Kissu´s escrita por LiLiSaN


Capítulo 14
Tsutaemasu.




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(Imagem: Tomoyo e Eriol - Fanart)

Abriu lentamente os olhos. Piscou devagar algumas vezes, a claridade o incomodou. Sentiu uma leve dor no pescoço, e nas costas. Dormiu de mal jeito. Tirou os fones do MP3, que tocava uma música clássica. Olhou para seu lado, e para todos os outros.

“Cadê todo mundo?”. Shaoran levantou da poltrona e olhou pela janela. Eriol tirava algumas malas do bagageiro.

“Obrigado sr. Itachi, vejo o senhor no domingo” - Ao ver Shaoran saindo do ônibus, espreguiçando-se, despediu-se do motorista e o olhou sorridente - “Até que enfim!”.

“Pra onde foi tudo mundo?”.

“Para dentro”. Eriol apontou para a mansão com um belo jardim. Deveria ter 40 quartos de hóspedes lá.

“Caramba… É linda. A amiga do seu pai realmente é rica”.

“Essa casa só não é maior que a sua casa na china”- Eriol retirou o violão de Shaoran que carregava em suas costas e devolveu a ele - “Isso é seu”.

“Vocês iam deixar eu voltar com o motorista?”. Ele o pegou, colocando em suas costas.

“Claro que não Shaoran. Mas é que você dormia tão profundamente, que ninguém conseguiu te acordar. Nem mesmo a adorável Sakura”.

“E-ela, e-ela…?”. Ficou sem palavras. Ela falou com ele? Que droga!

“Sim, mas você não acordou” - Eriol, começou a subir os degraus da porta de entrada- “Vamos entrar. Tomar banho e comer alguma coisa”.

Na entrada um empregado os aguardava, pegando toda a bagagem. Shaoran ficou com o seu velho violão nas costas. Ganhou de Wei quando tinha 7 anos, era sua relíquia. Boquiaberto, olhava a mansão. Ela era incrível, tinha móveis exóticos e ao mesmo tempo, sofisticados. Era perceptível que a dona amava arte, pelas esculturas e quadros em abundância. Olhou a lareira e as almofadas encima do sofá, se pudesse se jogaria lá. Estava cansado.

“Vamos Shaoran, nossos quartos são lá encima”. Seguiu o amigo.

Yukito descia as escadas, sorridente: “Tem uma sala de jogos enorme aqui!”- Fitou Shaoran- “Até que enfim acordou Shaoran!” - Shaoran nada disse e o olhou emburrado, passando por ele, certamente, não havia esquecido de que Yukito havia emprestado seu ombro a Sakura - “Mas o que ele tem?”.

“Ciúmes Yukito, ciúmes”.

….

Sakura, da janela de seu quarto, olhava a quadra de jogos, maravilhada. Não sabia que poderia existir mansões maiores que a de Tomoyo. Parecia um palácio.

“Tudo bem Sakura-chan?”. Tomoyo entrou no quarto, sem bater.

“Sim, apenas admirando esse lugar. É lindo!”

“Sim, é verdade. A amiga de sr. Reed, tem uma bela mansão” - Tomoyo juntou-se a ela, na janela- “Descanse um pouco, daqui a pouco jantaremos. Os passeios faremos amanhã”.

“Tudo bem”- Sakura notou o olhar fixo de Tomoyo nela - “O que foi?”.

“É que estou muito feliz que você tenha vindo Sakura-chan”.

“Eu também, Tomoyo-chan”.

“Vou tomar um banho, qualquer coisa, estou no quarto ao lado”. Tomoyo sorriu e se foi.

Mexeu o pescoço, estava contente por não ter dormido de mal jeito no ônibus. Certamente o ombro de Yukito foi o grande responsável por isso. Teria que agradecê-lo depois.

