Kissu´s escrita por LiLiSaN


Capítulo 31
Wagamamana.


Notas iniciais do capítulo

*Wagamamana.= egoísta.



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...

“Sra. Li, é impressão minha ou está com a aparência mais jovial a cada dia que passa?”.

“Qual é o motivo de sua visita, líder Wang?”. Ela entrou e lhe deu passagem, fechando a porta assim que ele adentrou.

“Sempre direta e objetiva” – Sorriu e a olhou fixamente- “Seu filho tem surpreendido a todos nós. Quem diria que um rapaz sem experiência iria ter tanto tato com os negócios?”.

“Tenho acompanhado meu filho e sei que ele tem sido mais útil que todos vocês juntos. É gratificante saber que você, acomunado com os outros líderes, deu um tiro no pé”.

Wang riu: “Senti falta do seu humor ácido. Admito: surpreendi-me, achei que ele não duraria um mês...” – Sentou-se na poltrona do escritório da mansão Li – “Gosto de você assim, sua formalidade comigo era sufocante, mas sei que na condição de líder era como você deveria agir” -  A viu ficar cada vez mais irritada – “Você está linda”.

“Não vai me dizer o motivo de sua vinda?”. Estava impaciente.

“Ah sim, claro! Soube que alguns amigos vieram visitar o nosso líder supremo”.

“Sim. E o que você tem a ver com isso?”.

“Inclusive uma japonesa chamada Kinomoto Sakura. É um lindo nome, não acha? Nome de uma flor no Japão...” – Yelan arregalou os olhos, o que temia estava acontecendo, Fei tiraria proveito daquela visita surpresa – “Nascida em Tomoeda, filha de Kinomoto Fujitaka, arqueólogo e professor universitário da universidade de Tomoeda. Ela tem um irmão mais velho, Kinomoto Touya, professor, que dá aulas para o colegial. A mãe, Kinomoto Nadeshiko, faleceu quando ela tinha quatro anos. Sakura mudou-se para Tóquio, depois do colegial, para tentar entrar na faculdade de Letras. Sabia que ela trabalha como camareira em um luxuoso hotel? Foi onde conheceu nosso líder” – Não conseguia esconder a feição de surpresa. Ele sabia tudo sobre a mulher que Shaoran ama – “Não faça essa cara! É meu dever como subordinado saber tudo sobre quem se aproxima de meu líder. Devo protegê-lo. Ela parece uma interesseira, não acha? Apesar de ela não ter tido muitos relacionamentos, ou ser uma caça dotes, sempre há a primeira vez”.

“O que você quer?!”.

“A liderança, óbvio” – Disse rispidamente – “É bem simples, sra. Li, façamos as contas: Líder Li precisará da permissão de cinco líderes se quiser ter essa japonesa como esposa. E o seu filho só têm três, insignificantes, apoios: Wulong, Zhou e Zhang. E no total, tirando o clã Li, somos em setes clãs. Então eu fico me perguntando...” – Apoiou o queixo na mão – “Será que a Sra. Li suportará ver seu filho sofrendo por essa japonesa, dia após dia, de novo?” – Sorriu e continuou – “Sei que o pobrezinho sofreu muito da primeira vez, mas não sei como seria agora, sabendo que é para sempre. Certamente, sacrificaria o amor pela família e viveria infeliz. Tudo o que você e Lang não queriam para ele. Que trágico...”. Disse irônico e sem nem um resquício de lamento na voz.

“Você...!”. Aproximou-se da mesa, e o encarou ferozmente.

“É uma equação simples de se resolver: Diga a ele que volte ao Japão, que desista da liderança, e até que se case com essa japonesa, não me importa. Em troca, prometerei ser bondoso com você. Não a prejudicarei ou muito menos a deixarei na miséria. Isso, claro, se você obedecer e for fiel a mim”.

“Você está cantando vitória antes do tempo! Não acha que meu filho conseguirá convencer os outros líderes sobre o que sente por ela?”. O encarava com raiva.

Não conteve a risada: “Não seja ridícula! Você acha que eles se importam com os sentimentos de um moleque recém-saído das fraudas? Acho que isso aqui é o quê? Mundo da fantasia? Do sentimentalismo? Tem assistido muitos filmes românticos agora que já não exerce a função de líder, Sra. Li”.

“Tenho esperança de que eles tenham sentimentos, coisa que você não tem por ninguém!”. Ela apoiou as mãos na mesa, e o encarou.

Levantou da cadeira, bruscamente: “Não me provoque!” – Fei segurou o pulso de Yelan e a puxou para perto, a mesa os separavam – “Você sabe o quanto eu sou louco por você! Você se coloca nessa situação por vontade própria, Yelan. Eu te ofereci o mundo ao meu lado, a felicidade... Você nunca me deu uma chance para mostrar que eu posso te fazer feliz, mais do que o Lang!”

