Sakura encarou-se no pequeno espelho de seu banheiro, ainda estranhando seu novo corte. Não se lembrava da ultima vez que cuidou de suas madeixas e, com os passar dos anos, elas foram ficando secas e sem brilho. Agora graças aos talentos de Ino, seus fios pendiam leves e sedosos sobre seus ombros.

Sorriu, satisfeita com o resultado.

— Porquinha. — voltou para seu quarto, vendo Ino espalhar diversos trajes por cima da cama — Não acho que preciso de tantas coisas.

Ino bufou, revirando os olhos. — Ainda bem que eu não me importo com o que você acha, testuda. Caso contrário, estaríamos perdidas. — tornou a vasculhar as roupas, jogando-as pelo quarto de qualquer jeito até achar a que procurava.

Ela arremessou a peça para Sakura, que a pegou habilmente. — Vista-a. — ordenou.

Sakura franziu o cenho. Em suas mãos jazia um kimono preto com algumas flores de cerejeira bordadas em sua barra. Uma facha rosa marcava a cintura; suas mangas eram grandes e volumosas e, pela sua pequena análise sobre a peça, o comprimento deveria bater na metade de suas coxas.

Ela ia questionar o porquê de ter que usar aquela roupa, porém Ino a deteve: — Estamos finalizando a primeira parte do plano, testão. Precisávamos mudar aquela sua aparência miserável — Sakura revirou os olhos diante do comentário de Ino, mas não a interrompeu. — e, com muito esforço, eu consegui realizar esse milagre. Além disso, aqueles livros estranhos do Sai diziam que uma mudança é necessária para elevar a autoestima; coisa que você está urgentemente precisando. Agora se vista, Sakura, e não desobedeça as ordens de quem claramente sabe mais.

— Hai, Porca-sensei. — disse irônica, voltando para dentro do banheiro e tentando se convencer de que seja lá que “plano” foi esse que Ino arquitetara em sua cabeça, iria dar certo.

E, de fato, sua autoestima dera uma pequena elevada após colocar o vestido. Sentia-se mais feminina do que nunca e, ao sair de casa juntamente com Ino, pôde perceber que não era a única que achava isso. Diversos elogios foram distribuídos para si durante sua caminhada, além da quantidade exagerada de assobios que fizeram seu rosto enrubescer por completo.

Sentiu-se lisonjeada, pois nunca pensou que poderia chamar esse tipo de atenção. Porém, mais importante do que ser chamada de bonita, era que ela própria se sentisse bonita. Afinal, não importa o que os outros pensam sobre, mas sim o que você pensa.

E Sakura nunca tinha se sentindo tão bem consigo mesma.

— Sabe, — disse Ino encarando as pessoas a sua volta, em maior parte os homens, que em contrapartida não tiravam os olhos de Sakura. — se você vestiu esse kimono e todos os moradores da Vila passaram a te notar, imagina se eu, que sou maravilhosa na maior parte do tempo, o vestisse? Seria um escândalo!

Sakura deu uma risada. — Cala a boca, porca. Você só está com inveja porque agora eu estou mais linda que você.

Ino mostrou-lhe a língua. — Continue sonhando, testão. Mas é muito bom ver que todo o esforço que coloquei em você está valendo a pena. — disse, estufando o peito com orgulho. — Não precisa falar nada. Sei que arraso.

Sakura ergueu uma sobrancelha para ela, mas preferiu continuar calada. Não é como se algo que dissesse fosse diminuir a bolha enorme de ego que Ino acabara de colocar em si mesma.

Continuaram andando; Ino perdida em seus pensamentos e Sakura tentando achar um bom lugar para comer. Já estava no horário da janta e sua barriga chegou a roncar, um claro sinal de que precisava de alimento.

Estavam virando a esquina quando uma voz interrompeu seu processo:

— Sakura-chaaaaaan! Hei! — virou-se a tempo de ver Naruto com os braços erguidos, balançando-os sem descanso e correndo em sua direção. Um pouco atrás de si estava Sasuke Uchiha, com o típico rosto apático, as mãos enfiadas nos bolsos da bermuda.

Ino passou o braço pelos ombros de Sakura ao perceber o olhar vacilante que ela lançava para o Uchiha. Durante a semana toda tinha evitado ao máximo para que sua amiga não o encontrasse, mas não é como se pudesse escapar dele para sempre. Só esperava que os sermões que deu em Sakura tivessem servido de alguma coisa e que ela não colocasse todo o plano a perder.

Olhou complacente para a amiga, deixando bem claro que estava ao seu lado para o que precisasse. Sakura notou isso, e sorriu-lhe agradecida de volta.

— Sakura-chan! — disse Naruto, diminuindo a velocidade de sua corrida até parar em sua frente. Cumprimentou Ino com um leve acenar de cabeça, mas logo voltou sua atenção para a companheira de equipe. — Uou. Sakura-chan, você... Nossa...! Uou.

