Mistakes escrita por Niina Cullen


Capítulo 43
Capítulo QUARENTA E DOIS


Notas iniciais do capítulo

Hoje é meu aniversário, e o presente é de vocês! :)

Estou bem feliz com os últimos reviews. Vocês são demais! Apoiando Bella, incentivando e eu sei que por vezes se sentindo de mãos atadas.

Aqui a gente entra em uma outra questão tão importante quanto Bella (que muitas de vocês já mostraram preocupação). Os filhos. O que acontecem com eles quando são sujeitos a presenciar tantas coisas?

Como na NI passada eu disse pra vocês não confiarem em todos os pensamentos da Bella, isso ainda prevalece. Não é que em um belo dia ela acordou e pronto, estava pronta para fugir.

Espero conseguir mostrar pra vocês algo que doí escrever, mas que no final pode ser libertador.

Vamos lá?! #Força



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Capítulo
QUARENTA E DOIS

 

Dentro de um carro alugado, um Honda prata modelo novo Bella seguiu pela expressa rumo ao JKF onde o seu voo e o dos meninos partiria às 11 horas daquela manhã.

Parada no pequeno transito que começava a se formar nos arredores do aeroporto, Bella olhou para trás, para Benjamin e Noah, ambos sentados em seus bancos elevados e brincando com os poucos brinquedos que escolheram para passar aquele tempo enquanto a mamãe os levava para a melhor viagem da vida deles.

Bella sorriu. Eles eram tão pequenos que não se davam conta da dimensão de tudo aquilo.

Ela voltou os olhos para a frente e seguiu atrás lentamente de uma mini vã que estava lotada de malas e bicicletas no bagageiro.

Férias em família, Bella pensou.

Algo que ela nunca pôde dar aos seus filhos, porque Edward estava preocupado demais com os negócios ou com a sua imaginação fértil sobre traições envolvendo ela e qualquer outro homem - o que tecnicamente não se aplicava somente em férias em famílias, mas em qualquer evento que envolvessem pessoas demais em um mesmo lugar.

Uma vez Bella perguntou porque ele insistia em levá-la para aqueles eventos, para aquelas festas se sempre terminava da mesma forma, com Edward reclamando do vestido que tinha escolhido, por mais comportado que esse pudesse parecer, dos olhares que ela recebia e não pedia por eles como ele parecia imaginar.

Qualquer coisa era motivo de briga, de discussão.

Bella sabia que era apenas um troféu para ele exibir naqueles jantares, mas ela não podia negar que gostava do fato dele querer ela por perto - mesmo que pelo motivo errado. Inferno. Tudo era tão errado.

Não importava o que ela falasse, ele sempre duvidaria dela, quando ela nunca lhe deu motivos para isso.

Tentando afastar aquelas lembranças sombrias da sua cabeça, Bella se aproximou da entrada do aeroporto.

Faltava pouco mais de 30 minutos para a liberação do portão de embarque, mas daria tempo.

Quando Bella finalmente encontrou uma vaga que pudesse estacionar o carro - era meio de semana, férias escolares e por isso o estacionamento estava  lotado - ela saiu do banco do motorista e foi até a porta de trás, ajudou os meninos a saírem de suas cadeirinhas e pegou a única mala grande de rodinhas que tinha trazido e a mochila que estava no banco do carona colocou em suas costas. Ela respirou ainda sentindo uma forte pressão em sua garganta que a impedia de sentir o alívio que devia estar ali em algum lugar, soterrado por tanta tensão.

Ela olhou para os seus dedos vendo a curvatura deles muito mais brancas do que o normal. Bella não tinha notado que tinha feito muita força no volante enquanto dirigia.

Pensando que faltava muito pouco, Bella agradeceu em silêncio por tudo o que Alice tinha feito e vinha fazendo por ela, mesmo depois de tudo.

— Estão prontos?

Colocando seus óculos escuros, Bella tentou sorrir quando fez a pergunta para os filhos.

Tinha que passar confiança para eles que eram tão pequenos, mas percebiam muito mais do que Bella gostaria.

E a resposta deles não poderia ser diferente.

Um grande e empolgante sim.

