Kissu´s escrita por LiLiSaN


Capítulo 17
Anata to koi ni!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/617554/chapter/17

(Imagem: Naoko Yanagisawa - Fanart)

...

Apartamento Sakura – Tóquio – Semanas depois...

“Eu ainda acho que deveríamos ir embora e deixar Sakura descansar”. Mamoru sentado envolta da mesa de centro da sala, balançava a cabeça negativamente. Sakura ao seu lado, arrumava a mesa com a ajuda dele.

Sakura finalmente estava de volta a vida corrida de Tóquio. Estavam em seu apartamento, que ficava próximo do Hotel.

“A Sakura-chan não acha o mesmo que você, não é Sakura-chan?”. Naoko vinha junto de Motoko trazendo o almoço que haviam feito de boas-vindas para Sakura.

“Não mesmo! Estou muito feliz por vocês terem ido me buscar no aeroporto”.

“Naoko, você quase nos matou de tanta vergonha. Porque você tinha que abrir o berreiro quando a viu?”. Perguntou Motoko, lembrando da cena que ela fez.

“Estava com muitas saudades. Sakura-chan também chorou!”. Naoko apontou para ela como se a tivesse acusando de algum crime.

“Imagina se você fosse morar na China, cerejeira. Naoko choraria o dobro”. Mamoru sorriu ao imaginar a cena.

“N-a n-a n-a n-a na China?”. Sakura gaguejou, será que já sabiam de Shaoran?

“China? Deve ser um lugar mágico, lendário e cheio de histórias de terror!”. Naoko não deu ouvidos a provocação de Mamoru, tinha os olhos brilhando ao imaginar as histórias. Sakura sentiu um cala frio ao ouvir “terror”.

“Bem, vamos comer!”. Sentenciou Mamoru.

“Obrigado pela comida!”. Disseram em coro.

“Você tirou muitas fotos, Sakura-chan?”. Perguntou Mamoru de boca cheia.

“Sim! Tenho muitas fotos para mostrar para vocês”.

“E do Kissu´s?”. Naoko engoliu de uma vez, entusiasmou-se.

“Também!”.

“Mas que loucura tudo isso: Tirando Akizuki e o Li, você já conhecia os outros desde pequena”. Concluiu Motoko, devorando o prato de Yakisoba sem cerimônia.

“É...” – Sakura ficou pensativa, eles tinham que saber de Shaoran – “Na verdade, e-u e-u... Conheci Shaoran quando pequena também. Mas ele era tão insuportável que fiquei com trauma dele”. Estavam boquiabertos com o que ouviram dela.

“Mas que Japão pequeno! E você falou com ele na festa?” Perguntou Mamoru.

“Com quem?!”.

“Ora, Sakura, com esse tal de Shaoran! Não foi ele que praticamente te perseguiu no hotel? Que cara arrogante, e só porque você entrou no quarto dele sem querer...”. Motoko irritou-se ao lembrar de toda a confusão no hotel.

“Verdade. Eu só não fui falar com ele, por que você me implorou. Mas não gostei da atitude dele”. Mamoru balançou a cabeça, negativamente.

“Ele é um cara folgado, mesquinho e arrogante! Não gosto mais dele!”. Naoko comia ferozmente.

“Pessoal... Na verdade eu omiti umas coisas de vocês...”. Disse sem graça.

“Como assim, Sakura-chan?”.

—--------------------

Mansão Hiiragizawa - Tomoeda - 

A voz suave e masculina ecoava pela mansão.

Yasashii hidamari ni chaimu ga direisuru

Sob a suave luz do sol, tudo parece silenciar
Hoho o naderu kaze ibuki wa fukaku natteku

O vento toca o meu rosto e respiro fundo

Toomawari no namida namaetsuketa ashita

Essas lágrimas discretas, o nome que demos ao amanhã
Kasanaru mirai iro no rain

E todas as linhas quadriculadas do futuro

 

Havia escrito essa canção há muito tempo, mas nunca havia finalizado. Decidiu terminá-la. Mais uma canção que compôs para Tomoyo. Era sobre os dias em que passavam um longe do outro, por causa dos shows, logo que a banda ficou famosa.

 Adokenai konna kimochi mo

Que toda essa inocência e
Hajiketobu hodo waraiaeta hi mo

Os dias que nós rimos juntos e felizes
Taisetsu ni sodatete ikeru you ni

Sejam cada vez mais importantes para nós
Togire togire no toki o koete

Você me mostrou tanta coisa
Takusan no hajimete o kureta

Por momentos despedaçados
Tsunagatte yuke todoke

Que eu gostaria de sentir o mesmo que você, te compreender

  

“Algum problema?”. Eriol deixou de cantar, mas ainda tocava algumas notas no piano. Ao notar Shaoran deitado, se mexendo todo o tempo no sofá-cama de sua mansão, perdeu a concentração.

“Nada...”. Shaoran, virou de costas para ele. Eriol voltou a tocar. Spinnel, o pastor-alemão belga preto, ao seu lado, cochilava.

Shaoran voltou a se virar. Sentou no sofá e olhou o celular. Voltou a deitar. Virou de lado. Depois, virou para o lado oposto. Eriol sorriu ao ver o amigo tão inquieto. Spinnel agora acordado, acompanhava toda a movimentação de Shaoran.

“Shaoran, você está me desconcentrando e tirando o sono do Spinnel...”. Eriol falava calmamente, com a educação inglesa habitual.

“Não estou fazendo nada...”. Voltou a dá as costas. Voltou a sentar. Novamente deitou.

“Ok, você venceu...” - Eriol saiu do piano e andou até ele. Spinnel deitou a cabeça e voltou a dormir – “Desembucha, o que está te deixando inquieto?”.

“Sakura ainda não mandou nenhuma mensagem avisando se chegou bem”.

“Deveria ter ido com ela”.

“Não quero sufocá-la. Quero ir devagar. Além disso, tenho o Wei. Vou ficar até ele viajar para Nagoia”.

“Ele irá dá aulas lá também?”. Eriol sentou-se na poltrona, ao lado de Spinnel.

“Sim, ele curte esse lance de dar aulas de artes maciais chinesas as crianças do orfanato. Hoje quando fui deixá-lo no orfanato, a criançada pulou encima dele. Foi engraçado”. Sorriu ao lembrar da cena.

“Seu tio é muito querido” - Eriol acariciou Spinnel- “Anda praticando com ele?”.

