Mistakes escrita por Niina Cullen


Capítulo 39
Capítulo TRINTA E OITO


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de começar aqui apenas alertando sobre capítulo, mas não vou fazer isso, vou fazer algo um pouco melhor.

**Relacionamento Abusivo: elas ou eles (a vítima) não soforem porque querem. E só quem já viveu isso sabe.

**Para o abusador você “nunca entende nada” e está sempre errada, louca.

**Muito mais do que uma agressão física, a pessoa que enfrenta um relacionamento abusivo passa por uma agressão psicológica constante e moral. Isso pode ser visto quando o parceiro ou parceira expõe o outro de uma forma que o faz perder a vontade de erguer a cabeça. Se essa pessoa te faz se sentir inferior, alguém que não merece nada, então isso é sim um relacionamento abusivo. E em muitos desses relacionamentos abusivos a violência física pode nem se manifestar. O fato da vítima nunca ter recebido um soco ou um tapa não significa nada, ela ou ele pode ter sofrido agressões com gritos constantes, com um aperto forte nos braços. Agressões psicológicas constantes ou não.

**Em um relacionamento abusivo é "comum" que a vítima se sinta controlada. Desde uma peça de roupa até aonde ela está indo e com quem. A justificativa mais comum do abusador é dizer que “teve ciúmes”, quando na verdade isso é possessividade, é controlar a vida do outro, os seus passos. O resultado é isolamento das pessoas que a vítima do abusador mais confia e que poderiam ajudar a sair dessa relação perigosa.

**Quando a violência é física, podemos ver ela se manifestar quando a vítima não quer fazer algo, mas o parceiro (a) obriga, contra a sua vontade. A palavra “não” não tem significado algum para o abusador. Inclusive durante o sexo.

**O abusador usa da força e deixa hematomas, e muitas vezes justifica esse ato dizendo que é “para acalmar você”. Ou querer te abraçar à força por exemplo. A culpa nunca será da vítima, e se o abusador diz que faz isso, que é agressivo ou se sente ameaçado é por causa dela, isso está errado, e ele coloca a culpa toda nela, na vítima. Isso está errado. Somente o abusador é responsável pelos atos dele, NÃO CULPE A VÍTIMA.

Um termo:
***Gaslighting: é o abuso emocional em que o parceiro faz com que você comece a questionar sua própria compreensão da realidade. Com a realidade distorcida, a vítima passa a questionar se aquilo realmente aconteceu, e isso passa a ser um artifício para o abusador dominar a situação ainda mais, não se acreditando mais nem na sua própria sanidade. Falar com uma pessoa de confiança sobre isso é muito importante.


Texto acessado em 13 de janeiro de 2019.
https://www.buzzfeed.com/br/florapaul/sinais-de-um-relacionamento-abusivo

Obrigada a vocês meninas, pelos comentários e pelo apoio sensacional à Bella, essa mulher Sensacional, que continuará sofrendo enquanto pessoas que não tem empatia continuam culpando a vítima em vez de tentar ser amiga e ajudá-la, de estar ao seu lado, de fazer o possível para que ela não se afaste mais de você quando Edward já está fazendo um ótimo trabalhando ferrando com a cabeça dela.

Prestem atenção a esse capítulo, aos mínimos detalhes. Deixei coisas no ar que serão explicadas no próximo.

Vejo vocês lá em baixo porque eu gosto de falar ;)



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Capítulo
TRINTA E OITO

Seus cabelos estavam presos frouxadamente em um coque expondo a sua nuca.

O dia tinha iniciado tranquilo em Nova York, era um daqueles dias típicos de verão em que chovia fraco, mas que depois era o sol que dominava boa parte do dia.

Um dia quente, propício para o seu vestido, só não para aquelas sandálias de salto.

— Estamos vendo o resultado Edward, as ações estão em alta - aquele era o Sr. Mooney falando enquanto se juntava aos outros cavalheiros na conversa sobre negócios. Ou seria o Sr. Sanches?

