Mistakes escrita por Niina Cullen


Capítulo 38
Capítulo TRINTA E SETE


Notas iniciais do capítulo

Atingimos os 12 comentários que é o mínimo para poder postar outro capítulo há uns dias, mas eu não tive tempo. Me desculpem!
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Eu sei como é difícil comentar em uma história que já está em seus 30 e tantos capítulos, mas saibam que é importante sim e faz uma grande diferença. Se vocês estão gostando de Mistakes deixe eu saber disso, deixe que outras pessoas também saibam disso. Algumas meninas chegaram agora e tem comentado.

Mas deixo um pedido pra vocês que podem comentar e que eu adoraria saber o que estão achando, e isso não é só para Mistakes, mas para qualquer fanfic que vocês estejam lendo atualmente.

Obrigada! ;*



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A luz adentrava o quarto entre as frestas da persiana aberta quando Bella acordou, seus olhos um semicerrados com a claridade.

Ela buscou algum som, alguma respiração que a fizesse ter certeza de que não estava sozinha naquele quarto imenso, quando se virou para o outro lado da cama, para o lado vazio, claro, e esticou um de seus braços.

Não podia ser diferente.

Será que um dia tinha sido mesmo, ou era apenas a sua imaginação?

Como esperado, Edward já não estava mais na cama ao seu lado.

Era sempre a mesma coisa, e ela ainda não tinha se acostumado. Ele nunca lhe acordava para lhe desejar um bom dia ou suspirar sobre seus cabelos dizendo que a amava. Não mais. Talvez fosse mesmo tarde demais. Tarde demais para perceber que seu pai estava certo.

Naquela última conversa deles, antes do casamento quando Charlie disse que não viria, ele tinha dito para que ela não deixasse de viver a sua vida por ele.

— Não deixe de viver a sua vida por ele.

Foi doloroso ouvir aquilo. E o peso da realidade agora a assombrava.

O contato com Charlie foi ficando cada vez mais difícil ao longo dos meses que seguiram após o casamento. Ele nunca perguntava sobre Edward, ou sobre ela. Apenas deixava que ela tomasse o rumo da conversa - talvez fosse mais seguro assim, para os dois. Até que Bella não tivesse mais o que falar.

— Sim, ter que gerir uma equipe no Departamento Pessoal é uma grande responsabilidade, e ele confia em mim.

Com ele, Bella queria dizer Edward.

O quão menos aquele nome entrasse na conversa mais tempo ela ficaria com o pai na linha. Mas Bella queria contar, queria falar sobre ela, e tudo o que dizia respeito a ela, Edward estaria envolvido sim.

— Não, ele achou melhor assim.

Charlie tinha apenas questionado sobre o cargo que ela tinha antes de ser supervisora do Departamento Pessoal, depois que ela entrou na NYU - algo que tinha mais a ver com a área que ela estava estudando.

— A NYU é legal pai, e eu finalmente estou fazendo o que queria.

O que ela podia dizer? As coisas estavam melhores, ou ela imaginava que estivessem.

Até que não existia mais o que falar.

— Sim, está tudo certo com o coração do seu velho. Voltei agora cedo de Portland e o resultado dos exames são supimpas.

Bella sorriu com a lembrança daquele dia.

Antes dele ter se tornado o pior deles, até então.

— Supimpa pai? - ela riu, colocando a bolsa em cima da cama e tirando os sapatos. Salto alto, mais especificamente Armani. Ela tinha feito um bom progresso em se manter em pé neles, e em qualquer outro, nos últimos meses. Edward tinha lhe dado eles. - Ninguém mais usa essa palavra.

— Bom, eu uso - Charlie soava orgulhoso, divertido.

— E como foi hoje na faculdade?

Bella passou o celular para a outra orelha e abaixou a cabeça, esfregando a ponta dos dedos da sua mão livre sobre a sua testa franzida. Há quanto tempo que ela não falava com Charlie? Os eventos que Edward a levava tinham ficado cada vez mais frequentes, as viagens que eles faziam também - enquanto ele discutia negócios com os homens, ela tinha que ficar com as exuberantes mulheres, ouvindo enquanto elas falavam as piores futilidades que já tinha ouvido em toda a sua vida.

Quem discutia sobre vestidos, sapatos e bolsas quando tinha acontecido um atentado no metrô de Nova York mais cedo?

