Mistakes escrita por Niina Cullen


Capítulo 23
Capítulo VINTE E DOIS


Notas iniciais do capítulo

L C Muller obrigada não só pela review, mas também por me deixar saber que está gostando de toda essa história iniciada há tanto tempo. Saiba que vc me fez pensar se as pessoas não desacreditaram de Mistakes, antes mesmo de 2017 quando eu precisei realmente me ausentar.

Mistakes tem tantos acompanhamentos e as pessoas parecem que se esquecem que os leitores também tem uma grande parcela em tudo o que é criado e postado aqui ou em qualquer outro site de fanfics...

Boa leitura meninas e obrigada por estarem aqui



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Capítulo

VINTE E DOIS

— Você vai viajar de novo? - ela se jogou no sofá de couro branco apoiando os pés e as botas de salto alto que usava sobre a mesinha de centro.

Alice tinha chegado de surpresa, como sempre.

Qual era o problema com a boa e velha ligação ou uma simples mensagem do tipo: "Estou chegando."?

Talvez o problema fosse que Edward, aquele Edward não atenderia nenhuma ligação e não responderia nenhuma das mensagens de Alice. Ele facilmente se retiraria da casa antes que ela chegasse, ou simplesmente se trancaria em qualquer outro lugar daquela imensa mansão .

Naquela época, ainda muito recente desde que tudo tinha acontecido, Edward ainda não tinha controle sobre nada que dizia respeito a si mesmo, ele só fingia que tinha.

Hoje, Alice nem entraria pela porta da frente. Nenhum deles tinha permissão sequer de passar pela entrada do imenso campo onde estava aquela mansão.

Edward estava com a gravata em volta do pescoço, atrasado e procurando algo para beber enquanto tentativa ver maneiras de tirar Alice da sua casa. Ele estava cansado de todas as pessoas continuarem a se meter na sua vida, mesmo depois de Katherine ter deixado a sua vida.

— Isso não é da sua conta - Edward rosnou, praticamente atropelou as pernas de Alice quando passou para o outro lado da sala, fazendo ela protestar com um resmungo enquanto se ajeitava no sofá.

— Talvez não - ela disse no mesmo tom, vendo como ele parecia transtornado andando pela sala e parando em frente a bandeja com bebidas e gelo. - Mas porque você não quer - ela acusou de imediato.

— Exatamente. - Edward falou, terminando de tirar a rolha da garrafa e despejando o conteúdo dela em um copo. Tudo o que ainda restava dele.

Edward estava bebendo muito, e aquilo era difícil para Alice. Ela não culpava o irmão pela sua impertinência, mas ela tinha que fazer isso. Ela sabia que era muito mais do que só uma visita, no meio da semana e à noite, quando ela poderia estar fazendo outras coisas, muito mais interessantes do que servindo de babá para o seu irmão gêmeo. Mas ele era a sua família - mesmo que ele parecesse não se importar mais com essa realidade, e Alice tinha uma missão ali: a mãe queria saber como Edward estava.

Não muito bem, mãe - ela pensou.

O que não era novidade pra ninguém, nem mesmo para ele que parecia tentar esconder o seu próprio eu por trás daquela carcaça de homem amargurado que, Alice ainda não podia saber, começava a tomar conta de Edward.

Ela pensou que quando finalmente o irmão percebesse quem era aquela mulher que ele chamava de esposa, ele teria se libertado de todas as correntes que o prendiam aquela mentira. Aquela relação tóxica. Mas não era bem assim, e já fazia quase um ano, e ele só se afastava cada vez mais da família. Colocando mais e mais viagens na sua agenda, priorizando a distância do que o estar perto de pessoas que realmente o amavam e que poderiam ajudá-lo a se libertar daquele abismo que Edward começava a se afundar.

Ele fugia do que não conseguia controlar, da raiva que não podia descontar na pessoa causadora de tudo aquilo.

Suas viagens estavam cada vez mais frequentes, sem nenhum motivo específico aparente. Mas ele tinha que fugir daquilo. Precisava fugir de toda aquela sensação de sufoco e retidão que vinha sentindo.

