Olhe duas vezes! escrita por Misofonico
– Irmãzinha, eu disse que entregaria os presentes que comprei para a família amanhã antes do jantar – Disse Joshua sorrindo e parecendo não ter notado que falava com Briana – Na verdade eu acho que não a avisei sobre isso. Desculpe Emma – Concluiu o rapaz com uma risada envergonhada.
A garota Falk sentia uma mistura de sentimentos. Alívio por não ter sido morta, mas receio por não saber se Joshua estava mentindo e tentando parecer inocente. Ela apenas se virou e contemplou um par de olhos cor âmbar em meio à escuridão.
– Perdão, Joshua, mas sou Briana, a amiga de Emma que está passando a noite aqui – A garota afirmou forçando um sorriso amarelado – Não precisa se preocupar que não vou contar à ela sobre quando entregará os presentes.
– Eu é que preciso me desculpar. Desculpe por tocar em você sem ao menos ter essa intimidade - Falou o garoto tirando a mão do ombro de Arya e colocando-a junto à outra atrás das costas – E então... O que faz acordada às 03h56min da madrugada vagando pela casa? - Perguntou o rapaz consultando o horário no celular rapidamente.
– Gosto de andar um pouquinho quando estou com insônia, me relaxa – Mentiu a irmã de Tripp tentando soar convincente e sutil ao mesmo tempo.
– Estou acordado por ainda não ter me acostumado ao novo fuso horário, sabe? – Briana assentiu rapidamente e colocou a mão na maçaneta úmida – De qualquer forma, é melhor dormirmos agora se não acordaremos muito cansados amanhã. Boa noite, Briana!
A garota retribuiu a despedida e se jogou no colchão morno caindo em sono profundo instantaneamente, mas dessa vez sem pesadelos e muito menos sonhos. Mente vazia. Arya acordou quando a porta do quarto rangeu revelando a Sra. Fisher que viera acordar a filha e sua amiga para o café da manhã.
– Bom dia, Briana! – Exclamou a mulher após um bocejo – Venha comer antes de se arrumar para ir à escola – Terminou a mulher ao mesmo tempo em que Emma acordava com a repentina falação em seu quarto.
Em minutos a Sra. Fisher e as duas garotas já tinham descido, feito o desjejum e elas seguiam para a escola junto da luz do sol na manhã mais quente do mês até agora. Emma se despediu da mãe, pegou a mochila e acompanhou Briana que comentava sobre as aulas que teriam no dia. Pelos corredores só um assunto era comentado: A festa de Aaron Richards. Garotas mostravam seus belos vestidos para as amigas, garotos trocavam chaves de carro por dinheiro e Briana pensou ter visto um nerd comprar uma garrafa de Vodca de uma líder de torcida apressada. A órfã instantaneamente lembrou-se de que não tinha adquirido uma bebida alcoólica. Tripp se recusara a dar-lhe uma. Ela se sentiu mal ao pensar que não estaria realizando o desejo do irmão ao ir à festa sobre a qual ele a proibira. Mas se até um cdf, que comprara a bebida no corredor iria por que não ela? Além do mais Briana estaria cercada de pessoas conhecidas como Emma, Flynn e até o próprio Aaron que agora fingia gostar dela pela namorada. Foi então que Emma a puxou pelo braço em direção a sala de aula.
– O sinal já tocou Briana! – Disse a garota no caminho que parecia mais longo do que o normal – Vamos nos atrasar para a aula de física.
Elas entraram junto ao professor que segurava um grande copo de café e tinha suas olheiras mais profundas do que o normal.
– Todos em seus lugares, por favor – Disse o homem após um longo bocejo enquanto se acomodava em sua mesa de madeira.
Os alunos abriram os livros e logo ficaram cansados de tanto escrever fórmulas e resolver exercícios, que na opinião deles não seria útil no cotidiano. A aula de história com o Sr. Cameron passou num estalar de dedos. Era o professor favorito da classe. E por último, a aula de economia que, se estava competindo com a de física em ser chata ganhou. O sinal tocou anunciando a aula de esportes, que era opcional. Briana viu Flynn e Aaron saírem com um bando de garotos que riam e rugiam como uma espécie de grito de guerra. O namorado de Emma a beijou antes de sair com os amigos apressados. A ruiva tinha os olhos brilhando agora.