Eles já não se falavam há pouco mais de 1 mês, devia ser isso.

Bella tinha ficado muito abalada com seus próprios problemas, e nem mesmo atentados eram capazes de fazê-la ter um pouco de compaixão e parar de pensar em si mesma. Em parar de ser egoísta quando o seu marido só estava pensando no que seria melhor para eles, para a família que eles deviam construir.

— Pai, eu resolvi dar um tempo.

Silêncio do outro lado da linha.

Talvez ela não tivesse sido feliz na escolha de palavras.

— Um tempo? - Charlie questionou alto do outro lado da linha. não parecia entender. Mas quem entenderia? Ela estava indo bem, tirava as melhores notas, como sempre, e já conseguia pensar em um futuro depois que se formasse. Mas ela já tinha um futuro, ao lado do homem que amava, o que mais ela poderia querer?

Viver.

— Sim, ér... - o que ela poderia dizer sem que aquilo fizesse com o pai odiasse ainda mais Edward? Ele desprezava veementemente qualquer informação que o mencionasse diretamente, como quando Bella quis contar para o pai sobre o prêmio que Edward tinha recebido devido a sua a participação da Cullen Enterprise nas mídias sociais durante as eleições naquele ano, dissipando as ilustres fake news na campanha de nossos principais candidatos a presidência dos Estados Unidos.

— O que aquele desgraçado...

— Pai, não - Bella o interrompeu.

Aquela tinha sido a primeira vez que Charlie se referia a Edward depois das suas palavras de felicitações para o casamento deles: 

— Não deixe de viver a sua vida por ele.

— Eu quis assim, ok? – ela se exaltou.

Naquele momento tudo o que Bella queria era não ter começado aquela discussão.

— E por que raios você ia querer isso - ele estava muito nervoso, aquilo poderia complicar tudo, a sua saúde. - Por que você desistiria de tudo novamente Bella?

Era o direito dele como pai saber, e pela primeira vez em muito tempo, desde que tudo tinha acontecido, Bella contou.

— Estamos tentando engravidar e... Achamos melhor que eu priorizasse isso ao invés de algo que eu posso ter a qualquer momento.

O que era verdade.

Agora ela estava falando como uma daquelas mulheres que ela tinha que conviver durante os jantares de negócio de Edward – mas diferente dela, aquelas mulheres provavelmente só frenquentaram uma faculdade por causa do status.

Com o silêncio que se formou do outro lado da linha, Bella pensou que Charlie pudesse ter desligado.

— Um filho Bella? - ele parecia mais calmo.

Sim. Um filho. O bebê nem existia e já estava sendo capaz de mudar o rumo que tinha tomado aquela conversa.

Até que Bella ouviu passos apressados no corredor e Edward escancarando a porta que estava encostada. A porta teria batido contra a parede se não fosse as caixas que estavam ali. Algumas roupas que Bella tinha separado para um bazar beneficente que Esme tinha comentado. Todo o dinheiro arrecadado iria para instituições não governamentais em prol de mulheres e crianças em vulnerabilidade.

Charlie ainda continuava em silêncio, e ela esperava que ele ainda estivesse absorto, envolvido com a ideia de ser avô.

Edward estava com os olhos vermelhos, cabelos como sempre revoltos demais como se ele tivesse tido um dia daqueles, mas não era aquilo que preocupava Bella, mas sim o que ele carregava na mão.

Bella conhecia aquele envelope.

Era um informativo sobre o valor de uma consulta que seria debitada de sua conta, uma conta que Edward tinha acesso, uma conta que era mais dele do que dela. O dinheiro era todo dele.

Não era para ele saber daquela forma.

Não era.

— Pai, eu...

Edward entrou no quarto e falou de uma forma que somente Bella pudesse ler através do movimento apressados de seus lábios: desligue o celular.

— Bella você tem certeza? É cedo demais, você tem tantas coisas para viver ainda.

— Pai eu preciso desligar.

— Quando você vem? - ele perguntou, fazendo com que Bella se lembrasse porque tinha ligado assim que chegou em casa. Tinha sido a sua segunda consulta com o Dr. Williams, Bella ainda estava tentando entender como funcionaria aquilo e em que momento ela dividiria com Edward a sua ideia.