“Sim, ele luta como se tivesse 20 anos, é incrível! Me dá uma canseira...”. A feição de cansaço que fez ao lembrar das lutas que tinham foi nítida.

“Faz tempo que não vejo você lutar”. Eriol levantou-se da poltrona e voltou ao piano.

“É...”- Shaoran sentou-se no sofá - “...Ontem tive uma sensação estranha depois de falar com a minha mãe”.

“Sensação estranha?”. Parou de tocar e encarou Shaoran.

“É. Senti que tinha alguma coisa errada”. Ficou sério.

“Deve ser impressão sua Shaoran. Se tivesse algo de errado, sua mãe falaria”.

“Sim, acho que sim. Ela nunca mais me detalhou sobre as coisas do clã. Só diz ‘está tudo indo bem, como sempre’. Perguntei a Wei, e ele disse que devia ser coisa da minha cabeça”. Shaoran sentiu o celular vibrar.

“Wei tem razão. Não se preocupe, está tudo bem”- Eriol notou o sorriso do amigo que olhava o celular- “Sakura?”.

“Sim...”.

—--------------------

Apartamento Sakura – Tóquio –

Estava em seu quarto, tinha ido buscar os presentes que comprou para os amigos. E lembrou-se de avisar Shaoran e o pai, de sua chegada.

Respirou aliviada. Seus amigos ainda estavam surpresos, mas, pelo menos, já sabiam de toda a história, principalmente do tapa. Só faltava contar que estava namorando com ele. Que vergonha!

Voltou apressada para a sala levando algumas sacolas, eles estavam esperando por ela.

“Desculpem a demora!”.

“Sakura-chan, mas o que é isso?”. Naoko ficou surpresa.

“São presentes! Espero que gostem!”. Levantou as sacolas com um sorriso no rosto.

“Não precisava Sakura!”. Motoko ficou corada ao receber seu presente.

“Isso mesmo, cerejeira ambulante! Não é nem nosso aniversário!”. Mamoru recebia o presente de Sakura.

“Você está tentando nos comprar, por ter escondido as coisas de nós?”. Perguntou Naoko, com uma falsa indignação.

“N-ão, não... Mais uma vez, me desculpem!” – Sakura negou veemente, balançando as mãos- “Abram os presentes, espero que gostem!”.

Naoko sorriu e abraçou o livro sobre locais amaldiçoados e de fantasmas de Nagasaki.

“Você lembrou Sakura...”. Motoko sorria docemente ao fitar o par de brincos e o colar de pérolas delicados, presos em uma caixinha preta. Era os mesmos que ela tinha gostado uma vez em uma loja de Tóquio. Tinha economizado para comprá-los, mas quando foi até a loja, eles tinham sido vendidos. Eram fabricados em Nagasaki.

Motoko se levantou e abraçou Sakura que ficou sem jeito com a amiga que raramente demonstrava afeto. Mas retribuiu o abraço.

“Então, como fiquei?”. Mamoru fazia poses de galã, após colocar seu óculos de sol. Elas riram.

“Está muito bonito! Usagi-chan, vai ficar com ciúmes!”.

“Ah, eu trouxe esse chaveirinho para ela. É simples, mas é de coração....”. Era um chaveiro rosa, de um coelhinho segurando um coração.

“Obrigado. Ela vai gostar muito”.

“E esse, é o nosso”. Sakura mostrou um trevo de quatro folhas. Em cada folha tinha as iniciais gravadas “MSNM ♥”. As iniciais de seus nomes. Sakura desencachou cada folha e a entregou para cada um.

“Você é uma fofa Sakura-chan!”. Naoko apertava as bochechas de Sakura.

“Vai ficar sempre junto comigo”. Motoko sorriu.

“Obrigado cerejeira”. Mamoru abriu a carteira e colocou sua parte dentro dela.

“Eu quero dizer uma coisa... Dessa vez, não é algo que escondi. Quer dizer, eu preferi contar pessoalmente a vocês”.

“Aiaiai o que foi dessa vez?”. Perguntou Naoko, nervosa.

“Não vai me dizer que você está planejando um assassinato e precisa da nossa ajuda?”. Perguntou Motoko.

“Eu ajudo!”. Mamoru levantou a mão.

“Mamoru-kun!”. Naoko o repreendeu.

“O que foi? Ela nós deu um presente, que simboliza nossa amizade, quero retribuir”.

“Ei, ei, ei parem!” - Motoko tinha uma veia da testa pulsando - “Deixem Sakura falar”.

“E-r... Bem...” - Sakura, sem graça, voltou a falar - “Eu estou namorando...”

Todos voltaram a fazer cara de surpresa. Depois de alguns segundos calados, engoliram a surpresa, e quebraram o silêncio,

“Sério?! Fico muito feliz por você Sakura-chan!”. Naoko a abraçou.

“Fico feliz Sakura, se ele atrever a te tirar esse sorriso do rosto, ele vai se ver comigo!”. Disse Motoko batendo o punho fechado na mão aberta. As três fitaram Mamoru, que permaneceu calado e sério.

“O que foi Mamoru-kun, não ficou feliz pela Sakura-chan?”.

“Não é isso...” - Mamoru encarou Sakura- “Eu achei que eu era como se fosse um irmão para você...”.

“M-mas você é!”. Retrucou uma confusa Sakura.

“Então porque você não me apresentou ou sequer pediu a minha permissão?”. Mamoru fez bico.

“Mamoru-kun, sem drama!”. Motoko disse, impaciente.

“Seu pai e irmão, aprovaram?”. Mamoru perguntou.

“M-eu pai sim... M-meu irmão está um pouco relutante, mas ele está com ciúmes”.

“Hum... Bem, se é assim... Fico feliz por você cerejeira! Espero que ele te faça muito feliz! Faço as palavras de Motoko-chan as minhas, se ele te machucar vai ser ver comigo também. Mas, isso merece um brinde, tem alguma bebida Sakura-chan?”

“Aiaiai Mamoru-kun. Que belo exemplo de irmão você é, hein?”. Naoko o repreendeu.

“Mas e quem é o sortudo?”. Mamoru não deu ouvidos a Naoko, indagou Sakura.

“Verdade! Quem é Sakura-chan, ele mora em Tomoeda? Ou o conheceu em Nagasaki?”.

“Aposto que deve ser um antigo amor de infância e o acabou reencontrando, não foi?”.

“Nossa, como você é romântica Motoko-chan!”. Motoko deu línguas a Mamoru.