– Aula vaga! – Disse Briana entusiasmada – Quer ir comigo à biblioteca?
– Não vai dar, Briana – Emma falou tentando não soar feliz – Nós combinamos de ensaiar nessa aula vaga para as estaduais que estão chegando...
– Nós quem? – Soltou a órfã rapidamente.
– A equipe de torcida – Emma disse - Eu te avisei que a Dove me convidou e eu entrei, não? – Perguntou um pouco constrangida ao se lembrar de que não tinha dito nada.
– Devo ter esquecido... – A garota de óculos falou tristonha já indo em direção à porta - Mas de qualquer forma boa sorte. Espero que vocês ganhem!
A irmã de Tripp disse a última frase muito desanimadamente. Emma se sentiu culpada e puxou a amiga pelo braço.
– Espera Briana – Emma falou – Não quero que se sinta mal por não ter conseguido entrar e muito menos que o fato de eu estar dentro seja algo que te humilhe. Nós ainda podemos almoçar juntas? – Perguntou a ruiva enrubescendo.
– Claro que podemos Emma – Briana abraçou a amiga e após se despedir chegou à biblioteca levemente chateada por não ter a amiga com ela e pela mentira de Dove ainda correr pelos corredores. A Sra. Jones, que era a bibliotecária, estava guardando livros que alunos tinham deixado espalhados pelo chão. A garota vendo aquilo se aproximou da senhora e disse já pegando alguns livros do chão:
– Se a senhora quiser posso te ajudar...
– Solte isso sua traça gigante – Gritou a mulher fazendo a dentadura tremer e tomando os livros da mão de Briana na mesma hora.
Briana saiu rapidamente do local e se sentou no fundo do corredor de estantes de livros onde Sam e Aaron tinham se sentado uma vez. Seu coração batia forte e seu corpo tremia devido o susto à reação da idosa sem educação. A garota pegou um livro de fantasia e tentou lê-lo para se acalmar, relaxar e o tempo passar, mas o tempo todo mais e mais pensamentos vinham a sua cabeça. Ela se permitiu fechar os olhos e um grande flashback veio a sua mente instantaneamente.
Ela tinha acordado com um barulho no meio da noite. Desceu as escadas e encontrou o conhecido tapete ensanguentado. Saiu pela porta escancarada e após alguns passos viu o corpo de seu pai sem vida com muito sangue. Ouviu um ruído metálico e ao descer as escadas após sair do quarto encontrou um gato vira-lata na cozinha. Depois estava no banho e viu a silhueta de alguém com algo afiado pronto para atacá-la. Chegou ao banheiro e o encontrou inundado de água e sangue com cacos do espelho por todos os lugares. Quem matou meu pai? Quem levou meu irmão? Quem quer tirar a minha vida? Na sala o porta-retratos da família caiu no chão após Tripp esbarrar e caiu no chão se partindo em cacos, mas agora estava coberto de sangue. A família sorria nem imaginando o destino que levariam um dia. Briana acordou com um baque surdo. Ela se virou e viu que uma garota tinha derrubado um livro no chão. A órfã sentia o corpo gelado e arrepiado. Percebeu que seus olhos estavam úmidos devido à formação de lágrimas. Ela colocou o livro no lugar em que o pegou e saiu da sala acompanhada do sinal que anunciava o almoço com um objetivo, um propósito, um desejo: Pegar o responsável por tentar dar fim à sua família e não ser levada pela morte também. Ao chegar à mesa do refeitório com sua bandeja de almoço Briana não viu nenhum sinal de Emma. Ao olhar para o lado observou Flynn, Aaron e o time de basquete comendo de maneira grotesca, rindo muito alto e fazendo brincadeiras idiotas com os guardanapos. Garotos pensou a menina. Continuou a procurar Emma e foi se deparando com mais e mais mesas cheias. Nerds, góticos, patricinhas, artistas e se sentiu deslocada instantaneamente. Todos se encaixavam em um grupo menos ela. Briana não queria aceitar essa