Saiu da janela, e abriu sua bolsa vermelha, encima da cadeira da penteadeira. Tomaria um banho também. Seus olhos se perderam em sua mão direita.

~~~~~~~~

Chegamos!”. A voz do motorista foi ouvida por todos, menos por Sakura e Shaoran.

Sakura...”- Yukito tentava acordá-la- “Sakura-chan… Chegamos”- Yukito tentava acordá-la sutilmente- “Sakura-chan?”.

Abriu lentamente os olhos, por um segundo esqueceu aonde estava. Ao perceber que havia dormido no ombro de Yukito, endireitou-se rapidamente, e ficou vermelha: “D-desculpa Yukito-kun!”.

Não tem porque se desculpar Sakura. Dormiu bem?”- Ela olhou o sorriso sereno, confirmou positivamente- “Que bom!”.

Aí como estou feliz! Finalmente!”. Comemorava Nakuru, levantando-se da poltrona, ao mesmo tempo, em que se espreguiçava. Yue passou por eles e nada disse.

Sakura-chan, você fica linda dormindo!”. Tomoyo a filmava.

V-ocê me filmou?”.

Claro que sim Sakura! Não perderia isso por nada”. Yukito sorria com a vergonha de Sakura. A voz de Eriol, os envolveu.

Shaoran está em seu velho sono pesado”. Constatou Eriol.

Verdade… Shaoran-kun?! Já chegamos!”. Gritou Yukito.

Não adianta Yukito, ele só vai acordar por conta própria, está no modo pedra” - Disse Eriol, que andava pelo pequeno corredor do ônibus - “Vamos descer, já já ele acorda”. Logo, Tomoyo e Yukito seguiam Eriol.

Ficou parada o olhando. Se acordado já era bonito, dormindo então…

Ele dormia um sono profundo e calmo. Estava tão adorável dormindo, que parecia um garotinho indefeso. Mas de garotinho, não tinha nada. O seu rosto estava relaxado, seus lábios desenhados eram ímãs aos seus olhos. O cabelo, como sempre, desalinhado. Alguns fios caiam sob os olhos.

Fez menção de segui-los, mas voltou-se para trás. Aproximou-se dele, e isso foi o suficientemente para as batidas do seu coração ficarem descompassadas. Toda vez era isso, bastava se aproximar dele… Do homem que lhe deu seu primeiro beijo. Corou ao lembrar disso, e por um momento hesitou. Mas não queria deixá-lo ali, sozinho.

A respiração calma dele, não combinava com seu corpo sentado na poltrona de maneira desconfortável. Quando ele acordasse, ia sentir dor. Certeza.

Shaoran?”- Chamou por ele, mas não obteve nenhuma resposta- “Shaoran, acorde. Nós já chegamos”. Novamente, nada. Levantou a mão direita, iria tocá-lo, quem sabe ele acordasse.

Tocou em seu braço, e ficou parada. Só em tocá-lo sentia uma mistura de sentimentos que não sabia explicar, só sentir. É a mesma coisa que sentiu quando suas mãos se tocaram lá no Templo. Ela estava gostando dele? Era isso? Quanto mais o evitava, mais gostava?

Sakura?”. A voz de Eriol a fez dá um pulo, pelo susto. Decidiu descer do ônibus.

Você tem um sono invejável, Shaoran”. Murmurou, antes de sair do ônibus.

Tentando acordar Shaoran?”. Eriol estava na porta do ônibus, do lado de fora.

Sim...”. Confirmou desviando o olhar.

Quando ele não dorme direito, ele fica assim, parecendo uma pedra”- Eriol a fitou, tentava esconder sua timidez- “Não se preocupe, digo a ele que você tentou acordá-lo”. Sua face estava mais vermelha que sua bolsa de viagem.

~~~~~~~~~~

Pensou em como seria esses três dias ao lado dele. Lembrou-se da cara que o irmão fez quando soube que ele estaria ali. Riu. Sempre a protegendo, desde pequena.

O que aconteceu no templo, não saia de sua cabeça, os olhares, o toque das mãos, a canção, saber um pouco dele… Todas as pequenas coisas que aconteceram naquela noite, ela rememorava. Perguntava-se o que ia acontecer tanto em Nagasaki.

Mas uma coisa era certa, um banho a relaxaria.

