Perseguida Pelo Inferno escrita por Fada Dos Tomates


Capítulo 3
Espírito de Fogo


Notas iniciais do capítulo

Hey! Mais um suteki cap! Aproveitem!



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Acordo em minha cama, como é sábado não ligo para o horário. Coloco uma roupa qualquer e vou tomar o café, despreocupada. O dia está tão lindo! Como posso estar tão feliz depois do que aconteceu? Quem se importa? Vamos aproveitar a alegria!

–Bom dia mãe! Bom dia pai! – sorrio sem parar como se estivesse drogada.

–“Bom dia”? – pergunta meu pai – Mas é noite.

–Como assim “noite”? Está um sol lá fora. – olho pela janela e me espanto com algo impossível.

O céu está mesmo escuro, mas no lugar da Lua há um Sol.

–Como? – cambaleio pra trás quase caindo.

–Incrível, não é? – minha mãe serve o café – Tome antes que esfrie.

Sento à mesa chocada com o Sol.

–Podem me explicar o que está acontecendo? – pergunto.

–Um café da noite. – responde meu pai.

–Não, lá fora, o que o sol faz no céu a noite? E por que estamos tomando café se já é noite?

Os dois riem e começo a suar, há algo errado, estou com medo. O que está havendo? Por que eles estão agindo assim?

–O que foi Higure? – indaga minha mãe – Por acaso há algo errado?

–Vocês estão estranhos...

Meu pai faz expressão de irritado e diz:

–Olha só quem fala, você nem tem amigos, o único que tinha...

–Cale-se! – me altero – O que houve com vocês? Quero meus pais de volta!

–Sabe que nunca os terá – minha mãe sorri de um jeito que não é dela. Um sorriso assustador.

–Você foi abandonada, ninguém a quer. Até mesmo Yorokobi preferiu morrer a ficar com você. – meu pai também sorri.

–O que quer dizer com isso? – ofego sem entender nada.

–Não achou mesmo que fosse nossa filha, não é? – falam zombando – É tão patética!

Assustada com tudo, me tranco no quarto e desabo no chão com as mãos nos ouvidos e os olhos fechados em choque.

–Isso não está acontecendo! Isso não está acontecendo! – digo trêmula. Parece loucura!

Meu celular atrai minha atenção, coloco os fones e uma voz já conhecida diz:

–Quatro da madrugada.

Respiro fundo, uma, duas, três vezes. Está acontecendo de novo. No relógio faltam apenas 2 minutos para as quatro.

–Sua mãe foi ao mercado. – conta a voz.

Sem mais nem menos vou ao mercado, corro o mais rápido que posso nas ruas desertas com um frio desgraçado. Não posso de jeito nenhum deixar minha mãe morrer, só não entendo porque ela foi ao mercado há essa hora ou o que ela quer lá. Não entendo nada, aliás. Não faz sentido.

Um avião de guerra cruza o céu e uma coisa cai dele me desesperando, bem em direção ao mercado.

–Mãe! – grito pois sei que é uma bomba.

BUM!

Tudo explode, sou atirada pra trás pelo impacto da explosão, rolo no chão e paro longe. Fico uns momentos no chão paralisada, me perguntando um milhão de coisas ao mesmo tempo, quando a poeira baixa começo a correr novamente chamando minha mãe. Felizmente, não me feri. Mas e ela?

Quando chego mais perto vejo minha mãe caída inconsciente no chão.

–Mãe! – grito apavorada.

De repente ela abre os olhos que estão brilhando em vermelho. Seus cabelos e sua roupa pegam fogo.

–Espírito de Fogo – fala a voz no celular.

Uma katana aparece em minhas mãos. Fico sem saber o que fazer. O que aconteceu com mãe? Então minha mãe me ataca com fogo. Fecho os olhos e grito de medo, mas nada me atinge, só vento. Abro os olhos, minha mãe continua de pé, mas o fogo não me causou dano. A espada, foi isso que me protegeu. Como?

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, minha mãe me ataca com uma corrente de fogo. Me defendo com a espada e vou pra trás.

–Mãe essa não é você! – tento fazê-la recobrar a consciência. O que ela está tentando fazer? Como isso ocorreu?

Ela não diz nada só me ataca de novo. Mesmo que eu me defenda o fogo arde em meus pulsos e solto gemidos de dor. Não vou aguentar por muito tempo desse jeito. Que porcaria! Só pode ser um sonho de novo!

–Ataque-a! – ordena a voz no celular.

–Não! – nego e corro pra longe – Não posso machucar minha própria mãe!

Ela vai atrás de mim, destruindo tudo o que há em seu caminho, tem um sorriso maléfico no rosto.

–O que está acontecendo afinal?! – pergunto apavorada e sem fôlego.

–É Yomi, ela quer você.

–Yomi?! O Inferno? – (na cultura japonesa Yomi é o Inferno).

Algo queima minha perna e me puxa pra trás. Berro, não só de susto, mas também de dor. Caio no chão e olho pra trás. Minha mãe ergue as mãos pra trás fazendo uma expressão demoníaca. Rolo pra o lado na hora em que ela tenta me acertar com a corrente e me levanto. Ela continua atacando e eu me defendo, mas uma hora ela acerta meu rosto e eu caio sentada no chão.

–Lute! – manda a voz, porém não a ouço.

O fogo arde tanto que eu grito de dor, ele queima minhas roupas e minha pele consumindo-me. A dor é tanta que tenho lágrimas nos olhos. E minha mãe continua me chicoteando com as chamas.

–Lute!

Com certeza morrerei, já estou em pele viva.

–Lute!

Não consigo mais me mexer, estou desesperada. Deus, por favor faça isso parar!

