Estava chovendo, menos mal. Bom, o tronco estava bem escorregadio, mas olhando pelo lado bom não queimava a pele deles; era o argumento que martelava na mente de Hana a todo momento que ela subia no maldito tronco e despencava contra o atrito lamacento, mas mesmo assim doloroso.

Hana estava com os cabelos molhados, o rosto, as vestes e ainda suja de lama, enquanto suas mãos tremiam e seus músculos doíam. Seu corpo estava cansado, não aguentava mais ter que fazer isso, o cansaço nunca esteve tão presente na vida dela e praticamente corroendo qualquer vestígio de energia que ela possuía.

Ela estava sentada na lama, enquanto a chuva fina e fria caía sobre ela. Estava frio, e ela mantinah as mãos trêmulas unidas e esfregando uma na outra tentando, inutilmente, encontrar algum calor. O hálito dela entrava em contato com a pele gélida, mas não fazia efeito se o pequeno ar quente se dissipava em contato com o poderoso ar frio.

Hana vislumbrou Hotaru caindo novamente de costas na lama, sujando o cabelo loiro colado na testa suada do garoto, a essas alturas nenhum deles sabia ao certo se estavam suados ou molhados pela chuva. Takeshi respirava fundo e com raiva, já se encontrava com o pulso cortado pelo tronco e sangrando.

A palavra fracassar os rondava. O medo de fracassar, o medo de não ser capaz era a maldição que se fundiu ao cérebro; Hana se ergueu sentindo dores musculares e em seus ossos, mas ela não iria para o doutor On neste dia, não... Ela poderia morrer de cansaço, hipotermia, a praga que fosse, mas ela não sairia dali até conseguir; caso contrário só sairia carregada ou dentro de uma caixa de madeira velha.

Takeshi estava subindo, Hana não sabia ao certo a vez, perdeu a conta na quinquagésima sétima vez. A fome e a sede não estava colaborando para nenhum deles, já deveria ter passado da hora do almoço e o estômago de Hana parecia querer sair andando só.

A garota se aproximou do tronco e enquanto a chuva ameaçava piorar ela apenas fechou os olhos e encostou a testa ali, sentindo o frio percorrer todo o seu corpo. O vento era forte e intenso, fazia os pelos de todos eriçarem e pedir abrigo, que era duramente ignorado. Hotaru estava atrás sentado com os joelhos erguidos e os cotovelos em cima dos mesmos de cabeça baixa.

Hana ouviu um xingamento alto, mas não retirou a testa do tronco, muito menos abriu os olhos, ou se deu o trabalho de olhar o que havia acontecido. Takeshi caíra.

O garoto dos olhos safiras se ergueu arrancando a parte superior de suas vestas, deixando o peito nu a mostra enquanto suas íris se tornavam rubras e seus punhos chamuscavam. O garoto socou o chão gritando, tamanho era o ódio e o medo do fracasso:

–Poupe esforços, Takeshi.-falou Hotaru de forma fraca:

–Inferno!-gritou Takeshi:-Não, não, não! O que, diabos, estou fazendo errado?! Por quê não consigo subir... Por que?!

–Kore o teishi!-falou Hotaru erguendo os olhos verdes para Takeshi que mantinha-se ocupado firmado sua ira descontrolada no chão lamacento:-Socar o chão só vai te proporcionar mais dor, cara. Ajudar que é bom, nada! E isso me irrita!

–Cale-se!-gritou Takeshi retirando a mão suja de lama e sangue e se sentou no chão sentindo o frio lhe envolver, mas não deixando transparecer. A chuva caía em cima dos corpos dos três de forma zombadora.

Os olhos estavam baixos, a dor os consumia, o cansaço os dominava, a fome corroía e a sede queimava... As respirações ofegantes, não sabiam ao certo se pela raiva. A vontade que tinham eram de chorar, mas do que adiantaria?! Retirar um peso de si com lágrimas não resolve, continuariam no chão do mesmo jeito. Se tudo na vida se resolvessem em lágrimas, não haveriam guerras.

Vencer não é fácil:

–Haruo! Saia daí.-falou Hotaru:-Do que adianta ficar aí?

–Baka!-falou Takeshi baixo:-Isso é ridículo! É mais difícil do que parece, e você não vai ajudar em porra nenhuma com a maldita testa colada nesta praga de tronco! Saia daí!

Hana não se mexia, nem ao menos os encarava ou abria os olhos:

–Não fique derrotado...-murmurou Hotaru:

–Não me venha com palavras consoladoras!-gritou Takeshi se levantando erguendo os braços:-Não estamos aqui pra fracassar! O consolo é uma forma de risada escondida por palavras!