— Eu vou estar em Forks em duas semanas, para a missa da mamãe - ela garantiu, se despedindo logo em seguida de Charlie.

— Edward - ela suspirou, tentando parecer neutra, sorrindo enquanto deixava o celular ao lado da sua bolsa ao pé da cama.

Quando ela se levantou, para cumprimentar Edward que agora estava a sua frente, ele jogou o envelope branco com o logo da clínica de fertilização artificial sobre o seu peito. A força fez com que ela caísse sentada novamente.

— Eu espero que você saiba me explicar que inferno é isso - Edward gritou para ela.

O envelope tinha caído a seus pés antes que ela pudesse pegar. Ainda sentindo o impacto sobre o seu peito.

— Me fala porra - ele gritou novamente, fazendo Bella fechar os olhos.

— Eu recebi esse envelope informando uma consulta para um tratamento de fertilização artificial. Tratamento esse que você já começou.

— Não é assim Edward - erguendo a cabeça para olhá-lo nos olhos ela teve medo.

— Você pensou o quê? Que poderia aparecer com um bebê aqui, um bebê que não seria meu? - ele caminhou para longe dela, esfregando as mãos nos cabelos já desgrenhados, como se pudesse arrancá-los.

— Não - Bella se levantou, ignorando o incomodo em seu peito e indo até ele que estava próximo a janela e pegou em seu braço. - Edward me escuta - ela tentou virá-lo para que ele a olhasse e que ele pudesse ver a verdade em seus olhos.

Em resposta ele puxou seu braço com tamanha brusquidão, se virando para ela.

Mas para a surpresa de Bella, ele não disse nada. Ele lhe daria a chance de explicar.

Colocando os dois braços lado a lado do seu corpo imóvel, Bella olhou bem nos olhos de Edward, que não conseguiam ficar parados, eles estavam escuros e vermelhos.

— Talvez seja muito cedo para isso, mas eu queria que pudéssemos ter uma... alternativa - ela hesitou nessa última palavra. Não era a melhor.

— Edward eu sei que devia ter te contato assim que eu marquei a minha primeira consulta com o Dr. Williams, mas...

Bella não sabia mais o que podia falar. Ela tinha errado. Tinha errado muito em esconder aquilo de Edward, mas ela não faria nada antes de contar para ele. Aquilo era apenas uma consulta. Ela queria entender melhor como funcionaria aquilo se eles realmente precisassem.

— Mas o que Isabella? Você resolveu ter um filho de qualquer um? De um desconhecido?

— NÃO!

Edward semicerrou os olhos quando Bella gritou. Gritou desesperada para que ele a ouvisse, para que ele parasse de acusá-la de coisas que não eram verdades. Ela gritou para que ele acreditasse nela, que aquela briga terminasse.

— Você ia me enganar, ia falar que o filho era meu quando na verdade era de outro, desse tal de Dr. Williams?

Bella colocou a mão na cabeça atordoada.

Edward não era idiota. Ele sabia o que significava uma clínica de fertilização artificial. Significava que Bella nunca conheceria a pessoa que seria doadora, mas também significava que Edward era o culpado por aquilo. Que era culpa dele ela não poder engravidar.

— Se você acha mesmo que tem algum problema comigo, saiba que esse problema é você - ele acusou apontando e bramindo em sua direção. - Um filho foi o que eu te pedi, e até agora você só tem gastado o meu dinheiro para nada. Nada.

Edward estava cada vez mais próximo, e suas mãos estavam em punho enquanto ele gritava aquelas coisas para Bella, cada vez mais perto, então ela correu, enquanto ainda tinha tempo.

A porta estava aberta o que facilitou a sua saída por causa da porta que Edward tinha escancarado quando a viu sentada conversando com Charlie, e então Bella correu para ela. Estava descalça e quando chegou ao corredor quase foi ao chão, ali não tinha carpete, era piso de madeira encerado e ela rezou que não escorregasse ali, e continuou correndo para as escadas quando sentiu seu corpo sendo jogado contra a parede, com força, tirando todo o seu fôlego.

Edward estava imprensando-a contra a parede. Tinha segurado-a pelo braço antes que ela descesse o primeiro degrau da escada.

Ele gritava muito, e apertava seus ombros enquanto ela chorava.

Ninguém estava na casa, apenas os dois.