Eles estavam de calças jeans e jaquetas, tênis que cada um tinha escolhido o seu próprio par para calçar naquele dia.

Sim, eles estavam prontos.

Não, eles não estavam fugindo.

Aquela palavra era tão amarga e dolorosa de admitir. Era a confirmação de seus medos, algo que ela não se achava pronta para fazer. Bella sempre preferiu pensar que o melhor aconteceria e por isso sempre manteve as aparências.

Bella conhecia Edward, ele sabia cumprir uma promessa. Ele os encontraria onde quer que estivessem. E as consequências poderiam ser as piores.

Mas com a ajuda de Alice, ela se sentiu mais encorajada, lembrando do que amiga e cunhada da conversa que tiveram quando Bella lhe contou o pretendia fazer naquela manhã.

Assim que Edward passou pela portões rumo a Cullen Enterprise onde ele teria um encontro de acionistas e provavelmente estaria concentrado demais no trabalho e absorto de qualquer coisa além dos próprios negócios, Bella decidiu que aquele era um bom momento para ligar para ela.

Os meninos ainda estavam dormindo, e ela ainda precisava fazer as malas.

O celular que estava ligando era um das muitas ajudas que Alice tinha dado para ela nos últimos meses. Algo que Edward não poderia desconfiar.

Assim como o notebook escondido, o celular também ficava em um lugar que só ela sabia, um lugar que Edward nunca desconfiaria: naquele quarto.

Bella sabia que ele preferia esquecer, fingir que aquele dia nunca tinha realmente acontecido.

Como ela tentava fazer, porque ele não era o único. Mas diferente dele, ela que ficou trancada no escuro, com dores enquato perdia os bebês que ela nem sabia da existência.

Talvez ele tivesse mais êxito e progresso nisso, em esquecer porque nas raras vezes que ela precisou pegar o celular - ela tinha que ser racional no que significava precisar - para pedir que Alice lhe enviasse um novo livro ou qualquer outra coisa importante, ela sempre respirava fundo e fechava os olhos com mais força antes de tirá-lo do esconderijo, se sentindo ansiosa e enjoada com as lembranças daquele lugar.

Ela estava grávida depois de tantas tentativas, depois de tantas frustrações. E como num passe de mágica, tudo poderia ter acabado.

Lá no fundo Bella sabia que naquele dia, no dia em que Edward a trancou naquele quarto, que ele tinha enlouquecido também um pouco mais a cada hora que se passava e ele não a tirava de lá, até o dia seguinte, quando ele lhe trouxe o café da manhã. Algo que deixou de ter importância uma vez que ele viu sangue no chão, o sangue dela.

Bella passou a mão pela testa, enquanto o celular chamava, se sentindo ainda mais ansiosa do que quando Edward, na noite passada a ameaçou.

Assim que Alice atendesse...

— Bella? Aconteceu alguma coisa, me fala... - Alice atendeu e não pareceu respirar quando soltou tudo aquilo, tudo em uma única frase, palavras emendadas uma as outras.

Bella já devia estar acostumada a afobação de Alice.

Diferente dela, Bella sabia que Alice sempre esperava o pior.

— Tudo bem - ela respondeu, se sentando no sofá e continuando a olhar pela parede de vidro que dava para os imensos portões. Se Edward aparecesse seria mais fácil disfarçar e fingir que nada tinha acontecido. Mas ele nunca voltava, apenas uma vez quando ele quis testá-la.

Ela estava doente, sem forças para se levantar da cama, e quando Edward saiu, sem olhar para trás com as malas para passar duas semana a negócios em países da América Latina, em que ela como esposa deveria estar presente ao lado dele, Bella chorou.

Quando ele voltou, como se estivesse se esquecido de algo, Bella soube que ele a estava testando.

O médico estava lá, e não podia ter sido comprado por ela. Bella não tinha dinheiro, nenhum ao qual Edward não pudesse ter acesso.

Ele sempre sabia de tudo.

— Bella...

— Sim, eu estou aqui - ela afastou as lembranças do passado e tentou se focar no presente. Ela só teria uma chance.

Tudo tinha começado muito antes de Bella ter a ideia de ir para Forks visitar Charlie com os meninos.