— Qual é o motivo da viagem dessa vez? - ela não desistiria assim tão fácil.

Edward tomou a bebida em um único gole, sentindo-a rasgando pela sua garganta, queimando no processo.

— Negócios. - Ele respondeu categórico, apertando o copo e pousando-o sobre a mesa com uma força que podia ter outro destino se ele não direcionasse bem os seus movimentos. A parede logo atrás de Alice. - Aqueles que permitem que você possa continuar viajando sem nenhum motivo nobre, comprando roupas e sapatos caros.

Hmm, ele ainda podia ser irônico, pensou Alice.

Edward estava olhando para a irmã agora, o copo esquecido, seus olhos eram frios e a sua cabeça já estava explodindo e ele só queria beber mais uma bebida antes de sair, em paz. Já estava atrasado para pegar o jatinho particular que o levaria para o outro lado do mundo.

— E claro, não me deixe esquecer que quando você não está fazendo isso, está aqui, me aborrecendo.

Sua vida era uma droga e ele só queria ficar sozinho.

— OK, Edward - Alice pegou a sua bolsa e caminhou para a saída, tendo a sensação que aquela casa estava ainda mais fria do que costumava estar. - Só não esqueça que foi você que escolheu assim.

***

Eles já tinham deixado o helicóptero e a noite já estava enchendo o céu de Nova York, com alguns leves resquícios do que tinha sido aquela tarde. Tons de laranja, rosa e azul que se misturavam, agora se dispersavam naquela paisagem pintada.

Edward tinha conduzido uma Isabella ligeiramente alegre e que não parava de falar da vista que tiveram durante todo o voo, dos prédios, e... não vamos esquecer da estátua da liberdade. Aquele devia ter sido um marco para ela, quando era motivo de arrependimento para muitos turistas.

Mas eles estavam nas alturas.

Quantas pessoas tinham a chance de sobrevoar aquela pequena ilha e chegar tão próximo da estátua que fora presente dos amigos franceses a tantos anos atrás?

— Nós podíamos fazer isso mais vezes, o que acha? - Edward propôs, erguendo suas mãos entrelaçadas e beijando o dorso macio da mão de Isabella.

Eles já estavam no estacionamento e seu Volvo estava a espera deles.

Isabella continuava falante - algo não muito comum dela - enquanto caminhava ao seu lado, e foi quando Edward sutilmente encostou suas costas na lateral do carro, pressionando seu corpo ao dela e prendendo suas mãos ao lado da cintura definida dela. Eles já estavam próximos demais, desde o helicóptero e Isabella não podia mais disfarçar a tensão que existia entre os dois.

Suas bochechas estavam rosadas devido ao frio e ela sorria um pouco, a simples timidez esquecida.

— Ótima ideia - foi tudo o que ela conseguiu dizer quando Edward colou seus lábios de forma firme sobre os dela no segundo seguinte que ela respondeu. Abrindo passagem, querendo mais. E ele podia sentir como ela correspondia, como ela também queria mais.

— Edward - ela suspirou, voltando a respirar quando os lábios dele foram para seu pescoço, fazendo cócegas de forma agradável que por pouco não fazia ela esquecer por completo onde estavam.

Eles estavam em um estacionamento, e mesmo que estivessem afastados, estrategicamente, ela não sabia se disfarçava ou porquê, afinal era um local público. Mesmo que não houvesse nada demais em namorados esterem se beijando em um estacionamento, ainda assim aquilo podia ir longe demais, e ela não estava pronta para aquilo.

Quando estava perto de Edward as coisas nunca poderiam parecer mais certas, mais reais, mais verdadeiras, como antes nunca foram. Mas ainda existia o medo de acordar daquele sonho.

Era mesmo possível um homem como ele estar apaixonada por alguém como ela?

Alguém que não tinha muito para oferecer, a não ser aquele sentimento que sufocava todas as suas outras necessidades quando estava perto dele.

As mãos dele estavam em ambos os lados da sua cintura e Isabella não conseguia conter as suas próprias mãos no lugar, que agora deslizavam para cima e para baixo do peito coberto de Edward. Ele estava com a camisa polo branca, e estava gelado, e mesmo assim não parecia se importar com aquilo. O frio decididamente já tinha chegado, como as previsões do tempo alertaram.

