Rose ainda olhava com um ar desconfiado para Victor, o homem a sua frente que para ela era um total desconhecido, como se não acreditasse nas palavras que o rapaz havia dito alguns minutos antes. A menina, com o medo estampado no rosto, deu alguns passos em direção a mãe, e como um bichinho acuado, agarrou-se em suas pernas, protegendo-se.

— A minha mãe disse que eu não tenho papai.

— Ah, mas então ela contou uma mentira muito grande, tão grande quanto aquela árvore ali. - Disse o homem apontando para o seu lado direito.

— A mamãe diz que não se deve contar mentiras porque é muito feio.

— Victor, por favor, nos deixe em paz e vá embora! – pediu Hermione.

O homem então ficou novamente de pé e encarou o olhar de medo da morena. Ele sabia que aquele era o seu ponto fraco, e não mediria esforços para conseguir seu objetivo, mesmo que para isso precisasse usar a pequena Rose.

— Sabe, Hermione, eu achava que você era uma garota inteligente, de verdade, mas vejo que não é bem assim, não é mesmo? Acho melhor colaborar comigo, afinal você não ia querer me ter como inimigo, posso tirá-la de você quando quiser!

— Por favor, vá embora. Deixe-nos em paz! – O nervoso era tão grande que fazia suas pernas e braços tremerem diante da ameaça de perder a filha.

— Eu vou, mas não porque esteja me pedindo, e sim porque tenho assuntos importantes a tratar. Não pense que deixarei as coisas assim. Eu voltarei, e da próxima vez não terá como fugir de mim. Não sabe do que sou capaz, Hermione. – Ele aproximou-se ainda mais da morena com um ar sedutor e ao mesmo tempo ameaçador... – Acho que ainda se lembra dos meus amigos, não é mesmo? Eles ficaram tão chateados por não poder participar da nossa festinha particular que eu poderia organizar uma outra, mas dessa vez com a participação de todos!

Victor enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans que vestia e virou as costas para ambas, indo embora como havia dito poucos segundos antes. Rose permanecia imóvel, totalmente agarrada às pernas da mãe, que por sua vez tremia em pânico. Depois que o ex-namorado fora, de fato, embora, Hermione desabou no pequeno banco feito de concreto, agarrando-se a menina que continuava sem entender o que acabara de acontecer.

— Mamãe é verdade o que aquele moço disse? Ele é o meu papai? - Hermione acabou não respondendo a pergunta feita pela filha, e com o medo que sentia por dentro agarrou-a e a pegou no colo para irem para casa.

No pequeno trajeto que faziam, o coração da jovem apertou-se ainda mais ao notar, poucos metros à frente, a presença de Rony. O ruivo fazia uma sessão de fotos de um casal quando sua atenção fora desviada ao ouvir seu nome sendo chamado através de uma voz de criança. Era Rose, que corria já em sua direção. O rapaz pediu alguns minutos ao casal e caminhou até elas, abraçando fortemente a menina.

— Você voltou! - Disse ela entusiasmada. - Tava com tantas saudades.

— Eu também estava, princesinha. Queria muito ver v... - ele deu uma pausa, olhou diretamente para Hermione e depois novamente para a menina - ... você. Mas me diga, está bem, está indo para a escola direitinho, está comendo direitinho, está obedecendo a sua mãe?

— São tantas perguntas, faz uma de cada vez! - respondeu ela risonha.

— Rony se quiser podemos continuar a sessão mais tarde, assim você pode aproveitar a sua filha. - Disse a mulher inocentemente achando que Rose era, de fato, filha do rapaz.

— Ela não é... - começou ele, ficando com as orelhas roxas de vergonha - ... eu não ... sou o pai dela.

— Ai meu Deus, me desculpe! Eu achei...achei, ah, deixa pra lá. Mil perdões. - A mulher tornou a desculpar-se várias vezes até que o ruivo disse não ter absolutamente nenhum problema.

— Ia ser muito legal se você fosse o meu papai, e não aquele outro moço.

Hermione que até aquele momento não havia dito nada, chamou a atenção da menina quando notou até onde aquela conversa chegaria. Rony, notando o mesmo, levantou-se e foi até o casal que o esperava, pediu que continuassem em outra hora e voltou ao lugar onde ambas o esperavam. O ruivo notou que havia acontecido algo de diferente e que a morena estava nervosa, e logo achou uma forma de poder tentar ajudá-la.

— Rose, gostaria de tomar um sorvete de chocolate bem grandão? – O sorriso da menina foi de um lado ao outro do rosto e sem esperar uma resposta da mãe, a pequenina pegou a mão do ruivo e começou a caminhar em direção a sorveteria. Rony meneou a cabeça para Hermione, indicando que ela fosse junto, e como se uma voz gritasse em seu peito, ela o acompanhou.

Enquanto Rose se deliciava com o sorvete, a morena contava ao rapaz o que havia acontecido poucos minutos antes.  Por mais que sua cabeça dissesse que Rony não era digno de confiança, seu coração dizia totalmente o oposto, e como uma avalanche, despejou tudo o que Victor havia falado, inclusive a suporta ameaça de lhe tirar a menina.

— Se eu pudesse daria um jeito de sumir com esse cara da face da Terra! – Disse o ruivo com punhos fechados, expressando sua raiva.

— De nada adiantaria, Victor já tem tudo planejado. Não posso deixar que corra perigo por minha culpa! – Exclamou ela nervosa. Rony pegou em sua mão passando-lhe toda a tranquilidade que podia.

— Me deixe protegê-las! Prometo que não forçarei a barra para que volte a ser como era antes, mas não posso ficar de braços cruzados! Por favor... – A morena não esperou que ele terminasse sua frase. Simplesmente jogou-se em seu abraço, liberando todo o medo que ainda sentia.

— Me desculpe Ron! Me desculpe por ser uma estúpida, por achar que por sua culpa ele apareceu, por não confiar, nem enxergar que a minha vida é uma verdadeira droga sem você! – Rony apertou-a ainda mais contra seu peito e por minutos ficaram abraçados.

— Eu prometo que nada de ruim acontecerá com nenhuma das duas. Nem que para isso eu precise dar a minha vida! – Disse ele firmemente assim que saíram do abraço, fitando-a profundamente, o azul no castanho.

— A gente vai voltar para a sua casa, Ron? – Perguntou Rose, com a boca lambuzada de sorvete de chocolate.

— E então Hermione, aceita voltar para a minha casa? – Perguntou ele com um meio sorriso nos lábios.