—-----------------

Shaoran tocava algumas notas no violão, Na verdade, afinava, estava doendo seus ouvidos de tão desafinado. Esperava o vencedor entre Yue e Eriol, da partida de sinuca. Por deus, como aquela mansão era grande. A sala de jogos, era de encher os olhos… Só três dias seria insuficiente para aproveitar ali.

“Hihihihi… Ganhei Yukito!”. Shaoran sorriu ao ver a cena de Tomoyo que ria timidamente, ganhar pela terceira vez de Yukito no jogo de videogame. Frustrado, reiniciou novamente. Nakuru soltava gritinhos, jogando no fliperama. Estava mais animada do que de costume.

“Sakura-chan está demorando...”- Tomoyo olhou preocupada para a porta - “Acho melhor ir procurá-la”. Mas Yukito estava tão determinado em ganhar de Tomoyo, que não deu brechas para ela ir.

Yue olhou pasmo para Eriol encaçapando uma bola por uma. Colocou o taco encima da mesa e deu as costas: “Vou procurá-la”.

“Parado aí Yue. Fique e perca com dignidade”. Disse Eriol, ao encaçapar a bola 9, em seguida andou para o lado esquerdo da mesa, encaçapando a bola 3.

“Eu vou então”. Shaoran, levantou animado.

“Nem pensar, você é o próximo. Nakuru, vá atrás de Sakura”.

“Sim!”. Nakuru saiu da sala saltitante.

Ela subiu até o quarto em que ela estava e bateu. Sem obter nenhuma resposta, entrou. Mas ela não estava: “Ué, aonde ela está?” - Pôs o dedo na boca, e ficou pensando em como achá-la - “Já sei!”. Saiu andando sem rumo, pela vasta mansão.

…..

“Mas q-que...?” - Olhava espantada, a biblioteca de dois andares enchia seus olhos. Era incrível - “Ai ai ai me perdi...”. Caminhava entre as enormes estantes que abrigavam os vários livros. Certamente, o dono era amante de leitura. Observou o enorme quadro de uma linda mulher de cabelos negros compridos soltos e franja. Uma mão segurava um delicado leque e na outra um Kiseru (um cachimbo, bem fino, tradicional japonês). Sentada em uma poltrona vermelha, de maneira provocante, evidenciava suas curvas e seus seios fartos no kimono negro, entre aberto. Possuía um sorriso enigmático nos lábios. Seria ela a dona da mansão? Apertou seus olhos, o nome do pintor estava lá.

“Foi o pai do Eriol quem pintou, é a dona desta mansão, o nome dela é Yuuko” - Sakura deu um pulo, e tratou de engolir novamente o coração - “Desculpa pelo susto Sakura-chan, te achei!”.

“T-tudo bem. Eu estava distraída”. Ela voltou a olhar o quadro, o nome dela era tão familiar.

“Mas o que você está fazendo aqui? Vai me dizer que você está perd…?”- Sakura confirmou, sem graça, antes que ela terminasse de perguntar, ela riu- “Tudo bem! Aqui é bem grande mesmo. Achei você porque vim andando sem rumo. Como se eu estivesse perdida também, sabe?”.

“Obrigada por ter me achado. Achei que ficaria perdida”. Fez uma cara de alívio.

“Own você é tão fofa!”- Nakuru apertou suas bochechas- “Me desculpa!”.

“P-pelo quê?”

“É que fiquei com ciúmes de você...”- Nakuru soltou as bochechas dela - “Uma vez, ouvi Yue falando de você. Ele não costuma falar de alguém por aí, sabe?”- Ela continuou- “Fiquei com ciúmes e imaginando como você seria, e do porque ele falava de você de maneira tão especial...”.

Ciúmes de mim? Mas desde o primeiro momento ela foi um doce….”. Sakura afastou seus pensamentos, foi interrompida antes de concluir sua pergunta: “Você gosta…?”

“Sim! Muito muito muito muito muito muito muito muito...”- Sakura já estava começando a ficar tonta com tanta repetição- “Vou me confessar!”- Nakuru estava com uma expressão de decidida- “Decidi não deixar adormecido mais meus sentimentos. Yue já teve quatro namoradas. E eu sempre estive nos bastidores torcendo para que ele fosse feliz. Mas agora, eu quero seguir em frente. Quero me libertar desse sentimento, aqui, no meu peito”.