–Nansensu o hanashite teishi!-falou Hotaru se levantando sério encarando Takeshi:-O consolo é a forma de você olhar por um outro ângulo a situação difícil.

–Você leva tudo na brincadeira. Como poderia saber de algo sério.-falou Takeshi com as íris ainda rubras:

–É claro que eu levo tudo na brincadeira, cara! O sorriso é a forma mais fácil de se lidar com situações difíceis, ele esconde o quanto fracassado você está se sentindo!-gritou Hotaru:-Eu levo as coisas a sério, sim! Mas se todo nós começássemos a agir como homens e soldados querendo sangue, não seríamos nós mesmos e sim o que enfrentaremos! Pense bem, cara... Você quer se tornar o que está lhe ameaçando?

–Muyō!-falou Takeshi:-Temos que ser os melhores! Nossas vidas dependem disso!

–Que vida?! Já a perdemos no momento da convocação!-gritou Hotaru erguendo os braços:-Tudo o que tínhamos já era! Pra sua família é uma questão de honra, para o país uma questão de vitória e para nós... Uma questão de sobrevivência! Shūryō shita!

Takeshi riu irônico cruzando os braços:

–Desistiu antes de lutar, Huyata?!-indagou o garoto ainda com raiva:

–Não, eu apenas desisti do que eu era.-falou Hotaru voltando a se sentar.

Hana sentia as lágrimas caindo, as vozes deles pareciam apenas sua consciência e seu orgulho brigando em sua mente vazia e escura. Ela afundou a testa com mais força, chegando a sentir dor, enquanto a chuva ainda fazia seu corpo tremer:

–Droga...-murmurou soluçando batendo a testa uma vez:-Dōshite? Dōshite? Dōshite? Dōshite? Dōshite?

–Haruo...-murmurou Hotaru atrás dela:

–Não!-gritou Haruo/Hana com a voz mais rouca e tentando disfarçar o choro. Não iria parecer fraca:-Eu preciso pensar em alguma coisa!

–Cara, deixa disso!-falou Hotaru:

–Não vou desistir!-gritou Haruo/Hana:-Ou eu serei sempre um fraco ao olhar de todos! Do Mitsuo, dos inimigos, meu Deus até do meu próprio pai! Eu não posso ser o que eles dizem que sou, eu tenho que provar o contrário! Eu preciso...

–Se matando não provará nada.-falou Hotaru:

–Eu não dou a mínima para isso.-falou Haruo/Hana:

–Deixa ele, Hotaru.-falou Takeshi friamente:

–Cale a boca! O cara está praticamente tentando se matar.-falou Hotaru:

–Está tentando pensar.-falou Takeshi:

–Ótimo! Eu vou pegar um tronco de madeira e socar nessa sua cabeça para te ajudar a pensar também.-falou Hotaru irônico:-Vai ser até divertido!

–Não me provoca...-murmurou Takeshi:

–A qual é?! Você não me assusta com esses olhos vremelhos, não.-falou Hotaru:-Se você tivesse pelo menos a metade da força do Shiro, a história seria outra, mas não tem! E aí?!

–Está querendo mesmo acabar queimado, Huyata?!-indagou friamente Takeshi se aproximando.

Hana parou de ouvir a discussão e sua mente apenas focava no nome de Shiro. A garota abriu os olhos forçando ainda mais a testa na parede, as mãos tremendo enquanto sua cabeça rondava o nome do garoto roliço.

Shiro era o mais forte ali, vinha do clã dos touros ele era o mais forte!

Hana se vrou para trás com a testa meio roxa, encarando o chão em um olhar avaliativo e pensador, passou no meio de Takeshi e Hotaru os empurrando, chamando a atenção dos dois garotos. Parou mais a frente com os braços cruzados encarando os dois garotos que a encaravam em confusão:

–Nandesuka?-perguntou Takeshi:

–Shiro é o mais forte de todos os garotos.-falou Haruo/Hana afirmando:

–Depende do ponto de vista.-retrucou Takeshi sério:

–Cale a boca, animal! Ele é sim.-falou Hotaru concordando e levando um soco forte de Takeshi:-Au!

–Quietos!-falou Haruo/Hana antes de Hotaru avançar em cima de Takeshi:-Então, se ele é o mais forte de nós... Por que não conseguiu subir até o topo?

–Perdão?!-indagou Hotaru:

–Se a estratégia empregada fosse uma questão somente de força física, Shiro já teria ganhado essa etapa de exercícios, mas não... Ele não conseguiu também.-falou Haruo/Hana e os outros dois garotos tentavam acompanhá-la:-Na verdade acabou ferido da última vez!

