Hana estava apavorada.

Ainda com a faca enterrada em sua panturrilha ela encarava a figura envolta pelas sombras do crepúsculo atrás das cortinas queimadas, ela consegui visualizar os olhos frios e assassinos daquele ser sem alma, mas não conseguia vê-lo por inteiro e isso a deixava ressentida.

O que ele ganharia a matando agora? Por que fez a mulher de refém para atacar justo ela? Não, ela estava pensando besteira, fora uma infeliz coincidência, o medo a estava possuindo os pensamentos enquanto sentia as mãos e as pernas tremerem diante do grande Kabuto.

O silêncio era navalhas enterrando ainda mais nos pensamentos de Hana que não sentia dor apesar de estar perdendo bastante sangue pelo rombo feito pela faca ainda cravada em sua carne. A garota firmou-se, ainda era um garoto disfarçado tinha de agir como tal, porém como alguém conseguiria ter coragem notando aqueles olhos a massacrar sua alma varrendo tudo o que há em você?!

Não interessa, a garota se levantou com calma tentando, inutilmente, manter-se sã e calma diante do homem. Ela sentiu dor e arrancou a faca com um único puxão, mordendo a língua para a voz fina não sair com o grito e perto da garganta seca que queimava-lhe a voz:

–Está sozinho?-perguntou Haruo/Hana com a voz rouca e levemente atordoada pelo medo:

–Completamente só, garoto.-indagou o homem, a voz fria e arrastada. Parecia está falando com o próprio demônio, porém tentou se manter calma, ganhando tempo até Shiro resolver entrar:-A solidão é a amante dos homens fortes.

–Ou dos monstros.-corrigiu com raiva Haruo/Hana:

–Como se parece com o verme imundo do seu pai.-falou com a voz contida a ira profana do monstro enjaulado dentro de Kabuto:-A mesma petulância dele o fez ser o meu maior consumo de ódio. Quem diria que o bastardo dele viria até a guerra lutar contra mim novamente.

–Novamente...?-perguntou Haruo/Hana:-Dōyō ni, futatabi?

–Há! Seu pai já lutou na guerra, moleque. Foi na época em que eu estava ainda como soldado ao lado do infeliz Kohaku. Antes de me tornar um dos maiores guerreiros do mundo, onde até mesmo o imperador tremeria diante de pronuncia de meu nome.-gritou o homem ainda envolto pelas sombras, fazendo o coração da menina disparar:-O imperador desafiou minhas forças terminando de construir aquela maldita muralha, na qual me impediria de avançar no país... Mas veja, bastardo, aqui estou eu!

–Está matando inocentes por orgulho?!-indagou Haruo/Hana cerrando os punhos e tentando se controlar:

–Não, moleque. Existe algo além da paixão dentro do coração de um homem que o mantém vivo e forte.-falou o homem passando as unhas sobre a madeira velha da casa rendida pelas chamas maléficas:-Um sentimento tão forte que o consome e o cega, mas ao mesmo tempo o faz se tornar forte como um homem de verdade deve ser... A vingança!

–Vingar-se de quem?!-perguntou Haruo/Hana:

–Diga-me bastardo. Seu pai tem um ferimento de guerra bem grave no corpo, estou certo?!-perguntou o homem o fitando com os olhos azuis puros, agora vidrados para a próximo a luz. Um azul frio como gelo e letal como uma espada.

Hana arregalou os olhos ao lembrar-se de quando voltou para casa encontrou Raiden gritando do outro lado da casa, enquanto Natsume o amparava sua mãe entrava desesperada para saber notícias do pai. O ferimento de guerra que não havia se curado, que o fazia ser escravo da dor, e fez com que Hana viesse tomar o lugar do pai.

A menina com a respiração falha encarou com ódio o homem dos olhos azuis frios e assassinos a sua frente:

–Foi você...?!-murmurou ele(a):-Você o feriu, desgraçado!

–Messa suas palavras, bastardo!-gritou Kabuto lançando suas chamas pelas mãos, ao mesmo tempo que Hana em um reflexo desvia pulando para o outro lado e ficando ali de joelhos ainda encarando com ódio o homem.

Kabuto mantinha os olhos fechados e quando pareceu sentir a respiração do homem normalizar, ele finalmente abriu os olhos:

–Foi uma batalha interessante.-murmurou sorrindo sadicamente.

"Chang estava com os cabelos longos soltos, a armadura desgastada contendo arranhões e flechas cravadas. O cenário completamente ocupado por cinzas, corpos e sangue, o garoto encarou mais a frente a figura de longos cabelos negros e os olhos azuis tomados pela ria contendo um sorriso insano em seus lábios.