“Espero que tudo dê certo”.

“Também espero que dê tudo certo para você, Sakura”- Nakuru sorriu ao notar a expressão de confusão que Sakura fez- “Sabe, sou estabanada, infantil e meio doidinha às vezes, mas não sou cega com o que acontece ao meu redor. Shaoran é um amigo querido, e eu o amo muito. Por isso, não o machuque. Seja honesta com você e com ele”.

“Só não sei o que é isso tudo, é uma novidade para mim...”. Deu um longo suspiro.

“Sakura, coragem”- Ela encarou Sakura com olhares afetuosos que a transmitia confiança. O barulho de seu estômago, cortou seu lado maduro. Sakura ficou sem graça- “Nossa! QUE FOME! Vamos, vamos!”. Saiu de lá a puxando.

….

“Devo confessar, que você tem experiência de sobra”. Eriol acabará de perder uma partida para Shaoran.

“Não vou negar, muitas noites afora jogando. Depois do jantar, se você quiser, te dou uma revanche”.

“Combinado então”.

“Shaoran-chan, você conhece praticamente todas as cidades do Japão, né?”. Yukito levantou-se do sofá de couro. Tomoyo fez o mesmo, mais uma vez ganhou dele, estava com vontade de procurar por Sakura. Esperaria mais uns minutos por Nakuru.

“Sim!”- Shaoran encaçapava umas bolas restantes - “Casas noturnas, bares, restaurantes… Posso indicar se quiser”.

“Já veio a Nagasaki?”. Perguntou Eriol, recolhendo as bolas de sinuca e ajeitando a mesa. Shaoran pôs o taco encima da mesa, e sorriu de lado.

“Sim, muitas vezes. Confesso que tenho uma recordação especial da última vez que vim, tudo por causa de uma noite quente que tive com uma linda mulher”.

“S-sakura-chan...”- Gaguejou Tomoyo. Ao ouvir aquele nome, ele virou-se incrédulo. E ao anotar a feição de desapontamento no rosto dela, teve certeza de que Sakura tinha escutado o que ele acabará de falar. Todos tinham gotas sobre as cabeças - “Bem, vamos todos jantar”. Tomoyo sorriu, tentando disfarçar o silêncio que ficou. Nakuru que estava atrás nada entendeu.

Eriol balançou a cabeça negativamente, e deu tapas nas costas de Shaoran. Yukito sorria sem jeito. Yue os seguiu para a sala de jantar, mas ao passar por Shaoran, ainda imóvel, deu um leve tapa em sua cabeça, dizendo: “Idiota”.

Mas que droga! O que ela estava pensando dele agora? Certamente, que ele era um mulherengo idiota e arrogante. Suspirou inconformado, se estava difícil se aproximar dela… Agora então, seria impossível.

...

Mulherengo idiota e arrogante!”. Sakura o olhava com raiva, não escondendo sua chateação com que ouviu minutos atrás. Sim estava chateada, não era ciúmes.

Lembrou-se das palavras, repetindo com desdém e raiva:“Nhem nhem nhem recordação especial, nhem nhem nhem noite quente nhem nhem linda moça!”. Definitivamente, não era ciúme... Era só chateação. Tudo estava tão claro, parecia que ela mesma queria pôr uma venda nos olhos. Ele só a estava vendo como um brinquedo, como pensará antes. Se ele está pensando que ela é uma dessas mulheres do qual ele já está acostumado, ele estava bastante equivocado.

Engolia a comida, e lhe lançava olhares fulminantes, suas caras e bocas, faziam Tomoyo rir que percebia tudo, como sempre.

De novo” - Os olhares bravos dela, o estava intimidando. Ela realmente ficou com raiva. Sabia! Ela devia pensar tantas coisas erradas a respeito dele… Pera aí. Ele é mulherengo. Quer dizer, era. A sensação que teve ao perceber que todo esse tempo recusou mulheres insinuantes pôr telefonemas ou não foi atrás de nenhuma, era a mesma sensação de conseguir resolver e acertar a resposta de uma complicada equação de 2º grau. Foi por tê-la conhecido - “De novo...”. Ele não desviou mais o olhar. A olhou e sorriu.