“Estou namorando com...”- Apertou as mãos, estava nervosa, não tinha ideia de como os amigos reagiram àquela novidade- “Com o...”

“Com o...?”.

“Aiaiai... Estou namorando com o Li Shaoran”.

“QUÊ?!”. Gritaram em coro.

—--------------------

Hotel Tokyo – Hall de Entrada- Dias depois...

“Touma, o que estamos fazendo aqui mesmo?”. Touma junto de seus dois amigos, estavam parados no Hall de entrada. Olhava nervoso em todas as direções, procurava por Sakura.

“Você vai lá perguntar por ela?”. Haruhiko apontou com a cabeça para a recepcionista do hotel.

“N-não. Ela deve está em horário de trabalho...”. Negou veemente com as duas mãos.

“Como você é palerma Touma-kun”. Kishun com os braços detrás da cabeça, irritou-se.

“Ela reacendeu a chama do amor no coração dele”. Haruhiko pôs o braço envolta do pescoço de Touma, e apontou para o coração dele.

Touma se desvencilhou, e vermelho abaixou a cabeça: “Acho que não tenho chance com ela! Fui um estúpido. Na época, que fui embora, nem me despedi e me afastei dela”.

“Você teve seus motivos, e ela parece ter entendido, você disse que ela ficou feliz em te reencontrar”. Haruhiko sorriu de lado e bagunçou os cabelos do amigo envergonhado.

“Deve ter ficado por ficar”.

“Não seja pessimista, idiota”

“Kishun tem razão...”.

“Não é pessimismo, mas...” - Touma estufou o peito, e ergueu o punho – “Mas eu vou tentar!”.

“É assim que se fala! Vamos embora daqui, já estão nos olhando torto”.

“Eu vou soltar um belo foda-se antes de irmos...”. Kishun foi interrompido de fazer um gesto obsceno por Haruhiko, que começou a empurrá-lo para fora do hotel.

Touma, vermelho, seguiu os amigos. Ao caminhar para fora, arregalou os olhos ao ver quem caminhava na direção oposta, de óculos escuros. O ignorou.

Ao passarem um pelo outro, se encararam por milésimos. Touma continuou andar, sem olhar para trás e nem se importar com a feição de surpresa, que o encarava.

—--------------------

Hotel Tokyo – Corredor D – Horas depois...

“Naoko-chan não consegue se controlar, fica perguntando do seu namoro todo tempo, não é cerejeira? Ela está mais empolgada com o seu namoro do que com histórias de terror. Não contou nenhuma hoje”. Mamoru ao seu lado, levava um carrinho com comida para os hóspedes. Já Sakura, levava um carrinho da lavanderia, iria recolher roupas de camas de um recém-desocupado quarto do hotel. Voltou a sua antiga função, já que Megumi estava de volta.

“Verdade”. Sakura lembrou da cara que Naoko fez quando soube do namoro. Ficou petrificada, ela demorou a piscar.

Sakura parou em frente ao quarto desocupado, Mamoru ao seu lado, parou junto: “Vou deixar esse pedido no quarto 402, volto aqui para descermos juntos”. Sakura acenou com a cabeça.

Abriu a porta do quarto. Deixou o carrinho no corredor, e entrou. Começou a recolher os lençóis da cama, fronhas, toalhas de banho, de rosto... Sentiu uma leve brisa. Percebeu que o hóspede havia deixado a porta de correr da sacada aberta, deixou tudo encima da cama e foi até ela.

Antes de fechá-la, seu pensamento foi se perdendo. Estava com saudades.

Ele só iria vim para Tóquio semana que vem, para cumprir a agenda de shows e depois disso iria para outras cidades do Japão. Tirou o celular do bolso da farda e olhou sua caixa de mensagens. Ele ainda não havia respondido. Releu a mensagem que mandou para ele mais cedo: “Bom dia, dormiu bem? Quase perco a hora no trabalho, mas deu tudo certo. Estava pensando na sua pergunta, meu prato preferido é Yakimeshi ((arroz com ovo, presunto, cenoura e camarão). Posso ligar para você mais tarde? Beijos”.

Ele sempre respondia com rapidez... O que será que tinha acontecido? Será que ele... Cansou? Havia descoberto uma Sakura insegura. Uma Sakura que por qualquer coisinha já estava pensando em mil besteiras... Não estava gostando disso.

“Algum problema?”. Ela virou-se rapidamente.

“N-não Mamoru-kun. Só estava admirando a vista”.

“Ahh sim. Impossível não admirar” - Mamoru recolheu os lençóis que Sakura pôs na cama- “Vamos?”.

“Ahh sim!”. Ela pegou o resto que faltava.

“Nossa que cabeça a minha, Sakura você pode ir até o quarto deixar esses guardanapos. Eu cuido disso aqui”. Ele pegou os que ela tinha nos braços, e colocava no carrinho.

“Tudo bem!”. Sakura caminhou até o quarto, rapidamente.

“Bom dia Mamoru-kun!”. Megumi saia de um dos quartos.

“Bom dia Megumi!”

“Quer ajuda?”.

“Se importaria?”.

Sakura deu leves batidas no quarto. Ao olhar Mamoru indo embora, ficou sem entender, Megumi o ajudava carregando o carrinho da lavanderia. Ia chamá-lo, mas a voz masculina de dentro do quarto pedindo que ela entrasse, tomou sua atenção. Pela voz, o homem era idoso.

Ela abriu a porta e ao entrar, curvou-se: “Desculpa o incomodo, vim deixar estes guardanapos, senhor” - Não obteve resposta. Levantou o rosto, não havia ninguém – “Senhor?”. Chamou, mas novamente não obteve resposta. Ele devia estar no quarto. Avistou a mesa do almoço, e resolveu colocá-lo lá.

Aproveitou para ajeitar os talheres e os pratos que estavam um pouco tortos. A mesa estava linda, as flores no vaso, no meio da mesa, deram um ar todo romântico. Ao virar-se, por segundos não soube decifrar o que estava acontecendo. Só depois de sentir os braços envolta de si, entendeu: O idoso tarado estava a abraçando por trás e a apertando contra o peito.

“S-s-s-s-senhor, o que está...”. Sakura se desvencilhou, empurrando o tarado para longe. Ao ver o idoso arregalou os olhos: “SHAORAN-KUN?!”.

“Estou feliz que você saiba se defender”. Ele passava a mão no peitoral.