Começou quando Bella tinha pedido a Ritta para falar com Alice, sem noção do que estava fazendo, que logo tratou de colocar um celular novo na bolsa de Ritta e quando esta chegou em casa entregou para Bella.

Sem especificar o que Bella queria, Alice tinha colocado esse celular e tinha sido a melhor coisa que Bella poderia ter esperado dela. Porque nem ela mesmo sabia o que queria quando pediu que Ritta fosse até Alice.

O celular que Alice tinha lhe enviado há pouco mais de um mês, ainda não tinha sido usado, Bella o tinha escondido muito bem. Mas quando decidiu ligar para Alice, naquela primeira vez, trancada naquele quarto escuro, o lugar do esconderijo, o quarto que Edward não podia desconfiar que ela tinha conseguido as chaves, Bella se sentiu aliviada, tentando esquecer aonde estava.

— Peraí - Alice começou. - Você quer que eu vá até os correios e te envie alguns livros? - Alice perguntou, incrédula.

Sim, Bella explicou que não queria envolver mais Ritta em nada daquilo.

Algumas coisas poderiam parecer simples, assim como aquele pedido. Mas vindo de alguém que tinha perdido tudo, até o direito de estudar e ir atrás do que gostava de fazer, era muito. Era uma porta sendo aberta quando tantas já tinham sido fechadas. Era a sua única chance de conseguir algo que pudesse lhe devolver um pouco da sua independência roubada. Mesmo que as escondidas.

— E você quer que eu faça isso enquanto ele pode fazer uma besteira a qualquer momento quando descobrir? Bella você tem que fugir.

Bella já esperava por aquela reação. Alice achava que o telefone seria a forma de Bella pedir ajuda. Que agora que ela tinha ligado isso significava que ela tinha acordado. Mas não naquela vez, e não nas outras que se seguiram. Não ainda.

Tudo tem o seu tempo, e Alice sentia medo que o da amiga estivesse acabando.

Era o que ela sempre falava depois que as ligações ficaram um pouco mais constantes. Depois que os meninos acordavam era o segundo melhor momento do dia. Bella nunca se esquecia que tinha que ser rápida ao falar no telefone e que não podia desperdiçar os seus pedidos secretos.

— Eu posso...

— Não, você não pode se envolver mais do que já está - Bella falou antes que Alice começasse a protestar.

Mas Alice não falou mais nada. Que amiga realmente não se envolveria? Alice estava de mãos atadas, esperando que Bella tomasse uma atitude, que ela fosse o bastante para superar os seus medos. E ela não podia fazer isso sozinha. O fato dela estar confiando em Alice, mesmo que estivesse engatinhando nisso, era a prova que Edward não tinha vencido.

Bella sussurrou, incerta:

— Alice eu sei o que estou fazendo.

Alice não concordava totalmente.

Alice entendia que se ela tivesse ligado para polícia no exato momento que se deu conta do perigo que Bella estava correndo, algo muito pior poderia acontecer - esse era sempre o pensamento da vítima e das pessoas envolvidas. Medo. Elas se sentiam incapacitadas. Elas não podiam prever o que Edward seria capaz, não até que ele fizesse. Foi assim durante o primeiro ano de casados, quando Bella nunca achou que ele seria capaz de machucá-la como ele havia machucado.

Corda bamba.

Passando a mão livre pelos cabelos, Bella se perguntou como as coisas podiam ter acontecido tão rápido, debaixo dos seus olhos, sem que ela percebesse que não tinha mais direito sobre si mesma.

Diferente de todas aquelas vezes, essa ligação era para um pedido diferente. Talvez ainda não fosse o que Alice esperava, mas já era um começo. Um passo de cada vez. No seu ritmo. Era difícil.

Agora Bella estava ligando por um motivo diferente, algo egoísta talvez na sua percepção: ela precisava ver o seu pai. Mais uma pessoa no meio disso tudo, uma pessoa que não tinha nada a ver com os seus problemas - Bella estava enganada. Ela pensava que seria mais alguém que seria envolvido naquela história por sua culpa. Inocentes, como os seus dois filhos.

