Hana atravessa o jardim de frente de sua residência e passa correndo pelo riacho e pelas árvores que enfeitavam as estátuas de dragão que estavam ao redor montadas. O vento batia-lhe a face ofegante e suada enquanto ela corria e erguia o vestido conforme teve que subir nas escadas.

Ela sentia o cheiro da comida de sua mãe e pulou a cerca caindo em seguida com os cotovelos no chão e o grito de Riki fora escutado, mas ela o ignorara saindo correndo mais uma vez para dentro de casa.

Hana parou de frente a porta da cozinha dos fundos, mas respirou fundo tomou coragem e esmurrou a porta entrando em seguida encontrando o local vazio:

–Mochiron...-murmurou Hana.

É claro, ela pensara, em uma ocasião como aquela só se reunião na sala de jantar, Hana retirou os sapatos e saiu correndo em meio a casa com o vestido ainda em suas mãos. Riki chegou poucos instantes atrás dela, mas Hana já estava virando o corredor para aparecer na mesa de jantar onde todos estavam comendo em silêncio.

Hana parou próxima a um pote de vidro que estava embaixo da foto de dragão que ela mais gostava e viu o pergaminho de convocação para a guerra.

Apertou os olhos e erguendo o rosto Hana apareceu para todos que estavam comendo:

–Papai!-ela o chamou quando entrou.

Sua mãe a encarou séria, enquanto todos faziam o mesmo. Hana viu os olhos do pequeno Raiden brilharem, mas ela não sabia dizer se eram felicidades ou as lágrimas que ele derramara anteriormente. Sua avó Azami lhe encarou com um pequeno sorriso e a velha Alli nem se deu o trabalho de encará-la:

–Hana.-falou o pai com a voz forte:-Acho que você deve parabenizar sua irmã, por ter sido maravilhosa na casamenteira.

As palavras foram como navalhas para Hana que fechou os olhos e caminhando a passos lentos foi até Natsumi que estava sentada a encarando com tristeza e desconforto no olhar. Hana reverenciou com a cabeça em direção da irmã:

–Omedetōgozaimasu, minha irmã!-falou Hana e Natsumi assentiu com a cabeça e desviou os olhos tristes de Hana:-Parabéns!

–Sente-se e coma conosco.-falou o patriarca da família:

–Pai..-murmurou Hana:

–Sente-se!-falou Chang a encarando com um olhar severo. Hana vira certo desapontamento em seu tom de voz que a fez engolir as lágrimas e rezar para que não saíssem de seus olhos:

–Não, meu pai. Não irei me sentar.-falou Hana e todos a encararam no momento em que Chang largou os talheres com força no prato:

–Hana, sente-se agora!-falou sua mãe puxando sua mão. Hana a puxou com violência e força, fazendo a mãe a encarar com os olhos arregalados:

–Que audácia!-falou a velha Alli:

–O que pretende com isso, Hana?-perguntou Chang a encarando no fundo dos olhos:

–O senhor vai para a guerra!-falou a garota alto e claro.

Riki agora estava em pé ao lado de seu pai e no momento em que ela disse isso tentou ir até ela lhe puxar, mas seu pai o impediu.

Chang se ergueu no mesmo momento batendo as mãos na mesa com força, causando um estrondo. Natsumi estava prestes a chorar e Raiden encarava o pai com os olhos baixos, a velha Alli fixava seu olhar em Hana com raiva e sua mãe havia fechados os olhos com as mãos trêmulas em seu colo:

–O que você tem a ver com isso?!-falou o homem friamente para a menina:-Não estrague mais isso, Hana... Um momento em família!

Hana engoliu em seco, sentindo o gosto de ferrugem dentro da boca, enquanto lutava contra as lágrimas e seu coração se machucava a cada palavra cortante de seu pai:

–Por favor... O senhor não pode ir!-falou a menina:

–Basta, Hana!-gritou Chang:-Você não sabe de nada!

–Sei, pai! Eu sei, por favor o senhor não pode ir!-gritou Hana apertando os punhos, mas não desviava o olhar do de seu pai:

–Não, você não sabe. Isso demonstra honrar a família!-falou Chang e Hana abaixou o olha deixando uma única lágrima deslizar por seu rosto.

Todos encararam Chang com o olhar surpreso pelas palavras frias do homem dirigidas a filha, Riki tentou falar algo mas seu pai tapou-lhe a boca. Emi se levantou e segurou o ombro de Chang e lhe direcionou um olhar para ele se afastar.

Chang respirou fundo e foi caminhando para longe, mas quando passou por Hana para sair da sala de jantar a menina lhe agarrou o pulso e lhe olhou fundo nos olhos:

–Por favor pai! Não quero que morra, está doente e ferido!-gritou a menina o segurando e Chang a olhou horrorizado e segurou o braço esquerdo com força:

–Farei isso pela honra a meu país e a minha família! Protegê-los!-falou o homem falando severamente e apertando com força o braço frágil da menina:

–A honra não vale sua vida, pai!-gritou a menina com as lágrimas escorrendo por sua face:-Morrer com honra não fará a dor ser diferente e nem a morte ser melhor! Só irá nos deixar de qualquer jeito!

–Cale-se!-gritou Chang:

–Não irá!-gritou Hana com raiva:

–Basta!-gritou Chang.