“M-a-a-as...”. Tentava recuperar o folego.

“Surpresa! Gostou da minha voz de idoso?”

“E-eu e-eu...”. Shaoran se aproximou, e voltou a abraçá-la dessa vez, não seria empurrado.

“Me desculpe. Não consegui ficar muito tempo longe. Desculpe se te assustei, esqueci de falar que sou um pouco doido” - Sakura recuperava-se da surpresa – “Fiz mal?”. Ao escutá-lo, relaxou e pôs as mãos nas costas dele, retribuindo o abraço. Sentindo o seu cheiro, aspirou lentamente, estava lhe acalmando.

“Claro que não… Estou feliz, assustada ainda, mas feliz”. Shaoran a soltou e levantou seu rosto, segurando seu queixo. A beijou.

Por um minuto, Sakura aproveitou aquele momento mágico sem se importar com o que os rodeava. Sentiu um calor intenso, sensações que estava conhecendo com ele. Interrompeu o beijo.

“O que foi?”. Franziu as sobrancelhas, não entendia aquela atitude. Uma Sakura corada e com os lábios vermelhos, pelo beijo, desviou o olhar.

“N-nada Shaoran...” - Ela se afastou- “Mas o que você está fazendo aqui?”

“Vim te fazer uma surpresa”.

“No meu local de trabalho?”.

“Sim...” - Shaoran pôs as mãos dela, entre as suas- “Não sei se reparou, mas este quarto foi onde nos vimos pela primeira vez”.

“É-é verdade” - O contato físico e os olhares penetrantes dele a deixavam - “Eu tenho que voltar ao trabalho Shaoran, depois nos falamos de preferência fora daqui. Se a generala me pegar conversando com um hóspede, vou ficar sem emprego”.

“Nada disso, você vai almoçar comigo!”.

“QUÊ?”

“Já combinei tudo com seu amigo Mamoru!”.

“Não posso, se estar aqui dessa forma já estou correndo risco, imagine almoçar com você neste quarto! Isso é extremamente proibido”. Enquanto ela falava, Shaoran foi até a porta e tirou a chave no trinco.

“Bem, depois você me denuncia para o hotel. Agora, nós vamos almoçar. Estou faminto!”

“Shaoran!”.

“Por favor, sente-se”. Ele puxou a cadeira.

“Já disse que não posso! Você não ouviu uma palavra do que eu disse?”.

“Sakura, não vai acontecer nada”.

“Você sempre foi assim? Age sem pensar nas consequências?”.

“Se eu for calcular meus passos, eu não vivo”.

“Eu consigo viver assim!”.

“Tudo bem Sakura. Ok. Aqui” – Shaoran deu as chaves da porta- “Quis fazer uma surpresa, mas pelo visto estou ocasionando nossa primeira briga. Não foi minha intenção. Peça ao seu amigo que venha recolher a comida. Perdi o apetite. Se me der licença, quero descansar. Foi uma viagem cansativa”. Shaoran sentou no encosto do sofá, de costas para ela. Cruzou os braços.

“E-eu...”. Sentiu o celular vibrar. Desbloqueou a tela e viu a mensagem de Mamoru: “Sakura-chan, está feliz? Espero que sim. Shaoran me pediu ajuda, e eu o ajudei. Almoce com ele. Não se preocupe com a generala, ela não está por aqui. E nem com as câmeras de segurança desse corredor. Até mais, cerejeira!”. O sentimento de culpa estava chegando como um raio.

Ele preparou uma surpresa, pediu ajuda de seu amigo e ela nem ao menos demonstrou o quanto ficou feliz por vê-lo ou agradecida pelo gesto. Não sabia que era tão medrosa: “Shaoran, eu almoço com você”.

“Agora eu que não quero mais!”. Continuava de costas.

“Quê?”.

“Perdi a fome”.

“Você está parecendo uma criança emburrada”. Descontraída, sorriu. Aproximou-se dele.

“Não estou!”. Virou o rosto para o lado, irritado.

“Está sim”. Sakura parou detrás dele, pôs as mãos envolta de seu pescoço e sussurrou: “Por favor, namorado, almoce comigo!”.

Shaoran sentiu um arrepio ao ouvi-la: “Por deus, não me faça fazer nenhuma besteira aqui!”. Sakura retirou os braços.

“Como assim?”. Perguntou inocentemente.

“Nada. Vamos almoçar” – Balançou a cabeça negativamente, foi a mesa e voltou a puxar a cadeira – “Por favor, sente-se”.

Sakura sentou-se, ao reparar na decoração da mesa, ficou maravilhada. Parecia que almoçaria com um príncipe, um rei.

“Gostei do seu amigo, o Mamoru”. Disse Shaoran se sentando, a tirando de sua transe com toda aquela surpresa.

“Ele é uma ótima pessoa!”. Sakura pegou o lenço e pôs em seu colo.

“E o melhor: É noivo”. Mostrou todos os dentes.

“Aiaiai Shaoran, você é tão ciumento assim?” - Shaoran nada disse, tirou o protetor do prato dela, e sorriu com a cara de felicidade que ela fez - “Yakimeshi?! Foi por isso que você me perguntou meu prato preferido?”. Ao terminar de falar, Sakura deu a primeira colherada. Estava uma delícia.

“Foi sim” - Respondeu. Ao ver que ela estava satisfeitíssima com a comida. Sorriu. - “Está gostosa?”.

“Sim! O senhor Sasuke, é um ótimo cozinheiro! Ele sempre faz uns pratos para os funcionários. Mas nunca tinha comido esse” - Deixou de comer e vermelha o encarou - “M-muito obrigada, estou muito feliz!”. Shaoran ficou encantado.

“Fico mais feliz ainda” – Shaoran comeu, e tinha que concordar com ela: Estava uma delícia – “Além de Mamoru, quem sabe do nosso namoro aqui no hotel?”

“Naoko-chan e Motoko-chan. São minhas amigas”.

“Hum...” - Shaoran tomou um gole do vinho - “Sakura...”- Ela mastigou rapidamente, e engoliu, o encarando - “Não sei como vamos fazer, mas pretendo assumir nosso namoro para a imprensa e os fãs logo”.

“A-a-a-assumir?”. Com o que ouvirá, tomou um gole de água. Ficou surpresa.

“Sim, gaguinha” – Shaoran deixou de olhá-la e voltou a comer- “Eu vou dar um espaço para você refletir um pouco no que acontecerá”.

