Quanto mais os dias passavam, mais Rony se via envolvido pelos encantos de Hermione. A jovem de cabelos castanhos e fofos vinha lhe fazendo perder o sono, não só por sua beleza ou seu jeito turrão, mas também pelo receio de que ela descobrisse que era ele o fotógrafo misterioso a usar suas fotos no site.

Rony queria contar-lhe a verdade, entretanto, tinha plena ciência que quando o fizesse a morena se revoltaria e sumiria de sua vida, e essa não era uma opção válida para ele.

Com Hermione não era muito diferente. A jovem ficava constantemente perdida em pensamentos a respeito do ruivo. Por mais que tentasse não conseguia mais tira-lo da cabeça, principalmente pelo jeito como Rose se afeiçoou à ele, e ele à ela.

Na semana seguinte ao passeio na Quinta da Boa Vista a morena desculpou-se com o amigo e professor de matemática, Harry Potter, pelo jeito como o tratou quando o rapaz tentou ajudar o cunhado, e contou-lhe ainda que havia aceitado o convite do ruivo. Harry arregalou os olhos pela surpresa ao ouvir a amiga dizer que saiu em um encontro.

– Não faça essa cara de deboche pra mim! - Ela falou, semicerrando os olhos para ele.

– Não é deboche, é surpresa mesmo. Hermione Granger em um encontro? Te conheço há anos, e é a primeira vez que vejo isso acontecer. Hoje nem os monstrinhos do último ano conseguirão me tirar do sério.

– Vai levar outra borracha na testa! - Grunhiu ela divertidamente.

– Nem vem, da última vez ficou uma marca, e ainda está doendo.

– Nossa, deixa de ser exagerado, Harry.

– Ora, ora, ora vejam só, fizeram as pazes. - Disse Draco ao entrar na sala dos professores acompanhado por Astoria.

– Já não era sem tempo, não aguentava mais esse quatro olhos reclamando nos meus ouvidos como um bebê chorão. - Falou Simas, o professor de Química.

– Cala a boca Simas!

Hermione até tentou, mas não conseguiu segurar o riso, contagiando a todos na sala. Harry pegou sua mochila, os livros que estavam em cima da mesa e se direcionou a porta.

– Vou dar aula para aquelas pestes. Pelo menos lá eu tenho poder!

– Que poder? - Indagou Simas sarcasticamente. - Você diz que eles não param quietos nem ameaçando a aplicar prova surpresa.

– Isso é...é só um detalhe. Não enche Simas. - Harry respondeu antes de sair completamente da sala.

Hermione permaneceu na sala, pois não daria aula no tempo seguinte. Pegou o celular para abrir o site do fotógrafo misterioso e para a sua surpresa suas fotos já não estavam mais ali. Uma onda de alívio e alegria tomou conta de si. Estava finalmente invisível outra vez.

[...]

Com a chegada do fim de semana Rose ficou animada e ansiosa, afinal iria encontrar Rony novamente e queria mostrar-lhe Perebas, o cachorrinho vira-lata de estimação.

O ruivo chegou por volta das nove horas da manhã na casa de pedrinhas laranjas. Não precisou nem tocar a campainha, pois a menina já o esperava sentada na varanda e mostrou um enorme sorriso ao vê-lo.

– Onde está sua mãe, mocinha? - Ele indagou após o portão ser aberto e ter recebido um forte abraço de Rose.

– A mamãe ta terminando de se arrumar. Ela demora demais, já trocou de vestido umas três vezes. - Explicou inocentemente, fazendo Rony sorrir.

– Então vou esperar aqui.

– Não Rony! - Exclamou veemente. - Vamos entrar, quero te mostrar o Perebas.

E sem esperar o ruivo foi praticamente arrastado pela menina para o interior da casa. Rony reparou que era tudo muito bem limpo e organizado, algo difícil de se ver em uma casa com crianças. O rapaz lembrou-se até da época em que Gina e ele eram pequenos e a casa vivia sempre do avesso e ali era exatamente o oposto. Rose o deixou na sala e correu até onde estava o cachorro , trazendo-o envolvido em seus bracinhos curtos.