Era assim que Bella enxergava a realidade da sua vida. A consequência de suas escolhas. Da sua primeira depois de muito tempo, quando ela preferiu confiar em seus sentimentos do que na pessoa que ela mais amava.

Ela não percebia que nada daquilo era a sua culpa. Quando confíamos em uma pessoa, quando nos entregamos a ela é desejando que tudo seja perfeito, e nos esquecemos muitas vezes de ficar atentos aos sinais.

Não era sua culpa o fato de ter se apaixonado por Edward mesmo quando quis negar aquele sentimento com todas a sua força. Assim como não era a sua culpa ele ter mudado completamente ou, ter deixado a máscara cair. Também não era a sua culpa ele segurá-la com tanta força por motivos que quem sabe, nem ele mesmo sabia; não era a sua culpa o fato de ter ficado doente bem no dia que Edward precisava da sua esposa ao lado dele, para exibi-la como segundo troféu; assim como não era a sua culpa ele ter conseguido afastar todas as pessoas que ela amava da sua vida.

Uma consciência perdida um dia podia ser recuperada, mas não sem danos, sem cicatrizes.

— Alice eu preciso que me ajude a sair daqui - ela finalmente tinha dito, com a garganta presa. Mas ainda não era o que Alice queria. Não era o que Bella conseguia.

Era quase possível ouvir o suspiro de alivio de Alice do outro lado da linha e Bella se odiava por ser a pessoa que estragaria suas esperanças antes mesmo destas se estabelecerem em seu coração.

A esperança de Alice aquecia o seu coração. Mas Bella só queria um tempo longe. Ela esperava que Edward não viesse atrás. Ele não seria capaz, não com o seu pai lá, não quando ele queria manter as aparências.

— Será uma semana no máximo em Forks, e eu tenho certeza que Edward não virá atrás e mim. Ele saberá respeitar isso - ela se apressou em dizer.

— Ah, é claro - Alice debochou. - É por isso que ele não sabe que você está indo?

Depois que Bella contou sobre os seus planos, Alice ficou desconfiada. Mas Bella precisava sentir confiança nela, como quando sentiu quando enviou Ritta até ela. Alice não podia estragar tudo. Mas e se não desse certo, e se aquilo só piorasse tudo?

O que Bella estava querendo provar?

Que o seu irmão não era um louco? Tarde demais.

Alice queria que Bella saísse daquela casa, que ela levasse não só a si mesma para longe daquela casa, mas também os meninos, mas não daquele jeito, quando Bella já justificava a sua atitude com um voto de confiança naquele que deveria simplesmente desaparecer da sua vida.

Não se engane, você nunca sabe como as pessoas podem te surpreender. Tanto quanto você pode se arriscar em acreditar nisso.

Bella se lembrava das discussões que tivera com Alice antes, das discussões que tivera com qualquer um que fosse capaz de questionar o seu casamento com Edward, e de criticá-lo. Mas agora era diferente, Bella reconhecia a frustração de uma das pessoas mais importantes para ela, e que teve que ficar afastada simplesmente porque era mais fácil acreditar em Edward e em todas as mentiras que ele lhe contava.

Devia ser mais fácil pra ele. Todas as vezes, quando elas discutiam, Bella não conseguia pensar que fosse apenas o seu comportamento defensivo há muito tempo sendo manipulado.

Se Alice perguntasse por que Bella continuava defendendo o seu irmão, ela seria apenas capaz de dizer que o amava e que Alice não devia se intrometer naquilo.

Inconscientemente Bella estava fazendo o jogo de Edward.

Se Bella tinha deixado de fazer todas as coisas que um dia sempre fez, sem pedir permissão pra ninguém, hoje ela devia a Alice por isso estar mudando. Alice trouxe uma pouco de sanidade para a sua vida, mesmo que de longe.

E foi assim que Alice tinha concordado em ajudá-la. Mesmo que o lugar fosse um dos mais óbvios - porque segundo Bella, ela não estava se escondendo - ela tinha que pensar nos filhos, e que não tinha muitos lugares para ir. Não importava que Alice tivesse oferecido uma passagem internacional. Ela não conseguiria. Queria apenas se afastar, tentar recuperar suas forças esgotadas. Queria confiar em seus próprios pensamentos sem que ele os usasse contra ela. Queria também que aquela viagem fosse importante não só para os filhos, mas para si mesma.