–Tá, então não é uma questão de força física.-falou Hotaru:

–Não, é ainda uma questão de força física, só q...-começou Haruo/Hana:

–Só que com algo a mais, fazendo uma junção.-falou Takeshi:

–Que maravilha! Não temos nem a praga da força necessária e ainda falta mais alguma coisa, é o fim! Somos inúteis!-falou Hotaru se sentando novamente:

–Essa porcaria aqui no pulso não nos ajuda a ir muito longe.-observou Takeshi:

–Mas para o Shiro não houve diferença. Para ele a diferença foi no momento da subida.-falou Haruo/Hana:-Ele tem a força, mas falta algo a mais...

–Dono yō ni omoshiroidesu!-falou Hotaru rindo irônico:-Só falta me dizer agora que se precisa de poderes, elementos, chakras, uma benzedeira... Céus!-resmungou o garoto rapidamente e baixo:

–Não diga bobag...-começou Takeshi, mas parou:

–Espera!-indagou Haruo/Hana ao mesmo tempo:

–O que você disse?!-indagou Takeshi se aproximando de Hotaru:

–Muitas coisas.-falou Hotaru:

–Não, não, não anteriormente.-falou Haruo/Hana:

–Muitas coisas.-repetiu Hotaru sorrindo:

–Eu mato ele se você falar que foi acidente.-falou Takeshi encarando Hana que o fuzilou:

–Sairento!-falou Haruo/Hana:-Hotaru! O que você disse antes de Takeshi perguntar?

–Que só faltava você me dizer que precisaríamos de poderes, elementos, chakras e uma benzedeira para subir lá em cima.-falou Hotaru:

–Sorede oshimai!-gritou Haruo/Hana:

–Até que enfim uma ideia decente!-falou Takeshi:

–O que, a benzedeira?! Brincou que você conhece alguma!-falou Hotaru se levantando:

–Tenho sérias dúvidas sobre seu juízo perfeito, cara.-falou Haruo/Hana:

–Ele está falando do chakra, inútil!-falou Takeshi:-É disso que precisamos. A força, mais a energia natural da vida.

–Com a junção dos dois, conseguiremos subir.-falou Haruo/Hana:

–Um só se completa com o outro.-concordou Takeshi cruzando os braços:

–Trabalho em equipe?!-indagou Hotaru:

–Exato!-falou Haruo/Hana:

–Lindo! Uma beleza, isso aí! Mas como vamos concentrar nossos chakras se nem ao menos sabemos como fazer isso.-falou Hotaru.

–É aí que você se engana, Huyata.-falou Takeshi:-Ainda tem um que é o melhor nesta equipe.

–Só para lembrar foi o Haruo quem enxergou isso e você me irrita, nesse caso eu não sei de quem estamos falando.-falou Hotaru e Hana riu de lado com a expressão zangada de Takeshi:

–Agradeça a Kami-Sama por eu não ter queimado seu cérebro.-falou Takeshi:

–Ter que te aturar não me faz ter que agradecer nada. Eu pedi que você quebrasse a perna e ainda estou na lista de espera.-falou Hotaru:

–Haruo.-falou Takeshi com ódio:

–Hotaru...-murmurou Haruo/Hana para Hotaru que revirou o olhos:

–Takeshi!-bradou Hotaru em irônica:

–Qual a ideia?-perguntou Haruo/Hana:

–Ao contrário de vocês eu presto atenção dos exercícios.-falou Takeshi:-O segundo exercício era de controle de chakra e o de ontem era de foco e concentração, só temos que juntar essas duas merdas!

–Compreendo...-murmurou Haruo/Hana entendendo o que Takeshi pensou:

–Tivemos um exercício de controle de chakra?!-indagou Hotaru:

–O que levamos uma surra.-falou Haruo/Hana:

–Há! Todos levamos uma surra, dá para deixar mais fácil?!-indagou Hotaru:-Seja mais específico.

–A dança estranha e os socos em seguida.-falou Takeshi:

–Ah... Tô ligado.-falou Hotaru:

–Dakara,desu! Alguém sabe fazer aquela dança estranha?-perguntou Haruo/Hana:

–Posso tentar...-murmurou Takeshi sério:

–Vai na frente, irmão!-falou Hotaru.

Takeshi se posicionou no meio de Hana e Hotaru, porém tomou alguma distância de ambos ficando um pouco mais a frente. O garoto fechou os olhos e respirou fundo com as mãos unidas próxima ao peito e fechadas; Hana e Hotaru fizeram a mesma coisa.

Na respiração foram se concentrando fundo em seus interiores, tentando escutar as batidas do peito:

–Com calma, tentem escutar seus corações batendo. Respirem fundo e fechem as mãos com força.-falou Takeshi calmo e sereno.

