Ouviu o barulho das cortinas sendo abertas e a luz forte que inundou o local fez com que cerrasse os olhos. Piscou-os algumas vezes, acostumando-se com a claridade. As imagens foram desembaçando em lentidão, mas pôde reconhecer o estranho tom de cor de rosa prontamente.

Soltou um breve sorriso, observando Sakura enquanto ela erguia seu colchão e o fazia ficar devidamente sentado.

— Ohayo, Kakashi-sensei. Já está se sentindo melhor? — perguntou, se virando rapidamente para pegar a bandeja que tinha posto em cima do pequeno sofá, logo a colocando no colo do seu mais novo e querido paciente.

Kakashi encarou a comida, percebendo o quão feliz ficaria se ela agradasse seu estômago tanto quanto agradou seu olhar. — Você quem fez?

Sakura assentiu, um tanto incomodada por não obter nenhuma resposta de sua pergunta anterior. Sabia que Kakashi ainda sentia dor – percebeu quando ele se movimentou para se sentar e fez uma careta dolorosa mal disfarçada – e ter conhecimento sobre o nível de seu incômodo certamente a ajudaria a desenvolver os tratamentos adequados para ele, mas tinha noção de que seu sensei era seguidor fiel da ideia de que “não se pode mostrar dor em frente a uma garota.” Naruto e Sasuke compartilhavam do mesmo pensamento, o que a sempre irritava em meio a missões com seus companheiros.

Suspirou, seus músculos ficando tensos só com a imagem do Uchiha em sua cabeça.

“Aquele estúpido”... – cerrou os punhos, tentando se controlar.

— Ano, Sakura... — voltou sua atenção para Kakashi, sorrindo ao constatar que metade do prato já estava vazio. — Me conte sobre o que tem feito durante esse tempo em que eu estava em missão. Espero que Tsunade não te tenha trancafiado nesse hospital.

Sakura sorriu. Kakashi afastou suas pernas dando espaço suficiente para que a kunoichi se sentasse na cama.

— Bom... — refletiu um pouco, pensando por onde iria começar — Nos primeiros meses eu passei a maior parte do tempo alternando entre a minha casa, o escritório da shishou, o hospital e... – freou suas palavras. Pelo olhar de Kakashi, ela sabia que ele tinha entendido qual era o outro lugar que ela, incansavelmente, não parava de visitar. Pigarreou, logo voltando para a sua narrativa: — Me preocupei bastante em evoluir minhas habilidades médicas e, de acordo com Tsunade-sama, logo poderei tomar a frente do hospital!

Mesmo usando sua típica máscara e não tendo certeza se Sakura pôde perceber, Kakashi se permitiu sorrir; seu peito enchendo-se de orgulho. Sua aluna havia evoluído tanto... Não era mais aquela garotinha amedrontada de doze anos, sempre sendo protegida por seus companheiros de equipe. Agora ele sabia que Sakura era capaz de cuidar de si mesma e, a cada dia que se passava, se tornava uma grande mulher. Notou até uma leve mudança em seu olhar; um brilho de determinação e força refletido em seus orbes verdes, algo que não tinha reparado antes. Não sabia o motivo daquilo, porém ficou feliz por ela de qualquer forma.

Fez uma anotação mental de que ainda ficaria de olho em Sakura. Não que fosse do conhecimento de muitos, mas a considerava como sua própria filha. Veja bem, ela não tinha família há anos e mal podia se lembrar de suas memórias com o pai e Kakashi, com o passar do tempo, foi capaz de perceber que a menina passou a vê-lo como uma imagem paterna.

Mesmo que inconscientemente, ele também começou a olhá-la como se fosse de sua família.

Voltou a se satisfazer com sua refeição, ouvindo Sakura atentamente.

— A Ino que me forçou a cortar meus cabelos. Às vezes eu sinto falta dos meus fios longos, mas aprendi a gostar deles desta forma. Você também gostou do meu novo visual, Kakashi-sensei? — balançou a cabeça de forma dramática, soltando um riso e sendo acompanhada por Kakashi.

— Sim, sim. — respondeu — E os treinos, como estão? Bateu muito na cabeça do Naruto? Diga que sim.

Sakura deu-lhe um leve tapa no braço.