Ela nunca se acostumaria com aquele monte de nomes, nem quando era secretária executiva de Edward.

Edward tinha apresentando ela a aqueles homens, e quando ele a puxou para seus braços beijando o topo da sua cabeça rapidamente, sussurrando algo sobre a escolha do seu vestido e apertando-a um pouco mais em seus braços.

Em algum dia, muito distante ela tinha achado que aquilo era reconfortante, se sentir nos braços da pessoa que amava, mas agora Bella começava a avaliar os seus conceitos.

Não era mais reconfortante, era como se ela tivesse sido capturada como uma presa.

— Sim, foi um investimento alto nos últimos meses - Edward concordou.

O almoço já tinha sido servido e daqui a pouco começaria o leilão beneficente. Quando eles chegaram, Edward dispensou Jasper dizendo que à noite seria servido um coquetel e que o mesmo não precisaria ficar ali o tempo todo esperando.

Bella não podia esquecer da forma que Jasper olhava para ela, bem nos olhos, de uma forma discreta, mas preocupada, através do retrovisor do carro.

Edward não tinha percebido.

Ela não chegou a confrontar Jasper o motivo de ele ter contado aquelas coisas para Alice, ela simplesmente ficava ainda mais calada no carro quando estava perto dele, quando era só os dois e Bella só respondia o essencial, que era para onde estavam indo.

Ela gostaria de voltar a dirigir, mas aquilo só faria Edward ter mais um motivo para começar uma discussão, uma discussão que seria por sua culpa.

Ela queria se sentar, estava cansada daquela conversa. Era a única mulher ali, e pela primeira vez quis se sentar perto daquelas senhoras mesquinhas que só eram capazes de enxergar seus próprios problemas com roupas e sapatos, e o novo salão que abriu na Fifth Avenue.

— Edward - Bella pegou na mão do marido antes que ele iniciasse uma nova conversa com aqueles homens. - Eu vou me sentar bem ali - ela apontou para a mesa com as senhoras que estavam rindo sobre algo que Kate - ou seria Monica? -estavam falando.

Ele apenas confirmou com a cabeça e se virou para os homens, iniciando uma nova conversa como Bella bem imaginava.

Foi muito rápido e quando Bella se afastou ela viu Esme e Carlisle vindo em sua direção, ela olhou sobre o ombro e viu que Edward também os tinha visto. Discretamente Edward bateu no ombro de um dos homens que estava falando enquanto ria de alguma coisa.

É claro que Edward viria até ela, ele nunca a deixava sozinha, não quando Bella podia ter a chance, e não quando ela poderia ficar sozinha com pessoas que conhecia.

Mas aquelas duas pessoas em particular não eram qualquer pessoa.

Eram os pais dele.

— Edward, Bella - Carlisle os cumprimentou ao lado de Esme que sorria de forma um pouco retraída.

Bella quis se aproximar mais deles, abraçá-los e dizer que já não os via há um tempo. Como quando você encontra um conhecido, um amigo que já não vê há bastante tempo na rua e se sente feliz em vê-lo, quer dizer sobre tudo o que aconteceu nos últimos tempos, mas não era tão simples assim, porque Edward mantinha uma mão presa a sua cintura, impedindo que ele desse um passo que fosse em direção a eles.

E não era como se Bella achasse que tivesse realmente algo importante para dizer sobre os últimos meses.

Então ela apenas sorriu para os dois. Eles só se viam quando Edward decidia que podiam ir para casa dos pais, mas isso já tinha um tempo. E ela não podia ir sozinha, não mais como quando era no começo e eles perguntavam como era a vida de casada e Bella apenas dizia diferente. Mas ela sempre conseguia contornar a situação e fazê-los falar sobre outras coisas, coisas menos desagradáveis.

Para eles ela não podia dizer que sentia que estava perdendo Edward.

Agora naquele momento ela não sabia se podia salvar o seu casamento.