A chuva começava a se tornar pior, conforme eles respiravam profundamente, logo não existia mais barulho algum de chuva, não existia barulho dos corpos tremendo, as dores, fome e nem sede... Começaram a se concentrarem fundo em seus interiores. Hana achava estranho de início, porém mantinha-se concentrada, até que um som oco se fez presente em seus tímpanos, tornando-se mais forte e rápido conforme ela ficava nervosa.

Relaxou a respiração quando conseguiu escutar seu coração batendo, em um som fantástico e a sensação audaciosa de que a qualquer momento o mesmo iria parar. Hana sorriu ainda de olhos fechados:

–Nanite kotodesu!-indagou Hotaru tremendo levemente:

–Totemo yoi...-murmurou Takeshi sorrindo de lado:- Totemo yoi!

Hana conseguiu sentir algo correndo em cima de seus tecidos, não era sangue, tão pouco algo ruim... Queimava! Aquilo parecia fogo quente, brasas em seu corpo e a menina começou a se concentrar nos punhos cerrados ao lado do corpo, aos poucos ela sentia o calor que antes se encontrava pelo corpo chegar a seus punhos e girar ali.

A menina abriu os olhos para arregalá-los em seguida. Havia uma algo laranja em seus punhos, parecido com fumaças juntas que dançavam em giros e a fazia queimar. Aquilo era a energia da vida que seu pai usava para controlar as chamas, aquilo era chakra.

Ela havia aprendido a controlá-lo:

–Deus!-indagou Haruo/Hana sorrindo abertamente enquanto mexia as mãos:

–Oh, meu Pai! Mas isso é bom demais!-gritou Hotaru mexendo com força as mãos.:-UHUUU!

Hana viu que a coloração do garoto era branca e a de Takeshi vermelha, muito, muito vermelha. O garoto abriu os olhos azuis e aproximou as mãos vermelhas próximos dos olhos, fazendo-o ficar ainda mais atraente, o peito nu subindo e molhado, enquanto a chuva ainda caía sobre seus corpos. Hana se perdeu por alguns instantes em Takeshi até que Hotaru chegou ao lado dos dois com um grande sorriso:

–Yatta!-o garoto loiro disse:

–É, conseguimos!-concordou Haruo/Hana:

–Agora iremos terminar o serviço!-falou Takeshi.

Os dois garotos encararam o Wurochiha sérios assentindo com as cabeças. Cada um dos garotos se dirigiram em uma direção distinta do tronco molhado e escorregadio, a chuva se tornava mais forte e o vento fez suas peles se arrepiarem e fecharem levemente os olhos, porém o chakra em suas mãos se tornaram ainda mais fortes, ignorando o frio e as tremuras do corpo os três garotos encararam sérios o tronco em suas frentes:

–O que faremos...? Apenas corremos e escalamos?-perguntou Hotaru:

–Não seria tão fácil.-falou Haruo/Hana:

–Claro que não!-falou Takeshi concordando:-Tentem manter o chakra forte em suas mãos e fazem força com o mesmo os impulsionando para cima, escalando! E não se esqueçam de suas forças!

Os garotos se prepararam para correr e curvaram o corpo para frente e se mantinham concentrados:

–Agora!-gritou Takeshi.

Os três garotos correram em direção ao tronco em suas direções.

Takeshi pulou alto e começou a escalar o tronco mais a frete dos garotos, Hana ia atrás pois saltou também, porém não tão alto, Hotaru ia atrás rindo e gritando. Por alguma razão estava mais fácil escalar, ainda continuava difícil porém com o chakra e suas forças não estavam tendo tanta dificuldade.

Ofegantes e com dores chegaram ai topo do tronco com a chuva ainda forte encarando todo o acampamento. Um ajudando o outro a se equilibrar, Takeshi agarrou o braço de Hana que agarrou a camisa de Hotaru que gritava e ria como um louco:

–Isso aí! Eii! Nós conseguimos! Conseguimos!-gritava Hotaru erguendo os dois braços se sustentando pelas pernas:-Nós chegamos! Vencemos o exercício! Está vendo sensei Kohaku?! Conseguimos! Uhuu!

Lá embaixo a expressão desgastada e triste dos garotos apertou o peito de Hana, mas foi a ação de Takeshi que a deixou desarmada:

–Utilizem seus chakras junto com suas forças! Um completa o outro!-gritou o garoto Wurochiha agarrado com força ao braço de Hana:-Wareware wa dekimasu...

O peito dela acelerou com o sorriso que ele lhe lançou ainda lhe encarando, a chuva apertava e molhava seus corpos, enquanto seus olhares de felicidades não se desviavam e ambos sorriam um para o outro. Era a sensação que aquecia Hana em meio ao frio que os rondava e os gritos de vitória e felicidade dados por Hotaru.

Ela dominava o chakra de fogo.