– Esse aqui é o Perebas. - Ela disse, sentando-se ao lado de Rony. - Diz oi pra ele.

– Rose estou... - Hermione ia dizendo ao chegar na sala, parando de súbito ao notar uma presença masculina. - ... Por que não me disse que o Rony já estava aqui?

– Queria que fosse uma surpresa, mamãe.

– Depois teremos uma conversinha, mocinha. - Hermione disse em tom de reprovação. - Bom, estou pronta.

– Uau, você está... - Rony procurava alguma palavra para descrever o que seus olhos viam naquele momento. Hermione tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo, trajava um vestido azul royal rendado com sapatilhas na mesma cor e um fino cinto dourado apenas para dar forma as suas belas curvas, e sua maquiagem não muito forte era apenas para realçar seu rosto de boneca. - ... deslumbrante.

– Espero que a sua mãe realmente não se incomode com essa sua maluquice de nos levar para passar o dia lá. - A morena falou mudando completamente o rumo da conversa.

– Eu só espero é que vocês tenham estômago para aguentar a quantidade de comida que tem naquela casa hoje! - Rony levantou-se so sofá com Perebas ainda em seu colo e se encaminhou em direção à porta.

– Onde vai com o cachorro? - Indagou a jovem.

– Levar ele com a gente, ora. - Rose só não pulou de alegria porque sabia que seria repreendida pela mãe. - Acha mesmo que deixaríamos ele aqui sozinho e com fome?

– Você precisa de um hospício, é completamente sem juízo!

– Na verdade, você é quem precisa de um pouco de diversão! - Disse dando uma discreta piscada para a morena. - Agora vamos, antes que minha mãe surte naquela cozinha.

A casa dos Sr. e Sra. Weasley não ficava muito distante de onde Hermione e Rose moravam. A menina brincava divertidamente com Perebas enquanto Rony dirigia pelas movimentadas ruas da cidade. Assim que chegaram na casa puderam sentir o doce aroma de frutas vindo da cozinha, a Sra. Weasley preparava geleias de diversos sabores diferentes.

– Mãe chegamos! - Chamou Rony, tirando-lhe toda a concentração. A velha senhora de cabelos tão vermelhos quanto os do filho limpou as mãos em um pano de prato e foi até a sala onde estavam os outros.

– Olá, sejam muito bem-vindas. Fiquem à vontade. - Disse ela com o olhar gentil.

– Muito prazer, Sra. Weasley, sou Hermione e essa é minha filha Rose.

– Sem formalidades, minha querida, me chame de Molly, não há problema nenhum. Olá Rose, você é linda, sabia! E esse quem é?

– É o Perebas. - Disse a menina timidamente tentando esconder-se por trás de Rony.

– Eu não queria traze-lo, mas seu filho insistiu.

– Não tem problema nenhum, eu adoro animais. Temos um gatinho também, o Bichento. Ele já é bem velho e adora o Roniquito.

– Mãe, por favor!

– Que foi, querido?

– Esse apelido, esse é o problema. E mais, aquele gato me odeia, vivia me arranhando quando eu era criança e ainda morava aqui.

Rose gargalhou ao ver o estado de pânico ao qual Rony ficou ao lembrar de sua infância traumática por culpa do velho gato da família. Sem nenhuma cerimônia o ruivo mudou o assunto e perguntou se a irmã havia aparecido. A Sra. Weasley confirmou e disse que James dormia no quarto antigo da ruiva, mas que não tardaria a acordar, o que de fato aconteceu, já que o menino vinha descendo as escadas sonolentamente naquele mesmo instante.

– Tio Ron! - O garotinho moreno de olhos tão azuis quanto o céu alegrou-se verdadeiramente ao ver o tio e correu para dar-lhe um abraço apertado. - Vovó porque não me contou que o tio Ron vinha pra cá?