Mas Esme ainda ligava e Bella começou a reparar que, diferente do começo quando ela ligava quando Edward estava, ela começou a ligar quando ele não estava. Era como se ela soubesse o que estava acontecendo, e aquilo sempre deixou Bella muito envergonhada, mas Esme nunca lhe colocava contra a parede, ela sabia sobre todo o drama da gravidez, e que o casamento não estava indo bem, qualquer um saberia.

Mas algo dizia para Bella que Alice tinha contato algo para eles, Bella desconfiava disso, sobre o que ela podia ter contado.

Ela queria esfregar os seus braços brancos e sem nenhuma mancha para que todos vissem que aquilo não aconteceria outra vez.

Ela adorava Esme e Carlisle, e Alice... ela sentia tantas saudades, mas ela não podia simplesmente ligar para ela e dizer:

— Ei Alice, apareça aqui em casa quando quiser para tomarmos aquele champanhe.

Bella nem gostava de champanhe ou de bebidas em geral, e talvez com mais intensidade desde que tinha se sentido mal nas últimas semanas - aquele conhaque amargo ainda queimava a sua garganta desde a vez que Alice disse aquelas coisas e saiu daquela casa batendo os pés.

— Esme é bom vê-la aqui - Bella disse quando percebeu que Edward não tinha dito nada.

— É bom vê-la também - ela respondeu. - Nós contribuímos todos os anos para algumas organizações e esse ano a St. Marie para Crianças e Adolescentes nos escolheu - Esme dizia aquilo com tanto amor, e Bella entendeu o que ela quis dizer com a palavra escolheu. Não era o voluntário, ou o benfeitor que escolhia a instituição, mas sim a instituição que escolhia.

Existiam muitas espalhadas pelo mundo.

E muitas pessoas que dedicavam a sua vida para isso.

— E como vocês estão? - Esme se animou em perguntar. Era Bella que estava sentindo o aperto dos dedos de Edward em sua cintura, mas era a mãe dele que sentia que a qualquer momento Edward podia ir embora.

Então Edward respondeu, antes que Bella pudesse responder alguma coisa em seu lugar. Ele não gostava disso.

— Muito bem.

Bella podia sentir o sorriso de Edward em sua voz, quando ele a apertou um pouco mais em seus braços, mas daquela vez não a machucou.

— Que bom - foi Carlisle que respondeu, mas ele não parecia acreditar muito naquilo. - Bella, por favor não hesite em nos ligar se estiver precisando de alguma coisa.

Alice tinha contado.

Logo Bella perdeu o sorriso nos lábios, ainda encarando seus sogros, totalmente absorta sobre a reação que Edward podia ter tido. Será que ele desconfiaria dela?

Meu Deus. Eles só estavam passando por um tempo difícil. Bella se lembrava exatamente do que tinha dito para Alice.

— Vamos Esme - Carlisle já estava pronto para fazer dar meia volta e sair dali, de perto deles. 

Carlisle se afastava achando que estaria fazendo um bem para Bella. Uma vítima de um relacionamento abusivo não aceita ajuda assim tão fácil, ela tem que reconhecer que precisa dela e Bella ainda não acreditava nisso. É isso é exatamente o que o abusador quer, que a sua vítima não tenha ninguém por perto. É mais fácil controlar quando você está sozinha.

Por um breve momento Esme percorreu seus olhos verdes, dos tons dos de Edward pela sua pele, como se pudesse ver alguma coisa.

— Sim, já estávamos de saída, não costumamos ficar para os coquetéis. Já fizemos a nossa contribuição.

Silêncio enquanto Bella tentava recuperar o sorriso, ainda sendo espremida por Edward em seus braços. Ela colocou uma mão sobre o peito dele e a outra acima das suas costas, aonde ela podia alcançar.

— Apareçam em casa, Alice sente a sua falta Bella - Esme disse, pegando na mão de Carlisle que sorria um pouco confirmando o que a mulher tinha dito. - Nós sentimos.

— Claro - ela respondeu, querendo que aquilo realmente acontecesse.