Mas que cínico!”. Surpresa com o sorriso, deu rabissaca.

“Então Sakura, vai seguir os passos de seu pai e seu irmão, vai lecionar também?”. Perguntou Yukito ao seu lado.

“Sim, também irei!”- Abriu um enorme sorriso- “Estou me esforçando muito para isso”.

“Tenho certeza de que conseguirá!”. Encarou Yukito com um sorriso enorme.

“Quando você volta para Tóquio?”. A voz do mulherengo da mesa, tirou o belo sorriso. Fechou a cara, e foi ríspida.

“Daqui a duas semanas”. Disse friamente, praticamente o ignorando.

“Nós também teremos que voltar para a turnê, acho que devíamos fazer uma festa de despedida!”

“Você só pensa em festas Nakuru”. Disse Yue.

“Claro, temos que aproveitar cada momento”.

“Também acho, aproveitar é...”. Shaoran foi interrompido.

“Você tem uma grande experiência nessa área, não?”. Sakura indagou sem encará-lo. Que clima era aquele que estava se instalando ali? Todos engoliram seco. Estavam prontos para acompanhar uma partida de futebol bem disputada agora.

“Como?”. Perguntou desconcertado. Sentiu que tinha cutucado uma onça com palito de dente.

“Aproveitar, curtir, essas coisas...”

“Claro. Sou jovem, e acredito que devemos aproveitar tudo o que a vida tem para nos oferecer”.

“Nem todos os jovens têm essa oportunidade, mas que bom que você aproveita por eles”. Todos comiam, e só viravam o pescoço. Acompanhando aquele jogo trágico.

Encararam Shaoran, e se ele pudesse ler mentes, certamente leria “Pelo amor de deus, cala boca Shaoran”. Mas ele não podia mesmo lê-las: “Também acho, Sakura”. Foi o que disse, com um sorriso no final. Sakura fechou a cara, e engolia novamente a comida. Yue, Yukito, Eriol e Tomoyo, balançavam a cabeça negativamente.

….

“3, 2, 1...” - Nakuru encarou Shaoran - “Você errou”. Sakura sentada ao lado de Tomoyo, via o rosto de vergonha de Shaoran. Yue comia um pacote de salgadinhos. Yukito lia um livro próximo a eles. Eriol segurava um chocalho.

“Foi mal! Faz tempo que não toco essa música”.

“Vamos de novo” - Nakuru se aproximou do ouvido dele - “Para de ficar nervoso por causa da Sakura”.

“Não dá, ela está me matando com o olhar”.

“Hihihihihi. Agora aguenta!” - Parou de cochichar - “Vamos lá, 3, 2, 1...”.

Shaoran, no violão, voltou a tocar os primeiros acordes. Dessa vez deixou o nervosismo de lado e acertou as notas.

 

 Fukai fukai mori no oku ni ima mo kitto

Agora no fundo da densa, densa floresta, certamente
Okizari ni shita kokoro kakushite'ru yo

Despertou o que estava escondido dentro do meu coração

 

Sakura encantava-se com a voz de Nakuru. Era uma voz tão forte, que iluminava o ambiente. Não tinha quem não se envolvesse. Reparou que Yue deixou de ler e assistia Nakuru cantar.

  

Sagasu hodo no chikara mo naku tsukarehateta

Quanto mais me esforço a procurar o poder, mais me canso
Hitobito wa eien no yami ni kieru

Todos desaparecerão na escuridão eterna

Chisai mama nara kitto ima demo mieta ka na

Mesmo se for pequena, certamente verei a tristeza

 

Encarou Shaoran. Tocava muito bem. Apesar de aparentar nervosismo.

Lembrou-se do que ele havia dito horas antes, e a raiva surgiu: “Mulherengo!”.

Shaoran sentiu aqueles olhares… Olhou para ela, e a viu com a cara fechada.