– Era uma surpresa. - O rapaz respondeu e continuou em seguida. - Além do mais eu queria que conhecesse a Rose!

A menina estava séria, com os olhos fixos em Perebas, o cachorro vira-lata, contudo, vez ou outra olhava na direção do menino.

– Oi eu sou James. - Ele disse indo até ela, pegando sua mão e apertando em forma de cumprimento.

– Sou Rose. - Ela respondeu meio assustada por ter a atenção de Rony dividida.

– Uau você tem um cachorro! Lá em casa tem um também, mas o Almofadinhas já é grande demais.

– Almofadinhas? Isso é nome?

– Não sei, meu pai quem escolheu. - Por um milésimo de momento os olhos da menina brilharam. Rose sempre desejou ter um pai. Em seus poucos anos de vida, a menina não entendia o porquê que todos os seus amiguinhos tinham um pai e uma mãe e ela era a única que não, a única diferente.

– Eu não tenho um pai, nem vovó. Só tenho o tio Neville, a tia Luna, os gêmeos e a minha mamãe. - Hermione estava pronta a mudar o rumo do assunto quando Rony a impediu, mostrando que James planejava alguma coisa, e estava certo. O menino, que era muito esperto, foi até a Sra. Weasley e puxou-lhe pela mão até onde a menina estava.

– Olha Rose, já que você não tem vovó, eu te empresto a minha. Ela é muito legal, e faz muitas coisas gostosas.

– Mesmo? - Questionou surpresa, mas dessa vez com um brilho diferente nos olhos. James confirmou com a cabeça, e a Sra. Weasley assentiu, abaixando-se para ficar na mesma altura que a menina.

– Sim, minha querida, vou ser sua vovó emprestada, se sua mãe concordar, é claro. Sempre quis uma netinha para fazer par com meu menino. - Rose olhou esperançosa para Hermione como se pedisse permissão para poder aceitar algo tão singelo, mas que tanto desejou. A morena, que estava um pouco emocionada com a atitude do pequeno menino, aceitou de imediato fazendo com que a menina deixasse o cachorrinho no chão e desse um grande abraço na velha senhora.

– Você quer brincar? - Indagou James ansiosamente na intenção de ir até o quintal, porém, já pegando na mão da menina e levando-a para fora.

– Bom, fiquem a vontade, eu vou voltar para a minha cozinha. - A Sra. Weasley falou alegremente. Hermione ainda se ofereceu para ajudar, mas foi barrada logo no primeiro passo. - Não, não, minha querida. Você é visita, além do mais, eu adoro estar na cozinha.

Rony que apenas assistia a cena convidou a morena para ir até a varanda da casa, dessa forma poderiam conversar e tomar conta das duas crianças. Ficaram sentados em duas confortáveis poltronas enquanto a garota apenas olhava tudo com muita atenção.

– O que está pensando? - Ele perguntou curioso.

– Se você é algum tipo de psicopata tentando ganhar minha confiança para depois me matar. - Hermione tinha uma das sobrancelhas arqueadas, e Rony não resistiu em gargalhar pelo comentário feito.

– Estou falando sério, coisinha irritante.

– Irritante, eu? Você é quem fica atrás de mim o tempo todo e eu sou irritante? Precisa rever seus conceitos.

– Sim, você é irritante! Sabe que eu estou como um cachorrinho aos seus pés e mesmo assim me esnoba, isso irrita, sabia?

– Não procuro um relacionamento, Ron. - Ela disse praticamente aos sussurros, olhando diretamente para os pés. Rony notou que havia uma certa mágoa em suas palavras, mas não pôde deixar de sorrir pelo modo como Hermione chamou seu nome. Com uma das mãos ele pegou em seu queixo e o levantou, fazendo-a olhar dentro de seus olhos azuis como o fundo de um oceano.