Ela não estava pedindo um tempo. Não haviam mais motivos para confiar em Edward, em sua mudança.

Era hora de pensar em si mesma e no que podia ser melhor para aqueles dois pequenos que estavam empolgados porque conheceriam a casa do vovô - eles já tinham até deixado de perguntar sobre o pai. Eles estavam com saudades porque já não viam o vovô Charlie há bastante tempo.

Bella sabia, assim como Alice que Forks seria o primeiro lugar onde Edward os procuraria - se ele tivesse coragem para isso.

O impulso que sentiu depois que chegou em casa com os filhos e viu Edward parado a encarando, e depois a ameaça... E se ela fez tudo por debaixo dos panos, não foi porque tinha escolhido fugir e se afastar de Edward para sempre. Podia parecer idiota, porque isso nunca aconteceria. Você não se afasta completamente de uma pessoa. É um processo, e Bella não sabia quanto tempo mais levaria. Ela podia se surpreender. Ela só queria ter o controle da sua vida uma única vez quando ela o tinha perdido para Edward.

Ela não estava fugindo - ou estava, ela não precisava saber - mas ela precisava daquilo, os meninos também, apesar de todo o perigo que poderiam estar correndo, ela sabia que Edward não faria nenhum mal aos filhos. Mas como ela poderia garantir aquilo, como ela poderia arriscar tanto?

Bella sentia medo por Ritta que ficaria na mansão e Bella sabia que talvez estivesse arriscando muito, por algo tão pouco, algo que não lhe traria certezas de algo melhor quando ela voltasse.

— Alice, assim que eu puder eu...

— Não vamos falar sobre isso novamente Bella - ela repreendeu, e Bella quase conseguia ver o sorriso no canto dos lábios de Alice.

Ela não tinha mesmo como pagá-la. Não por agora.

Alice não estava ajudando somente com as passagens ou com o carro alugado, assim como os pedidos secretos, os livros de psicologia para o seu novo curso de extensão online que ela tinha iniciado. Alice tinha feito muito mais, tinha sido sua melhor amiga quando Bella não conseguia enxergar mais ninguém além de Edward. Ela tinha aprendido a confiar novamente. 

Desde então Bella vinha escondendo tudo em um compartimento pequeno naquele mesmo quarto que um dia ele a tinha trancado, jogado-a aos gritos e a tirando de lá também com gritos só que desesperados. 

O momento agora era outro. E mesmo que Bella estivesse com medo, aquilo era diferente. Assim como talvez pudesse ser a sua última chance.

Eles já estavam próximo ao portão de embarque quando seria a próxima a entregar o seu bilhete e o seu documento para a moça da companhia área, e Bella ainda não sabia se aquilo seria mesmo possível. 

Os meninos ainda pareciam empolgados quando passaram pela moça que sorriu para eles indicando o corredor de embarque do voo com destino a Port Angeles, na classe econômica como Bella tinha instruído para Alice que estranhamente não reclamou.

De longe, Emmett via tudo. Ele queria que Edward Cullen se ferrasse e que Bella estivesse indo embora para sempre da vida dele. Ela não merecia aquilo, nenhuma mulher merecia.

***

Quando eles chegaram em Port Angeles, Charlie estava lá acenando do outro lado do aeroporto onde as pessoas iam até os seus familiares e amigos que os esperavam. Ali estava o seu pai, exatamente como da última vez que o viu, também em um aeroporto, acenando, mas dessa vez era um reencontro, algo que não acontecia há muito tempo.

— Vocês conseguem ver o vovô ali meninos? - Bella apontou, segurando os dois no colo enquanto apontava de lado, tentando equilibrar os dois em seus braços enquanto as pessoas passavam por eles.

— Não - Benjamin respondeu.

— Onde mamãe? - Noah perguntou, e assim como o irmão esticava os pescoço a procura do avô.

— Ali - Bella continuou apontando, sentindo as lágrimas que segurou durante todo o voo descerem pelo seu rosto.