Sakura deu-lhe um tapa na cabeça. — Pare com isso, baka. Está me deixando sem graça.

— Você deveria estar me agradecendo. Eu que fui responsável por deixar a testuda desse jeito. — Ino vangloriou-se. — Ela não está demais? — perguntou, encarando Sasuke que finalmente tinha se aproximado do pequeno grupo. Ela notou o olhar dele sobre Sakura, avaliando-a, porém se absteve de qualquer comentário.

Mas se tinha algo que Ino conhecia, era o olhar de um homem para uma mulher. Ela já havia recebido diversos tipos de olhares, por isso pôde reconhecer prontamente a forma com que Sasuke observava sua amiga. Estava estampado em sua testa que ele gostou do que tinha acabado de ver, porém era orgulhoso demais para falar alguma coisa.

“Interessante...”.

— Nós estávamos indo comer. — disse Naruto. — Querem vir com a gente?

O rosto de Sakura tencionou, coisa que não passou despercebida pelos olhos de Naruto. Porém, antes que ela pudesse recusar sua proposta, ele desatou a falar: — Ah, vamos lá, Sakura-chan! Já faz tempo que não saímos juntos. Nem treinamos mais porque Kakashi-sensei está naquela missão e você só fica no hospital. Vamos, Sakura-chan, você não pode me deixar sozinho com esse cretino! — fez um beicinho.

O riso de Sakura fez a atmosfera ficar leve mais uma vez. — Okay, okay. Nós vamos com você.

Naruto comemorou e agarrou o braço de Sakura, arrastando-a pelas ruas e deixando Ino e Sasuke para trás.

A loira aproveitou a deixa e deu uns tapinhas nos ombros de Sasuke, recebendo um olhar interrogativo em troca. — Você deve estar se sentindo um idiota agora, não é mesmo? — não esperou a resposta do moreno e desatou a andar pela mesma direção que Naruto e Sakura.

Sasuke cerrou os olhos, olhando a loira a sua frente e tentando entender o porquê ela ter dito aquilo. Por fim, deu de ombros, chegando à conclusão de que, seja lá o que Ino queria dizer com aquela frase, ele não se importava.

(...)

— Por Kami-sama, Naruto! — disse Ino, exasperada. Bateu as mãos na mesa antes descontasse sua raiva na cabeça de certa pessoa. — Você é tão machista. Deve ser por isso que não arruma nenhuma namorada.

— Na verdade, — Sakura intrometeu-se — existem vários motivos pelos quais o Naruto não arruma uma namorada. — deu um sorriso, sendo acompanhada por Sasuke; ambos achando graça na forma com que o rosto de Naruto azedou-se por conta do comentário.

— Se dependesse de uma tal Hyu-... — Ino olhou feio para Sakura, que tinha acabado de dar-lhe um chute na perna. Viu a amiga balançar a cabeça em negação e acabou por entender o recado. Decidiu que assim que terminasse seu trabalho com Sakura, iria socorrer a pobre Hinata. Ela, claramente, não tem ideia do quão idiota é o garoto que tanto idolatra.

— Mas, então, Sakura-chan... — engoliu o restante de seu rámen para depois continuar: —, o que você tem feito?

Sasuke mexeu-se desconfortável em sua cadeira, dando uma olhadela rápida para Sakura. Ele não tinha interesse nenhum em saber o que a garota estava fazendo ultimamente. Muito menos queria saber o motivo de seu desaparecimento de sua casa.

Uchiha Sasuke não estava curioso. Nem um pouco.

— Bom... — “decidi parar de me humilhar pelo homem ao qual estava apaixonada, chegando à conclusão de que preciso esquecê-lo. Não que estando sentada ao lado dele esteja ajudando muito, mas não pulei em seu pescoço e muito menos o chamei de Sasuke-kun, o que já é um grande avanço. Também treino secretamente com Itachi todos os dias da semana, mas Ino não pode saber disso porque ela não suporta os Uchiha. Tirando isso, minha vida está beeeeem normal. Quer pedir outra tigela de rámen?”. — Fico grande parte do tempo no hospital, normalmente em cirurgias ou orientando novos iryo-nin.

— Tsc. Que interessante. — Sasuke zombou.

Ino olhou-o raivosa — Pelo menos, Sakura está fazendo algo importante. E você? — revirou os olhos — Ah, perdão, esqueci-me do trabalho que você tem para convencer alguma idiota de ir pra cam-

— Boa noite. — Ino deu um pulo, assustando-se. Olhou para trás e viu Neji, Kiba e Lee; o ultimo já com uma baba escorrendo no canto da boca enquanto olhava para Sakura.

— Sakura-san! — jogou-se aos pés da kunoichi e agarrou-lhe as mãos — Sua beleza faz o fogo da juventude me incendiar por inteiro. Dei-me a honra de ser seu humilde namorado, minha bela flor.