“Acontecerá?”. Estava mais perdida que cego em tiroteio. Shaoran terminou de mastigar e voltou a encará-la.

“Sakura-chan... Você vai começar a ser assediada. Não sei se dará para você continuar a trabalhar aqui. Toda a imprensa ficará encima de você”.

“Eu não tinha parado para pensar nisso...”. Ficou pensativa. Sua vida mudaria tão radicalmente assim? Pensou no seu trabalho e no sonho de entrar na faculdade… Teria outra rotina então?

“Entendo...” - Shaoran repousou sua mão encima da mão dela e sorriu – “Não vai ser fácil. Mas quero que saiba que gosto muito de você e que estarei ao seu lado, por isso não fique com medo”.

“Shaoran...”. O encarou com carinho.

—--------------------

Casa Kinomoto – Tomoeda

“Cheguei!” - Touya entrou em casa e estranhou o silêncio – “Pai?”. Chamou por ele, ao olhar para sala, estranhou a cena – “Tudo bem?”. Perguntou baixinho. Sonomi estava nos braços de Fujitaka, dormia tranquilamente.

“Sonomi estava chorando e acabou cochilando”. Sussurrou.

“Aconteceu alguma coisa?”.

“Tomoyo disse que vai casar esse ano. Ela antecipou o choro da síndrome do filho que sai de casa”.

“Achei que demoraria um pouco o casamento dela”.

“Sonomi também”.

“Sakura mandou alguma mensagem hoje?”

“Sim, bem mais cedo. Disse que estava trabalhando muito. Só estava um pouco preocupada, porque não tinha conseguido falar com Shaoran”.

“Hum...”

“Que foi filho?”

“Fico pensando nesse namoro da Sakura... Esse cara é famoso demais. Será que...”

“Que?”

“Que ela aguentará tanta exposição?”.

“Sua irmã é forte. E além disso, ela gosta desse rapaz”.

“Não sei pai. Eu tenho um mal pressentimento”.

Sonomi se mexeu, e abriu os olhos lentamente. Apertou os olhos.

“Acordei você?”.

“M-a-a-a-as eu dormi?”.

“Sim, e nos meus braços”.

“Olá!”. Sonomi se afastou rapidamente de Fujitaka, e levantou do sofá quando ouviu Touya. Fujitaka havia dito que ele foi ao Templo encontrar Mizuki.

“Olá Touya, e-e-e-e-e-e-eu vim, vim... Eu vim visitar vocês e e-eu...”

“Sonomi, Touya já sabe que estamos namorando”.

Sonomi ficou vermelha e encarou com raiva Fujitaka. Ele, como sempre, tinha o sorriso sereno no rosto. Touya sorria com a cena.

—___________________________

Hotel Tokyo – Quarto 402 –

“Você é bem romântico”. Limpava os lábios, sutilmente. Haviam acabado de almoçar.

“Romântico? Eu?”. Shaoran enchia sua taça de vinho.

“Sim. A surpresa e esse almoço são exemplos do que acabei de falar”.

“Sinceramente… Sinceramente não sei muito sobre romantismo. Sempre tive relacionamentos breves, bem rápidos...”. Não pôde continuar a falar, Sakura o interrompeu.

“Imagino que tipo de relacionamentos você teve...” - Shaoran sorriu sem graça, e tomou de uma vez todo o vinho da taça – “Quantas?”.

“Quantas?”.

“É, quantas mulheres você já conheceu?”. Ela o encarou profundamente.

Os olhos verdes eram hipnotizantes quando estavam serenos, mas aqueles de agora lhe causava arrepio: “Sakura, pra quê falar sobre isso? Nada disso importa!”. Desconversou.

“Ahã...”. Sakura encostou, as costas, na cadeira, e cruzou os braços.

“Você é tão ciumenta assim?”. Voltou a encher a taça.

“Não…”. Deu língua.

“Aquele cara, o tal de Touma, sabe onde você trabalha?”

“Sim, porquê?”.

“E ele te visita no trabalho?”.

“Não, Shaoran. Mas qual o motivo da pergunta?”.

Então o quê aquele idiota veio fazer aqui?” — Shaoran pensou consigo mesmo, lembrou de responder Sakura - “Nada! Vi um cara parecido com ele…Hoje, você estudará?”. Mudou de assunto.

“Sim! Tenho muito o que estudar”.

“Ah...”. Tomou um gole do vinho.

“O que foi?”.

“Nada. Só vai ser um saco ficar nesse quarto de hotel...”

“Eu acabo de estudar as 8 horas da noite. Vo-você quer ir jantar no meu apartamento?”.

“SÉRIO?!”- Shaoran ficou radiante com o convite. Queria passar o máximo de tempo com ela - “Claro que sim! Não vou atrapalhar?”.

“Não! Quero retribuir a surpresa de hoje”.

“Que tal usar uma lingerie bem sexy?”. Pediu de forma provocadora.

“O QUEEEEE?!” - Shaoran dava risadas do rosto envergonhada da namorada - “Acho melhor você suspender a bebida se quiser ir até o meu apartamento!”.

“Estou brincando sua boba!”- Shaoran parou de rir, e estufou o peito antes de falar, em uma pose de orgulho- “Eu disse ao seu pai que cuidaria de você com todo zelo, respeito e carinho. Mas em nenhum momento disse a ele que pararia de te deixar com vergonha!”. Sorriu.

“Você é bem irritante, às vezes”. Disse contrariada.

“Já ouvi isso”. Sakura levantou e pegou uma caneta do hotel, na estante da entrada do quarto, Shaoran apenas olhava curioso. Voltou, e sentou. Começou a escrever no guardanapo. Minutos depois ela estendeu o papel em sua direção.

“Meu endereço”.

“Fica bem próximo daqui”. Ele leu, e sorriu.

A batida na porta, chamou atenção dos dois. Sakura se desesperou.

“V-você está esperando alguém?!”. Levantou-se da cadeira, assustada.

“N-não e você?”. Shaoran continuou sentado. Não fazia a mínima ideia de quem poderia ser.

“Shaoran, o quarto é seu, lembra?” - Novamente a batida a fez tremer - “Vou me esconder!”. Correu até o quarto.

“Não exagere Sakura! Deve ser Mamoru”.

“Não é ele, ele me mandaria uma mensagem se fosse. Vá ver quem é. Vou me esconder no banheiro”. Pôs a cabeça para fora do quarto e surrurrou.