No dia seguinte Bella viu os hematomas nas costas por causa do impacto contra  a parede, quando seus ombros e braços tinham a marca das mãos dele.

Aquilo logo passou, já não doía como quando aconteceu, mas algo era capaz de machucar mais do que a força dele contra a sua pele quando ele a jogou contra a parede. Ele jurou que ela nunca mais iria naquela clínica, que ele descobriria o que tinha de errado com ela com um médico de confiança e que ele iria com ela para se certificar. Eram suas palavras de raiva que a machucaram mais naquela noite.

As coisas começaram a ficar ainda mais descontroladas quando ela se viu com medo de sair de casa porque talvez Edward pensasse que ela podia estar fazendo algo que lhe desagradasse. Ele a acusava constantemente.

As duas semanas se passaram e Bella não pôde ir para Forks, para a missa que tinha sido organizada para a sua mãe, em memória a ela. Edward a proibiu naquela mesma noite na escada de ir. Disse que não confiava nela, e que inventasse qualquer coisa, porque dessa casa você não sai. Era exatamente o que ele tinha dito quando ele a deixou ali, chorando, deslizando pela parede até o piso de madeira, quando ele se retirou e foi para o quarto.

Bella ainda se lembrava daquele dia. Algumas lembranças deviam ser esquecidas.

— Bella, eu tentei te ligar, mas o seu celular continua dando fora de área.

Bella queria falar para o pai que o seu celular tinha sido trancado no escritório, pelo seu marido, e que Edward só o devolveria quando bem entendesse.

Talvez nunca.

Mais tarde ele devolveu o celular, contornando o seu corpo com os braços fortes. E então levou alguns dias, até que Charlie se deu por vencido e ligou no telefone fixo. Esse não tinha sido confiscado.

Bella sentia vergonha de ver que o pai estava ligando, e quando Charlie ligou no telefone fixo ela não pode fazer nada. Tinha que atender.

— Sim, é... Talvez eu precise comprar outro, mas isso não importa agora. - Ela tentou soar normal enquanto agradecia que Edward já tinha ido para a Cullen Enterprise, Charlie tinha mesmo um time perfeito.

Ela estava olhando para a piscina através das portas de vidros fechadas quando atendeu o telefone, hesitante pensando que fosse Edward ao telefone. Ele fazia isso às vezes - na maioria deles - para saber se ela estava em casa, e ele nem disfarçava. Ele não precisava.

— O que aconteceu? – Charlie perguntou. – Você estava tão estranha quando desligou o telefone.

Sim pai, meu marido queria conversar comigo, sobre algo que eu não deveria nem ter pensado em fazer, quando ele se descontrolou, ela quis dizer. Mas isso não era coisa que se podia falar, não quando o seu pai sofria de ataque do coração. Não quando o seu pai já odiava mortalmente o seu marido sem antes ter um motivo válido para isso. Não quando o seu pai estava longe, e não poderia fazer nada de onde estava. Não quando ela, a esposa, sabia que tinha que cuidar do seu casamento, resolver os problemas sozinha.

— Não, eu... - droga Bella, você não consegue concluir uma frase sem ter que emendá-la a outra? - Pai, eu não estou me sentindo bem e acho que não vou poder ir para Forks, para a missa da mamãe.

Bella engoliu o soluço que se formava no fundo do seu peito e soltou um suspiro longo quando afastou o telefone. Charlie não precisava saber de nada, nem das coisas que Edward disse.

— Esquece, você não vai a Forks, esse será um castigo para o seu pai também.

Ela precisava ir direito ao assunto, antes que Charlie desconfiasse.

— O que você tem? - ele perguntou, querendo entender muito mais além do que a filha estava lhe dizendo.

Ela tinha que terminar logo aquela conversa, antes que ela não suportasse mais o peso da mentira.

— Eu tenho sentido um mal estar, enjoos, mas Edward já conseguiu uma consulta para mim - mentira.

— Bella, você acha que já podem ser os sin...

— Não, não - ela se apressou em dizer, mas depois pensou que talvez fosse melhor assim porque Charlie tinha se afeiçoado a ideia, mesmo que ele não admitisse, de ser avô. - Sim, quer dizer... é muito cedo ainda, mas eu vou a consulta e teremos uma resposta.

— Entendo - ele concordou.