— Nos veremos no final de semana mãe, é aniversário do papai - Edward respondeu por fim, e Bella tinha se esquecido daquilo.

— Perfeito - Esme agora sorria muito, assim como Bella, tão surpresa quanto ela.

As coisas podiam ser diferentes e ficaria tudo bem.

***

A noite tinha chegado, assim como Edward tinha dito um coquetel seria servido para os convidados e Edward não tinha se afastado dela em nenhum momento - ela também tinha se esquecido dos pés doendo, e da leve repulsão pelos petiscos que eram servidos e que circulavam por ali depois do almoço.

Eles não tinham se separado um segundo sequer durante toda a noite que se seguiu ao coquetel. Mas depois do que parecia ser uma necessidade Bella precisou ir ao banheiro, vendo que os homens que diferente aqueles que Edward estava conversando mais cedo, vinham na direção dele e se juntavam aos de mais cedo.

Foi muito rápido, Bella tentou não demorar como Edward tinha dito e quando ela saiu do banheiro que ficava a poucos metros de onde estavam e enxugando um pouco o canto dos lábios ainda sentindo o gosto amargo nos lábios, foi que ela viu como Edward estava. Não estava mais com um ar despreocupado que ele vinha tendo nos últimas dias. Bella não sabia, mas o fato dela não ter mais ninguém por perto era a vitória para Edward que agora estava em estado caótico enquanto colocava o copo de bebida vazio na bandeja de um garçom que passava ali perto. Bella sentia que se ela não tivesse saído naquele momento do banheiro, ele teria entrado.

— Vamos, acabou a festa - ele disse, agarrando o seu braço enquanto a puxava para fora na escuridão das luzes do jardim.

***

Isso não podia estar acontecendo.

Ele estreitou seus olhos turvos em direção ao banheiro.

— Cullen, e olha que eu não precisei que Jane me contasse, eu vi quando ela e aquele seu motorista se beijaram.

— Não me diga - Edward sorri disfarçadamente. - Com certeza você e a sua esposa devem ter se confundido Alec. Alice aparece muito pouco em casa. Desde que ela inventou aquela cooperativa sem futuro com umas amigas no exterior.

— Se eu fosse você Cullen abriria os olhos.

Alec piscou de forma petulante para Edward, rindo com os outros.

***

— Edward - ele não respondia. Não parecia ouvi-la e aquilo desesperava ainda mais Bella. - Edward, por favor pare o carro.

Eles estavam em alta velocidade, e Edward não a ouvia enquanto mantinha o seu olhos vidrados na estrada depois de ter cansado de gritar e de chamá-la dos piores palavrões possíveis. Ela já chorava desde que Edward a jogou contra o carro e abriu a porta do passageiro ao lado do motorista para que ela entrasse e mandou que ela parasse de chorar. Ninguém tinha vindo atrás deles. Ao que parecia ninguém tinha visto, e mesmo se tivessem visto não teriam feito nada.

Todo o nervosismo e a incapacidade de dizer uma só palavra deu lugar ao desespero. Ele estava correndo muito, em alta velocidade. O velocímetro não pareceu oscilar uma única vez, apenas aumentava a velocidade.

— Por favor - ela chorava enquanto se segurava no banco e fechava os olhos, tentando acalmar o seu estômago, tentando respirar pela boca e expirar pelo nariz enquanto buscava acordar daquele pesadelo.

— O que mais você me esconde Isabella - ele continuava gritando e passava por cada sinal de trânsito vermelho e desviava dos carros. Aquela alturas Bella já não sabia mais para onde eles estavam indo. - O QUÊ? - ele gritou novamente, batendo os punhos fechados no volante.

— Nada - a voz de Bella era apenas um sussurro, sem força.

Sua palavra não valia nada para ele. E nunca valeria, Bella pensou.

***

Edward estava transtornado.

Por que ela tinha escondido aquilo dele?