“Sak…”- Tentou impedi–la, mas foi em vão, ela voltou para o quarto. Suspirou, levantou da cadeira, e ficou um pouco zonzo. Seria melhor mesmo suspender o vinho.

Continuou a andar, a batida insistente o estava deixando intrigado. Olhou pelo olho mágico, mas não viu ninguém. A pessoa estava se escondendo ou tinha espíritos naquele hotel? Decidiu abrir mesmo não vendo ninguém. Tomou um susto ao vê-la: “Mio?!”

“Oiiiii Shaoran-chan! Então está mesmo aqui”. A mulher de cabelos rosas, com um decote generoso, pulou encima dele, agarrando-se no seu pescoço.

“C-omo, o que está fazendo… você…?”

“Ouvir uns comentários de que você estaria aqui. Meu pai veio resolver algumas coisas em Tóquio, aproveitei e vim as compras. Estou morrendo de saudades de você! Você não me atende mais, praticamente está sumido!”.

“E-eu estive ocupado”. Ele a tirou de seu pescoço, sutilmente.

“Entendo. Não vai me convidar para entrar? Sinto um delicioso cheiro de vinho vindo de você, não vai me convidar para entrar e me deliciar junto com você?”. Ela olhou para os lados, estavam ainda fora do quarto.

“É que estou de saída...”. Ela não deu ouvidos para o que ele disse e foi adentrando.

“Nossa, a vista daqui é linda!”. Correu até o parapeito. Shaoran suspirou inconformado, fechando a porta.

“Mio, eu tenho que...”

“Os meninos estão sentindo a sua falta: ‘nossa, Shaoran não bebe mais com a gente, não sai mais e não quer ir para a farra. Vivem reclamando”. Imitava voz masculina.

“Como eu disse ando ocupado e meio que cansei dessa vida...”. Coçou a cabeça, tinha que se livrar dela.

“Cansou?”- Andou até ele, e levou suas mãos até o pescoço dele, e de forma provocante o indagou – “E de mim? Também cansou?”. Começou a beijar seu rosto, quando ia beijá-lo na boca, ele se afastou.

“Mio, eu...”. Shaoran estava sem graça, olhou a porta do quarto, aberta, estava vendo a hora de Sakura sair dali brava.

“Estou com tantas saudades Shaoran-chan, porque não mata minha saudade hein? Meu pai foi para um almoço com uns executivos, vai demorar umas 3 horas. Podemos quebrar aquele nosso recorde, lembra? 2 horas e meia que passamos trep...”. Ela agarrou a gravata dele, o puxando para perto. E mais uma vez, agarrava-se a ele.

Shaoran a interrompeu, não queria que Sakura escutasse nada: “Mio! Sério! Eu realmente tenho um compromisso importante!”. Ele tirou os braços dela, que estavam envolta de seu pescoço.

“Hum…Tudo bem... Vou indo então” - Mio estava surpresa com tudo aquilo, mas não se deixou abater. Saiu de perto dele, antes de sair, ficou parada a sua frente – “Que horas você volta?”

“Não sei, vou a uma reunião, sabe como são as reuniões, né? Melhor você nem vim”.Shaoran abria a porta.

“Você está bem estranho…”- De relance, percebeu a mesa do almoço. Reparou nela e viu um prato a mais, e duas taças– “Você está com alguém, não é? Ela está aqui?”. Cruzando os braços, perguntou, indignada.

“N-não Mio. Não tem ninguém aqui!”. Engoliu seco.

“Tem sim. Não estou gostando disso! Tem tempo para outras, mas não para mim? Ela deve está escondida no quarto, não é? Quem é? Eu a conheço?”. Olhou em direção a porta do quarto dele, aberta.

“Não tem ninguém aqui além de você e eu. Mandaram dois almoços por engano, devorei os dois, agora se você me der licença...”. Ele apontou para fora.

“Você pensa que sou idiota Li Shaoran?!”.

“Mio...”. Estava impaciente.

“Então prova: me beija!”

“Hã?”

“Estou pedindo um B-E-I-J-O!” - Soletrou. Percebendo a hesitação dele em beijá-la protestou mais uma vez- “Viu só? Tem alguém aqui sim! E ela deve está lá dentro, eu vou...”- Shaoran a puxou e a beijou. Ela arregalou os olhos, não entendeu nada: “Shaoran isso nem beijo foi...”. Shaoran beijou sua testa.

“Vamos, vou descer junto com você. Estou atrasado!”. A puxou, e a colocou para fora do quarto.

Em passos lentos, Sakura saiu de onde se escondia. Pôde escutar toda a conversa. Estava arrasada.

Ele nem mesmo se arriscou a apresentá-la, preferiu beijar aquela mulher a permitir que ela a encontrasse. Não foi ele quem tocou no assunto de assumir o namoro para todos, porque não começou com essa tal de Mio? Estava com vontade de chorar. Mas aquele não era o momento e nem o lugar. Olhou para a mesa, pegou o pedaço de papel e o amassou, colocando no bolso de seu uniforme.

Abriu a porta lentamente, e com cautela conferiu se não havia ninguém no corredor.

Andou até o elevador dos empregados e entrou nele.

...

Shaoran saiu apressado de dentro do elevador, correu até o seu quarto.

“Sakura? Pode sair! Ela já foi!” - Recuperava o folego. Estranhou o silêncio - “Sakura? Pode sair!”. Andou até o quarto. Procurou lá e abriu a porta do banheiro. Não estava.

Ela foi embora. Olhou para mesa com o almoço, e deu por falta do papel.

Ótimo, ela foi embora e chateada.

Passou a mão no rosto, atônito: “Caramba! Ela deve está achando que a beijei!”.

...

Horas depois...

“Há males que vem para o bem Sakura”.

“Motoko tem razão!”

“Obrigada pessoal...”. Sakura tentava não chorar.

“Você não vai falar nada, Mamoru-chan?”

“Hum...”- Mamoru pôs a mão no queixo e ficou pensativo. Quebrou o silêncio - “Eu acho que Shaoran não beijou essa mulher e que você deveria falar com ele”.

“Devia ter ficado calado Mamoru”. Motoko o olhou irritada.

“Não dê ouvidos ao Mamoru-chan, Sakura. Ele é homem, homens se unem na sem-vergonhice”. Naoko segurou as mãos de Sakura.