— Na verdade, faz um tempo que eu não treino. Não com os garotos, pelo menos.

Kakashi enrugou a testa. — Só com Tsunade, então? — questionou.

— Sim, com ela. — mordeu o lábio inferior, apreensiva. Pensou um pouco, mas no fim das contas àquele era o seu sensei então não tinha porque ter um medo bobo de contar algo para ele. — E também com Itachi...

Kakashi arregalou os olhos. — Você-... — pigarreou — Sakura, você e o Itachi... Vou matá-lo!

— Não! — exclamou, chegando à mesma linha de raciocínio que o Hatake. — Não, Kakashi-sensei! Ele só está me ajudando a treinar! Por Kami-sama. Itachi–san é como um irmão pra mim!

Aquilo, incrivelmente, trouxe uma dose de alívio imediato para o copy-nin. — Ótimo. — disse seco encarando seu prato, agora já vazio.

Sakura sentiu seu rosto em combustão e poderia apostar sua face já adquiria uma coloração vermelhava exagerada, mas não pôde evitar se inclinar sobre a cama; as mãos paradas nas bochechas de Kakashi e as apertando com demasiada força.

— Você fica tão fofo quando está com ciúmes, Kakashi–sensei. Mas, não se preocupe, você ainda é o meu shinobi preferido. — lançou uma piscadela, dando uma gargalhada gostosa ao notar o embaraço do homem a sua frente.

— Own! Como eles são kawaii! Kakashi-sensei, quer um ursinho e um copo com chocolate quente? — se virou para a porta a tempo de ver Naruto encará-los, claramente achando graça da situação. Sasuke estava ao seu lado observando-os com um sorriso de canto.

— Cale a boca, baka! — retirou as mãos das bochechas de Kakashi que soltava alguns resmungos, amaldiçoando Naruto.

Sakura se levantou levando junto consigo a bandeja que estava posta a cama. Aproximou-se de Kakashi, dando um beijo casto na cabelereira branca. — Já está na minha hora. Mais tarde passo para trazer sua janta. Não faça nenhum esforço desnecessário, hein!

— Tsc. Pare de agir igual à mãe dele. — o comentário ácido fez os pelos de sua nuca se eriçarem.

Mordeu o lábio inferior com força para, então, virar-se para Naruto – claramente ignorando o ser desprezível que estava ao lado do loiro. — Não o estresse, okay? Kakashi–sensei precisa descansar.

— Hai, Sakura-chan, já entendi. Dattebayo! — sorriu com a resposta de Naruto, passando por ele e também lhe dando um beijo, só que em sua bochecha.

— Bye, Bye, Kakashi-sensei e Naruto. — disse amorosa. Olhou para frente, notando que orbes negros a encaravam.

O Uchiha moveu-se para o lado dando espaço para que a garota passasse. — Sakura. — acenou com a cabeça em uma breve despedida.

— Sasuke. — respondeu-lhe da mesma forma – um tanto mais arisca, ele pôde perceber-, saindo apressada do quarto e mal reparando que olhos atentos a observavam até, em fim, desaparecer por entre o corredor.

Sasuke sentiu seu interior se retrair. Com Kakashi e Naruto ela se despedia de forma doce, mas e com ele?!

“Sasuke” - a voz dela, com um tom extremamente irritante, repetiu-se em sua cabeça. Era pra ter um sufixo ali. Ela deveria chamá-lo de Sasuke-kun e não somente de Sasuke. Aquilo lhe era impessoal demais e Sakura nunca agiu desta maneira com ele.

Mas, também, ele não se importava. Por Kami, ele era Uchiha Sasuke, e não dava a mínima para a forma com que as garotas lhe chamavam, ainda mais se essa pessoa fosse Sakura.

Principalmente, Sakura.

Que ela continuasse o tratando daquela forma estranha, que já estava durando mais tempo do que ele poderia imaginar. Foda-se ela e toda a sua rispidez. Foda-se ela e aquele maldito cabelo rosa.

Tudo nela era tão irritantemente... Irritante.

— Tsc. — encostou seu corpo na parede, cruzando os braços em frente ao peito. Olhou para Naruto e Kakashi, notando que seu autointitulado melhor amigo lhe encarava com um sorriso estampado no rosto. Um sorriso bem estúpido, em sua opinião. — O que foi, dobe?