— Pai, eu não quero que alimente esperanças, talvez seja apenas uma virose, um mal estar como eu mesma disse, mas não poderia viajar nessas condições.

— Tudo bem, você poderá vir quando quiser.

Era tudo o que Bella queria ouvir.

— Bella? - Charlie chamou.

— Sim pai.

— Você sabe que Forks é e continuará sendo a sua casa, não sabe? - aquela pergunta tão simples fez Bella pensar em momentos bons, momentos quando ela sabia que a sua casa era agora em Nova York, e continuaria sendo até que Edward a quisesse em sua vida.

Será que ele já estava repensando as suas escolhas?

Ele tinha se arrependido?

Ela nunca saberia as respostas se continuasse deixando que o medo a dominasse, o medo que ele tornasse os seus questionamentos fatos reais, onde ele se divorciaria, dizendo que ela não era mulher para ele, e que ele deveria encontrar outra, uma a sua altura.

Inferno.

— Sim, eu sei - Bella respondeu, sem muita convicção ou entusiasmo. Ele era o seu pai, e apesar de querer o melhor para ela, ele não podia saber que existiam dias, dias como o da noite passada, que ela queria fugir, fugir para bem longe, um lugar onde Edward nunca a encontraria.

Assim como o seu pai, ninguém seria capaz de entender os seus medos, os seus dilemas. Alice também não entenderia se ela contasse o que tinha acontecido, e Esme era a mãe dele. Assim como Carlisle, eles eram uma família. E uma família sempre defende o seu filho. Ela tinha que resolver os problemas sozinha.

— Eu te amo pai.

— Eu te amo Bells.

Bella enxugou uma lágrima idiota que escorreu no canto do seu olho, quando ela se levantou da cama, afastando o lençol sobre o seu corpo. Ela ainda podia sentir o cheiro de Edward nos lençóis, em seu corpo quando ela se olhou no espelho sobre o armário do banheiro.

Ela lavou o rosto, fez suas atividades mecanicamente, alheia a tudo quando entrou debaixo do chuveiro. Antes ela tinha dado uma olhada em seu curativo no braço. Não estava assim tão mal. A noite passada tinha sido agitada, mas não fez com que o ferimento em seu pulso e em sua mão ficasse pior, ou doesse mais.

Talvez nada podia doer mais do que a rejeição, ela pensou, sentindo a temperatura da água na costas da sua mão.

Ela entrou debaixo da água e sorriu um pouco, sem ressentimento, de forma débil para si mesma, e contra o vapor da água quente.

Nem ao menos sentiu a dor que deveria ter sentido com todo aquele contato da noite passada. Mas ali estava ela, sem dor.

Sem nada.

***

Algumas semanas depois daquele dia passaram como as outras, como para qualquer um porque elas sempre passavam. Como se nada realmente tivesse acontecido.

Nada realmente acontecia, era o que ela se pegava sussurrando para si mesma na maioria das vezes.

Depois daquele dia, o dia que Alice chegou, Bella sabia que existia algo que ela não podia contar para Edward, algo que ela tinha que esconder, porque aquilo não lhe dizia respeito, a nenhum dos dois.

Alice e Jasper estavam cada vez mais próximos, algumas vezes Bella pôde vê-los no jardim sentados no banco de madeira conversando. Outras Alice apenas passava no portão enquanto Jasper a esperava para saírem.

Algumas coisas estavam indo bem.

Jasper Hale era uma pessoa legal, e Alice contava para Bella que ele tinha passado no último ano em muitas faculdades como em Yale e a Brown. Literatura, Jasper queria ser escritor.

Quando ela poderia imaginar?

De repente Bella percebeu que não sabia nada sobre Jasper, uma pessoa que se atreveu a defendê-la um dia.

Será que Edward se surpreenderia tanto quanto ela? O que ele faria quando Jasper fosse embora? Ele com certeza não gostaria da ideia, mas contrataria alguém para colocá-lo em seu lugar - como todos.

Quando Bella comentou isso para Alice, logo depois dela lhe contar sobre o futuro promissor que Jasper tinha e que aquilo a fazia amá-lo mais em saber que ele tinha se esforçado muito para chegar ali, Alice disse que existia um motivo para que Jasper ainda não tivesse ido embora daquela casa e deixado o seu trabalho.