***

Bella estava certa.

Ele não veio buscá-los quando descobriu que eles estavam em Forks.

Pela primeira vez Bella soube que o poder de Edward sobre ela não seria capaz de trazê-lo até ali. Ele temia um escândalo, e mesmo que Bella não tivesse contado nada, era o que Edward esperava que ela fosse fazer no segundo que ele não estivesse mais perto para impedi-la.

Depois que Charlie os abraçou, com os meninos ainda no colo de Bella, eles seguiram pelo aeroporto até a saída, onde eles avistaram o carro de Charlie na chuva do outro lado da pequena fila que começava a se formar na saída do aeroporto.

Estava chovendo.

Não muito, mas aquilo fez Bella respirar fundo como não respirava a muito tempo e deixou que o cheiro limpo entrasse pela sua narina e purificasse seus pulmões depois de todo aquele tempo longe.

Ela ainda não estava em casa, mas logo estaria.

E ela nunca tinha ficado tão empolgada com a chuva, com o tempo nublado. Era aquilo o que ela conhecia, sem surpresas e sem sustos. Sem incertezas.

— Está chovendo mamãe - Noah falou, abraçando uma das pernas de Bella enquanto Benjamin abraçava a outra.

— Está filho - Bella respirou fundo novamente. - Está sim.

***

Diferente do que Bella pensava, na primeira noite dela e dos filhos em Forks Charlie não fez mil e uma perguntas. Ele estava feliz pela filha estar ali, e era isso o que importava.

Bella colocou os meninos para tirarem uma soneca em seu antigo quarto, que agora tinha mais duas camas que Bella nunca pôde imaginar que caberia ali pois era tão pequeno, ocupando o lugar onde estaria a sua antiga escrivaninha, o seu antigo e barulhento computador que zumbia e que a deixava irritada e propensa a ter uma dor nas costas por carregar todos aqueles livros da biblioteca da escola na sua mochila.

O computador não existia mais, mas todas as outras coisas ainda estavam lá. A sua cômoda, os seus livros que não pôde levar para a SW e nem depois quando se mudaram para Nova York.

Quando Bella saiu pela porta ela se lembrou de deixá-la encostada e desceu para a sala, onde Charlie estava fazendo algo para o jantar. Não tinha feito nem cinco horas que eles estavam ali, e os meninos já tinham se divertido tanto brincando com o avô dentro da casa que Bella tinha vivido os melhores anos da sua vida, mas que também tinha sido ali que ela e Charlie choraram a perda da mãe.

— Os meninos dormiram - Bella falou sobre o ombro enquanto se sentava no sofá da sala e puxava as pernas para cima.

Ela tinha vestido um daqueles seus pijamas que já não via há muito tempo - desde que se casara com Edward e ele começou a desprezar aquele tipo de roupa que ela sempre usou e que no começo ele nunca tinha se incomodado.

— Eu não sabia se devia pegar aquelas duas camas pequenas ou se...

— Não, está perfeito pai. Eles já dormem bem sozinhos - Bella sorriu quando viu que o pai se aproximava com duas canecas de café fumegante.

— Um café antes - Charlie ofereceu uma das canecas que segurava para Bella, que pegou e agradeceu, dando um pequeno gole depois de assoprar. Mais uma coisa riscada da sua lista de saudades.

— Senti saudades disso, sabe?

— Espero que não só disso - Charlie sorriu, se sentando em sua poltrona.

— É claro que não pai - Bella riu e tomou mais um gole do seu café.

Do jeito que chovia lá fora, uma chuva fraca, mas constante, eles passariam muito tempo dentro de casa. Na verdade Bella nem tinha imaginado quais tipos de atividades que os meninos gostariam de fazer quando o tempo ficasse um pouco melhor, com menos chuva.

Com as duas mãos na caneca, sentindo a temperatura do café, e o silêncio que se instaurou na sala, só sendo abafado pelo zumbido leve e contínuo da geladeira, Bella sabia que Charlie queria falar alguma coisa, mas como sempre, ele não sabia como perguntar.

Eles já tinham se afastado muito, mais ainda eram pai e filha, e isso jamais mudaria.

