Olhe duas vezes! escrita por Misofonico
E foi até a porta da cozinha. Girou a maçaneta sentindo um frio na espinha e ao abrir respirou aliviada. Um gato estava tentando pegar os restos do peixe do almoço. Ela observou que a janela da cozinha estava aberta. Deduziu que foi assim que o bicho entrou. Ela fechou a janela e voltou a observar o gato. Ele saltava e batia a pata no cabo da frigideira e no chão a garota encontrou o objeto que caíra. Uma faca de peixe. Ela se abaixou para pegar o objeto e observou algo em baixo da bancada da cozinha. Uma folha de papel levemente amaçada. Ela a pegou e leu em voz alta:
Lista de Supermercado:
– Velas perfumadas;
– Inseticida;
– Nozes e castanhas;
– Garrafa de Vinho Tinto;
– Amoras, framboesas e mirtilos;
– Novelo de lã e agulhas;
A lista tinha acabado. Briana não entendeu direito qual ligação tinham estes objetos, mas reconheceu a caligrafia do pai. De alguma para ele faziam o mais completo sentido. Foi então que o gato miou e Arya o observou durante um tempo. Ele estava muito magro, com algumas feridas pelo corpo e com um carrapato na orelha que estava a ponto de explodir de tanto sangue. Briana nunca teve um bicho de estimação por sempre morar em prédios, mas agora que tinha uma casa não estranhou a ideia de ter um animalzinho. Ela ficou com pena do animal e resolveu que daria um trato nele e não se importava se ele era vira-lata. A garota pegou o gato no colo e foi até o quarto pegar um pouco de dinheiro no cofrinho cor-de-rosa em formato de porco. Arya pegou sua antiga bicicleta, colocou o bichano na cesta da bicicleta e pedalou até o Pet’s Saloon, um pet shop que ficava no final da rua. A garota pagou para a recepcionista, entregou o animal e esperou sentada lendo uma revista. Pet News – Celebridades sobre quatro patas. Após uma hora o gato voltou outro. Parecia um pompom de líder de torcida só que feito de pêlos e com bigodes. Sua pelagem estava sedosa, brilhante e cheia e seus olhos verde-limão contrastavam bem com o corpo escuro. Briana comprou uma simples cama para gatos e um pacote pequeno de ração sabor peixe por não ter trago muita grana. Pediu que entregassem a cama em sua casa já que na bicicleta só tinha espaço para a ração e para o animal. Ao percorrer o caminho de volta para casa pedalando com o gato na cesta da bicicleta a garota viu uma senhora deixar as sacolas de compras caírem no chão após sair do supermercado apressada. Briana não pensou duas vezes e após colocar estacionar sua bicicleta no bicicletário da calçada ajudou a mulher, juntado suas sacolas e a entregando. A senhora sorriu e disse em tom meigo:
– Obrigada querida! São raros os adolescentes corteses como você...
Briana pegou sua bicicleta novamente, viu se o gato estava confortável e ao passar pela senhora se assustou quando a mulher disse em tom nervoso olhando para a cesta da bicicleta:
– Você nunca soube que gatos pretos dão azar? Tomara que eu não tenha pegado...
E andou o mais rápido que conseguia para a outra direção da rua equilibrando as sacolas que balançavam. Briana riu e disse para o bichano, o acariciando:
– E ainda existem pessoas que acreditam nessas superstições. Espera aí, eu acabei de ter uma ótima ideia! Vou te chamar de Sortudo para provar que essas superstições não são reais.
Ela o afagou novamente e rumou para casa. Guardou a bicicleta na garagem e observou a Lua que surgiu no céu. Quando entrou em casa com seu novo companheiro viu que a televisão estava ligada. No sofá Tripp se encontrava cochilando e rocando. Briana preferiu não acordar o irmão para contar sobre Sortudo, por isso deixou o irmão continuar desmaiado no sofá. Ela foi até a cozinha, pegou dois potes pequenos, foi até o quarto, pegou um marcador permanente e escreveu RAÇÃO em um e ÁGUA no outro. Em seguida encheu os potes. Trim! A campainha tocou. Briana abriu a porta da sala, assinou alguns papéis e pegou a cama de Sortudo subindo rapidamente para coloca-la ao lado dos potes. O bichano se acomodou após se alimentar e cochilou rapidamente. De repente Tripp bateu na porta, abriu-a e colocou a cabeça para dentro dizendo após um bocejo:
– O jantar está pronto, venha! De quem é esse...
O garoto disse as últimas palavras olhando surpreso para Sortudo que ronronava adormecido. Briana sorriu e disse após olhar do irmão para o bicho:
– É meu gato. Ele se chama sortudo e é o novo membro da família, quer dizer alguma coisa?
O garoto franziu o cenho fazendo Briana pensar que o irmão não gostara da ideia, mas logo abriu um sorriso e disse sussurrando:
– Seja bem-vindo Sr. Sortudo!