O jovem guerreiro postou sua espada em guarda encarando furioso o antigo companheiro. Ele vira o corpo machucado de Kohaku a alguns passos ofegante com uma ferida grande no estômago e as pernas queimadas chamuscando em fumaça densa e cinza e exalando um cheiro horrendo que fez seus olhos revirarem.

Ao longo da colina um corpo estava caído respirando com dificuldade vendo sua vida perder-se nos caminhos cinzas das chamas devastas:

–Kohaku...-murmurou Chang tentando se aproximar mais rapidamente, porém seu corpo estava ferido e ele tinha que conter energia:

–Honō ryū ... Você demorou seu infeliz. Achei que fosse deixar eu acabar com mais um de seus companheiros.-falou Kabuto sorrindo sadicamente:-Até o próprio Imperador está aqui para me desafiar, todavia soube que você não o permitiu fazer... Porque...

–Eu mesmo o irei degolar!-falou Chang com a voz firme:

–Palavras fortes, pena que você nunca será homem o suficiente para fazer isso.-falou Kabuto se aproximando de Chang e deixando Kohaku de lado:-Já que não foi no momento em que entregou meu irmão. Um amigo seu!

–Ele errou ao confiar em você, errou mais ainda ao tentar de ajudar! É um desertor assim como você, seu maldito!-gritou Chang apontando a espada para ele:-Vou mandá-lo para o inferno!

–Há! Chang, Chang...-murmurou Kabuto abaixando a cabeça e a erguendo encarando Chang tentando conter sua ira para a luta contra o Imperador:-Nós já estamos no inferno, homem.

–Kuso yarō.-bradou Chang:

–Se vier para o meu lado pouparei sua vida.-falou Kabuto:-Irei governar esse país com mais garra e força do que o maldito atual! Os lavarei a uma nova era!

–Por acaso escutas o que diz?!-gritou Chang:-Nunca será o Imperador, não possui honra para isso... Você é um lixo que não merece nem ser chamado de guerreiro! O impedirei nem que para isso eu tenha que dar minha própria vida!

Kabuto apertou os punhos com raiva emanando o fogo vermelho vivo e escuro de suas mãos, enquanto encarava o homem Honō ryū escondendo sua face:

–Que assim seja, maldito!-bradou Kabuto erguendo a espada.

Kabuto correu na direção de Chang gritando alto, enquanto o jovem guerreiro Honō ryū manteve-se impassível esperando o monstro com armadura vir golpeá-lo com sua espada forjada pelas mãos da própria morte. O homem ergueu sua espada e bateu firme contra a espada de Kabuto, os golpes fortes e precisos ecoava enquanto ambos colocavam ainda mais força e arrastavam suas pernas sobre as cinzas da colina.

O fogo saía das mão de Kabuto e eram repelidos por mais chamas vindas das mãos de Chang, Kabuto o golpeou no ombro enterrando a espada contra o adversário sorrindo, enquanto Chang fechava os olhos ignorando a dor avassaladora e perfurou a cocha direita de Kabuto que gritou. Porém Chang não retirou a lâmina fazendo seu fogo passar por ela e entrando contra a ferida de Kabuto:

–AHH!-gritou o home pela agonia socando a face de Chang que caiu no chão com a espada em mãos ainda. O jovem tossiu e se colocou se pé encarando os olhos irados de Kabuto que mantinha a perna direita ainda contendo fogo que o fazia sentir dor, porém o homem ignorava:-Irei matá-lo, terá sorte se sua família receber sua cabeça.

–Fukō damare!-gritou Chang correndo até ele e começando e golpeá-lo com a espada e Kabuto desviando:

–Sabe por que nunca chegará ao meu nível?-indagou Kabuto provocando friamente golpeando ainda mais forte com sua espada:

–Vai para o inferno!-gritou Chang arranhando o braço dele e recebendo um chute no estômago caindo de joelhos, porém colocando a espada na horizontal para impedir o golpe fatal de Kabuto:

–Porque nunca conseguiu domar seu xamã.-falou o homem envenenando a mente de Chang:-Olhe dentro de meus olhos e diga que estou mentindo.

–Não! Não me enganará com esses olhos de cobra, seu infeliz!-gritou Chang desviando o olhar:

–Watashi wa watashi no te ni kurushimu!-gritou Kabuto emanando chakra e invocando seu chama leão de fogo que atacou Chang com fogo mordendo-o no estômago:

–NÃO!-gritou Chang sentindo as presas quentes como o inferno se enterrando em sua carne:

–Morra!-gritou Kabuto enterrando sua espada bem em cima da mordida, fazendo Chang arregalar os olhos e nem ao menos ter forças para gritar, de tanta dor que seu cérebro sofrido assimilava.