Edward não falava nada, só era possível sentir seus beijos sobre sua pele enquanto o ar lhe esvaia dos pulmões com o toque, e ele já estava pronto para voltar para seus lábios, quando ela - fracamente, devia reconhecer - apertou as mãos agora em punho sobre o peito dele. Tentando recuperar ou encontrar as suas próprias forças para interromper aquilo.

Edward riu quando pegou a sua mão pelo pulso e a afastou aos poucos, com calma, sem pressa. Controle. Sua fachada ilusória dizia que ele tinha sido contrariado.

Edward estava tentando recobrar o controle de instantes atrás e ela não podia desconfiar que estivera tão próxima de conhecê-lo sem controle. Sem saber que aquilo poderia um dia ser possível, pela primeira vez, Isabella ficou assustada. E Edward começava a ver isso naqueles olhos castanhos dilatados. O terror começava a surgir por trás do sorriso de instantes atrás.

Ele ergueu a mão dela ainda em punho que antes tinha lhe interrompido de continuar com aquilo que não pretendia fazer ali - quando não estava em seus planos apressar as coisas - e a levou para os seus lábios, como tinha feito mais cedo, sempre aos seus lábios e a beijou, tranquilizando e acariciando a outra mão que ainda estava estática sobre seu peito. A tentativa era de se acalmar, ele quase tinha relevado a sua ira diante daquele fato de ter sido impelido, afastado por Isabella.  Uma ira que devia manter para si. Pelo menos por enquanto. Ainda era muito cedo.

Isabella não tinha força o suficiente para afastá-lo, Edward pensou, embora o tenha distraído, e aquilo fosse o suficiente para despertar fantasmas que nunca desapareceriam e tirar o controle que tinha do momento. Para não se deixar ir longe demais e atrapalhar os planos que tinha para eles. 

Com aquela proximidade tão arriscada, Edward queria provar, para si mesmo, que podia fazer aquilo, que podia tomá-la para si sem se deixar dominar pelo encanto que ela tinha, assim como Katherine. Ele não queria enlouquecer por dentro enquanto recobrava as suas próprias lembranças. Ele tinha sido enganado por aquele mesmo encantamento, e ainda colhia os frutos amargos de ter sido enganado.

E aquilo não voltaria a se repetir. Aquela droga exaltada nos livros de romance, nas canções,  nunca mais o dominaria, não importava que fossem duas pessoas diferentes, Katherine e Isabella. Ele teria controle de uma forma que antes nunca teve, porque esse foi um dos maiores erros que havia cometido, e que o trouxe até ali.

Isabella não era ela. Mas seria quem ele quisesse que ela fosse.

Até mesmo a sua forma de mostrar para Katherine que ele tinha aprendido muito com ela.

Não importava que fosse Isabella ali a sua frente, temerosa sobre algo que nem se dava conta. Elas eram todas iguais.

Voltando ao momento Edward sorriu complacente.

— Desculpe, eu só - queria testar uma coisa, completou em seu pensamento, longe da reação ainda tímida e confusa de Isabella.

Ele não tinha machucado ela, mas ele podia, e de repente, como um pensamento que surge e se esvai no segundo seguinte, Isabella não estava mais com medo. Na verdade aquilo parecia inconcebível, como se Edward não fosse capaz de lhe fazer mal algum. 

Ele não podia, sua mente resistiu, sendo vencida pelo toque dele e a forma como acariciava o seu pulso agora. E como era bom sentir os lábios dele na sua pele, como tinha sido instantes atrás e como sensação parecia que duraria para sempre.

Bella já não podia mais negar o que estava sentindo. Não importava as coisas que enfrentaria, as pessoas que teria que enfrentar, mas sim o que ela sentia, o que ambos sentiam. E ela sabia que era verdadeiro. Aquelas vozes que diziam que ela não era capaz de amar e de despertar o amor em alguém não fazia mais parte dos seus pensamentos - pelo menos ela dizia para si mesma. Era ela quem fazia a sua vida, e a sua vida estava dando o OKvá em frente que ela nunca achou que estivesse procurando até encontrar.