— Eu sei que você me esconde algo - Charlie declarou tomando o seu café quando Bella não conseguia encará-lo e quando ela não respondeu, ele continuou:

— Bella você ainda não falou de... Dele nem quando os meninos perguntaram sobre o pai depois que já estávamos no carro.

Isso era verdade. Ela tinha disfarçado, mas tinha tentando explicar, longe de Charlie, antes dos meninos dormirem e perguntarem novamente sobre Edward, que assim que ele ligasse eles poderiam falar com o pai.

Ela sabia que não poderia esconder por muito mais tempo aquilo. O fato dela ter pegado Charlie de surpresa sobre ela estar vindo para Forks com Ben e Noah poderia ter sido a melhor coisa que aconteceu ao seu pai em muito tempo, mas aquilo não diminuía o fato de que ela estava mentindo sobre o seu verdadeiro motivo de estar ali.

— Tem algo de errado - Charlie começava a divagar, e Bella não gostava daquilo. Porque talvez ele pudesse chegar a verdade, o que realmente a trouxe até ali. - Eu sei disso - ele continuou. - Todas as vezes que você não me atendia... ou quando você me ligava, mas sempre parecia - ele parou novamente. Charlie sempre fazia isso quando estava prestes a dizer algo difícil -... distante.

Ela podia falar, Charlie parecia bem, não apresentou nenhuma complicação desde a cirurgia anos atrás, mas... Bella não conseguia. Ela sentia vergonha, sentia medo. Charlie tinha avisado tanto, e ela não quis acreditar, ao invés disso preferiu acreditar em seus sentimentos.

— O que está acontecendo? - de repente Charlie estava de frente para ela, a caneca de café esquecida quando ele tirou a sua caneca também, pegando as suas mãos nas suas, sentado na mesinha de centro. Bella estava certa, ainda era a mesma mesinha de centro.

Charlie nunca foi um pai que Bella esperava contar as coisas, seus segredos, seus medos, mas desde aquela vez em La Push e de Jacob, seu primeiro namoradinho como Charlie gostava de implicar, ela soube que poderia confiar tudo a ele. Mas não que Edward a machucava, não que o seu conto de fadas tinha se transformado em pesadelo, que o casamento que ela estava vivendo era um inferno, e que só estava ali porque queria ser capaz de voltar a respirar, e não porque estava fugindo, como ela preferia ignorar. Se Charlie soubesse daquilo, da verdade, ele não a deixaria voltar. Falaria que ela estava louca e não a deixaria sair dali quando ela precisasse ir embora com os meninos.

Ele não entenderia, na verdade ninguém entenderia que ela não podia fugir de Edward. Ele estaria em qualquer lugar, não importava aonde ela fosse, ou o quão distante ela estivesse. Ele sempre estaria ali, em seus pensamentos.

Bella tentou sorrir para o pai. Alguma coisa ela teria que falar.

Ela abaixou os olhos e contou, contou que as coisas não estavam indo bem no casamento. Não falou das agressões, apenas que não era mais como tinha sido um dia. Charlie apenas ouviu, e tiveram vezes que Bella pensou que Charlie estivesse olhando para o cabide onde ele costumava prender o seu coldre.

Em nenhum momento Charlie disse "eu te avisei". Bella achava que merecia, mas ela estava enganada. Seu pai sabia que algo estava errado e agora se culpava por isso. Quanta dor ela ainda seria capaz de causar nas pessoas que amava?

Do que adiantava tudo aquilo se ela já não acreditava mais no seu casamento?

Era isso o que tinha acontecido, aos poucos. Edward finalmente tinha conseguido afastá-la de tudo e de todos que amava. De tudo o que um dia ela conheceu. Tinha controlado a sua vida, os seus passos. Naquela época ela achava que ele só estava cuidando dela. Do melhor jeito que ele achava possível, porque ele era o seu marido e tinha prometido amá-la, mas ela sabia que aquilo não era cuidado, não era amor. Trancá-la em um quarto enquanto ela estava tento crise de ansiedade, enquanto ela gritava assustada e enquanto ela sangrava e perdia aos poucos algo tão precioso que viera a ser os filhos deles não era cuidado, não era amor. Era doença.