A garota contou sobre a lista de supermercado que encontrou e sobre como encontrou Sortudo após bebericar um pouco de suco de limonada. Após dar uma garfada nas costeletas de porco o rapaz disse:
– Papai sempre fazia listas estranhas de supermercado. Ele tinha comentado que faria um suéter para você no dia do seu aniversário além de uma torta de frutas vermelhas com castanhas e naquela semana muitos insetos tinham aparecido nos quintais da vizinhança...
Briana finalmente tinha entendido a ligação dos itens da lista. Ela se lembrou da mãe que sempre fazia essa torta no seu aniversário o que apertou seu coração de tanta saudade. Tripp quebrou o silêncio após perceber que a irmã pensava na mãe, dizendo:
– E por que você resolveu chamá-lo de sortudo?
Eles riram juntos após Briana contar como chegou a isso e o garoto comentar como tiraram o pé de Zack que ficou preso em um tambor. A garota desejou boa noite ao irmão e foi até o quarto pegar sua toalha para tomar um banho. Após se despir, entrar no chuveiro e fechar a cortina que ficava a sua volta ela relaxou com a água quente em sua cabeça e descia pelo corpo. Foi então que Briana percebeu uma silhueta humana atrás da cortina. O coração da garota congelou. No começo pensou que fosse Tripp, mas o garoto teria batido antes de entrar e se identificado. Foi então que a pessoa pegou algo de aparência parecido com uma lâmina e disse ao se aproximar bruscamente:
– Amor, eu trouxe o seu canivete!
A garota respirou aliviada ao reconhecer aquela voz. Era Melissa. E esse era o mesmo canivete com o qual Tripp tentara se suicidar. O garoto ganhou o canivete suíço com várias funções úteis do avô, antes dele falecer e foi o último presente que o avô querido o dera, por isso era especial. Briana disse antes que Melissa puxasse as cortinas:
– Sou eu a Briana, o Tripp deve estar no quarto dele...
A garota percebeu pelas sombras e silhueta que Melissa riu e tampou o rosto com as mãos.
– Ai me desculpe Briana! Eu realmente não sabia que era você aí porque o Tripp não estava no quarto dele e você geralmente fica trancada no quarto estudando e eu não quis te incomodar! Vou te dar licença e procurá-lo mais uma vez... - Disse a jovem rindo de constrangimento.
Após Briana ouvir os passos de Melissa descendo as escadas, ela foi até o quarto, colocou seu pijama, calçou as pantufas, secou os cabelos e em seguida os penteou. Ligou a luz do quarto para dar uma revisada nos livros de matemática e quando seus olhos procuraram Sortudo não o encontraram. Foi então que a garota ouviu os gritos de Tripp e o som de vidro se quebrando. Briana desceu as escadas correndo e quando chegou até a sala se deparou com uma bola de pêlos pretos rosnando agarrada no rosto de Tripp enquanto Melissa tentava arrancar Sortudo da face do namorado. O abajur da sala estava quebrado sobre o tapete. Briana não teve outra reação se não cair na gargalhada. Após alguns minutos Melissa conseguiu separar Tripp das garras do felino enfurecido. O rapaz estava com o rosto vermelho e com alguns arranhões. Sortudo correu para os braços de Briana e ficou ronronando enquanto a dona lhe fazia carinho.
Melissa pegou um copo de água para Tripp e após o garoto se acalmar contou o que tinha acontecido:
– Bom, eu estava indo beber um pouco de leite morno antes de me deitar e fui pegar minhas pantufas que estavam de baixo da cama. Foi quando vi Sortudo todo encolhido me observando com aqueles olhos verdes. Então eu me abaixei e tentei puxá-lo para que ele não se sujasse ou se machucasse no local no qual estava, mas não o alcancei então entrei de baixo da cama para pegá-lo e quando eu consegui ele surtou e fincou as garras na minha cara. No momento eu bati a cabeça nas tábuas da cama e fiquei meio tonto por um tempo...
Melissa e Briana riram. Então a namorada de Tripp disse:
– Eu devo ter entrado no quarto enquanto você estava tonto em baixo da cama, por isso não o vi...
Tripp passou a mão no rosto vermelho como um tomate e continuou:
– Então quando eu recuperei os sentidos vi que Sortudo tinha gostado de dormir agarrado no meu rosto, então tentei tirá-lo da minha face, ele começou a se debater e me arranhar de novo então sai de baixo da cama com dificuldade e vim tropeçando até a sala, acabei até quebrando o abajur. Até que Melissa tirou o gato de mim.
As garotas riram novamente. Melissa entregou o canivete suíço à Tripp, o beijou e disse já indo em direção à porta:
– Vim te entregar isto, sei como significa para você! Tenho que ir antes que fique mais tarde, tchau e boa noite para vocês!
A porta se fechou. Tripp estava com cara de bobo e tocava os lábios ainda pensando no beijo. Briana bocejou e disse ao irmão com a voz sonolenta:
– Boa noite Tripp! Vê se compra uma pomada para passar nessas feridas aí, tchau!
Sortudo pulou dos braços de Briana e entrou no quarto antes da dona. A garota colocou os livros no armário, deitou-se e apagou instantaneamente. Naquela noite ela sonhou com o bisavô, o que a fez acordar ainda sorrindo.
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