“Agora é você quem está sendo ridículo!”. Puxava o braço.

Fei a soltou: “Que seja. O recado está dado, querida Li” – Saiu detrás da mesa e andou em direção à porta – “Estou sendo justo com você, Yelan. Eu poderia obrigar que você se casasse comigo ou que você fosse minha apenas por uma noite, no entanto, venho pedir algo bem mais simples... Deveria reconhecer minhas qualidades. Por que eu reconheço as suas, e sei que você faria qualquer coisa pelo bem de seus filhos”. Disse de costas.

“E-eu não dormiria com você, muito menos casaria!”. Praguejou.

Ele virou-se e a encarou: “Sim, você dormiria ou casaria comigo. Mas eu jamais iria fazer isso com você, porque eu a amo”.

“Não diga besteiras!”. Deu as costas.

“Lang morreu duas vezes para mim, a primeira, no dia em que eu implorei para recusar você como esposa e ele respondeu que eu podia pedir qualquer coisa, menos isso” – A encarava, mesmo ela estando de costas – “Eu queria casar com a minha melhor amiga desde criança, mas ela e meu melhor amigo acabaram sendo prometidos um ao outro, e acabaram se apaixonando”.

“E-eu não sabia dos seus sentimentos, nunca quis machucar você!”. Virou-se, agora era ele quem estava de costas.

“Meia verdade é uma mentira inteira, Yelan”. Wang abriu a porta e se foi.

Yelan permaneceu inerte.

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“E os shows? Como foram?”. Shaoran andava ao lado de Eriol, Yue, Nakuru e Yukito. Sakura, Meilin, Tomoyo, Fay e Kurogane, estavam juntos, um pouco afastados. Conversavam animadamente enquanto tomavam sorvete.

“Estranhos sem você, mas demos o nosso melhor”. Yukito respondeu.

Nakuru soltou o braço de Yue, e agarrou o braço de Shaoran, ficando junto dele: “Você faz muita falta Shaoran-chan! É difícil cantar algumas das suas músicas!”.

“Não seja modesta Nakuru-chan, sei muito bem que você tem feito um ótimo trabalho!”. Shaoran sorriu e acariciou sua cabeça.

“Vamos dar uma pausa”. Yue disse.

Shaoran o olhou espantado: “P-pausa?”.

“Sim, Shaoran. A banda perdeu um pouco da essência com a sua saída. Além disso, faz muito tempo que estamos na estrada”. Eriol disse.

“É tudo culpa minha...”. Desviou o olhar do amigo, e encarou o chão.

“Claro que não, Shaoran. Isso tinha que acontecer para focarmos mais em nossas vidas pessoais. Eu acabei de casar e ainda não fiquei dois dias seguidos em casa com Tomoyo” – Eriol olhou para trás e fitou a esposa, que sorridente filmava Sakura – “Yue e Nakuru acabam de iniciar um relacionamento, e a nossa gravadora está pretendendo comercializá-lo. Yukito tinha vontade de ficar mais tempo com os avós. Enfim, cedo ou tarde, nós daríamos essa pausa”.

“Sei...”. Relutava em acreditar nas palavras do amigo, sentia-se culpado. Entristeceu mais uma vez.

“Não faça essa cara, Shaoran-chan! Não é mesmo culpa sua! Eriol fala a verdade” –Nakuru apertou as bochechas dele, o deixando constrangido – “Você não tem tocado?”

“Não... Quase não me sobra tempo”. Suspirou, chateado.

“Então você vai gostar da surpresa que nos preparamos para você!”. Nakuru disse, saltitante.

“Nakuru!”. Yue a repreendeu, a surpresa só iria ser revelado no aniversário de Shaoran.

“Que surpresa?”. Ficou curioso.

“N-nós escrevemos uma canção para você e gravamos em um CD, mas iriamos entregar no dia do seu aniversário!”. Yukito disfarçou.

“Uma canção? Poxa, pessoal! Muito obrigado! Fico muito feliz!”. Curvava-se repetidas vezes.

Sakura observou Shaoran rindo ao lado dos amigos, mais à frente, e sorriu. Adorava vê-lo daquele jeito. Ele ficava com uma expressão serena e feliz ao lado deles.

“Ele ainda não falou com você?”. Tomoyo perguntou, notando os olhares da amiga.

“S-sim, nos falamos”. Ruborizou.

“Sakura, aquele bobão só perguntou se você estava com sede e nada mais!”. Meilin disse zangada. Sakura sorriu sem graça.