As mulheres que podiam ter feito parte da vida de Edward, e que podiam ser lindas e oferecerem uma conta bancária poupuda já não lhe aterrorizavam mais. Talvez ela não fosse, decididamente uma mulher rica, loira e indiscutivelmente não era alta, na verdade o topo da cabeça dela se encaixava perfeitamente sob o queixo de Edward, mas aquilo realmente não importava. Ele estava ali, com ela, e aquilo era definitivamente o que deveria importar.

Então, sem rodeios, sem mais pensamentos, ela ergueu seus pés para sentir aquela sensação novamente, a respiração que fundia e dançava como um sopro do vento na copa de uma árvore. Os lábios dele nos seus, tão firmes, doces indiscutivelmente... excitantes.

— Eu amo você Edward - ela aspirou quando seus lábios se desgrudaram mais uma vez, mas dessa vez para ambos pousarem seus olhos uns nos outros, sem se afastarem. Suas mãos estavam agora em cada lado do rosto dele, e Bella podia sentir leves fisgadas sob a sua pele.

Os olhos dele estavam bem abertos e alertas, se movimentavam de um lado a outro, procurando o foco que aqueles olhos castanhos deviam lhe garantir, mas ele só procurava falha neles, qualquer que fosse. Seu peito ardia com a ausência de sentimentos bons que despertassem aquele coração de todo o mal e da tortura eterna que não conseguia se livrar.

...Machucam nossos corações. E você tem que saber filha, que eles só fazem isso porque nos entregamos por completo.

Elas também eram capazes de machucar.

Isso aqui não era uma questão de gênero, nem muito menos uma questão generalizada, mas para Edward não importava, elas eram e sempre seriam iguais.

E o resgate não não viria, como um prêmio de consolação ou redenção. Era um mito.

Machucar e ser machucado. Não importava muito quem era o algoz da história. Eles eram contaminados. E Edward estava em busca do tempo que perdeu acreditando em mentiras e dos erros que tinha cometido por ter acreditado em cada uma delas.

Um dia Edward realmente pensou que amar alguém seria como uma recompensa, um sentimento recíproco quando você ama a pessoa certa. Como quando as pessoas dizem que tudo o que você joga para o universo volta para você em forma de pagamento, ou punição quando você não retribuía o bem para ele através das suas ações.

O universo, ou seja lá o que existia depois dele, só tinha recebido o bem de Edward, ele protestou um dia. Mas ainda assim a punição tinha chegado.

Às vezes você corrompia o mundo, e as vezes você era o corrompido, não importa o que você fizesse, Edward lembrou, aproximando seus lábios mais uma vez dos de Isabella, que só o olhava, como se ele fosse tudo o que ela tinha. Dessa vez ele só encostou seus lábios e disse o que ela esperava:

— Assim como eu amo você.

Ele achava que tinha sido uma boa pessoa por muito tempo e não tinha sido reconhecido por por isso. Mas agora era a sua vez.

Ele estava no comando, e Isabella o amava, assim como ele achava que amava Katherine, e mesmo assim aquilo não a impediu de destruí-lo, de matá-loAos poucos.

Com um riso abafado Edward lembrou que já não podia culpar as ações de uma pessoa e atribuí-las a outra.

Algumas coisas seriam melhor que nem fossem discutidas.

— O que você acha que podíamos fazer depois daqui? - ele beijou as bochechas ainda rosadas de Isabella, aspirando os morangos da sua pele doce.

Eles já estavam dentro do Volvo e Edward ainda podia sentir o encantamento dela pelo o que seria o último passeio da noite - como se o evento anterior, dos olhos assustados e confusos dela quando Edward a encarou de uma forma diferente quando ela o afastou, estivesse esquecido. 

Aquele dia tinha sido uma experiência nova para Isabella: um passeio de helicóptero por Nova York.

Aquele tinha sido apenas mais um dia, mas para Isabella era diferente. Não devia ter nada parecido em Forks, Edward pensou. Nem ninguém que pudesse proporcionar aquilo para ela.

O que mais Edward podia proporcionar para Isabella?