Os meninos acordaram da soneca depois que Bella tinha subido para tomar um banho antes do jantar ficar pronto. Para que Bella não percebesse, Charlie ajudou os meninos quando viu que eles estavam assustados por acordarem em um lugar que ainda não era familiar para eles e chamavam pela mamãe e pelo bastardo do pai.

Charlie sabia que Bella precisava de uma hora só sua, e ele ficou contente quando viu que os meninos pararam de chorar no segundo que viu o avô deles na porta.

— Hey, o vovô está aqui e a mamãe está ocupada, mas o que vocês acham de me ajudarem a colocar a mesa?

Charlie estava feliz em ter os netos em casa, e a filha. Mas tinha algo de errado, e era muito mais do que Bella tinha lhe contado lá em baixo antes de Sue ligar e de Bella subir, falando que tomaria um banho. Ele quase conseguiu ouvir o suspiro de alívio da filha porque a conversa tinha sido interrompida.

Agora, com os dois meninos separando os talheres sobre a mesa de jantar e decidindo quem sentaria do lado do vovô ou da mamãe, Charlie voltava a pensar no que o fez voltar para Forks, e deixar a sua filha em Nova York, onde ela queria estar.

Bella lhe escondia algo, ela não estava lhe contando tudo. Mas tinha uma coisa que Charlie sabia, desde quando ele voltou para Forks, que estava deixando uma grande parte sua naquela grande cidade, um parte que ele não sabia mais como poderia recuperar. Como recuperar confiança da sua Bella.

E para tê-la de volta, ele teria que fazer a mesma coisa que fez quando deixou Nova York e consequentemente a vida dela quando ele preferiu dar o espaço que ela precisava para a viver a própria vida e se afastar, que era a confiança. De novo e de novo a confiança. Então ele confiaria em sua filha, confiaria que a decisão que ela trazia em sua mente, e que a trouxe até aqui para pensar, mas sem realmente admiti-lá, seria a decisão certa. Ele confiava na filha, e para isso ele teria que abrir mão do que acreditava e dar todo o apoio que ele sabia que ela precisaria.

— Vovô, eu posso chamar a mamãe?

Noah, ao que parecia, tinha se cansado da brincadeira de arrumar a mesa para jantar.

— Dá escada Noah, ela já deve estar vindo - era fácil identificar os meninos. Benjamin era o mais tímido, mas engraçado, Noah com certeza era o ficava incomodado se as pessoas não vissem o seu progresso como colocar os pratos na mesa sem derrubar nenhum, e que por vezes precisava mais da mãe por perto.

Os dois eram crianças amorosas e criativas, que não conseguiam disfarçar ou esquecer o que acontecia com os seus pais. 


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Notas finais do capítulo

Ben e Noah, próximo teremos um pouco mais deles.

Bella fugiu sim... mas ela não consegue admitir isso. Voltar ou não voltar... vamos ver como vai ser isso no próximo, então não me matem. Prometo reviravolta! Vai ficar tudo bem! Não se enganem okay?

Em algum review uma de vocês perguntou se teremos um capítulo só do Edward. A verdade é que essa fanfic tombou tanto, mas tanto para o lado da Bella, que eu não consigo mais me ver escrevendo com a voz dele. Eu não sei como fazer isso de uma forma sem que o defenda, mas sem julgá-lo também.

Mas é algo que já estou estudando, mas não consegui chegar a uma conclusão (afinal vai envolver outras coisas).

Se vocês quiserem, me deixem nos comentários ideias... ou se não quiserem, me falem também. Vou seguir o meu coração, mas adoraria saber o que vocês acham de um capítulo dele pro final. Sei que vocês querem que ele se rasteje e tal... Mas deixo aqui no ar que as cicatrizes são da Bella, e cicatrizes são difíceis de olhá-las sem se recordar do que aconteceu para que elas fossem parar ali.

Um beeeijo pra vocês! Até o próximo ;)

[AVISO]

** Sim! kk
*** É só pra dizer que não vou conseguir trazer o próximo em seguida desse :( Mas vamos seguir com a meta de 15 reviews ok? ;)