“Paciência Meilin, seu primo é meio lento com essas coisas”. Disse Fay, sorrindo.

“Hum...” – Meilin olhou Sakura, e viu Kurogane que, calado, caminhava atrás da japonesa. Meilin teve uma ideia e sorriu maleficamente. Ela voltou a andar, mas se pôs a andar na frente de Sakura, e nada mais disse. Do nada, Meilin parou bruscamente. Sakura, distraída, esbarrou nela e caiu para trás, sendo aparada por Kurogane que a segurou em seus braços evitando sua queda – “Sakura-chan! Perdoe-me! Não fiz por mal!”. Meilin falou alto, fingindo uma exagerada preocupação. De relance, viu Shaoran preocupado andando em direção a eles. O plano de chamar a atenção do primo tinha dado certo, agora iria ver se causar ciúmes nele também daria.

 “T-tudo bem, Meilin-chan! Foi culpa minha, eu estava distraída”. Sakura se recompôs, e curvava-se.

“Você se machucou?”. Perguntou Kurogane.

“E-eu estou bem, muito obrigada Kurogane. Se não fosse por você, eu teria caído com tudo no chão”. Ela sorriu docemente, deixando Kurogane envergonhado.

“O que foi que...”

Meilin não esperou o primo terminar a pergunta, de forma irônica, disse, sussurrando: “Sakura quase ia caindo, sorte que Kurogane estava próximo a ela, a protegendo! Ele sim se importa com o bem-estar dela e olha que ele mal a conhece...”.

Shaoran, com ciúmes, olhou os dois, que sorriam entre si. Em passos rápidos, andou até eles e ficou entre os dois.

“Shaoran...?”. Sakura ficou surpresa com a presença de Shaoran, que subitamente surgiu do seu lado. Notou que ele estava sem jeito e nervoso.

Envergonhado, tentava falar algo: “E-eu, e-eu...”. Meilin, Fay e Tomoyo tentavam segurar o riso.

Kurogane balançou a cabeça negativamente e disse sem paciência: “Ele está com ciúmes e veio ficar ao seu lado”. Todos caíram na risada.

“Kurogane!”. Shaoran o repreendeu ainda mais envergonhado.

...

“Chegamos! Apresento-lhes Hong Kong Observation Wheel!” - Meilin apontou em direção à roda gigante de 60 metros. Sakura ficou empolgada, encarando a roda gigante – “Eu vou para fila comprar os ingressos, está anoitecendo e vai chegar mais gente!”. Meilin correu até a entrada.

Shaoran observava Sakura e sorria com as caras e bocas que ela fazia enquanto admirava a magnitude da roda gigante. Notou alguns olhares masculinos para ela, e tratava de expulsá-los com seu olhar fuzilante.

...

Esperavam por Meilin que ainda não tinha voltado.

“Tem até ar-condicionado nas cabines, Sakura-chan!”. Tomoyo lia em um panfleto.

“Sério?”. Ficou surpresa.

“E Wi-Fi! Estou precisando mesmo falar com meu pai e Yuuko por mensagem de vídeo”. Disse Eriol, ao lado de Tomoyo.

Um pouco afastados de Sakura, Fay ao lado de Shaoran e Kurogane, também a observava: “E então?”. Olhou Shaoran.

“Então o quê?”. Não entendeu a pergunta.

“Não vai aproveitar o momento para ficar a sós com ela?”. Fay sorria.

“Não estou no clima”. Cruzou os braços, e deu rabissaca.

“Nem parece o cara que estava sofrendo por amor, dias antes da chegada dela”.

“Cala a boca, Kurogane!”. Shaoran praguejou nervoso.

Meilin veio em direção a eles, reunindo o grupo: “Aqui estão! O moço me disse que cada gôndola acomoda oito pessoas”. Eles olharam entre si.

“Não vai caber todo mundo”. Yue concluiu, cruzando os braços. Nakuru, ao seu lado, o abraçou, repentinamente.

“Sim, mas tive uma ideia da nossa formação: Eu, Tomoyo, Eriol, Yue, Nakuru, Yukito, Kurogane e Fay vamos juntos em uma gondola. Vocês dois, vão em outra”- Apontou para Sakura e Shaoran, que coraram simultaneamente e se olharam em sincronia – “Vamos!”. Meilin deu as costas, não dando oportunidade para nenhuma objeção, ela sorria, e Tomoyo, ao seu lado, piscou o olho.

Shaoran permaneceu parado ao lado de Sakura: “E-e-e-eu posso trocar com a Tomoyo, se você quiser Sakura...”. Sugeriu nervoso. Não queria deixa-la desconfortável.