A noite só estava começando, e ela não acabaria por ali.

***

Isabella tentou, sem sucesso algum, se desvencilhar, e não saber se era mesmo uma boa ideia quando Edward perguntou de forma franca o que ainda podiam fazer antes do final daquela noite. Estava muito frio, e um jantar podia ser o suficiente. Mas não para Edward Cullen.

Ele se certificou que tudo estivesse pronto, assim como cobertores e bebidas para ajudar a aquecê-los do frio. Podia ser o primeiro dia que antecedia o inverno rigoroso que estava por vir, mas ainda assim era um bom dia, ou no caso, uma boa noite para um outro passeio.

O cais estava vazio, a não ser por alguns barcos atracados ali perto.

O local estava bem iluminado pelos postes presos a estrutura de madeira a beira do rio Hudson quando eles desceram do carro, e Isabella não parecia acreditar muito que estava prestes a embarcar, literalmente, em mais uma aventura, agora no mar.

Ela tinha dito que precisava voltar para casa, não muito certa de que era aquilo que queria, quando Edward perguntou aquilo. Mas ele tão logo conseguiu dissuadi-la, e ali estavam eles. Toda os postes de luzes do cais, na beira do rio Hudson iluminavam o caminhos deles pela plataforma fixa em estacas de madeira a borda do rio. Edward tinha os levado para outro lado do rio, para Nova Jersey onde ele disse que tinha um barco a espera deles.

Jasper estava lá, ele levaria o Volvo até o ponto estratégico onde o barco os deixaria ao final do passeio noturno, e Edward seguiria dirigindo de lá como do aeroporto.

Será que Jasper tinha algum momento de folga? Parecia estar sempre a disposição de Edward, e aquilo incomodava um pouco Bella, ela não sabia como agir em alguns momentos. Mas naquela noite, especialmente naquele dia, ela tentava não pensar naquilo.

— Senhorita? - tinha um homem a espera deles. Outro funcionário que estava a disposição de Edward no sábado a noite, quando devia estar com a família, preparando a lareira para as próximas noites frias de Nova York. Ou simplesmente fazendo qualquer outra coisa.

Ele estava oferecendo uma mão para Bella, quando a cumprimentou com a cabeça, já estava posicionado no barco e não parecia perigoso aceitar a ajuda do senhor pouco musculoso e de chapéu da liga de basquete que ela não conhecia.

No entanto, Edward tinha sido mais rápido e pulou no barco de forma rápida, afastando o homem prestativo com um impulso contido.

Bella apoiou sua mão na de Edward e sorriu, gentilmente, para o senhor que já se afastava. Ele tinha entendido o recado, o mesmo que Isabella ignorou. Ela mal sentiu a mudança do clima subentendido daquela cena, somente o barco que balançava um pouco com as oscilações à margem do rio.

Bella começava a entender porque Edward tinha escolhido aquele lugar para encerrar a noite deles - uma noite tão especial que ela nem se dava conta de que horas podiam ser e de quanto tempo tinha ficado fora. Ela tinha se permitido viver mais intensamente aqueles momentos, sem preocupação, sem se deixar levar por pensamentos culpados de que tinha esquecido do pai, de que tinha que voltar para casa.

Quando estava com Edward, só existia ele.

Tinha cobertores e um futon, uma espécie de colchonete muito confortável e espaçoso, e sobre ele algumas almofadas. Eles ficaram sob uma cobertura de vidro, bem aquecidos e juntos. O calor corporal de ambos era o suficiente, mas ainda tinha a garrafa de vinho que tinha acabado - Edward tinha perguntado se Bella queria que ele abrisse outra, quando ela recusou, um pouco apressada demais. O que sobrara da massa com legumes e creme branco apimentado que era aquecido por uma base de vidro termoelétrica, esquecida.

A massa era gostosa e Edward tinha servido Isabella algumas vezes na boca. Era uma refeição para dois, servida da própria tigela.

Bella ainda continuava impressionada com tudo. Eles tinham conversado amenidades e rido, talvez um pouco demais, enquanto flutuavam sobre a água silenciosa. Edward tinha razão, ela nunca tinha visto nada parecido. Era tudo muito lindo e claro, apesar de ser uma noite bem escura, estrelada e sem nenhum sinal de nuvens no céu.