 

Boku-tachi wa ikiru hodo ni

Quanto mais vivemos
Nakushite'ku sukoshi zutsu

Mais coisas perdemos pouco a pouco
Itsuwari ya uso wo matoi

Perdido num vale, num chão inseguro
Tachisukumu koe mo naku (...)

Nos impossibilitando de falar e chorar (...)

 

 Ao cruzar com o olhar dele, corou: “Tomoyo-chan, já vou subindo”. Cochichou, olhando para ela e levantou-se. Shaoran parou de tocar, deixando Nakuru no vácuo.

“Tem certeza de que não quer ficar mais um pouco conosco?”

“Sim, Tomoyo-chan. Estou bem cansada. Amanhã quero esta nova em folha para nossos passeios. Estou empolgada em conhecer Nagasaki”. Ficou sem graça pela cantoria ter parado e todos a estarem encarando.

“Tudo bem… Não está sentindo nada né?”.

“Estou bem Tomoyo-chan. Não se preocupe” - Sakura fitou Tomoyo carinhosamente, depois olhou todos- “Boa noite a todos”.

“Não vai ficar mesmo?”.

“Não, Yukito. Desculpem”.

Ela encarou Shaoran, que recebia esporros de Nakuru. Não disse nada sobre ela ir, parece que não fazia questão nenhuma de que ela ficasse. Será que ele finalmente se cansou? Deve ter percebido que ela, comparada as outras mulheres com quem ele estava acostumado, era diferente. Talvez, “fresca” demais para ele. Enfim, tanto faz. Seu coração não palpitava mais. Quer dizer, só de raiva.

Subiu as escadas e olhou para trás, desejou que ele tivesse ido atrás dela. Mas que loucura de desejo! Subiu pisando com força os degraus. Dormiria. E ponto final.

Ao notar que ela realmente foi dormir, Shaoran ficou pensativo. Não queria que ela tivesse ido, mas também não queria forçar uma aproximação. Perdido em seus pensamentos não notou os olhares sobre si. De repente uma chuva de almofadas caia sobre ele: “M-as, m-as o que é isso?”

“Idiotaaaaa!”. Gritaram em coro.

Abriu os olhos, a escuridão do quarto a assustou um pouco. De novo, por um momento, não sabia onde estava. Que sensação chata. Isso que dava viver enfurnada em casa, estudando.

No criado-mudo, ligou o abajur e viu que horas eram: 23 h:15. Sentou-se na cama, e passou a mão nos cabelos. Que sede! Deveria ter seguido o conselho de Tomoyo em levar uma jarra de água para o quarto ou ter pedido para algum dos empregados. Agora estava lá, com a maldita sede. Desligou o abaju e voltou a deitar. Beberia água amanhã. Pronto.

O lado direito era o melhor lado para dormir, ou lado esquerdo? Não, de bruços. Droga! Maldita sede!

Voltou a ligar o abajur. Sentou-se na cama, e calçou as pantufas. Estava com o receio de se perder, mas um copo de água gelada valeria o risco. Pensando bem… Será que Tomoyo não teria? Estava no quarto ao lado, junto de Eriol.

N-não, vai que… *CENAS INAPROPRIADAS*. Ficou vermelha. De qualquer forma, não gostaria de acordá-los por causa de um copo de água. Iria até a cozinha.

Abriu a porta do quarto, e suspirou aliviada. O corredor estava iluminado. Não era mais criança, mas a escuridão total, lembrava terror, e terror levava a fantasmas. Morria de medo! Percebeu a camisola de seda que usava, e voltou correndo para o quarto, pegando o roupão. Estava meio frio ali.

Fechou a porta, com cautela. E caminhou pelo corredor, com passos lentos. Não gostaria de chamar atenção, não queria dá de cara com ele.

Desceu as escadas tentando ao máximo não fazer barulho, olhou para a sala, todos já tinham ido dormir. Menos mal. Ainda estava com raiva dele. O dissipou dos pensamentos e seguiu para a cozinha.

“Isso, aí!”. A voz de uma mulher, vindo da cozinha, chamou sua atenção.

“Aqui, está bom mesmo?”. Era a voz dele! Mas o que ele estava fazendo?