Corada, sorriu e balançou a cabeça negativamente e com um tímido sorriso disse: “Não, tudo bem. Vamos juntos”. Ao ouvi-la, sorriu sem parar. Seu coração dançava no peito.

Shaoran a ajudou entrar na gôndola, segurando sua mão. Sentou-se no banco e Shaoran no banco oposto, ficando frente a frente. Sentia as bochechas quentes ainda. Será que seria sempre assim quando estivesse ao lado dele? Apertou as mãos, e ambos ficaram em silêncio, esperando que ligassem o motor e que a roda gigante começasse a girar.

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“Esse lugar é perfeito, Meilin-chan! Você realmente pensa em tudo!”. Disse Tomoyo que tinha uma visão privilegiada da gondola em que estavam Sakura e Shaoran, os filmando. Eriol sorria com a empolgação da esposa.

“Eu sou uma gênia!”.

“Aqui ficou apertado”. Kurogane resmungou, ao seu lado.

“Também acho...”. Yue concordou. Nakuru apertou sua bochecha.

“Vocês são dois reclamões! Deveriam ter ido juntos!”. Meilin deu língua.

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A roda gigante começou a funcionar.

Sakura tomou um leve susto, e Shaoran percebeu: “Tudo bem, Sakura?”.

“S-sim, eu me assustei um pouquinho”. Sorriu e olhou para a paisagem enquanto subiam. Seus olhos se arregalavam à medida que avistava as luzes dos prédios e arranha-céus de Hong Kong. Já tinha visto tantas vezes os prédios, mas era bem difícil se acostumar com tamanha beleza e grandiosidade.

Shaoran admirou a vista, e era incrível a quantidade de luzes e de prédios majestosos em sua cidade natal. Olhou Sakura e sorriu. Ela lembrava uma criança: encantava-se com tudo.

Respirou fundo e ficou com um semblante sério: “Sakura...”

“S-sim?”. Ela o encarou e percebeu o semblante.

“Escuta...” – Olhou para o lado, evitava encara-la, mas tinha que falar sobre tudo de uma vez. Encheu-se de coragem e a olhou – “Desculpe por ontem, eu me comportei feito uma criança mimada, mas eu não estava bravo com você ou com aquele idiota, quer dizer, com o Touma...”.

“Eu sei Shaoran”. Sorriu.

“Você sabe?”.

“Sim”.

“Que bom, fico aliviado”. Não pôde deixar de notar o seu lindo sorriso.

“Eu também ficaria um pouco chateada em saber que você teve um relacionamento no tempo em que ficamos separados. Por isso, não o julgo. Mas Touma e eu não namoramos. Aconteceu apenas um beijo e nada mais”.

A raiva subiu ao imaginar a cena dos dois se beijando, mas respirou fundo. Soltou um longo ar dos pulmões e se pôs a falar: “Sakura... Eu vou ser sincero com você sobre a minha real situação... Eu não sei muito bem o que você veio fazer aqui e o que quer de mim” – Sakura o encarava, percebia que ele estava mais sério que o normal, iria dispensa-la outra vez? Não queria isso! O amava! – “Mas eu sei o que eu quero de você”.

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“Eles estão conversando!”. Nakuru espiava, junto de Tomoyo e Meilin.

“Shaoran parece muito sério!”. Disse Tomoyo.

Eriol ficou preocupado: “Posso imaginar o motivo”.

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“E-e-e o que você quer Shaoran?”. Engoliu o medo, seja lá o que ele dissesse, queria ouvir.

Ele sorriu, mas não era o sorriso habitual. Era um sorriso triste: “Eu quero me casar com você: ter filhos, envelhecer e cuidar dos nossos netos com você”.

Se pudesse pularia de alegria, que nem nos tempos em que era animadora de torcida na escola. Ele não iria dispensa-la! Aquela conversa, não era sobre término.

Queria o mesmo que ele: “E-eu...”. Suas bochechas coradas não eram mais o problema, mas sim suas mãos trêmulas.

“Mas não é tão simples assim como aparenta Sakura” – Sakura ficou sem reação. Ele olhava fixamente um dos vários prédios que os rodeava – “Eu continuo com muitas responsabilidades aqui e foram justamente elas que nos separaram. Eu não posso deixa-las para trás. Minha família precisa de mim e eu preciso deles também”. Pensou errado? Shaoran a estava deixando confusa.

“Entendo...”. Respondeu desanimada. Sinceramente, já não sabia mais o que pensar.  

“Não, você não entende. E se eu te disser que para eu casar com você, eu preciso da permissão de cinco líderes dos clãs ao qual sou líder, só por você não ser chinesa?”.

Sakura ficou atônita, do que ele estava falando?

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“Sakura ficou surpresa com alguma coisa!”. Nakuru fazia o formato de um binoculo com as mãos.