— Você está tão chateado que a Sakura-chan mal se despediu de você. Não negue, teme. Está na sua cara. Hehe.

Sasuke revirou os olhos. — Como se eu me importasse com o que ela faz.

Naruto o ignorou, voltando sua atenção para seu sensei. — Sabia, Kakashi-sensei, que o teme e a Sakura-chan discutiram no dia em que você deu entrada no hospital? A Sakura-chan acabou com ele. Foi humilhante.

Kakashi ergueu as sobrancelhas, surpreso. Tinha percebido a áurea tensa que se instalou no quarto assim que Sakura tomou consciência da presença do Uchiha. Normalmente a garota lhe abriria o maior sorriso do mundo, logo pulando em sua direção e tentaria agradá-lo de todas as formas possíveis. Mas aquilo não aconteceu – Sakura até tinha saído do quarto como se estivesse fugindo – e não foi difícil para Kakashi chegar à conclusão de que algo entre aqueles dois tinha mudado.

Para a sua sorte um dos maiores fofoqueiros de Konoha estava a sua frente, pronto para dar-lhe detalhes sobre o que estava acontecendo.

— Fale mais, Naruto. — incentivou-o.

O Uzumaki se sentou na ponta da cama, cruzando suas pernas em forma de índio e encarou o copy-nin de forma agitada.

Kakashi riu da euforia do garoto.

— Você deve se lembrar de quando o eu e o teme te encontramos na entrada da Vila. — Kakashi acenou em concordância. Naruto afastou as imagens de seu sensei tão machucado por conta daquela maldita missão. Continuou sua narrativa: — Um ANBU estava perto naquela hora e eu pedi para que ele fosse até o hospital e contasse a Sakura-chan sobre o que estava acontecendo. Por isso que quando nós chegamos lá, ela já estava na entrada do hospital com uma maca e uma equipe médica pronta para te atender.

— Vá direto ao ponto, Naruto. — pediu. O olhar irritado que Sasuke lhes dirigia o fez ficar ainda mais ansioso para o que estava por vir.

— Quando a Sakura-chan estava te levando para o atendimento, o teme colocou a mão no ombro dela e a impediu de continuar. Ele perguntou quem que iria cuidar de você e, assim que a Sakura-chan disse que seria ela mesma, Sasuke perguntou se não tinha alguém, abre aspas, mais capacitado para tal função, fecha aspas.

Sasuke bufou. — Já chega, Naruto.

— Nah. Estou chegando na melhor parte! — ignorando o olhar assassino de Sasuke sobre si, virou-se para Kakashi e continuou a falar: — Assim que eu vi a Sakura-chan fechando os punhos, eu pensei que ela iria enfiá-los na cara metida do teme. Mas, ela só olhou pra ele e disse, abre aspas, não se meta em assuntos que não lhe dizem respeito, Sasuke. Não tem ideia das minhas habilidades e, mesmo que soubesse, não é ninguém para criticá-las. Queime no inferno, seu imbecil!, fecha aspas. Tá, a parte do inferno eu acabei de inventar, mas antes disso foi tudo verdade. Incrível, não é Kakashi-sensei?! O teme saiu de lá com uma cara de quem tinha uma comadre* no rabo!

A risada alta de Kakashi preencheu o quarto, logo sendo acompanhado por Naruto.

Sasuke quis socar suas cabeças, mas o Hatake ainda estava debilitado e, independente de tudo, não poderia feri-lo. O mesmo não se aplicou a Naruto, que coçou o local atingido por seu companheiro de equipe, mas logo voltou a dar risadas; mal se importando com a dor.

“Malditos”. — pensou, saindo do quarto e batendo a porta com exagerada força.

Longe daqueles que considerava imbecis ele poderia, em fim, organizar seus pensamentos.

Lembrar-se daquele acontecimento com Sakura fazia seu sangue ferver. Como ela ousava em falar com ele como se fosse qualquer um? Ele era um Uchiha, ao final das contas. Foi criado sabendo que os membros de seu clã deveriam ser tratados com o devido respeito, até porque eram conhecidos por cada canto do mundo ninja. Tinham uma reputação a manter. Nunca, em hipótese alguma, um membro do clã poderia deixar se rebaixar perante alguém. Era uma questão de honra não só com si mesmo, mas também pelo peso do sobrenome que carregava.