Saber por outra pessoa, por um Vonturi filho da... e não pela sua esposa, pela sua mulher era muito humilhação. Ser o último a saber o que estava acontecendo debaixo do seu teto era vergonhoso.

Ela não podia ter feito isso com ele.

Não podia.

O que mais ela escondia, por que Emmett não tinha contado nada?

Edward saiu do carro e foi até o lado do passageiro, onde Bella ainda estava. Deu um grande murro na porta do carro quando ele puxou uma Isabella trêmula e que implorava que ele não fizesse nada com ela.

— Cala a boca - ele semicerrou os olhos, e apertou os dentes com furor e a puxou pelo jardim até a escada e a frente.

Ele devia saber, devia saber que ela não merecia nada de bom que pudesse vir dele. Mulheres feito Katherines, ou Isabellas não mereciam confiança alguma.

— Você me enganou quando eu perguntava se Alice tinha vindo?

Suas mão ainda estava fechada sobre o braço dela, abaixo do ombro, enquanto eles entravam e Edward a levava rumo as escadas, mas ele se lembrou de algo:

— Suba - ele disse. - E não pense em fazer nenhuma besteira.

Ele viu quando Isabella correu pelas escadas, com as mãos a frente do corpo como se previsse uma queda a qualquer momento e buscasse alguma proteção.

Edward foi até a cozinha e gritou pela empregada. A mesma que Bella tinha insistido para que ele não substituísse - ela tinha tramado tudo, não tinha? Até mesmo alguém de confiança.

Mas nada de Ritta.

Testar a lealdade de Isabella era o que ele mais fez nos últimos tempos. Deu corda e agora ela se enfocava. Mas ele preferia ter sido alertado antes por Emmett, pelas pessoas daquela casa vazia. Pelos olhos que eles deveriam ser quando Edward não estava em casa.

Ter feito com que Isabella desistisse de muitas coisas era só o começo porque ele a faria renunciar a si mesma. Ela deveria saber quem é que mandava ali, a quem ela devia respeito. Ele era igual a Katherine. Todas eram.

Enquanto Edward apressava os passos na escada, ele pensou que não podia confiar mesmo em ninguém. Ele estava cego, não conseguia ver que a burrice que estava fazendo não teria volta, nunca mais.

Esse não era o caminho, mas ele nem sabia, não podia saber, mas nunca seria capaz de se perdoar pelo o que estava fazendo. Não existiam justificativas para aquilo. Nenhuma.

***

Bella procurava alguma coisa, algo que pudesse se defender.

Deus, ela não queria aquilo, mas o que ela podia fazer.

Tinha acabado de vomitar o almoço de mais cedo e aquelas taças de bebidas que circulavam por todo o jardim. Ela deixou passar a maioria delas, mas o enjôo continuava, ela precisava limpar o quarto antes que Edward subisse.

Antes que fosse tarde de mais e ele fizesse uma besteira, não pela sujeira, isso não, aquilo não a preocupava de verdade, mas sim pela sua mentira.

Ele tinha mesmo perguntado se ela estava vendo Alice - ele tinham até discutido por isso, Edward tinha desconfiado dela, mas agora ele tinha certeza. Alguém tinha contado, algum daqueles homens, e ela não podia negar, mas Edward não tinha lhe dado espaço para falar. Os gritos dele ainda explodiam na sua cabeça causando-lhe mais mal-estar e queda de pressão. Ela sentia que podia cair a qualquer momento naquele carpete, ela só esperava que a queda pudesse ser silenciosa.

A porta estava apenas encostada e ela não tinha encontrado nada, não no meio de toda aquela loucura. Se Bella pensasse um pouco mais, se ela tivesse tido tempo para isso, ela teria ido até o espelho sobre a bancada de pedra do banheiro e teria pego a tesoura que tinha usado mais cedo para cortar algumas pontas do seu cabelo.

Defesa. Bella não sabia o perigo que estava correndo até o momento em que Edward empurrou a porta e a fechou atrás de si, vindo em sua direção lentamente.

