou compreensiva com Prim também, mas estou tentando melhorar isto, só que... você é irritante. – Katniss faz uma careta.

Tris dá uma pequena risada balançando a cabeça.

— Bom, se seu defeito é ser incompreensiva, o meu é ser irritante?

— Creio que sim. – Katniss reprime um sorriso.

Elas retornaram a se manterem em silêncio por alguns segundos.

— Eu sei que o mundo está acabando – Katniss dá de ombros. – Mas acho que se colaborarmos seguindo o plano da Hermione, podemos sobreviver, encontrar mais sobreviventes. Podemos viver. E quem sabe sermos... amigas.— completa se sentindo estranha por ter feito a proposta.

Quando Katniss para de falar Tris ri, ficando com o rosto vermelho, deixando Katniss irritada, se sentindo estúpida por ter feito a proposta e ter recebido uma gargalhada em resposta. Ela dá grunhido e se levanta caminhando para longe com o rosto vermelho de raiva.

— Ei ei! – Tris a chama quando ela começa a se afasta. – Espera aí.

— Eu só estou tentando ser legal e sua resposta é uma gargalhada em deboche!

— Não, não é isso. – Tris balança a cabeça ainda contendo uma gargalhada. – É que se a algumas semanas atrás você dissesse que queria ser minha amiga, e eu pretendesse aceitar, eu juro que a gente iria se matar. – Tris retornou a rir. – Sério, isso é engraçado!

Katniss revira os olhos, percebendo que isso até faz sentido. Mas a ideia de serem amigas não parecia ser tão ruim.

— Ah, então você aceita? – Katniss ergue uma sobrancelha.

Tris estreita os olhos, percebendo que Katniss está debochando, mas ela apenas sorri e acena com a cabeça.

— Acho que isso é um sim. – ela abre um sorriso.

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— Foram substituídas? – Hermione arregala os olhos.

— Não! – Peeta sorri em seguida gargalha. – Estão tirando com a nossa cara.

— Acho que tem um novo vírus no ar que fez lavagem cerebral nelas. – diz Annabeth segurando uma gargalhada.

O grupo ri com as teses da notícia de Tris e Katniss agora não estarem brigando, deixando as duas extremamente irritadas.

— Dá um tempo! – Katniss bufa. – Só porque a gente brigava o tempo todo, não significa que não podemos nos dar bem.

Todos ficam encarando-a por alguns segundos.

— Hã... tecnicamente, sim. – Clary ergue uma sobrancelha.

Katniss revira os olhos e se senta ao lado de Prim.

— Podem fazer suas piadinhas. Eu não ligo. – ela dá de ombros.

Todos se entreolham fazendo um tipo de suspense.

— Que lindas. Vamos abraça-las. – diz Peeta se direcionando a Katniss.

Ela fica de pé, e em um piscar de olhos, ela está armada com seu arco e flecha, apontado em direção à testa de Peeta, que fica imóvel.

— Não tenta! – ela ergue as sobrancelhas.

— Adoro seu jeitinho arrogante garota da trancinha. – provoca Peeta erguendo as mãos para o ar, fazendo Katniss ficar vermelha de raiva.

Ela solta um grunhido de frustração e retorna a se sentar no chão.

— Achei que iria atirar em mim. – Peeta alarga seu sorriso de canto.

— Não estou afim de perder meu tempo. – Katniss responde sem encara-lo. – Porque afinal, estas flechas serão mais uteis para matar sedentos e não um babaca como você.

— Uhhhh!!! — todos fazem em couro, seguido por uma gargalhada.

Peeta retorna a se sentar e fica encarando Katniss durante alguns minutos, surpreso com sua resposta e admitindo que adorou provoca-la.

— Ainda vou te deixar sem fala garota da trancinha. – diz Peeta.

Katniss comprime os lábios de raiva e atira em Peeta a lata vazia mais próxima, e apesar de sua mira ser excelente, ela erra ao jogar, fazendo a lata acertar em Ethan, que estava sentado ao lado de Peeta.

— Ai porra! – ele grita. – Ele te provoca e eu que recebo o castigo?

— Ethan, entenda que ela não queria me machucar. – Peeta retorna a sorrir.

— Vai se... – Katniss começa a falar mas Hermione interrompe a discursão.

— Ok, chega! Vou pegar água pra limpar isso. – Ela encara Peeta e Katniss. – E vocês, parem de brigar! A única criança aqui é a Prim, e ela nem está fazendo tolices.

Prim franze as sobrancelhas chateada pelo comentário.

— Porque ela não tem quem a provoque. – diz Peeta piscando para ela.

— E acho bom que não tenha. – Katniss interrompe.

Hermione limpa a garganta, e os dois abaixam a cabeça, fazendo o resto do grupo rir com a situação. Como se Hermione fosse uma mãe dando bronca nos filhos e a ponto de dar um belo castigo.

— Acho que não são tão ruins como eu pensava. – sussurra Ron para Gina, que estão um pouco mais afastados do grupo, então ninguém os ouve.

Gina lhe lança um olhar de reprovação.

— Não seja estúpido! O mestre não iria gostar de te ouvir falando assim. Temos que esperar o momento certo para agir. – Gina ergue as sobrancelhas.

— Eu não acho que isso seja o certo. – ele diz de forma cabisbaixa.

— Garanto que vai valer a pena. Lembre-se que seremos recompensados por isso. – diz Gina reconfortando o irmão. – Lembre-se, de que precisamos esperar o momento certo. Só ponha isto na sua cabeça!

Ron acena com a cabeça, sorrindo para a irmã.

— Está tudo bem? – pergunta Hermione segurando um copo com um pouco de água.

— Sim, está. – Ron sorri. – Só estávamos conversando sobre o grupo de vocês. São como uma família que todos nós perdemos. Obrigado por nos darem uma chance.

Hermione fica com um olhar distante por um momento, acenando com a cabeça e dando um sorriso em seguida.

— É nós somos. De nada.

E se afasta, fazendo os ruivos suspirarem de alívio se entreolharem antes de retornarem a se juntar com todos.