“Sim, muito bom!”. A mulher parecia gostar muito daquilo. Mas o que era exatamente aquilo? Corou ao imaginar que… *CENAS INAPROPRIADAS*. Que mulherengo! Mas por que o espanto, ele gosta de dar encima de empregadas, de modelos, de ricas, camareiras, enfim… De qualquer uma! Curtia a vida por muitos, como ele mesmo disse. Apertou a mão. Não sabia o que fazer, não queria ver ninguém nu, mas também não queria sair dali sem desmascará-lo, quem sabe assim ele não teria mais cara para tentar algo com ela..

Com as bochechas coradas, estava decidida a entrar naquela cozinha e pegá-los. Seja lá o que fosse ver! Respirou fundo.

“Ainda está acordada?”. Yue saia da cozinha e a fitou curioso. Ela caiu para trás.

Quer dizer que… Yue também participava… Corou ao imaginar *CENA INAPROPRIADA*. “V-vim, vim beber um copo de água”.

“Ah sim. Fique à vontade. Boa noite Sakura”. Deu de ombros. Ela o olhou ir, e decidida entrou na cozinha. Coragem!

Shaoran coçava as costas de uma senhora baixinha, com cabelos grisalhos presos em um coque, meio corcunda. Os dois a olharam. Ela mais uma vez caiu para trás.

“Posso ajudá-la moça?”

“S-só vim pegar um copo de água”.

“Tudo bem Sakura?”. Shaoran perguntou ao notar seu nervosismo.

“Sim”. Ela estava imóvel, ainda processando o que tinha pensado e no que tinha visto.

“Ah me desculpa, certamente veio atrás de seu bondoso marido. Ele estava me ajudando na cozinha, quando me deu uma coceira nas costas. Como tenho os braços curtos, ele foi solicito. Hehehe”. Mostrava os braços curtos.

“E-ele, e-ele não é...”

“Me faça um último favor Jovem, sirva sua esposa. Esta velha vai descansar. Boa noite”. Eles acompanharam a idosa ir com o olhar. Sakura fez menção de pegar a água.

“Deixa que eu pego” - Shaoran se prontificou. Ficaram em silêncio. Percebeu que ela estava com as bochechas mais rosadas que o normal. Certamente, ela estava desconfortável com a presença dele- “Na china, costumamos beber água quente”.

“No Japão também”.

“Não tanto quanto lá. Bebemos água quente até no calor”. Ele estendeu o copo, e ela foi até ele buscá-lo.

“No calor?”.

“Sim. É melhor para a saúde. Ajuda na digestão e elimina toxinas do organismo”.

“Interessante”. Bebeu água e parecia que estava bebendo 5 litros, pela demora em tomá-la. Não sabia o que falar com ele. Na verdade não queria.

A fala de horas atrás veio em sua mente: “Nhem nhem nhem noite quente nhem nhem nhem moça linda”. Que raiva! Tomou tudo de uma vez, e foi até a torneira passar água no copo.

“Você está chateada comigo?”.

“E-eu e-eu…?” - Sakura ainda de costas, ficou surpresa “Claro que sim bobão!” - “Não, não estou!”. Colocou o copo na mesa, sem se virar.

“Sakura, o que foi que eu te disse?” - Ainda de costas, o escutará- “Sem joguinhos, sem brigas ou qualquer mal-entendido”.

“O que eu ouvi, não foi nenhum mal entendido!”.

“Você está com ciúmes?”. Ao ouvir aquela pergunta, virou-se mostrando uma falsa indignação. Só ela não percebia que era falsa.

“C-c-c-c-ciúmes?! Ha ha ha! Claro que não!” - Sorrindo de forma nervosa, cruzou os braços, a bochecha teimava em queimar. Sua boca falava uma coisa, mas sua feição outra- “Não temos nada. Você pode ter várias noites quentes com quem quiser”.

“Ok”. É, estava gostando dela mesmo. Aquela cena de ciúmes fez seu coração dançar no peito. Ela sentia algo por ele também.

“E-eu vou dormir! Boa noite para você!”.