— Não esconda de mim Bella.

— Esconder o quê?

Alice estava de volta há algumas semanas e parecia sempre ter algo para lhe contar, mas era como se ela tivesse muito medo do que poderia ouvir.

— Isso - ela afastou a parte de cima da sua blusa do seu ombro, expondo o hematoma que já adquiria um tom amarelado.
— O quê? - Bella puxou a manga da sua blusa de volta, afastando Alice apressadamente. - Não, isso não é nada.

Alice a encarava com incredulidade. Incredulidade e medo.

O que estava acontecendo?

Alice estava cada vez mais convencida de que Bella estava escondendo alguma coisa, alguma coisa grave.

Alice levanta as mãos para o alto em sinal de protesto.

— Isso não é nada? - ela apontou em direção ao ombro agora coberto de Bella enquanto a mesma se levantava do sofá, se afastando e esfregando a mão em seus braços, distraída.

Bella agora coçava o osso de trás da mandíbula esquerda com a ponta dos dedos de uma das mãos e sorriu, como se pudesse passar tranqüilidade com a cena que Alice estava dando início.

Edward podia chegar a qualquer momento.

Ele nem ao menos sabia que Alice vinha com tanta freqüência depois que chegara de viagem.

— Não - Bella respondeu.

— É o meu irmão, não é? - Alice perguntou com a voz fraca, mas depois se exaltou. - É claro que é ele.

Ela bateu as duas palmas nas suas pernas sobre a calça jeans escura que usava e se levantou, enfurecida.

— Bella...

— Não - Bella interrompeu, prevendo que aquilo poderia acabar mal. Alice tinha sim interpretado tudo certo, mas ela estava errada quanto a Edward. Aquilo foi apenas um descontrole - um dentre tantos outros. Mas nunca mais voltaria a se repetir. Ela ainda o amava tanto. - Ele não tem nada a ver com isso.

— Vamos Bella, agora.

Alice pegou a sua bolsa no sofá, decidida a arrastar Bella se fosse necessário - para a delegacia. Mas ela bem sabia que não poderia forçar nada, era uma decisão que tinha que partir exclusivamente dela.

Será que aquela mancha nos ombros que Alice tinha visto eram as únicas? O fato dela estar ali, nesse exato momento tentando arrastá-la para fora daquela casa não poderia prejudicar Bella?

Alice admitia que estava sendo bruta demais, mas quando ela se deu conta do que àquelas manchas no ombro da sua melhor amiga, da sua irmã podia significar, era como se um buraco tive aberto sob os seus pés, e com ele todas as conseqüências que ele poderia arrastar para o fundo. Bella negaria sim, até... não poder mais.

— Pra onde? - Bella não tinha feito contato visual com Alice em nenhum momento, até agora, quando ela viu os olhos de Alice brilhando, em pânico, com as suas roupas de grifes, sua bolsa de lado que só deveria caber o seu celular e as chaves do seu carro lá fora, um pouco afastado da entrada.

Por que as coisas tinham que ser assim? Tudo para não aborrecer Edward.

— Pra delegacia, pra fora dessa casa - Alice implorava com os olhos.

Mas o que Bella devia fazer era diferente do que ela podia.

Eu sei, eu sei. Saber ou não o que deveria ser feito não era a questão principal naquele momento. A verdade é que você nunca pode dizer o que é melhor para aquela mulher, não até que você tenha passado por isso, tenha vivido isso, um relacionamento abusivo. Dizer que ela é fraca, e que merece cada segundo daquela tortura, não é a coisa certa. Definitivamente não é.

Mas não foi o que Alice disse, mas podia ter sido. Era um dos medos de Bella, que ninguém realmente acreditasse nela. Ou ainda, que ela o amava, amava o que um dia tinham vivido, e que agora as coisas podiam mudar, elas tinham que mudar.

Esperança.

— Você está louca - Bella riu de forma débil, indo até o aparador com as bebidas. Ela não bebia, não podia beber, mas apenas um gole, só para se acalmar bastava.

Ainda de costas para a fúria de Alice, Bella perguntou se ela queria alguma coisa antes de ir.

Era o seu convite para que Alice fosse embora.

Ela temia o que Edward poderia fazer se as visse juntas. Ele podia achar que elas estavam tramando alguma coisas às suas costas, como da última vez.