Porém o homem não se deixaria cair tão facilmente, com força ele colocou sua mão em cima da espada se enterrando cada vez mais contra seu corpo e com os joelhos ele atravessou o leão de fogo e enterrou a espada com força no peito direito de Kabuto que arregalou os olhos azuis encarando Chang atordoado:

–Que a morte lhe caía com o sofrimento pelos que você executou.-falou friamente Chang fazendo Kabuto cair de costas tossindo sangue ainda com a espada no peito.

Chang emanou fogo e viu o inimigo gritar em agonia:

–Chang-kun!-gritou a voz de uma mulher chamando a atenção dos dois.

Chang viu os enormes olhos verdes e os cabelos longos brancos correndo em sua direção com lágrimas nos olhos, era a pobre filha do médico quem Kabuto se aproveitara:

–Não! Por favor, piedade!-gritava a mulher correndo chorando:

–Saia!-gritou Chang indo dar o golpe final, porém já sentindo a vista embaçada pelo ferimento:

–Morrerás também...-murmurou Kabuto em agonia:

–Que assim seja.-falou Chang.

Porém uma enorme explosão aconteceu rapidamente, fazendo o corpo ferido de Chang voar para longe e cair no meio da batalha."

–Muitos acreditaram que eu e meu exército havíamos morrido, mas eles não contavam com a ajuda que tive.-falou Kabuto:-Eu ainda possuo a maldita cicatriz que seu pai imundo fez em mim, porém ele sofre mais.

–Ele deveria tê-lo matado. Ele é mais forte do que você! Você teve ajuda, sem ela teria morrido nas mãos de meu pai!-gritou Haruo/Hana nervoso(a):

–Se ele tivesse me matado, morreria também. Chang teve sorte com a explosão de cair no meio do campo de batalha, onde os outros soldados o viram e ajudaram. Assim como o fraco do Kohaku!-bradou Kabuto:

–Vinga-se do Imperador por querer o trono...-murmurou Haruo/Hana tremendo:

–Mas esse não é o meu único objetivo.-falo Kabuto:-Quando soube que o filho de meu inimigo estava entre o exército eu teria que me vingar de alguma forma e dessa vez farei direito. Assim que conquistar o trono eu até... Antes... Eu arrancarei sua cabeça e levarei até sua casa onde matarei sua família e mostrarei a seu pai o quanto seu filho amado sofreu gritando enquanto eu cortava sua cabeça como se corta uma carne nojenta!

Hana não ouviu mais nada depois de que ele disse que mataria sua família. Seu peito se contraiu, enquanto a imagem de Raiden seu irmãozinho, Natsume, sua mãe, avós e seu pai passavam por sua mente... Não! Ele não poderia matar a todos que ela ama, mesmo que ele a mate isso seria o de menos comparado com a extinção do clã Honō ryū. Mas Hana não permitiria, ela teria que matar Kabuto mesmo que seja a última coisa que ela faça:

–Você... Não chegará perto de minha família!-bradou Haruo/Hana:

–Acho que se eu matá-lo agora, pouparia tempo...-murmurou Kabuto:

–Afaste-se!-gritou Haruo/Hana com as chamas possuindo suas mãos e braços fazendo Kabuto se afastar encarando as chamas:-Posso morrer, mas garanto que inteiro você não sai daqui desgraçado. Arranco sua perna e seu braço antes de perder a vida.

–A mesma língua afiada. Fala muito, porém não pode nada.-falou Kabuto:

–Melhor, arrancarei sua língua imprestável!-bradou Haruo/Hana fazendo o cenho de Kabuto se contrair pela ira:

–Você ainda não aprendeu a escolher suas brigas, rapaz.-falou frio Kabuto:-Arrancarei seu coração e darei aos meus lobos para comerem!

–Imaimashī, sā!-gritou Haruo/Hana:

–Haruo, mas o que...?! AHH!-gritou Shiro parado na entrada visualizando Hana e uma pessoa envolta de sombras. O garoto roliço ficou abismado, porém parou assim que atraiu o olhar de ambos ali presente:

–Shiro!-gritou Haruo/Hana:-Saia daqui! Busque ajuda, posso distrair... AHH!

Hana havia sido jogada longe pelas chamas de Kabuto jogada nela, a meninas bateu as costas na parede a quebrando e caindo na neve fria para abater a queimação em seu tórax:

–Oh, merda!-bradou se levantando.

Ela ouviu o barulho de pedra e viu Shiro jogando o homem encapuzado de preto longe se aproximando dela em seguida:

–Pelo amor de Deus!-bradou Shiro ofegante e tremendo:-Eu disse que era uma péssima ideia entrar, eu avisei!