Os olhos dele estavam tão vermelhos, e Bella continuava chorando, pedindo desculpas por algo que ela não tinha culpa, que ninguém tinha.

— Isso não podia ter acontecido, não debaixo do meu teto, da minha casa - ele gritou. Ele gritava muito e passava as mãos nos cabelos em desespero. Bella estava com as mãos no ouvido e queria que Edward ficasse parado e não avançasse mais porque aquela altura ela não seria capaz de impedi-lo de fazer uma besteira.

Quando aquele inferno acabaria?

— Você está certo, sua casa - ela sussurrou, abaixando a cabeça quando sentiu a presença de Edward, agora mais perto. Ela nunca tinha se sentido em sua própria casa, nem mesmo nos momentos que ela achava que eram felizes, que eram verdadeiros para ela, quando apenas passava de uma invenção, antes do seu casamento com Edward.

— Você não devia ter me escondido isso Isabella.

Quando Bella levantou os seus olhos em direção ao rosto de Edward ela viu fúria, raiva, loucura - muito mais do que antes, quando ele a puxou pelo jardim o para fora do carro depois que chegaram. 

Ela estava descalça, tinha arrancado os saltos do seu pé no corredor antes de correr para o quarto. Ela podia ter se trancado no banheiro, mas ele teria feito algo, ela sabia disso.

— Edward, o que você está fazendo? - suas perguntas já não faziam mais sentido, nem para ela mesma. - Para - ela gritava enquanto Edward a levava para fora do quarto, a puxando pelo mesmo braço que já estava vermelho sob a marca da mão dele. O seu outro braço terminantemente esquecido, já não doía mais pelo seu descuido ao colher as rosas. Aquilo parecia ter acontecido há um século.

Edward a levou para um quarto que Bella desconhecia, afastado dos quartos principais, Bella continuava lutando contra o aperto de Edward em seu braço.

Quando eles pararam em frente a porta e Edward pegava a única chave que segurava na outra mão, Bella continuava protestando contra o aperto em seu braço e gritava desesperadamente para que ele a soltasse.

— Não Edward, não. Não me deixe aqui. Por favor, não me deixe aqui.  

— Cala a boca - ele se voltou para ela, apertando ainda mais o seu braço agora com a outra mão também, e a chave. - Vai ser pior pra você se alguém chegar aqui.

Quando Bella não respondeu nada, se calando, Edward perguntou:

— Entendeu?

Ele não esperou pela sua resposta, porque assim que voltou a colocar a chave na fechadura e a girou, abrindo a porta em seguida ele a jogou lá dentro não se importando se algo estava no caminho e a fizesse cair, embora Bella tenha conseguido restabelecer o equilíbrio enquanto olhava para um Edward parado, impedindo a sua visão do corredor.

Humilhada, era assim que ele se sentia.   

— Não tente fazer nada, não ouse gritar e se você contar para alguém o que aconteceu hoje aqui, ninguém vai acreditar em você. Você me escutou?

Ela balançou a cabeça uma única vez, afirmando. Ela não pensava mais no que podia ter feito, mas sim no que a tinha levado até ali, até aquela situação. As aulas da faculdade não ensinaram sobre o que fazer em situações como aquela. Eles ainda estavam na teoria, e Bella conhecia alguns distúrbios que nunca pensou que um dia seria capaz de vivenciar. Seu corpo tremendo, seu nível de adrenalina finalmente baixando, o nervosismo, peso se acumulando em seu peito, em seu estômago. De alguma forma Bella sabia que aquilo era só o começo. O começo de uma longa estrada que ela teria que percorrer rumo a sua recuperação. Se é que um dia aquilo seria possível.

— Edward, por favor - ela implorou mais uma única vez. Ela tinha que tentar, tinha que continuar tentando. - Me escuta, me deixa falar o que aconteceu.

— Mentiras Isabella, mentiras é o que sai da sua boca. O que mais você pode ter escondido de mim? Eu nem posso confiar se você na verdade não era a pessoa que estava com Jasper.