Os prédios que pareciam tão distantes de onde estavam, todos iluminados no horizonte e refletindo na água, as estrelas sobre eles, lembrando como tudo era lindo e calmo em uma cidade que não dormia.

Sem dúvida o universo aparentava uma sintonia perfeita com aqueles dois.

Mas tudo, por mais perfeito que fosse, tinha que chegar ao fim, Bella pensou enquanto ele dirigia de volta, pelas ruas da cidade de Manhattan. A todo sinal vermelho, Edward olhava para ela e apertava delicadamente a sua mão, pousada sobre a perna dela.

— Obrigada por hoje Edward - Bella declarou. Eles não tinham falado muito desde que tinham deixado o barco e ela ter acenado de forma educada para o homem que ela não sabia o nome. Edward não pareceu gostar daquilo, mas ela logo desconsiderou qualquer pensamento que pudesse atrapalhar aquela noite tão extraordinária. 

Edward não disse nada, apenas sorriu em resposta a seu agradecimento, olhando a sua frente.

— Está entregue - ele disse, depois de um tempo. Ele já estacionava o carro no espaço que tinha entre outros dois carros, em frente a calçada daqueles prédios geminados e de tijolos aparentes.

Bella não se incomodou com a forma que ele disse aquilo, mas sentiu como ele parecia arrependido de ter trazido ela de volta, para casa. Ela entendia aquele sentimento. Também queria que aquela noite não acabasse nunca, e olhando para fora da janela fechada, Bella subiu os olhos até a janela do apartamento, percebendo com pesar que a luz estava acessa.

Tão rápido como uma onda passageira de euforia, de entusiamo uma inesgotável vontade de senti-lo de novo, mais próximo, mais próximo...

A luz e a preocupação estavam esquecidas.

Então eles estavam se beijando, Bella tinha agarrado o pescoço de Edward, se certificando que tinha toda a atenção dele para ela e grudou seus lábios aos dele. Suas línguas dançavam de forma delirante, que era capaz de inebriar o constrangimento que queria subir a superfície, numa forma de fazê-la ver como estava sendo idiota. Mas ela não se importava, e tudo indicava que Edward também não.

Ele estava retribuindo o beijo do mesmo jeito, com prazer que ele não fazia conta de disfarçar.

Ela estava aos arquejos curtos em busca de ar quando se separaram, e ainda assim aquilo não impediu com que Edward continuasse a depositar beijos calorosos nos cabelos soltos de Bella, que tinham se desprendido, sem sacrifício, do coque folgado no meio de todo o entusiamo deles.

— Por favor, não vá - ele pediu, sussurrando no seu ouvido, provocando arrepios que Bella começava a se familiarizar, quando aquele fato só a deixava ainda mais nervosa. O constrangimento estava voltando e Bella queria se afastar, mas não podia. Ela não queria.

— Eu preciso ir - ela gemeu.

— Talvez não, talvez você devesse vir morar comigo - ele sugeriu, enquanto sorria, pertinenete. Bella podia sentir o contorno dos lábios dele na lateral do seu pescoço.

Então ela buscou os olhos dele, trazendo seu rosto para ela ver o que ele estava dizendo. Ela estava perdendo as batidas do seu coração, com certeza.

Ela buscava o que não podia ver, que o que Edward dizia era com o um intuito de manipulá-la. Uma vez que ela estivesse completamente rendida a ele, uma vez que seu pai já não fosse mais um empecilho no meio do seu caminho, uma carta descartada do baralho, ele teria vencido e aí seria questão de tempo para mostrar quem estava no controle. E que assim, como uma segunda chance, os erros tinham conserto.

Mas tudo o que ela viu foi sinceridade, um homem apaixonado que tentava arrumar de alguma forma a melhor solução para os dois. Como ela podia dizer não para aquilo? Para aquela proposta? Mesmo que fosse cedo demais.

Aquele era um passo muito grande. Maior do que os que ela já tinha avançado desde que tinha conhecido Edward. Ele estava sugerindo que Bella não precisaria voltar para casa e se preocupar com o que o pai acharia, se assim ela fosse morar com ele.