– Eu também não procurava, mas alguma coisa em você mexeu comigo, e toda vez em que eu te vejo a vontade que tenho é lhe segurar e não largar mais, e é isso que me faz ter paciência de esperar que o seu coração se abra pra mim. - Hermione segurou em sua mão, e permaneceu calada, apenas mantendo seu olhar no ruivo. Algo dentro de si, seu coração talvez, lhe dizia que podia confiar naquelas palavras, mas sua cabeça a guiava para o lado contrário, como um peixe que nada contra a maré. - Olha, não precisa falar nada, tudo bem? Vamos apenas deixar as coisas fluírem normalmente.

Hermione concordou e ambos permaneceram mais um pouco por ali, enquanto James e Rose se divertiam no quintal com Perebas até a hora em que a Sra. Weasley anunciou que o almoço estava pronto.

A mesa estava realmente muito farta. O Sr. Weasley apareceu pouco depois dizendo que o cheiro da comida estava tão bom que despertou seu estômago e o fez roncar como um trator, o que acabou gerando a risada de todos, principalmente das crianças.

– Pai, essas são Hermione, e aquela sentada do lado de James é a Rose. - Rony os apresentou.

– Ah, olá Hermione. - O senhor a cumprimentou e em seguida virou-se para Rose. - E olá princesinha.

– Muito prazer Sr. Weasley.

– Me chame só de Arthur. Me chamando de senhor aparenta que sou velho, e cá entre nós, eu ainda dou um belo caldo, não acha?

– Não liga para as piadas do meu pai, ele se acha o garotão.

– Agora sei de onde você herdou o dom das piadas. - Hermione respondeu divertida.

– Ei Rose. - James a chamou. - Eu também te empresto o meu vovô.

O Sr. Weasley olhou sem entender sobre o que as crianças falavam, e James explicou detalhe por detalhe do combinado que haviam feito algumas horas atrás.

– Ei Molly, sabia que agora temos uma netinha linda? Agora você pode fazer aqueles cachecóis horríveis de natal para a pequena Rose também! - Suas falas foram interrompidas pelo peteleco que levou da esposa.

– Acho melhor comermos logo, antes que eu lhe coloque pra dormir no sofá!

– Mãe, Harry e Gina não vêm para o almoço?

– Ah não querido. Eles disseram que tinham algumas coisas pra comprar, por isso deixaram James aqui.

– Não é nada disso, vovó. Eles querem que eu não saiba da minha festa de aniversário, mas eu já sei de tudo!

– Quando foi que o mocinho ficou tão esperto? - A Sra. Weasley perguntou com as mãos na cintura. James riu e apenas deu de ombros.

O almoço correu na mais perfeita harmonia. Rony comeu até não aguentar mais, e para sua surpresa Rose também comia demais. Se a conhecesse há mais tempo diria com toda certeza que algumas manias ela teria aprendido com ele, afinal ela era uma verdadeira cópia sua, com a diferença que era extremamente parecida fisicamente com Hermione.

Ao final da tarde o ruivo as levou em casa. Rose dormia tranquilamente no banco traseiro do carro, e Perebas dormia também.

– Prontinho, estão entregues. - Rony falou calmamente.

– Obrigada, foi um dia realmente muito agradável, seus pais são muito engraçados. Adorei os dois!

– É o charme dos Weasley, se bem que a Gina herdou a parte antipática! E se depender de mim, terão muitos outros!

– Rony, não comece...

– Ta bom, ta bom, desculpe. - Ele respondeu com as mãos em rendição.

– E sua irmã não é antipática. Na verdade quando os conheci eu preferi ela a você.

– E agora prefere a mim então? - Perguntou maroto com uma sobrancelha arqueada.

– Bom, estou indo. Um bom fim de domingo para você. – Ela respondeu, mudando o assunto.

Meio que instantaneamente Hermione foi despedir-se de Rony com um beijo no rosto e por poucos milímetros não acertou em seus lábios. Ambos fitaram-se intensamente por cerca de dois segundos e em seguida a jovem desceu do veículo. Abriu o portão para que Perebas entrasse e pegou Rose no colo, levando-a para dentro da casa e despedindo-se de Rony em seguida.