–3, 2, 1, 0...

O chão se parte e nós duas caímos na lava brilhante. Uma tortura, não consigo descrever. A angústia de ser tomada pelo calor da lava, como se milhões de animais arrancassem minha pele, mina carne. Tudo queimando, minha vida é arrancada de mim através do desespero. Tudo o que consigo pensar é: Deus não quero morrer assim! Alguém me ajude!

Ouço berros e sinto a ardência em meu corpo. Também solto um grito, meu coração está disparado, estou em casa.No entanto, temos um grande problema: tudo está pegando fogo. Que diabos está havendo aqui?

–Pai! Mãe! – levanto rapidamente, tive outro pesadelo e isso não pode ser bom.

“Antes água, hoje fogo” lembro e fico apavorada. Só pode ser esse maldito demônio que botou fogo na casa!

–Higure! – ouço minha mãe gritar de forma tão horrível como se estivesse sendo torturada.

–Mãe! – penso em ajudá-la. Mas como?

Estou cercada pelas chamas, meus braços e pernas estão um pouco queimados, minha roupa também. E agora? Só me preocupo com meus pais. Tanto faz se eu morrer, não? Porém meus pais tem muito o que perder, eles tem família e amigos que precisam deles, que os amam. Grito por eles arquejando, logo depois meu pai desce as escadas tossindo.

–Higure você está bem? – ele indaga gastando oxigênio.

–E a mamãe? – a fumaça entra em meus pulmões – Cof, cof...

Ele não responde. Por que ele não diz nada?!

O carro de bombeiros e a ambulância chegam. Eles nos tiram da casa a força, pois só queremos salvar a mãe. Todas as lembranças que tive com ela se embaraçam em minhas lágrimas. Ela vai...morrer?

–Mãe!Mãe! Cof... – grito tossindo, me debato pra que me soltem, mas os homens são muito fortes – Mãe! Cof, cof, cof...

Meu pai também grita por ela, é só um desperdício de oxigênio, nossas vozes jamais a alcançarão.

–Yui! Cof, cof... Yui! Yui!

Os homens nos colocam em macas e nos dão uma injeção para que fiquemos calmos, sinto meus olhos pesarem e acabo me entregando ao sono provocado pela injeção.

Mãe...Mãe... Onde está você?

###

“-Cuidado com o fogão querida – avisa minha mãe docemente.

Estou mais baixa, isso é uma lembrança do passado.Lembro disso, uma memória bastante dolorosa.

O cenário muda, minha mãe está sendo levada por uma ambulância. Eu choro nos baços de meu pai, me sentido culpada por ter sido a causa do acidente que a deixou ferida.

Na aula todos me culpam:

–Você quase matou sua própria mãe!

–É uma assassina!

–Um monstro!

Risadas e caras monstruosas...Isso é tão assustador! Estou presa no Inferno com esses monstros que lembram do acidente com fogo, foi culpa minha mas eu não queria. Por que eles me lembram disso? Por que zombam de mim? Por que são tão detestáveis?”

###

–Higure-chan? – uma voz doce faz o pesadelo desaparecer.

Abro meus olhos e vejo um teto branco e um rosto embaçado. Esfrego os olhos e vejo que o dono do rosto é Jun. Estou na cama de um hospital.

–Ah, Higure-chan graças a Deus! – vibra Jun – Eu fiquei tão preocupado com minha nee-chan!

Fico sem palavras e tanto assimilar tudo o que aconteceu. Tive um pesadelo com minha mãe e umas coisas estranhas, acordei com a casa em chamas, me sedaram pois eu queria salvar a mãe e acordei aqui.

–Mãe... – murmuro e começo a chorar. Ela...ela morreu? Nunca mais vou vê-la? O que restará de mim sem ela e Yorokobi?

–Eu sei Higure-chan... – Jun acaricia minha cabeça – Sinto muito pelo que aconteceu.

–Onde...ela está? – estou com voz rouca.

–Vão enterrá-la hoje. Você dormiu por dois dias, fiquei muito preocupado, eu não queria perder minha irmã. – conta ele choroso.

–Ela...Morreu... – não consigo parar de chorar.

Jun me abraça.

–Ai! – reclamo e me afasto, as queimaduras ardem ao toque.

–Desculpe eu me esqueci. – se desculpa ele sorrindo envergonhado.

Continuo a chorar inevitavelmente. Primeiro Yorokobi se foi, agora minha mãe. O que será de mim agora? Estou amaldiçoada!

–Ah, Higure-chan... – Jun pega um celular do bolso, meu celular -...quem foi que mandou isso?

No celular tem uma mensagem estranha: “Você falhou”. O número é desconhecido, arregalo os olhos quando vejo de quem é: Kami Yomi. Mas o que...

–Conhece essa Kami Yomi? – Jun está sério – Quem se denomina o Inferno?

Começo a pensar que incendiaram minha casa de propósito, bandidos ou psicopatas. Mas há algo mais: o que os pesadelos tem a ver com isso? E por que eles são tão reais? Além do mais tem aquela assombração assustadora com olhos vermelhos e brilhantes.

–Você vai acreditar em tudo o que eu disser? – questiono.

–Claro que vou acreditar em minha onee-chan.


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Notas finais do capítulo

Higure vai contar tudo pra Jun. Será que ele vai acreditar?
Quanto a Yomi...Eu sei que é o Inferno no Japão, mas eu quis que fosse uma Deusa. Por que a deusa do Inferno tem que ser Izanami? Por que não pode haver uma Kami Yomi? Então Yomi: Deusa do submundo; Inferno: Inferno. São coisas diferentes, pelo menos, na história.