E, ainda sim, ele não foi capaz de dizer nada após as palavras ditas por Sakura. Viu a kunoichi desaparecer em passos rápidos por entre os corredores, desferindo ordens para seus subordinados como uma verdadeira líder.

Aquela, definitivamente, não era a Sakura que ele conhecia. A garota; não, a mulher que olhou naquele dia já não era a mesma que sempre lhe trazia tomates frescos, que deixava de lado seus afazeres para realizar as vontades do Uchiha e que preferia se jogar em sua frente para defendê-lo de uma simples kunai, aterrorizada com a ideia de vê-lo machucado.

Sasuke assustou-se com o rumo de seus pensamentos. Era quase como se ele...

Balançou a cabeça em negação. Não queria admitir que no fundo, bem lá no fundo, algo lhe dizia que ele sentia falta da presença irritante de Sakura. Mas tratou-se de se convencer que aquilo não fazia sentindo, até porque a garota não significava nada para ele.

Foi embora do hospital sentindo um gosto amargo na boca e com a estranha sensação de que estava mentindo para si mesmo.

(...)

Lançou uma kunai em sua direção, vendo Itachi desviar-se habilmente. Pulou em cima dele com o punho brilhando em chakra.

Itachi conseguiu se esquivar da kunoichi e encontrou uma brecha que lhe permitiu acertar as costelas de Sakura com um chute. Ela deu mais um pulo para trás, se afastando somente para curar-se e, em questão de segundos, mal parecia que tinha acabado de levar um ataque que deixaria qualquer um debilitado.

O Uchiha passou a correr em sua direção, Sakura notou que seu sharingan estava ativado. Ela não tinha porque se preocupar em cair em um genjutsu – sua segunda alma lhe garantia isso -, mas agora seria impossível realizar algum movimento sem que seu oponente o antecipasse.

Ignorou o cansaço e também se pôs a correr; bisturis de chakra em suas mãos. Investia contra Itachi com toda a sua determinação, mal contendo o sorriso satisfeito ao notar alguns filetes de sangue escorrendo pelo peito desnudo do Uchiha. Quase foi acertada no rosto, porém conseguiu desviar no ultimo instante.

Itachi saltou, afastando-se somente por alguns metros. — Está ficando mais rápida, Sakura.

Sorriu em resposta, limpando o suor que estava se acumulando em sua testa. Pelo o que lhe parecia, já estavam lutando há uma hora. Queria poder ter feito estragos maiores em Itachi, mas as habilidades deles eram, simplesmente, impressionantes. Felizmente, ela não estava muito atrás.

Itachi formou selos com as mãos e a kunoichi percebeu tarde demais de qual jutsu aquele se tratava.

A bola de fogo veio rápida em sua direção, mal dando tempo para se desviar. Sentiu um arder em seu ombro direito e sabia que aquele local tinha sido queimado.

Ignorando a dor, partiu contra Itachi, dessa vez com uma kunai na mão. Jogou seu corpo contra o dele, a arma indo em direção ao seu pescoço pálido. Sakura quis se socar quando ouviu o característico poof!, percebendo que aquele não se tratava de Itachi e sim de um pedaço de madeira.

Virou-se a tempo de somente sentir seu corpo ser jogado contra o chão, as costas doendo no instante em que caiu na terra. Sua kunai agora estava nas mãos de Itachi, que a olhava em divertimento.

— Não se sinta mal. — disse ajudando a garota a se levantar. — Nós, Uchihas, somos invencíveis.

Sakura deu um riso de escárnio. — Os mais modestos, também. — limpou as mãos em seu short, se dirigindo a árvore mais próxima em busca de sua mochila. Retirou a garrafa d’água, dando um gole prazeroso, a oferecendo a Itachi em seguida que recusou com um leve aceno de cabeça.

— Você se importa? — Sakura olhou para ele. Seu peito estava com diversos arranhões e com alguns pontos levemente arroxeados. Nada muito preocupante, mas com certeza seria um incômodo.