Por favor Alice, vai embora, ela gritou em seus pensamentos enquanto sorvia um gole longo daquele líquido tórrido.

— Bella, vamos - ela suplicou mais uma vez do lugar onde estava. Em pé.

Tão rápida quanto aquele líquido descendo e queimando a sua garganta Bella respondeu:

— Eu não vou a lugar nenhum.

— Jasper estava certo – Alice falou. Um sussurro breve que Bella pôde ouvir.

Ela se virou, ainda com o copo na mão, tremula.

Jasper sempre se mostrou solidário, mas todos aqueles descontroles de Edward nunca tinham passado dos limites, nunca. O que ele podia ter contado para Alice, agora que eles estavam juntos, agora que eram namorados?

— Jasper estava certo sobre o quê?

Os lábios de Alice eram uma linha rígida enquanto Bella esperava pela sua resposta.

Sem mais delongas, Alice tirou a bolsa do seu ombro e a jogou no sofá, mas permaneceu de pé. Talvez Bella precisasse de tempo, um tempo que Alice não sabia quanto duraria.

— Jasper me disse algumas coisas.

— O quê? - Bella se alarmou dando um passo a frente em direção a Alice, era como se ela estivesse se lembrando do que Jasper tinha dito e estivesse formando as cenas em sua cabeça.

Não tinha sido apenas aquele incidente no quarto, ao qual Bella desceu apressada, correndo para o jardim. Um dos muitos, quando aquele tinha sido o primeiro e único que ela conseguiu fugir para longe dele. Tinha sido o primeiro sinal de instabilidade que Edward vinha apresentando.

Mas ela nunca mais viu Jasper.

Talvez ele tivesse se acostumado, foi o que ela tinha pensado com vergonha de como as coisas tinham saído do controle.

— Bella, Jasper me contou que desistiu de ir para Yale porque ele temia por você.

Sim, Jasper tinha sido aceito em faculdades renomadas, e não tinha ido porque preferia as aulas online, ele estava se destacando, era o que Alice tinha dito.

Aquilo não poderia ser verdade.

— Ele achava que... - Alice se interrompeu, querendo reformular a sua frase. - Ele achou melhor continuar por aqui, e te proteger.

Proteger.

— Eu não preciso de proteção nenhuma - Bella falou, descartando, ignorando o que Alice estava falando.

Quando Alice ouviu aquilo, ela não pensou duas vezes quando pegou a sua bolsa.

— Pensa bem no que você está falando.

Um alerta, Bella pensou quando Alice saiu pela mesma porta que entrou.

Hoje era o grande dia, e ela tinha que estar linda, e não ali, de frente para o espelho remoendo lembranças que ela preferia esquecer, ou melhor, que nunca tivessem acontecido, porque talvez Alice estaria ali, falando que seria melhor que ela colocasse um vestido um pouco acima dos joelhos, para realçar aquelas pernas que para Bella não eram tão bonitas assim. Ou algum outro modelo, dentre tantos que ela tinha, que realçasse o seu colo perfeito.

Bella acariciou o seu colo discordando daquilo também.

Nada ficava bom nela. E Edward já estava quase chegando.

Ai, como ela sentia saudades de Alice.

Talvez ele gostasse daquela blusa branca de manga comprida, que era um pouco colada demais ao seu busto.

Não, tem um decote enorme, Bella pensou, balançando a cabeça, e descartando o que parecia a sua terceira troca em menos de uma hora.

Edward chegaria para buscá-la em meia hora, ela precisava se apressar.

Correu para o outro lado do closet, tropeçando quanto tirava as sandálias amarelas de salto alto que ainda não tinha amarrado aos tornozelos, as deixando pelo meio do corredor, tirando a saia lápis apertada que usava.

Ela tinha que arrumar aquela bagunça o quanto antes.

***

Bella estava finalmente colocando os brincos, pérolas negras investidas em ouro quando Edward entrou no closet.

Droga, ela ainda não tinha arrumado aquela bagunça.

Ainda tinha peças de roupas espalhadas, e a sua caixa de jóias que ela estava escolhendo minutos atrás uma que combinasse com o vestido que ela tinha escolhido. Alice ficaria orgulhosa dela.

Será que ela podia dizer o mesmo de Edward, que olhava de forma misteriosa para ela?