“Ele deve estar contando a ela”. Meilin ficou séria.

“Contando o que, Meilin-chan?”. Tomoyo perguntou, ressabiada.

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“Eu te disse uma vez pelo telefone, que você seria obrigada a abandonar seu país, sua família, sua vida no Japão se a gente ficasse juntos, lembra?”.

“Sim, e eu disse que só queria ficar com você...”.

“Mas, realmente, não é fácil... Não foi fácil abandonar meu sonho, meus amigos, o Japão, meu tio e você”- Fez uma pausa e continuou a falar – “Se eu vier a falecer enquanto casados, você terá que abandonar nossa casa apenas com a roupa do corpo, e será obrigada a morar nas montanhas de Wudang, sem poder retornar para o Japão, viverá exilada”.

Ficou horrorizada: “M-mas isso é tudo tão...?”

“Inacreditável e ultrapassado? É, eu sei”.

“M-mas e filhos? Se a gente...”.

“Se for menino ele será aceito como líder, mas se for menina, não será aceita”.

“Isso é sério mesmo, Shaoran?”.

“Sim”. Sakura nada disse. Eles não notaram, mas os edifícios espelhados de ambos os lados da baía acendiam as luzes de cor neon verde, amarela e laranja. Começava a Symphony of Lights, um espetáculo de luzes e som que acontecia, diariamente.

Ficaram minutos em silêncio, Shaoran olhava aflito para ela, que permaneceu inerte, olhando para baixo. O que temia estava acontecendo. Não queria perdê-la. Mas não havia outra saída. Não pediria que ela abandonasse sua vida por ele.

Sakura interrompeu o silêncio: “Sabe, quando eu decidi vim para cá, eu não pensei no que exatamente eu queria de você. Eu coloquei meus sentimentos em primeiro lugar. Só pensei em mim mesma e no que eu precisava fazer” – Sakura o encarou, com os olhos verdes trêmulos – “Tinha que te ver novamente e deixar claro o quanto amo você e que sentia muita a sua falta” – Shaoran se encheu de esperança – “Mas...” – Aquele ‘mas’ foi um balde de agua fria – “Com isso que você está me contando agora, eu percebo o quanto fui egoísta”.

“Egoísta?”.

“Shaoran, você não iria me procurar. E agora, eu entendo o motivo de você ter terminado comigo. Entendi que você pensou que não poderia ser egoísta, sabendo das coisas pelas quais eu teria que passar, caso continuássemos nosso relacionamento. Você provavelmente pensou que com o tempo nosso sentimento iria adormecer e consequentemente seguiríamos nossas vidas. Mas, eu decidi vim para china, atrás de você, pensando só nos meus sentimentos e acabei estragando tudo”.

“Então você está me dizendo que seria melhor você não ter vindo?”. Perguntou, com o fio de voz.

“Sim”.

“Entendo”. Era o fim, o maldito fim que tanto temia.

“Eu tenho uma vida inteira no Japão, tenho meus sonhos, meu pai, meu irmão, meus amigos e não seria capaz de deixar tudo isso para trás... Mas... Meu...” – Shaoran a viu abaixar ainda mais a cabeça e pôr a mão no peito – “Meu coração não concorda com o que eu digo... Eu quero muito acreditar que o melhor para nós dois era eu não ter vindo e ter seguido os dias sem você, mas meu peito dói só em tentar me convencer disso, Shaoran. Dói muito”. Levou as mãos ao rosto.

Começou a chorar copiosamente, assustando Shaoran.

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“S-sakura-chan está chorando!”. Nakuru constatou espantada.

“Eu vou acabar com aquele idiota!”. Meilin cerrou os dentes.

“O que foi que esse idiota, disse?!”. Yue os encarou furioso.

“Shaoran...”. Eriol olhou pesaroso para o amigo que abraçava Sakura.

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“Pare de chorar, por favor, Sakura”. A apertava entre seus braços sentia as lágrimas dela molharem sua blusa de algodão.

“D-desculpa, Shaoran. Estou nervosa”. Sakura saiu do abraço protetor dele, envergonhada, e limpou as lágrimas. Não queria perde-lo. Não queria!

Em segundos Shaoran segurou seu rosto, e limpou as lágrimas dela que insistiam em cair. Ele inclinou a cabeça e seus lábios se detiveram poucos milímetros dos dela e sem dizer nenhuma palavra, ele a beijou.

Sakura, surpresa, fechou os olhos e retribuiu o beijo.

No momento em que os lábios dele tocaram o seu, Sakura esqueceu onde estavam e esqueceu o motivo de suas lágrimas. Com a mão de Shaoran acariciando seu rosto e seus lábios dele cobrindo os seus, ela compreendia o que era a bela, e dolorosa, felicidade.