“Sakura! Espera!” - Ela não lhe deu ouvidos- “Por favor, espera” - A voz manhosa a fez parar de andar. Não o encarou, mas sentiu que ele se aproximava enquanto começou a falar- “Pode parecer clichê de novela, filme romântico ou mangás shoujos, mas o que estou sentindo por você é verdadeiro, Sakura. Eu tive uma noite quente com outra garota sim...” - Sakura arregalou os olhos “Que pervertido!” - “Mas eu não senti nada. Foi nessa noite que percebi que eu estava começando a gostar de você. Por isso, tornou-se uma recordação especial para mim” - Ela ficou pasma. Que revelação de galã de novela, era aquela? - “Olha para mim” - Ele pedia. Sentiu sua voz pertinho dela – “Sakura, olha para mim. Por favor”.

Ela virou, lentamente, ainda vermelha, de cabeça baixa. Ele levantou o rosto dela com o indicador, delicadamente: “Olhe nos meus olhos e diga que não acredita em mim, que devo está inventando ou que estou enganando você. Se você não consegue ver através dos meus olhos, não sei como te convencer com as palavras Sakura” - Arrepiou. Os olhos castanhos o encarando com tanto carinho e verdade, a desarmaram. Ele continuava a segurar seu rosto. A raiva que sentia, sumiu. Aquilo era um sonho? Na verdade, ela estava dormindo. Isso, dormindo! - “Diga”. Não, não era sonho. Aquela voz marcante, a despertou. O barulho de uma cantoria, fizeram as bochechas arderem.

Sakura e Shaoran ficaram vermelhos, afastando-se: “Oh! Me desculpem!”. Disse um empregado da mansão, de pijama.Nervoso, curvava-se.

“E-eu a-acho melhor ir. Temos que acordar cedo amanhã. Boa noite a todos!”. Sakura saiu praticamente correndo. Os dois a olharam com cara de tacho.

“B-boa noite”. Foi tudo o que Shaoran teve tempo de dizer.

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“O QUÊ?! Ela saiu sem dizer nada?!”. Nakuru lamentava. Estavam do lado de fora da cozinha, pela janela entreaberta de vidro, escutaram toda a conversa, ao mesmo tempo em que tentavam não ser vistos.

“Fale baixo Nakuru-chan!”. Pediu Yukito sussurrando.

“Hihihihi Sakura-chan, é muito tímida”. Disse Tomoyo com uma filmadora, focando em Shaoran.

“O importante é que essa viagem vai ser de grande ajuda aos dois. Agora, vamos, amanhã teremos um dia longo e turístico pela frente”. Eriol sorria.

Fechou a porta e escorou-se nela. Estava ofegante. “(...)Mas eu não senti nada. Foi nessa noite que percebi que eu estava começando a gostar de você. Por isso, tornou-se uma recordação especial para mim”. Lentamente deixou seu corpo cair, escorada na porta.

(...)Olhe nos meus olhos e diga que não acredita em mim, que devo está inventando ou que estou enganando você. Se você não consegue ver através dos meus olhos, não sei como te convencer com as palavras, Sakura”.

“Mas que droga Shaoran, pare de fazer isso… Vou gostar mais de você...” - Encolheu-se, agarrou os joelhos e disse baixinho- “Vou gostar pra valer de você...”.

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Continua...

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Música do capitulo:

Fukai Mori by Do As Infinity (Música de encerramento do anime Inuyasha)

https://www.youtube.com/watch?v=UexTEDUgSGs 

 

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Tsutaemasu: Diga.

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Notas finais do capítulo

Olá a todos! Mais um capítulo. Eu queria continuar postando sempre fds, mas sempre acontece alguma coisinha. Eu também escrevo e depois releio umas trezentas vezes. Sou insegura, ás vezes. Hehehehe. Agradeço pelo retorno e pelas mensagens, fico tão feliz. :D

Opiniões sempre são bem vindas. Então fiquem a vontade! =*


Fukai Mori by Do As Infinity (Música de encerramento do anime Inuyasha)
https://www.youtube.com/watch?v=UexTEDUgSGs

Beijos! E até a próxima!



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