Como resposta, a mais sensata, mas não convincente, Bella só conseguiu dizer que o amava muito, mas que não podia fazer aquilo, e com uma força descomunal ela estava dizendo não para a proposta, mas sem citar o pai como principal motivo. Ela tinha medo que Edward pudesse, com aquilo, ver Charlie como um pai ruim, quando ele não era.

Ela lembrou que eles tinham que ter calma, mas Edward não respondeu. Ele ainda a encarava, e a respiração deles se misturavam naquele carro fechado. O beijo tinha sido esquecido, assim como todo o calor que sentiam.

E finalmente ele foi capaz de se afastar, e se recostando de volta no banco ele esfregou as mãos no rosto, segurando a ponta do nariz quando Bella notou, com receio, que podia ser com uma força exagerada -, depois seguindo para os cabelos já desalinhados dele que tivera a chance de contribuir um pouco durante o beijo.

— Me desculpa, eu não queria...

— Tudo bem Isabella, eu que peço desculpas - Edward a interrompeu. Ele ainda não olhava nos olhos dela. Agora ele parecia estar com pressa para ir embora.

— Edward? - ela chamou, com medo de que ele pudesse expulsá-la do carro dele e dizer que nunca mais queria vê-la. Que tipo de pessoa ela era? Às vezes se sentia a melhor, a mais desejada e amada, para no outro se sentir culpada.

Aquilo era como estar em uma montanha russa, esperando só pelos momentos de auges, os picos, sem pensar que para isso, também tinham os baixos, a queda.

Nunca tinha sentido toda aquela instabilidade e oscilações de sentimentos com alguém antes, ela se lembrava do seu baile em Forks, de Mike e como ela estava decidida que não haveria beijo, nem no singular, quanto mais no plural. Naquela época ela era mais confiante, e não sabia como tinha perdido isso. Como quem perde uma bolsa ou os óculos em casa no dia que mais precisava deles.

Edward a olhava agora, seguindo o movimento nervoso dos olhos dela, só observando, ainda sem dizer nada, quando finalmente sorriu, mas não era um daqueles sorrisos que chegavam aos olhos dele e que escondiam tantas coisas.

— Edward - ela chamou novamente, mas dessa vez parecia mais como uma súplica.

Ela abaixou a cabeça e sentiu quando Edward se virou no banco e ergueu seu rosto com o dedo. Essa era a hora que ele lhe diria que para ele não dava mais? Que ele estava cansado dela?

— É melhor você ir.

Bella finalmente soltou a respiração que estava contendo e acenou, concordando. Ela já estava saindo do carro - com uma das pernas para fora, sentindo o vento gelado perfurar sobre o tecido da sua calça jeans desgastada - quando Edward pegou na sua mão e sussurrou seu nome. Era apenas um sopro, mas ela podia ver que ele estava se contendo.

Quando ela se virou para olhá-lo, ele disse com clareza:

— Boa noite Isabella - ele estava um pouco mais próximo. - Eu amo você também.

Então seus lábios tocaram os dela, mas tão logo se aproximaram, eles se foram.

Edward era bom demais para dizer que estava chateado, ela pensou enquanto ele dava a ré para sair da vaga, em direção a rua. Mas ele não precisava, Bella entendia. Ela olhou para cima, em direção ao apartamento, e a luz continuava acessa.


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Notas finais do capítulo

Eu só queria dizer que sim... já estou trabalhando no capítulo 24, e diria que ele já está quase terminado. O que quer dizer que sim... o 23 está pronto!

Tenho mais um semestre de faculdade, trabalho que continua e coisas novas acontecendo... e quero estar aqui. Mistakes não acabou. A história de uma relação abusiva, cheia de tempestade e fantasmas está aqui, esperando por vocês.

Me deixem saber o que estão achando, o que esperam, o que querem saber sobre Edward, sobre Bella... Coisas ainda estão por vir, e prometo reviravoltas e lágrimas rs (minhas pelo menos eu posso garantir... kk).

Apertem os dedinhos no tecladooooo * - *