— Lee... — disse Sakura, encabulada. Para a sua sorte, Neji agarrou a gola do blusão estranhamente verde de Lee e o afastou da garota.

Sakura olhou-o agradecida, murmurando um leve “obrigado”. Neji deu um acenar de cabeça em resposta, não deixando de reparar na nova aparência de Sakura. Pensou em fazer algum comentário, mas conteve-se ao notar a áurea ameaçadora que pairava sobre Naruto cada vez que um homem olhasse Sakura por tempo demais. Achou ter visto Sasuke da mesma forma, mas sabia que o Uchiha nunca tinha dado a mínima para a garota então concluiu que aquilo tinha sido somente algo de sua cabeça.

— Desiste, sobrancelhudo. — Kiba murmurou, aproximando-se da orelha de Lee e disse no que ele achava ser um tom baixo: — Uma gostosa como ela nunca daria atenção pra você.

— Ei, cachorro! — Naruto levantou-se, apontando o dedo na cara de Kiba. — Mais respeito com a Sakura-chan. Ela é uma menina pura e inocente, seu pervertido!

— Ah, cala a boca, idiota. Admita que você também olhou pra pernas dela. — e assim, para o azar de Sakura, Naruto e Kiba começaram uma discussão ali no meio do restaurante. Naruto aparentemente defendia sua “honra” enquanto Kiba se limitava a fazer comentários desnecessários.

Ainda sentada, Ino olhava aquela briga com os olhos brilhando. Estava achando aquilo tudo um máximo! E, querendo ou não, só estava acontecendo graças a ela. Se soubesse que o quanto se divertiria, teria ajudado Sakura muito mais cedo.

Sakura, por outro lado, queria estar em qualquer outro lugar, menos ali! Olhou para o lado na busca de Sasuke e estranhou quando não o encontrou. Não tinha percebido em que momento o garoto tinha se afastado. Vasculhou o restaurante somente por alguns segundos, logo vendo uma cabeleira de ébano espetada perto do balcão. Ao seu lado estava uma loira, que se inclinava descaradamente em sua direção enquanto Sasuke fazia um leve carinho em suas maçãs do rosto. Ver aquela cena embrulhou seu estômago.

Levantou-se num rompante, deixou o dinheiro para pagar a refeição em cima da mesa e disse que já estava indo embora. Não que alguém ali tivesse lhe escutado, já que todos estavam muito mais entretidos na discussão estúpida que ainda acontecia.

Soltou o ar dos pulmões assim que pôs os pés para fora do Ichiraku, percebendo agora o quão tensa estava. Olhou para o céu; a lua cheia clareava as ruas e poucas estrelas apareceram àquela noite. O vento bagunçava seus cabelos, mas não se preocupou em arrumá-los.

Começou a andar com passos rápidos, contando os minutos até chegar em sua casa.

Notar Sasuke em uma situação tão delicada com uma garota que nunca o tinha visto junto antes fez seu peito doer. Era triste saber que o conhecia há anos, porém nunca tinha recebido qualquer tipo de carinho, ainda mais como aquele. Quis bater sua cabeça contra parede ao constatar que tinha uma leve inveja da menina.

— Pare de pensar nisso, Sakura! — ralhou com si mesma — Você já teve uma evolução e não vai colocar tudo a perder por causa daquele bastardo, estúpido, que se acha melhor do que todo mundo, mas não passa de um cret-

— Sakura? — ela se virou tão rápido que acabou por tropeçar nos próprios pés. Teria dado de cara no chão, se um enlace forte não tivesse a auxiliado.

Olhou para Neji, que só a soltou após ter certeza de que a garota conseguia manter-se erguida sozinha.

— Você está... Bem? — perguntou cauteloso. — Saiu tão depressa do Ichiraku que pensei que algo poderia ter-lhe acontecido.

Sakura piscou, surpresa. Hyuuga Neji estava preocupado? Preocupado com ela?

Apesar de que, até onde tinha escutado por aí, Neji era conhecido por seu cavalheirismo. Qualquer homem atento como ele estranharia o fato de Sakura ter saído tão desesperada.

Mesmo assim não pôde deixar de estranhar. Eles se conheciam há quanto tempo? Dez anos? Nunca tinham estendido suas conversas além do tópico de missões, e agora ele - por livre e espontânea vontade - vai atrás dela para verificar se estava bem?

Neji ergueu uma sobrancelha, esperando uma resposta. Sakura acabou por sorrir docemente — Está tudo bem. Só tenho um plantão logo cedo e preciso ir para a casa dormir. Mas obrigada por ter vindo até aqui.

Neji assentiu. — Não há de que. Tenha uma boa noite. — ele virou-se para partir, porém deteve seus passos e chamou-a mais uma vez: — A propósito, Sakura...

Ela olhou para ele — O quê?

— Você está muito bonita. — disse com um breve sorriso, antes de ir embora e deixar para trás uma Sakura extremamente envergonhada e perguntado-se o que diabos tinha acabado de acontecer.