“Nada disso! Não faz sentido ele ter vindo fazer uma surpresa para ela e depois beijar outra mulher sabendo que ela está no quarto”.

“Então você acha que ele deveria ter feito as escondidas?”. Motoko cruzou os braços e o olhou de forma desafiadora

“Vocês mulheres e essa mania de distorcer o que nos dissemos”. Mamoru suspirou inconformado.

“Enfim, ele fez e pronto. Ignore ele Sakura. Quando você estiver menos chateada o atenda, e fale poucas e boas para ele”. Sentenciou Motoko.

“É, deixa ele pra lá!”.

“O que vocês pensam que estão fazendo? Estão sendo pagos para conversarem durante o trabalho?”. Foram pegos de surpresa pela temida “generala”.

“N-não senhora!”. Disseram em coro.

“Ao trabalho, já!”. Ordenou, batendo palmas.

“S-sim senhora!”.

“E você menina, melhore essa cara. Os hóspedes não tem culpa nenhuma das suas desventuras”. Ao ouvi-la Sakura abaixou a cabeça, evitando encará-la novamente.

“Pior que sim...”. Naoko sussurrou.

“Disse algo Yanagisawa?!”

“Eu disse: Vou indo, sim?”. Naoko desconversou, nervosa.

“Vá, e vocês também, rápido!”.

Em silêncio foram até o elevador. Entraram, ainda calados.

“Olá gente! Credo! Pela cara de vocês a generala os pegou né? Não tem um dia que a generala esteja de bom humor”- Mal entraram no elevador dos funcionários, Megumi notou a feição desanimada de todos. Eles apenas balançaram a cabeça, em sincronia, confirmando - “Ontem ela quase demitiu o Kazui-kun, só porque ele tropeçou no secretário do 1º ministro”.

“Nossa, eu soube! O secretário interveio né?”. Perguntou Naoko.

“Sim, foi graças a ele que Kazui-kun ficou no trabalho” - Megumi olhou Sakura, que estava bem triste e não participava da conversa - “Sakura-chan?”

“S-sim?”. Sakura levantou a cabeça, ao escutar seu nome.

“Tudo bem?”

“Ela só está cansada, não é Sakura-chan?”. Naoko respondeu pela amiga.

“Sim… Cansada”.

“Também estou! Vou indo! Ah! Vocês já viram o vocalista da banda Kissu´s?”. A porta do elevador se abriu.

“N-não, porque Megumi-chan?”. Naoko disfarçou.

“Eu o vi mais cedo. Nossa, ele é lindo!”- Megumi tinha os olhos brilhando - “Queria ter a sorte de está cuidando daquele andar, é você não é Motoko-chan?”. Perguntou empolgada.

“Sim...”. Motoko respondeu friamente.

“Que sorte a sua! Queria pelo menos admirar a beleza dele de perto. Chance mesmo eu não teria, até parece que ele levaria a sério uma simples camareira. Deve ter tantas mulheres lindas aos pés dele”. Megumi segurava a porta do elevador.

Sakura abaixou novamente a cabeça, e o olhar triste reapareceu. Rememorou o que havia acontecido a poucos instantes. Ela tinha razão.

“Não concordo. Acho que uma camareira tem a mesma chance tanto quanto uma modelo internacional. Não importa a classe social, importa o que você é”. Mamoru calado até então, disse de forma contrariada. Sakura encarou o amigo.

“Sério, Mamoru-chan? Então você acha que tenho chances? Você é um querido! Tenho que ir. Até mais pessoal!”. Megumi soltou a porta do elevador, e se foi, saltitante.

Motoko e Naoko fuzilaram Mamoru com os olhares.

“Viu? Vocês, mulheres, realmente distorcem tudo o que a gente fala”. Mamoru balançou a cabeça, inconformado.

“Sakura-chan, ânimo!”. Naoko pôs as mãos no ombro da amiga, tentando lhe passar força.

“Se eu vê-lo, vou desafiá-lo para uma luta, e acabar com ele!”. Motoko fechou o punho.

“Cerejeira, ainda acho que ele não beijou essa mulher. Não seja tão insegura. Você perderá para si mesma”. Mamoru de forma carinhosa, disse encarando Sakura, que permaneceu calada.

—--------------------

Hotel Tokyo – Quarto 312 – Horas depois...

“Boa noite senhora, vim para...”. Naoko não pôde terminar de falar.

“Entra. Ali, derrubei o copo ali, está cheio de cacos de vidro. Limpe logo, não quero cortar os meus lindos pés”. Apontou, de forma arrogante, indicando o incidente.

“S-sim senhora! Com licença!”.

Naoko apressou-se e buscou a pá e a pequena vassoura, e começou a recolher os cacos. O barulho do celular tocando da hóspede era estridente. Além de rude, ela era espalhafatosa. A viu indo até o quarto atender. O que tinha de linda, tinha de grosseira.

Até que enfim! Sim, já cheguei. E você, chega quando?”. Ela não falava, gritava.

Naoko saiu e foi até o carrinho parado na porta do quarto. Esqueceu do saco de lixo.

Está um tédio. Meu pai continua nas merdas das reuniões. Eu já comprei Tóquio inteiro! Ah! Advinha quem está aqui? Não idiota, no meu quarto só tem uma camareirazinha...”

Ao voltar ao quarto, escutou a forma debochada que a hóspede se referiu a ela: “Camareirazinha? Que mulher irritante!”. Murmurou Naoko. Colocou todo o caco de vidro no saco de lixo e deu graças por já ter acabado.

Mas vamos ao que interessa: Li Shaoran!”- Ao escutar o nome dele, Naoko ficou imóvel. Agora, ela teria que escutar toda a conversa. Voltou a jogar os cacos de vidro, antes na sacola de lixo, no chão. Tratou de separá-los bem. Teria que demorar ali - “Sim. É sim. Ah, ele continua lindo, maravilhoso e irresistível. É um pedaço de mal caminho aquele homem!”

“Oferecida...”. Naoko levantou uma sobrancelha.

Infelizmente não tenho nada a relatar! Não, ele não quis nada. Se você está chocada, imagina eu! Nossas transas eram sempre insanas, únicas, mas ele simplesmente me dispensou. Ele é uma máquina sexual, nunca negou fogo, lembro de uma vez que nós...”

“Oferecida!”. Naoko, corada, tampou o ouvido, não quis escutar qualquer detalhe.

