Perseguida Pelo Inferno escrita por Fada Dos Tomates


Capítulo 2
A Assombração de Olhos Vermelhos


Notas iniciais do capítulo

Que bom que tem gente lendo! Isso me deixa muito feliz! Comentem, favoritem, recomendem. Assim postarei todos os dias!



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Coloco as mãos na cabeça apavorada. Não pode ser! É como se meu sonho tivesse sido uma premonição.

–Não... Ele não pode ter morrido! – nego – Alguém deve ter matado ele! Não pode ter acontecido isso sem mais nem menos! Não! Não!

–Higure... – minha mãe me abraça – Eu sinto muito, sei que ele era um grande amigo seu.

Como se ela soubesse o que estou sentindo! Como se com apenas um abraço, eu fosse esquecer que ele morreu! E tem mais aquele pesadelo maldito! O que aquilo queria dizer? E aquela mensagem? Quem está brincando comigo desse jeito?

–No meu sonho ele morreu, será que...

–Foi um sonho! Não tem como ter sido real! – discorda ela – Não pense bobagens!

–Mas... E a mensagem?

Não posso ignorar isso, deve haver alguém tramando contra mim. Sei lá, um louco macumbeiro que pode entrar nos meus sonhos. Mas por que alguém faria isso? É loucura!

–Não sei o que ela significa, mas você não pode ficar tão impressionada com um sonho. – diz ela.

–Está bem – pelo visto não adianta falar com ela, engulo o choro.

Odeio quando não acreditam em mim. Mas quem vai acreditar que alguém matou Yorokobi e entrou nos meus sonhos pra me assombrar?

–Você vai ao velório dele? – pergunta minha mãe. Como ela pode estar tão despreocupada com o que houve?

–Sim – afirmo. Quero vê-lo, uma última vez, por mais doloroso que seja.

–Vai ser amanhã à tarde – conta ela – Agora se arrume ou chegará atrasada na aula.

Vou ao meu quarto e coloco meu uniforme. Antes de sair pego um pedaço de pão e corro pela rua, estou atrasada. Correr desse jeito lembra meu sonho e fico com uma angústia horrível no peito, ainda não acredito que Yorokobi morreu. Como pode ter sido? Ele não é bobo de se afogar numa piscina na qual ele já estava cansado de nadar. Alguém deve tê-lo matado, só pode. Minha visão fica embaçada, as cores se misturam, limpo as lágrimas dos olhos.

Eu só queria ter mais tempo com ele, ou sei lá. Talvez eu queira morrer. Minha vida é um saco, parece vazia e não sou ninguém importante. Tenho certeza de que eles não precisam de mim, eu nem ia fazer falta. Sou apenas uma ninguém.

Sem perceber um carro quase me atropela, cambaleio pra trás e caio sentada no chão. Eu queria morrer, mas assim tão rápido não. Meu Deus!

O carro para e um garoto sai dele.

–Você está bem? – pergunta ele.

O garoto usa um casaco verde e um calção cinza, tem cabelos castanhos e olhos verdes como os meus. Confesso que ele é bem bonitinho. Desejável, eu acho. Yorokobi também era...

–Estou bem – respondo friamente, tentando não começar a chorar de novo.

O vento faz seu capuz cair pra trás. E de repente garotas gritam histéricas.

–Mas o que... – me pergunto confusa. Será que ele é algum fugitivo da policia?

O garoto se assusta e entra no carro rapidamente.

–Prazer em conhecê-la, meu nome é Jun – e ele vai embora sem dar satisfação, sem nem saber quem sou eu. Mas quem iria querer me conhecer?

As garotas correm atrás do carro gritando como loucas:

–Jun-kun* volte aqui!

–Me dá um autógrafo!

–Posso tirar uma foto com você?

Ouço Jun gritar dentro do carro enquanto as garotas correm.

Bando de loucos.

– O que será que ele é? Algum astro famoso? – me pergunto.

Não ligo muito para essas coisas, então não há como saber.

Continuo a caminhar e vejo à hora, 07h30min. Droga!

–Essa não! – Corro o mais rápido que posso – Estou atrasada!

Chego ao colégio atrasada e sou repreendida pelo professor, ainda bem que eu não costumo chegar tarde todo dia senão eu seria suspensa.

Entro na sala e me sento na classe. A mesma coisa chata sempre, e agora estou sozinha. Odeio os olhares desses idiotas. Me fazem sentir uma desconhecida, como se algo tivesse errado comigo. Odeio isso.