triste realidade. Não passara por tudo isso para ficar sozinha. Ela reparava que olhares cercavam a mesa de uma só garota. O que ela fez? Por que está sozinha? Deviam ser pensamentos dos outros estudantes. Foi então que as líderes de torcida chegaram, acompanhadas dos olhares de todo o refeitório. Briana logo viu Emma gargalhando ao lado de Dove. Um sentimento de inveja e ciúmes surgiu em seu coração. E se ela estivesse no local de Dove? Seria popular, requisitada e amada por todos. Mas esse desejo de doce tornou-se amargo. A garota observou Dove empurrar um garoto gorducho no chão, fazendo-o se sujar todo. Dove era má, soberba e egoísta. Briana afirmou para si mesma que não deveria querer ser outra pessoa. Devia se orgulhar de quem era. Talvez fosse a única garota daquele refeitório que perdeu o maior número de entes queridos num curto período de tempo e não se rebelara contra a sociedade com um sentimento de revolta. Continuava a ser boa e para ela isso era impagável. Briana se sentiu orgulhosa de si mesma e mais confiante. Ao voltar seu foco para a hora do almoço notou que Emma estava sentada ao lado de Aaron. A equipe de basquete e torcida tinham juntado duas grandes mesas e agora pareciam mais felizes do que nunca. Por um segundo ela sentiu que o motivo das risadas era ela após Dove ter piscado para Briana. Uma lágrima quente correu o rosto da órfã solitária. Ela a secou com as costas da mão e resolveu ir ao banheiro lavar o rosto e manter-se calma. Entrou no local vazio e se achegou a pia. Observou seu rosto no espelho por um momento.
– Você é forte, Briana Falk – Disse para si mesma com uma sensação de solidão – Você vai passar por isso sozinha!
Outra lágrima morna desceu por sua bochecha. Briana sentia raiva de si mesma por estar chorando. Não queria sofrer por não possuir amigos, por não ter família, por ser uma adolescente a caminho da vida adulta sem ter com quem contar, sem um objetivo dadas as circunstâncias. Era só ela por ela. Respirou fundo, abriu a torneira e lavou o rosto. Sentia o contraste da água fria com seu rosto quente. Alívio instantâneo. Naquele momento nenhum pensamento estava em sua mente. Foi então que a garota sentiu um par de mãos se fecharem ao redor de seu pescoço. Ela não conseguia virar a cabeça para ver quem era, o que a deixava mais agoniada. Um batom fora colocado no ralo da pia impossibilitando a água de escoar. Um tanque estava se formando e ela iria se afogar. Briana tentava usar os braços que estavam nas costas para empurrar quem estava tentando matá-la, mas foi em vão. Tentou chutar e também falhou. Briana percebeu que se chorasse suas lágrimas ajudariam a encher a pia e assim tirar sua vida. Então respirou fundo e tentou manter o fôlego preso. As mãos agora apertavam seu pescoço mais e mais e ela conseguia sentir sua vida indo embora. A essência da garota se findava. Sua voz clamando por socorro não podia ser ouvida debaixo d’água. Era o fim. Ela sentia o coração bater mais lentamente, a água entrando em seu nariz, orelhas e sua boca que já não tinha forças para se manter fechada. Ela concluiu que ali a família Falk se encerraria. O pior de tudo era que ela nunca descobriria quem era o autor daqueles assassinatos. Foi então que a garota ouviu o som de um golpe e alguém urrando de dor. Briana foi retirada da pia e lançada no chão do banheiro. Sua visão estava embaçada e ela observava duas pessoas lutando. A garota sentia o nariz arder ao entrar em contato novamente com o oxigênio. Briana respirava vagarosamente tentando continuar viva quando o confronto acabou com o barulho do sinal que alertava o fim do almoço.
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