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“Nossaaaaa!”. Nakuru, vermelha, cobriu os olhos. Tomoyo filmava a cena, radiante. Meilin e Kurogane olhavam os dois, vermelhos, estavam tímidos.

Fay sorria com a cena.

“Isso deve significar que está tudo bem”. Disse Yukito, sorridente.

“Espero que sim!”. Eriol, também sorria.

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“Shaoran...” – Sakura deixou de beija-lo – “O que vamos fazer?”.

“Eu não sei, Sakura” – Acariciou seu rosto, a olhando com carinho – “Eu realmente não sei”. Voltou a beija-la. O canto da boca doía por causa da luta que tivera com Zhang, mas isso era o de menos, beija-la amenizava a dor irritante.

Shaoran afastou a mão do rosto dela e segurou, com ela, sua nuca, beijando-a com maior profundidade, deslizando a língua entre seus lábios. Sakura gemeu surpresa, e acariciou sua língua com a dele e uma onda de prazer percorreu o seu corpo. Ela já sabia o que era aquilo, Tomoyo havia lhe dito: era o prazer carnal.

Não queria que aquele momento terminasse nunca, sair dos braços dele significava a possível separação. Pensar nisso, a fez o abraçar com força.

A velocidade da roda gigante diminuindo, fez Sakura recuperar os sentidos e interromper o beijo.

Shaoran tinha a respiração entrecortada, igual a ela e os fôlegos de ambos se misturavam. Os olhos dele cheios de amor, a encarando, profundamente, a fazia flutuar. Ela teve vontade de chorar de novo, mas dessa vez não era pôr está triste, mas sim porque o beijo dele era a coisa mais maravilhosa que lhe havia acontecido. Sentia os olhos cheios de lágrimas de felicidade.

Shaoran a abraçou, repentinamente. Ele sussurrou algo em seu ouvido, ela sorriu e confirmou com a cabeça.

...

Meilin a olhava desconfiada, com um sorriso caricato: “O-o que foi Meilin-chan?”. Perguntou, sem graça. Nem imaginava que teve plateia assistindo seu momento a sós com Shaoran.

“Nada!”. Ainda sorria a olhando, de maneira desconfiada. Nakuru juntou-se a ela, e juntas a encaravam. Gotas caíram sobre sua cabeça, não estava entendendo nada. Tomoyo sorria ao seu lado.

“O que foi, hein?” - Fay, Yukito, Yue e Kurogane olhavam Shaoran desconfiados. Caminhavam um pouco afastados das meninas, que iam mais à frente. Estava ficando impaciente. Eles balançaram a cabeça, negativamente, em sincronia – “Se não vão dizer nada, parem de ficar me olhando!”.

“Pervertido!”. Disse Yue, ao bagunçar seus cabelos.

“Ei!”. Shaoran protestou, tentando desviar dele.

“E então, contou pra ela?”. Fay perguntou.

“Sim, ela já sabe de tudo”. Ficaram apreensivos, Yue e Yukito já sabiam, Meilin contou a eles.

“E o que decidiram?”. Eriol perguntou.

“Não decidimos nada”.

“Quê!? Como assim, Shaoran?!”. Fay ficou perplexo.

“Nós dois sabemos que nossa separação é inevitável. Então tudo o que pedi a ela, é que aproveitássemos os dias que nos sobram, juntos, sem se importar com mais nada. Ela concordou”.

“Eu sinto muito Shaoran...”.

“Não faça essa cara, Fay-chan! Eu estou bem! No fundo eu sabia que seria assim!”- Deu tapinha nas costas de Fay e sorriu, tentando disfarçar a tristeza. Olhou para trás e a viu conversando alegremente com Nakuru – “Estou feliz em ter sido amado por alguém como ela, isso me basta”. Sorriu, estava despedaçado por dentro, mas era o que sentia: Felicidade em ter conhecido Kinomoto Sakura.

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Mansão Li – Horas depois...

A batida na porta chamou sua atenção, deixando de ler o livro e olhou para a porta: “Senhora, mandou me chamar? Cheguei nesse exato momento”.

“Sim, sente-se” – Yelan indicou a cadeira – “Como foi o passeio?”.

“Foi divertido. Eles gostaram bastante dos lugares onde fomos”. Respondeu animado.

“Que bom. Fico contente”.

Percebeu a feição de preocupação dela. Percebeu na hora que algo havia acontecido: “Aconteceu alguma coisa, senhora?”.

“Wang esteve aqui” – Disse com o semblante pesado – “Ele sabe sobre Sakura”. Ela levantou-se da poltrona, e Fay a seguiu com o olhar assustado.