— Não - ela se apressou em dizer, correndo até Edward e tentando segurar em suas mãos. Ela queria fazê-lo recobrar a consciência, numa tentativa vã de fazê-lo ver que estava enganado sobre aquilo tudo, e que ele precisava acreditar nela. - Me escuta, por favor.

— Se afaste, não quero saber o que você tem a dizer, você não disse quando devia ter me contado que a minha irmã estava saindo com aquele... com aquele... - ele cuspia as palavras em Bella, não conseguindo ao menos pronunciar o nome do motorista.

Pelo menos ela sabia que Edward não acreditava mesmo que podia ser ela a mulher que Jasper estava saindo. Alice a mataria se ouvisse aquilo. Eles não estavam saindo. Estavam construindo uma relação juntos.

— Agora preste atenção no que eu te disse, em tudo, porque do contrário o tempo aqui será muito mais longo.

E então ele puxou a porta, trancando-a novamente quando Bella se jogou contra ela e gritava o seu nome. O quarto antes estava vazio, e agora, ela estava dentro dele, trancada junto de objetos, e de caixas perfeitamente organizadas. Edward não tinha mesmo nada a esconder ali, mas o fato dele ter colocado a sua esposa dizia muito sobre a pessoa que ele realmente era.

Bella perdia a sua voz conforme os passos de Edward se afastavam pelo corredor e ela tinha que permanecer em silêncio se quisesse sair dali.

Então deslizou as suas costas pela madeira da porta e se arrastou até o móvel ao lado onde ficou sentada naquele pequeno espaço. Até que ela não teve mais forças e foi caindo em uma escuridão profunda. O enjoo não existia mais, a repulsa estava de lado, agora o que mais a incomodava era a dor em seu estômago. Talvez por ter esvaziado ele minutos antes, duas vezes em menos de uma hora. O líquido ainda continuava no chão do belo quarto que dividia com Edward.

A dor continuava, enquanto ela fechava os olhos e se entregava a ela, ao cansaço, mas algo muito pior a preocupava. O que Edward poderia fazer com ela? Eles não ensinam isso na faculdade.


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Notas finais do capítulo

Saibam que não foi fácil escrever esse capítulo. Nenhum desses últimos tem sido.
Prestaram atenção aos detalhes?

No próximo vocês saberão.

Algumas coisas vão mudar. Para melhor, eu prometo.

Vou revisá-lo, vai que vocês se empolgam e já querem ele pra amanhã? kk Aguardo comentários!!!


O que foi isso? Em menos de 24 horas tivemos mais de 12 reviews (o mínimo que eu estava colocando como meta). Isso mostra como vocês realmente estão comigo e com Mistakes e principalmente com a Bella.

O comentário inicial foi apenas um desabafo. Ninguém é obrigada a estar aqui e ler a fanfic, mas peço que reveja seus conceitos se for pra julgar a vítima. Um dia eu fui a pessoa que que julgou, e tive a ajuda de alguns livros que me fizeram olhar de um jeito diferente para a vítima de um relacionamento abusivo.

**No Escuro,Elizabeth Haynes (editora Intrínseca, 2011)

Posso indicar outros se quiserem, é só deixar nos comentários ;)

Me desculpe se pareci um pouco agressiva, talvez não seja falta de empatia só, mas o conhecimento também.


*** Carlisle e Esme temem pela Bella, eles sabem o que está acontecendo. Mas acham que não devem interferir. É o que vemos nos dias de hoje e desde sempre. As pessoas preferem se abster a ter que ajudar, e não vejam isso como um julgamento. Carlisle é Esme são as figuras que se sentem de mãos atadas.

**Lembro que estar em um relacionamento abusivo não é apenas para duas pessoas de sexos opostos e que você não precisa ter necessariamente sexo com ela também. Ela pode ser uma pessoa da sua família ou a sua melhor amiga.

Obrigada por estarem aquiii *-*
Vejo vocês logo? Vou ficar esperando!