Concentrou uma boa dose de chakra em suas mãos e as posicionou em cima dos ferimentos de Itachi. Eles foram melhorando aos poucos, até a pele atingir seu tom característico e qualquer tipo de machucado simplesmente desapareceu. Aproveitou a deixa e curou-se também.

Itachi a agradeceu com um aceno de cabeça. — Você teve melhoras significantes desde que começamos a treinar. — comentou.

Sakura concordou — Nunca me senti tão forte e tudo isso graças a você. Obrigada, Itachi-san.

Itachi deu de ombros, colocando sua camiseta negra com o símbolo do clã estampado em suas costas. — O que posso dizer? Sou um ótimo professor. — deu uma piscadela para a kunoichi, rindo quando Sakura revirou os olhos.

Ela pegou sua mochila, sendo acompanhada por Itachi até a saída do campo de treinamento.

Fechando os olhos, sentiu a brisa do fim de tarde passar por eles. O sol já estava se pondo; o céu pintado com fortes tons de roxo e laranja. Alguns comerciantes já fechavam seus negócios, enquanto outros se preparavam para receber a população jovem em suas propriedades.

Sabia que alguns bares abriam suas portas naquele horário, atraindo em sua maioria os solteiros que buscavam um par para passar a noite. Ino sempre a chamava para ir a uma dessas festas, mas nunca teve tempo e muito menos vontade. Talvez, agora, pudesse se dar a chance de dançar um pouco e se divertir sem preocupações.

Sorriu diante de seus pensamentos.

Voltou seu olhar para Itachi, pronta para começar uma conversa e acabou por estranhar a expressão desconfortável que reluzia no rosto do homem ao seu lado. Ele parecia estar refletindo sobre algo muito sério e quando, finalmente, seu olhar pousou sobre ela, sentiu seu estômago se revirar em nervosismo.

— Sakura. — disse com os olhos cerrados e os lábios em uma linha tensa. — Posso te fazer uma pergunta? Já adianto que ela é um tanto quanto pessoal.

Sakura sentiu seu íntimo se contorcer. Mesmo assim, sorriu, na tentativa de dispersar aquele clima estranho. — Claro, Itachi–san. Pergunte o que quiser.

— O motivo do seu desaparecimento lá de casa... Foi por causa de Sasuke, certo? — olhou para ela, notando que o costumeiro brilho das esmeraldas não estava mais lá.

Seu olhar pairou sobre Itachi somente por alguns segundos, logo o desviando para o chão. Eles tinham parado de andar e o silêncio a incomodava mais do que tudo, mas agradeceu mentalmente por Itachi não tê-la forçado a responder de imediato.

Podia enumerar tantos motivos por não ter voltado até a casa dos Uchihas... Por sempre estar desviando de qualquer caminho que pudesse dar de frente ao grande portão de entrada do clã mais aclamado de toda Konoha.

Porém – e com isso ela até se permitiu sorrir – também poderia dizer que seu coração já não batia tão freneticamente quanto antes. Que já não sentia suas pernas moles ao olhar para o Uchiha mais novo e suas mãos já não suavam mais. Talvez Sai tinha razão e, de fato, o tempo se encarregava de curar as feridas. Tinha certeza de que as suas estavam começando a cicatrizar.

Suspirando, voltou a andar com Itachi bem ao seu lado. Não queria deixá-lo sem respostas, porém - mesmo com a intimidade que possuíam -, não se achou na obrigação de explicar o quanto seu irmão já não tinha tanta presença em sua vida e que, aos poucos, ela mal se importava com isso. Por fim, virou-se para ele e disse:

— Um dos piores tipos de decepção que podemos ter, Itachi-san, é a de ver que a pessoa amada já não é a mesma antes. Ou, talvez, nunca tenha sido. Acredito que devemos se apaixonar por alguém, e não pela ideia que temos desse alguém. Quando isso acontece, a decisão mais sensata que somos capazes de tomar é a de seguir em frente. — acabou por abrir seu sorriso mais sincero, virando-se para a esquina a qual a separava do caminho de Itachi. Despediu-se dele com um aceno de mãos, passando a correr em direção a sua casa.

Itachi ainda ficou parado, a observando entrar em sua residência só para garantir. Colocou as mãos no bolso, despreocupado, pensando se seu irmão ficaria chateado ao descobrir que tinha uma fan-girl a menos em seu fã-clube.