–Temos uma noticia muito ruim – anuncia o professor com um olhar pesaroso – Ontem, Itsuka Yorokobi, um de seus colegas se afogou nos treinos de natação e faleceu.

Todos falam sem parar e eu só consigo chorar.

Eles nem se importavam com Yorokobi. Por que não calam essas bocas sujas?!

– Deve ser difícil para Higure. – ouço alguém dizer – Os dois eram tão covardes que nunca nem se beijaram.

Sinto nojo dessas cobras que tentam injetar seu veneno em mim.

Risadas, pessoas zombando de mim, odeio isso. Cerro os dentes e coloco as mãos nos ouvidos, não quero nem ver esses monstros miseráveis, eu queria mesmo que eles tivessem morrido no fim do mundo.

O dia se passa normalmente. Essa vida chata e vazia. Qual o sentido nisso? Como as pessoas conseguem se contentar com apenas isso? É, acho que realmente estou enlouquecendo. Não sei como Yorokobi conseguia ficar perto de mim.

“Conseguia”... Até ele morrer. Ah, que droga! Estou chorando de novo!

Então, vejo uma garota estranha que me tira a atenção. Ela está com um vestido preto e uma capa com capuz, ergue a cabeça e não há olhos em seu rosto, parecem mais duas luzes vermelhas olhando diretamente pra mim.

Assustador. O que é isso?

De repente ela desaparece como se nem tivesse estado aqui. Me assusto um pouco. Será que ela foi real ou só uma ilusão de minha mente? Alguém quase me derruba colidindo comigo.

–Desculpe. – diz a pessoa.

É aquele garoto esquisito de antes, o Jun.

–Ah, você é aquele... – ele tapa minha boca antes de eu terminar a frase.

–Não diga o meu nome aqui, por favor. – pede ele cochichando.

Será mesmo um fugitivo da policia?

Um calafrio me percorre a espinha. Ele é tão bonitinho pra ser um bandido, mas as aparências enganam, não é?

Afirmo com a cabeça. Ele me leva pra um lugar vazio sem meu consentimento. No que esse maluco está pensando?!

–O que está fazendo? – indago – O que quer comigo?

–Nada, é... – ele pensa numa resposta – Você não está gritando, nem pedindo um autógrafo, então não é minha fã.

Ufa, ele não é um fugitivo, deve ser apenas um famosinho de meia tigela. Nem me importo.

–É mesmo. Quem é você? – suspiro sem dar muita atenção a ele. Mas não tenho nada pra fazer e acabei de ver coisas, talvez seja bom conversar com alguém.

Ele fica perplexo com minha pergunta.

–Você não sabe?! – indaga incrédulo.

–Nunca ouvi falar de nenhum Jun. – respondo – Quem é você?

–Ora eu sou um astro! – se apresenta – Hiroshi Jun, 18 anos, cantor e ator. Todos me conhecem, meu rosto está em quase todo lugar...

–Tá se achando – reviro os olhos com um ar de desprezo. Ele fala como se todos tivessem que amá-lo. Que idiota.

– Desculpe é que me dizem para ser o centro das atenções, e é claro, me exibir. E quem é você?

–Sou Kogarashi Higure, tenho 16 anos e... Não tenho profissão. – fico envergonhada por isso. Sou uma inútil, nem cozinhar sei direito.

–“Higure”, é um bonito nome, “anoitecer”. – elogia ele – Tão bonito quanto você...

Dou-lhe um tapa no rosto impulsivamente. Esse tipo de hipocrisia só podia vir de um famoso. Quem ele pensa que eu sou?!

–Só porque você é um cantor, ator e sei lá mais o que, não significa que pode brincar desse jeito com todas – insulto – Isso pode funcionar com suas fãzinhas, mas comigo não.

–Desculpa, eu só quis dizer que você é bonita – ele está meio pasmado com minha reação. Provavelmente nunca foi tapeado após elogiar uma garota. Imagino com quantas ele não ficou até hoje e quantas vezes não disse a mesma frase que acabou de falar pra mim.

–Pare de mentir! – ordeno – Só diz isso pra ficar comigo e depois jogar fora.

–Ei, eu nunca fiz isso com ninguém.

Que hipócrita. Acha que pode me enganar...

–Até parece, famosos são muito aproveitadores. – acuso.