“Como assim?!”.

“Sabe que ela é a mulher que meu filho ama. E vai usar isso contra Xiaolang. Vai convencer os líderes a não a aceitarem...”. Apertou a mão enquanto falava.

“Senhora...” – Ficou triste – “A senhora não deve se preocupar com isso. Shaoran e Sakura decidiram que não irão ficar juntos”.

Ficou surpresa, e encarou Fay, ainda entristecido: “Do que está falando?!”.

“Ele contou tudo a ela, sobre as tradições”.

“E o que ela disse? Ela disse que não queria mais continuar o relacionamento entre eles?”. Voltou a sentar na poltrona, e perguntou irritada.

“Bem, e-eu não sei, se e-ela disse isso, mas e-ele...”.

“Meu filho disse que não queria mais continuar o relacionamento com ela?”. Interrompeu Fay.

“Hum... E-ele só disse que pediu a ela que aproveitassem os dias restantes juntos”.

Yelan revirou os olhos: “Fay, não me faça perder tempo” – Fay engoliu seco – “Preciso que você esteja preparado para colocar nosso plano B em ação”.

“A-a-a-a-a senhora fala sério?”.

“Sim! Falei com Wei. No aniversário de Shaoran, faremos!”.

“M-mas senhora, Shaoran não vai concordar com isso!”.

“Eu sei. Mas me importo apenas com a felicidade dele” – Olhou o porta retrato do marido – “Quero que cuide de tudo, e aguarde o meu sinal”.

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“O que foi?”. Enquanto tocava Inochi No Namae’ de Joe Hisaishi, uma de suas canções favoritas notou o sorriso surgindo no rosto de Sakura, que sentada ao seu lado, no assento do piano, o observava.

 “Você fica diferente quando está tocando ou quando canta”.

Olhou para ela, e ainda tocando a indagou: “Diferente?” – Sakura confirmou com a cabeça – “E isso é bom?”.

“Claro que sim! Você transmite um sentimento puro e gostoso de sentir através da música”. Fechou os olhos ao falar, e ao abri-los, viu a feição serena e doce, a olhando.

“Obrigado por dizer isso, Sakura. Fico feliz”. Sorriu, e a deixou abobalhada. Ela balançou a cabeça, tentando afastar a tentativa de as bochechas ficarem vermelhas – “Quer que eu toque alguma coisa em especial para você?”. Parou de tocar e a olhou, animado.

“E-e-e-eu...”. Ficou sem reação, nunca imaginou ver ou ouvir Shaoran cantando ou tocando algo para ela.

“Confesso que não toco muito bem piano, mas...”. Sorriu sem jeito.

“Claro q-que toca Shaoran!”. O desmentiu de forma enérgica.

“Obrigado, Sakura...” – Sorriu a ela, mais uma vez – “Você conhece a canção Mawaru Sora Usagi?”.

“Sim! Ela é bem bonitinha!”

“Então, vamos lá! Eu toco e você canta!”.

“QUÊ?!”.

“Ah, vamos lá!”. Shaoran começou a tocar repetidamente quatro notas, e fez sinal para que ela começasse, mas ela permaneceu paralisada e vermelha.

“E-eu e-eu não sei cantar Shaoran”. Balançou a cabeça, não queria passar vergonha.

“Bem, eu não estou vendo nenhum júri por aqui” – Ele olhou envolta, a fazendo sorrir – “Vamos lá! Vou começar, pronta ou não, aí vou eu!”. Voltou a tocar.

Sakura mais uma vez hesitou, mas Shaoran continuou a tocar. Ele levantava as sobrancelhas na expectativa de que ela começasse a cantar.

Sakura mordeu o lábio inferior, e viu que não tinha jeito: teria que cantar. Respirou fundo e sorriu. Ele entendeu o sorriso, e animou-se, ela decidiu cantar!

Voltou a tocar a canção do início.

 

mata tsuki ga noboru

A lua está surgindo novamente,

kyō wa owaridasu

e hoje está começando a terminar

negai kanaderu

Estou engolindo

kotoba o nomikomu

as palavras dos desejos que eu fiz.

Friday night nakidasu

Estourando em lágrimas em uma noite de sexta-feira,

kimi wa mada daijōbu

Mas você ainda vai ficar bem.

kakedase ashioto

Corra agora, corra.

ashita o kaetai

Se você quiser mudar amanhã,

ā nara nara

Aah, nesse caso, nesse caso ...

mada mada mada

Ainda não, ainda não, ainda não.

 

 Ficou surpreso: A voz dela era suave e agradável de ouvir.

Além de todas as qualidades, ela ainda tinha uma linda voz? Seria bem difícil mesmo esquecê-la.