É o que eu acho também! Ele devia está traçando uma qualquer no quarto. Mas mesmo com outra, ele nunca fez isso, sempre dava um jeito! E sabe o que foi mais bizarro? Pedi a ele que me beijasse, e ele me deu um beijo na testa e me enxotou do quarto! Shaoran nunca me tratou assim, ele já largou muitas só pra ficar comigo! Beijo na testa sim, virei uma irmãzinha pra ele!”.

Naoko arregalou os olhos: “Ele… Beijou… Ela… Na... Testa?”. Cobriu a boca.

Não é bizarro? Ele disse que tinha compromisso, daí fomos juntos para o elevador, daí ele diz: ‘Mio, eu não sou mais aquele Shaoran. Eu sou esse, o que te deu um beijo na testa por consideração. Aquele tipo relacionamento que tínhamos não existe mais!’. É um cretino mesmo, né? Mas não vou desistir, vou ficar na cola dele. Ele é irresistível demais para eu ficar babando de longe”.

O bater da porta, chamou a atenção dela, que saiu do quarto: “Nada, foi só a idiota da camareira que bateu a porta ao sair. Então, nem te contei, comprei três bolsas lindas hoje...”

—--------------------

...

Dava graças pelo horário de trabalho ter terminado. Nunca foi tão difícil trabalhar como tinha sido hoje. Pôs o casaco, antes de sair do vestiário, olhou-se no espelho: “Animo, Sakura!”. Disse a si mesma.

Ao sair do vestiário, despediu-se do gentil zelador, e saiu pela porta dos fundos. Foi embora sem se despedir dos amigos e desligou o celular, precisava ficar só.

Tinha certeza de que a explicação de Shaoran sobre o que aconteceu naquele quarto não era o suficiente. Alias, não queria ouvi-la. Tinha medo de acreditar e cair no abraço forte e confortável que ele tinha. Estava apaixonada, e agora tinha que se “desapaixonar”?

Seguiu sozinha caminhando por Tóquio, aproveitando aquele tempo até seu apartamento para pensar e ficar triste, pois, quando chegasse em casa, precisava estudar.

—--------------------

Hotel TokYo - Corredor D – Horas depois...

“Vai na frente!”. Pediu uma Naoko nervosa. Estava suando frio.

“Você não tem medo de assombração, mas tem medo de gente?”. Motoko, irritada, se colocou na sua frente.

“Só estou com vergonha!”.

“Bobona!”- Motoko começou a andar em direção a um dos quartos- “Já que estamos aqui, vamos logo fazer isso! Vamos pedir desculpas depois a gente faz com que os dois se unam novamente!”.

“Certo!”.

As duas encararam a porta do quarto, se entreolharam. Antes de bater, Motoko respirou fundo. Bateu delicadamente na porta, nenhum sinal. Com a mesma intensidade, bateu novamente. Sem paciência, voltou a bater, dessa vez com força.

“Motoko, desse jeito você vai quebrar a porta!”. Naoko protestou, mas Motoko não teve tempo de retrucar, a porta foi aberta.

“Sim?”. Shaoran enxugava os cabelos molhados e fitava curioso as duas mulheres vermelhas o encarando, elas ficaram caladas. Ele não sabia, mas elas apenas estavam constatando o quanto ele é bonito. Motoko corada, desviou o olhar ao notar alguns botões, da blusa branca de punho, abertos. Ele acabará de sair do banho. Naoko cutucou Motoko.

“B-boa noite senhor”. Disseram em coro.

“Boa noite, posso ajudar vocês?”. Parou de enxugar os cabelos.

“Er...”- Simultaneamente as duas curvaram-se - “Me chamo Ayoama Motoko, ela Yanagisawa Naoko. Somos amigas da Sakura. Nos viemos pedir desculpas!”.

“Hã?”. Não estava entendendo nada.

“Sakura nos contou o que aconteceu e nos a aconselhamos a ignorar o senhor”.

“Sim. Mamoru-chan, disse que o senhor não tinha beijado aquela mulher, mas sinceramente, homem defende homem...”.

“E por isso, não o ouvimos. Por isso queremos pedir desculpas, querendo ou não, interferimos no namoro de vocês”

“Nos desculpe!”

“Mas que namoro?”

“Hã?”

“Não estou mais namorando a amiga de vocês, ela terminou”.

“O quê?!”.

“Sim. Ela terminou, disse que o melhor seria que cada um seguisse a vida, e disse que as amigas dela tinham razão sobre mim”.

“M-mas...?”.

“Provavelmente, vocês devem ser as amigas, correto? Devo agradecer por estarem me ocasionando tristeza e dor?”

“S-senhor, n-nos d-desculpe...”

A risada dele as deixou espantadas. Ele era louco?

“Estou brincando!”- Shaoran não obteve resposta. Elas se entreolhavam na tentativa de entender o que ele estava fazendo- “Ah qual é? Sorriam, tenho um bom humor pelo menos”- Elas sorriram forçadamente- “Agradeço pelo cuidado e carinho que tem pela Sakura”- Shaoran se escorou no batente da porta, e fez uma feição desanimada - “Eu gosto dela. Não faria nada que a magoasse, preciso explicar o que aconteceu hoje, mas ela não me atende e nem responde minhas mensagens”.

“Foi c-culpa nossa...”. Disse Naoko, chateada.

“Ela mandou vocês virem até aqui?”.

“Não. Ela não imagina que estamos aqui. Nós nos sentimos culpada e também queremos fazer alguma coisa por vocês”.

“Entendi. Está meio complicado, o fato de dizer que gosto dela, não está sendo suficiente”.

“Ela apaixonada pelo senhor!”- Shaoran arregalou os olhos - “O senhor disse que gosta dela, mas ela está apaixonada. E uma mulher apaixonada é insegura e medrosa. Não a julgue. Apenas a compreenda, isso tudo é novo para ela”.

“Sim, você está certa. Então… Já que vocês estão aqui, poderiam me ajudar?”.

O olharam com interrogações envolta.

.

.

.

.

.

.

.

Continua...

.

.

.

.

.

.

Música:
      Kimi Ni Todoke - Tanizawa Tomofumi. Versão acústica por Zeru (adoro os covers que ele faz *.*): https://www.youtube.com/watch?v=KNVruwtKLGc 

~~~~
Anata to koi ni!: Apaixonada pelo senhor!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá a todos! Mais um capitulo, falta mais 20! Mentira! Hehehehe. Espero que gostem, deixem seus comentários *.*
Beijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kissu´s" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.