O guerreiro não se controlou estava com raiva e com medo pela família que as chamas saíram de sua mão sem seu consentimento. Só se deu conta quando o grito fino e doloroso de sua filha o acordou, e ele viu a si mesmo queimando o braço de Hana.

Hana sentiu sua carne ser queimada, junto a sua pele e gritou pela dor, seu pai a soltou com força desnecessária fazendo-a voar pelo recinto bater as costas na parede e cair com as chamas ainda consumindo seu braço esquerdo.

Emi, Azami e a velha Alli correram para acudir a menina que gritava e chorava de dor. Natsumi pegou Raiden em seus braços e o abraçou com força enquanto as lágrimas derramavam de seus olhos e o pequeno garoto tremia em sues braços; Riki correu pegando um copo d'água e jogou no braço que agora estava vermelho e com bolhas de Hana.

O garoto pegou a menina mole de dor em seus braços e foi orientado, enquanto Azami corria com ele até o quarto dela. Emi estava chorando e nem olhou no rosto do marido pálido parado com os olhos arregalados ainda na sala de jantar.

A velha Alli parou na frente do filho e bateu em seu peito o fazendo acordar:

–Hana? Hana!-gritou o homem desesperado:

–Não adianta, ela desmaiou. Azami e Emi foram cuidar dela.-falou Alli:-Kami, hito ni yotte! O que estava fazendo?! Iia matar sua própria filha, ela está com medo por sua vida Chang!

–Pare!-gritou o homem:-Não consegui me controlar, ela falou como o papai falava comigo e eu perdi a cabeça!

–Seu pai está morto!-falou a velha Alli:-Não se transforme naquilo que você mais odiou para sua filha!

A velha Alli chamou Natsumi e Raiden que saíram correndo para seus braços e saíram com ela, mas antes Raiden se virou para o pai com um olhar de choque e receio:

–Não quero me tornar um guerreiro para ferir quem amo, papai.-falou Raiden desaparecendo pelo corredor e Chang fechou os olhos com força e gritou saindo mais chamas de suas mãos e queimando toda a sala de jantar. Chang só foi parado pelo amigo, pai de Riki, que o segurou:

–Vamos sair daqui, Chang!-falou o homem.

O grito de dor de Hana é escutado pela casa e Chang sente-se ipotente e as lágrimas ameaçavam cair de seus olhos, mas o homem não as deixa, porém sai sendo guiado pelo companheiro.

Dentro do quarto, Hana estava deitada na cama chorando e gritando pela dor, enquanto Emi e Azami passam ervas sobre a feia queimadura e tentam acalmar a menina que contorcia de dor.

A menina mantinha as mãos fechadas em punho, forçando as unhas contra sua pele, para que, de alguma forma talvez, a dor das unhas penetrando sua pele sensível seja mais forte do que a dor da queimadura. As lágrimas deslizavam de seus olhos fechados, e a queimação parecia está dentro de seu corpo e algo parecia está sugando com fogo seu braço fora.

A menina gemia baixo, conforme as mulheres iam passando ervas sobre seu horrendo ferimento, e sua mãe ia acariciando sua testa suada e falava em seu ouvido com voz suave:

–Kami no ainotameni! Acalme-se minha princesa, fique calma! Vai passar, vai passar!-gritava Emi acariciando a testa suada de Hana que mordia os lábios para não gritar mais:

–Essas ervas não servem, Emi! Precisamos de um médico!-falou Azami:

–Como deixei isso chegar até aqui?! Como?!-indagou Emi chorando:

–Lamentar-se não fará com que a dor que sua filha sente acabe!-falou Alli entrando dentro do quarto, enquanto deixou Natsumi e Raiden em um quarto distante e levou Riki para lá também:

–Alli, o que faremos? Como procuraremos um médico?!-perguntou Emi desesperada:

–Tire ela daqui, Azami! Só irá me atrapalhar...-falou Alli observando Hana murmurando em dor e espasmos na cama:

–O que...?!-indagou Emi:-O que está fazendo?

–Ela sabe o que fazer, Emi! Vamos sair.-falou Azami.

Azami tirou Emi do quarto enquanto Alli encarou a menina ofegante e tremendo de dor, a mulher retirou as ervas do braço dela e lhe acariciou o rosto, pegando água fria e dois grandes algodões com pinças negras grandes:

–Azami!-gritou a mulher velha:

Não demorou muito para a pobre senhora abrir correndo a porta do quarto e entrar com a mão no peito e os olhos arregalados:

–O que há?!-indagou Azami entrando:

–Pegue sementes de girassóis e orquídeas para mim, que estão na estufa.-falou Alli.

A mulher acariciou o rosto da menina passando um pano molhado em sua testa, e encarou o ferimento. A mulher fechou os olhos vendo o quão marcado ficaria na pele da pobre menina que chorava e tremia pela dor que se inundava e lhe queimava muito além:

–Sei o que está sentindo, é uma dor insuportável e vai se alastrando. Mas você precisa aguentar, não morrerá por isso, então morda essa língua e não ouse gritar.-falou Alli.

Hana apenas balançou a cabeça vagarosamente.

Azami entrou no quarto com as sementes e Alli rapidamente as amassou retirando um caldo delas e as mergulhou na água fria e em seguida misturou. Os algodões mergulharam por completo na água e depois foram para o braço esquerdo da menina.

Hana respirou fundo, mas nenhum som saiu de sua boca apesar da ardência e queimação:

–Vai passar, vai passar...-murmurou Alli antes dela perder de vez a consciência.