Mas nem queria.

 mata yozora isshū ni

 Ele está dando outra volta ao redor do céu noturno.

mitashite kaite nagareru

Aparece e desaparece, e é levado embora.

toki o nagameru

Eu não posso rir

dake ja waraenai

Se tudo que eu faço é assistir o tempo.

mawaru sora usagi

O coelho no céu está dando a volta ao redor, de novo.

kimi to asu wa ikōru

Você é igual amanhã.

makeru na ashita ni

Não perca contra o amanhã.

se o muketakunai

Eu não quero dar as costas,

ā kara kara

Aah, é por isso, é por isso que

ima kara kara

Agora mesmo, agora mesmo ...

 

Estava nervosa, enquanto cantava o fitava tocar as notas com louvor. Quando seus olhares se cruzavam, ele lhe sorriu.

Será que ele disfarçava com o sorriso o fato de sua voz está doendo muito em seus ouvidos?

Haruka tsuki o mezashita

Eu apontei para a lua distante.
kyō no sora wa

O céu hoje

kanata nishi ni nagareta

Foi levado longe, para o oeste.

Mō todokanai ya

Está além do meu alcance.

Todokanai ya

Além do meu alcance.

 

“Sakura-chan, tem uma voz bonita!”. Nakuru antes, acompanhada de Meilin e Tomoyo, caminhavam pelo corredor, mas ao escutarem a voz de Sakura, correram até o salão de música, com a porta entre aberta. Espionavam os dois, que lado a lado, divertiam-se.

“Eu também acho, e você Tomoyo-chan?”. Meilin quase caiu para trás, Tomoyo com os olhos brilhando, aparentando estar emocionada, filmava Sakura, dessa vez com uma smartphone, pela brecha da porta.

“Aiaiai... Não perde uma oportunidade, não é?”. Disse Meilin, que voltou a olhar Sakura cantando.

Vê o primo e a japonesa lado a lado, a deixava feliz. Demorou um pouco para entender e se conformar com os seus sentimentos não correspondidos, mas desde que os compreendeu se sentiu livre e feliz.

Queria muito que Shaoran ficasse ao lado de Sakura, mas infelizmente, isso não dependia mais de seus planos mirabolantes ou de suas mentiras bobas.

Dependia somente do amor que eles nutriam um pelo outro.

namida hoshi o nurashita

Minhas lágrimas encharcaram a noite.

kyō no sora wa

O céu hoje

kanata yoru ni nagareta

Foi levado longe, para a noite.

mō naku na yo

"Não chore mais."

haruka tsuki o mezashita

Eu apontei para a lua distante.

kyō no sora wa

O céu hoje

amata hoshi o furashita

Trouxe uma chuva de muitas estrelas.

ā yume janai ya!

Aah, isso não é um sonho!

yume janai ya

Não é um sonho.

 

Sakura fechou os olhos e cantou a última frase da música. Pôde ouvir as últimas notas do piano, tocadas por Shaoran. As palmas frenéticas, a deixaram envergonhada.

“Quando ia me dizer, que cantava tão bem assim?”. Shaoran perguntou, ainda batendo palmas.

“Não exagera! Você não diria que tenho uma péssima voz, já que me obrigou a cantar!”.

“EU OBRIGUEI?”. Fingia uma falsa indignação.

“Sim!!”.

“Mas que calúnia Sakura! Se vissem você desrespeitando o líder supremo desta maneira, nem quero pensar no que fariam com você...”. Balançou a cabeça, sério e estalando a língua.

“Shaoran!”. Deu um soquinho do ombro dele, sorrindo.

Ele sorriu e inclinou-se para ela, fazendo suas bochechas corarem: “Oi bochechas da Sakura, quando vão parar de ficar vermelha toda vez que me aproximo, hein?”. Olhou para elas, enquanto falava, depois olhou os lábios de Sakura e os beijou.

Ainda surpresa e vermelha, pela aproximação repentina, correspondeu o beijo.

“Nakuru-chan! Vamos logo!” - Meilin chamava por ela, baixinho. Tomoyo e ela decidiram dar privacidade aos dois, mas Nakuru ficou parada, chorando um rio de lágrimas, os olhando pela porta – “Porque você está chorando mesmo?”.

“É injusto! Eles dois nasceram para ficar juntos!”. Meilin a puxou, com cuidado.

“Eu sei Nakuru-chan, todos nós sabemos. Não fique assim!”. Meilin acalmava a amiga dramática, que tentava respirar pelo nariz, entupido.

Deram as costas para a sala de música, onde Shaoran e Sakura continuavam a se beijar.

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Notas finais do capítulo

Sumida...Porém viva! ;)

=****



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