–Eu não sou, é verdade – Jun se defende.

–Tá certo... E afinal o que você quer? – me irrito. Como ele pode dizer essas coisas tão facilmente? É um idiota.

–Só conversar, você é a única pessoa que não fica louca quando me vê. Nem amigos eu tenho por causa disso – conta ele tristonho – Todos os garotos tem inveja e me odeiam.

Tenho um pouco de pena dele, achei que ser famoso era um sonho, não uma maldição como ele diz. Talvez Jun não seja uma pessoa tão má. Ou talvez só esteja se fazendo de coitadinho pra eu ter pena e ficar com ele.

Um impulso me leva a segurar seu pulso e correr o levando.

–Pra onde você está me levando? – ele está confuso com minha reação.

Até eu mesma estou me estranhando, mas não consigo parar de correr, nem sei onde estou indo. O que estou fazendo? Estou louca?

Corremos por entre as pessoas indiferentes, nas ruas lotadas, sem olhar para o rosto delas, sem ligar para os comentários insultantes que elas dizer pra nós dois correndo como loucos. É como se eu me movesse sozinha pra algum lugar desconhecido. Mas sorrio ao segurar a mão quente de Jun e sentir essa estranha liberdade momentânea desviando as bicicletas e esquecendo Yorokobi, só por agora.

Acabo chegando àquela ponte do meu sonho. Fico boquiaberta parada lá. O que estou fazendo aqui?

–Pra que me trouxe aqui? – questiona Jun se aproximando das barras de segurança com o vento balançando seus cabelos castanhos e o sol iluminando seus olhos verde mar.

–Eu não sei. – vou para o lado dele entorpecida e observamos o pôr do sol.

Eu não havia notado que se passou tanto tempo assim. Estou me sentindo num outro mundo. Acho que esse é o primeiro pôr do sol que eu vejo, quer dizer, minha vida é tão corrida e não tenho tempo pra admirar essas coisas. Me pergunto o que foi que vivi até agora. O passado parece apenas um sonho embaçado, é como se eu tivesse desperdiçado minha vida criticando o mundo e sendo uma ninguém. Será que um diz isso mudará?

–Bonito esse pôr do sol. – Jun parece feliz – Sabe, eu nunca posso sair de casa sem que tenha fãs e paparazzi me seguindo. Minha vida é um saco!

Ele não sabe como é ruim a minha vida. Mas acho que sou ingrata demais por pensar assim. Bem, ninguém gota da própria vida, não é mesmo?

Acabo olhando para a montanha, subi lá no sonho.

–Yorokobi... – murmuro com o coração doendo.

Não consigo conter as lágrimas que caem sem parar. De novo, estou pensando em como minha vida será horrível sem poder ter meu melhor amigo ao lado, nunca mais.

–Higure-chan o que houve? – Jun se preocupa. Mas ele não pode fazer nada quanto a isso, não é?

–Yorokobi...

Só falo o nome dele, pensar que nunca mais verei o sorriso que todo dia me alegrava, é uma tortura. Por que ele morreu? Por quê? Se há um Deus em algum lugar deste mundo corrompido por pecadores egoístas, por que Ele faz isso? Eu não posso ter um momento de felicidade em minha vida vazia sem que algo estrague isso pra sempre? É muito injusto...

–Higure-chan não chore. – pede Jun – Seja lá o que aconteceu pense no amanhã.

–É fácil pra você falar, ninguém de quem você gostava muito morreu – digo me sentindo a pessoa mais triste da face da Terra.

–Então alguém morreu? – ele me abraça do nada, me assustando. Não estou acostumada com esse tipo de coisa então sinto medo, sei lá. Quem iria querer me abraçar?

–O que está fazendo?! Me solte! – ordeno o empurrando, ele cai sentado no chão.

–Eu só queria reconfortá-la. – ele também está chorando. Por que diabos ele está chorando? – Pensa que nunca perdi ninguém? Eu sei como é horrível, quando minha irmã... Eu só queria um abraço, um ombro pra chorar...

–Sua irmã?

Começo a entender o porquê de a vida dele ser ruim. Tento parar de chorar.

Então Jun começa a chorar como uma criança. Enxugo minhas lágrimas com um sorriso até materno.Vou até ele, me ajoelho e acaricio sua cabeça como se faz com uma criança.

–Você chora como um bebezinho – rio um pouco – E pensar que é mais velho que eu.