Bella sorriu terminando de prendar o outro brinco a sua orelha.

— Estou quase pronta, só vou arrumar tudo por aqui e...

Edward estava sorrindo, sorrindo de verdade.

O que era aquilo?

Eles estavam bem desde aquele dia, ou pelo menos pareciam estar.

Se não tinha discussão, gritos, e manchas em seu corpo, aquilo deveria significar que estava tudo bem.

Ela queria que Alice não tivesse lhe dado as costas.

Jasper ainda estava ali, e seria ele que os levaria até o almoço social da fundação Loan para Crianças Desamparadas, algo que ele apoiava e contribuía anualmente. Aquele seria o seu primeiro ano ao lado dele, como esposa.

— Você está... perfeita Isabella.

Não era a palavra que ela queria ouvir dele, mas tudo bem.

Edward usava um terno cinza e tinha os cabelos cortados e repartidos para o lado, mas ainda assim desalinhados.

Mesmo se ela quisesse dizer algo, não existiriam palavras capazes de definir aquele homem.

Deus, não havia.

Apesar de Bella estar contente com aquela declaração, ela sabia que aquilo era algo que Edward sempre dizia em dias como aquele.

Você está perfeita.

Será que ele teria dito o mesmo se a visse com aquele decote de momentos atrás?

Não, definitivamente não.

Ela o conhecia.

— Que bom que gostou - declarou, tímida abaixando a cabeça para o vestido que usava enquanto deslizava uma mão sobre o tecido liso conta os seus dedos.

Ela usava um Angela Vitello, um vestido que cobria até metade dos seus ombros e o seu colo - sem decote - e afunilava para o seu quadril e coxas. Edward não implicaria com o cumprimento, ela torcia por isso.

Na verdade ela não queria ter que ir vestida assim, um jeans às vezes é a melhor opção, um jeans lavado e surrado que não fazia mais parte das suas peças de roupas, quando muitas delas agora eram importadas, feitas sob medidas para ela.

Mas aquilo era importante para Edward, e ela precisava se vestir bem para acompanhá-lo, tinha que se mostrar a sua altura, a altura de uma Cullen.

Mas era tão difícil às vezes - na maioria delas.

Ela só queria ser Bella, ela mesma.

Edward ainda continuava com aquele olhar misterioso quando começou a se aproximar, Bella não percebeu, mas estava caminhando para atrás quando suas costas encostaram contra a parede.

— Ai - ela gritou com o susto.

— Se machucou? - Edward perguntou, rápido, erguendo as suas mãos em sua direção.

— Não - Bella riu um pouco, envergonhada.

Ela estava de salto, salto fino bege, algo que combinasse com a bolsa, Alice teria dito, quando ela sentiu a respiração de Edward misturada a sua, muito próximas.

— Se não estivéssemos atrasados eu juro que...

Atrasados?

— A noite Isabella, a noite conversamos - ele piscou para ela, ajeitando a sua gravata que já estava perfeita. Ele tinha se arrumado no escritório, talvez até contrato alguém para cortar os seus cabelos assim como Bella que tinha recebido um batalhão mais cedo para cuidar dos seus, sem que ela ao menos tivesse pedido.

Edward pensava em tudo.

Só não no que ela queria.

Ele só tinha visto o seu corpo, e como ela ficaria ainda mais perfeita sem aquela peça de roupa que ela chamava de vestido.

— Eu só vou pegar a minha bolsa e podemos ir.

— Ok, Jasper está nos esperando lá embaixo - Edward disse, se virando de costas enquanto saia do quarto.


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Notas finais do capítulo

Gente eu estou realmente morta de sono. 2019!!! kk

Gostaria de falar coisas com sentido agora, mas não rola. Queria postar hoje logo porque já estava devendo e porque não sei como será amanhã - quem sabe? rs.

Obrigada, obrigada a vocês que chegaram agora e não são mais fantasminhas. Que o fato de vocês estarem aqui seja o incentivo de que fica com receio, sei lá de comentar.

Sentindo falta de algumas meninas.

Não sei se vocês curtem postagens na semana, mas sinto falta de algumas pessoas que comentam nos FDS.

Bem é isso, deixem aqui embaixo o que quiserem kkk Eu vou adorar ler!!!

Vejo vocês! ;)