–Shiro, ouça-me! Precisa sair daqui e procurar os caras, aquele que voce acabou de jogar longe e...-Hana parou vendo o homem se aproximando:-E que transformou sua rocha em lava e está vindo para cá, é o Kabuto! Cara, precisamos de ajuda!

–K-K-Kabuto...-murmurou Shiro:

–Vá até os out... Cuidado!-gritou Haruo/Hana pulando s ecolocando na frente de Shiro e fazendo uma barreira de fogo que sustentou o ataque forte de Kabuto:-Oh, praga!

–Não vou lhe deixar sozinho.-falou Shiro:

–Ah vai sim! Precisamos avisar os outros!-bradou Haruo/Hana.

Shiro a olhou com o cenho franzido, emanou outra rocha maior ainda jogou-a no céu e encarou Hana que sorriu de lado acertando uma grande quantidade de fogo nela chamando como um sinal os demais:

–Malditos!-bradou Kabuto:-Lutem como homens!

–Ah, vai para o diabo! gritou Shiro olhando para cima e gritando:-TASUKETE!

–Isso!-gritou Haruo/Hana:-AHH!

Kabuto havia emanado fogo e acertado Hana que caiu para trás e Shiro havia caído dentro de um lago gelado que Kabuto descongelou:

–Ah! N-Não!-gritou Shiro tentando sair.

Hana olhou para cima com a visão turva e muita dor pelo corpo, ela se sentia quente e sabia que Kabuto a havia queimado. Ofegante virou-se vendo o homem encapuzado a poucos metros de distância com o olhar azulado assassino tomando conta dele:

–Haruo... S-S-Sa-Sai d-d-daí!-gritou Shiro saindo do lado congelante:

–Últimas palavras?-indagou Kabuto frio:

–Recuso-me...-murmurou Hana baixo para si mesma sentindo o pânico da morte próxima dela:

–Morra!-gritou Kabuto jogando uma espada de fogo em direção a Hana que fechou os olhos esperando o impacto da arma e a dor, ela sabia que não conseguiria sair a tempo.

Hana não sentiu nada, porém ouviu o impacto da arma em algo.

A menina abriu os olhos, porém preferia não ter feito. Shiro estava a sua frente com os olhos arregalados e de sua boca escorria sangue, Hana olhava horrorizada o peito dele contendo a arma atravessada e ao mesmo tempo que começava a o queimar vivo:

–Não... Shiro não!-gritou Hana com sua voz:

–Mas, o que...?!-indagou Kabuto porém parou ao ouvir pessoas gritando vindo em sua direção:-Maldição!

Hana retirou a arma de Shiro e o deitou na neve branca, manchando-a com o sangue do garoto que respirava agonizante, enquanto era queimado vivo, com as chamas se alastrando de dentro para fora:

–Não, Shiro! Por que fez isso?! Não deveria ter feito isso!-gritou Hana chorando olhando o rosto do garoto se tornar ainda mais branco:

–Haruo!-a voz de Takeshi se fez ouvido, enquanto Hana abraçava Shiro que agonizava chorando também.

A menina viu Kabuto em cima de um leão feito de fogo e a encarando com os olhos azuis opacos:

–Nos veremos novamente. E desta vez eu não errarei!-gritou Kabuto desaparecendo nas chamas do leão que corria para longe.

A menina sentia o corpo de Shiro em convulsão e viu sangue dele manchado em suas vestes. Ela o deitou novamente no chão e viu lenta e dolorosamente os olhos antes alegres e vivos agora apresentando um olhar fantasmagórico, enquanto ela sentia o cheiro de carne queimada por dentro do corpo de Shiro:

–Oh, meu Deus não!-bradou Hana chorando:

–Não chore... Só diga que eu tentei...-murmurou Shiro:-Diga a minha mãe... Que eu... Tentei...

Ela não ouviu mais nada. Shiro se foi assim, rápido e sem chance de outras palavras. A morte o levara deixando Hana aos prantos com a imagem e a culpa de uma amigo morto em seus braços:

–Haruo! Haruo!-a voz de Takeshi fez-se ouvido correndo até ela, porém o Wurociha parou encarando a cena atônito:-O que...?!

–O que é aquilo?! Por que ele está sangrando?!-gritou Hotaru:

–Não...-murmurou Hana acariciando a face de Shiro morta e em seguida fechou os olhos dele deixando mais lágrimas caírem:-NÃO!

O fogo se alastrou do corpo de Hana descontrolado emanando ao redor dela e do corpo de Shiro, as chamas dançavam loucas em círculos derretendo o gelo embaixo deles. Todavia Hana não ligava, estava quebrada por dentro em uma dor que erradiava sangue.