–Isso é vergonhoso – ele cora – Tive uma ideia. Vamos fazer assim: eu sei que nunca poderia substituir aquele por quem você chora, e você também não poderia substituir minha irmã. Mas eu vou... – ele se levanta – Vou tentar ser esse Yorokobi e você tenta ser minha irmã, está bem?

–Jun, que quer dizer com isso? – fico incrédula. Como ele pode pensar que isso ia adiantar alguma coisa?

–Pra preencher seu vazio eu substituirei Yorokobi e você preenche o meu sendo minha irmã. Não será totalmente correto, duvido que você se pareça a nee-chan. Mas vamos ser amigos?

Ele estende a mão.

Substituir Yorokobi? Preencher meu vazio? Ele não conseguirá mas... Eu quero um amigo.

Aperto sua mão sorrindo em acordo. “Meu novo Yorokobi”.

–Como era esse Yorokobi? – ele quer saber.

–Ele era alegre e gostava de todo mundo, mesmo que o criticassem, mesmo que o odiassem, ele sorria. – lembro – Eu sempre fui irritadiça e mal-humorada, mas ele sempre sorria quando me via.

–Minha onee-chan também era mal-humorada – fala ele – Desde que nossos pais morreram.

–Então você não tem pais? – talvez Jun seja mesmo uma pessoa muito lamentável, mais do que eu.

–Não. Eu não tenho ninguém – ele está triste. Quem não estaria?

–Me desculpe – peço, me sentindo alguém horrível e inútil perto dele.

Do nada Jun me abraça dizendo:

–Higure-chan você é tão legal! Espero que sejamos bons...

Dou-lhe um soco no estômago.

–... Amigos – completa.

–Não fique me agarrando! – ordeno envergonhada. Mesmo que ele tente ser Yorokobi, ainda é um completo estranho.

–Você é durona! – comenta se levantando.

–Claro... – meu celular toca, é minha mãe dizendo que já está tarde – Preciso ir, tchau!

Corro pra longe sem nem perguntar o número do celular dele. Tenho certeza de que vamos voltar a nos ver.

–Tchau – ouço – Onee-chan.

Demoro uma eternidade pra dormir à noite. Tenho medo de que o pesadelo volte. Felizmente não volta, mas me acordo morta de cansaço no dia seguinte.

Só penso no enterro de Yorokobi, tanto que o dia passa voando. Jun foi uma boa pessoa comigo, mas nem essa lembrança pode apagar a tristeza que a morte de Yorokobi deixou em meu coração.

No cemitério o mundo à minha volta não existe, só eu e o caixão dele sendo enterrado. Não consigo fazer nada, é um tormento tudo o que houve. Por que será que há pessoas que tudo de bom lhe acontece e outras que só sofrem injustiças? Será que esse Deus em que nós acreditamos realmente existe? Se realmente tivemos outras vidas, eu devo ter sido uma pessoa odiosa na última, porque minha punição é agonizante.

Algo me tira atenção, uma figura de preto olhando pra mim, a luz vermelha e assustadora em seus olhos me fitando. A garota do dia anterior aparece por alguns segundos e depois some como antes. Meu coração dispara e engulo em seco. Será que é um demônio me perseguindo? Estremeço com a ideia. Será que eu estou ficando mesmo louca? Isso é bem provável...

Meu celular recebe uma mensagem: “Antes água, hoje fogo”.

O que isso quer dizer? Há algo muito errado nisso, alguém está brincando comigo, um joguinho de muito mau gosto. Será que isso tem a ver com a morte de Yorokobi? Algo me diz que estou correndo perigo. Uma premonição horrível que me faz correr desesperada pra casa sem nem esperar o fim do velório.

Mas não adianta falar com meus pais, eles não acreditam em mim. O que está acontecendo afinal? Por que isso está acontecendo?

–Mão! Pai! – chamo quando chego em casa, estou com um pressentimento muito ruim.

–O que foi Higure? – ouço antes de tudo escurecer.

Sinto uma fraqueza estranha em meu corpo e caio, minha cabeça bate no piso frio com um baque surdo. Só consigo ouvir é:

–Higure! Higure! Higure!

E o nada toma conta de minha consciência.


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Notas finais do capítulo

Agora o que acontecerá com Higure? E o que quer dizer aquela mensagem?
Só saberão nos próximos capítulos...