Perseguida Pelo Inferno escrita por Fada Dos Tomates


Capítulo 1
Fim do Mundo


Notas iniciais do capítulo

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Acordo às 12h27min, mais tarde do que devia. Perdi a aula. Como ninguém me acordou?

Coloco um moletom e um short, um all star e pronto. Não me importo com a roupa que uso. Minha mãe e meu pai estão no trabalho. Como não viram que o meu despertador não tocou e eu não acordei para ir ao colégio? Mas penso que tanto faz.

O que vou ficar fazendo o dia todo de folga agora? Bem vou escutar uma música enquanto faço o almoço então. Coloco os fones de ouvido e começa a tocar minha música favorita “Sanctuary of Innocence”, não se passa nem um minuto e de repente há uma ligação no celular. Quem será o idiota que está me ligando? Um número desconhecido. Ué? Resolvo atender pra xingar quem ligou e uma voz diz:

–Higure, se você quer sobreviver me ouça.

Arregalo os olhos. Quem é? Será que é um bandido ou um assassino? Como será que ele sabe meu nome?

Fico aflita, isso nunca aconteceu antes.

–O q-que quer di-dizer com is-so? – pergunto gaguejando. Meu coração está disparado, minha respiração ofegante. O que vou fazer se for alguém querendo me matar? Não sei nem autodefesa.

–Você quer viver? – indaga o desconhecido ignorando minha pergunta.

Meu Deus! O que eu faço? Devo ouvi-lo ou fugir? Tenho medo que eles estejam aqui à espreita, não há escapatória.

–Q-quero... – respondo engolindo em seco.

–Então corra o mais rápido que puder. – ordena a voz autoritária.

Sem pensar duas vezes saio de casa com o celular no bolso e os fones de ouvido. Não ouso contrariar as palavras da voz do homem no celular. Pode ser que ele seja um assassino, e não quero descobrir.

Chego à rua e me assusto com tudo o que está havendo: o céu está completamente vermelho como se fosse feito de sangue, o chão começa a tremer abaixo de meus pés como se fosse o fim do mundo. Pessoas gritam e correm desesperadamente pelas ruas em colapso.

Parece um sonho, nunca vi nada parecido a não ser em filmes. Isso é real?

–O que está acontecendo?! – pergunto apavorada quase caindo no chão.

–Corra! – manda a voz.

Obedeço e corro por entre os carros fora de controle e pelas pessoas desesperadas sem saber o que fazer. Não estava assim quando acordei. É algo impossível. Não sei o que fazer, somente corro para algum lugar desconhecido a comando da voz do estranho no celular. Começa a chover, mas não é chuva, é ácido. Minhas pernas nuas ardem enquanto corro no meio do caos. Prédios desabam ao redor da cidade e acabo gritando como todos à minha volta. Com o coração a mil.

–O que está havendo aqui?! – quero saber, apavorada.

–Esse é o fim do mundo. – responde o desconhecido do celular.

Que loucura! Como isso é possível? O fim do mundo... Isso não existe, e mesmo que algum dia fosse acontecer, não seria da noite para o dia.

–Mas quem é você? – indago. Tem algo muito estranho nisso. Como esse desconhecido sabia que essas coisas aconteceriam? Pra onde ele está me levando? Quem é ele?

–Melhor correr mais para a direita. – avisa ele.

Antes de eu perguntar por que, um poste cai e me atiro para o lado quase caindo no chão e sendo atropelada por um caminhão descontrolado. O caminhão bate num carro e ambos explodem quando outro poste cai bem em cima dos veículos. Mas eu não tinha tempo de olhar para trás, o chão tremeu mais me dando dificuldades pra ficar de pé e correr. Parece um pesadelo. Isso é impossível, não é? Como que da noite para o dia iria acontecer o fim do mundo? Não havia evidências de que o fim estava próximo.

–Melhor ir pela ponte. – aconselha meu guia tirando-me de meus pensamentos frenéticos.

–Mas... – não nada gosto da ideia, se a ponte desabar, eu cairei no mar e nem sequer sei nadar direito. Que dirá no mar em pleno fim do mundo?!

–Vá logo!

Resolvo obedecer já que não tenho alternativas e corro pela ponte pensando em Yorokobi, meu amigo, meu único amigo. Onde será que ele está? Eu quero salvá-lo, não posso deixá-lo morrer.

A ponte começa a se desmanchar me tirando de meus pensamentos e eu tento correr mais rápido pra não morrer. Minhas pernas já estão doendo tanto que tenho lágrimas nos olhos, mas não posso parar. Por que isso foi acontecer? Será que é um castigo? Não tem sentido nisso, não posso entender...

Salto antes que a ponte caia totalmente na água e caio cambaleando no chão. Continuo em frente, mas não posso fugir do fim do mundo pra sempre, não é?

Tropeço em algo, meu estômago bate nas barras de segurança de uma escada e quando fui ver fico de cabeça pra baixo caindo em direção às ondas mortais na água salgada, em direção a morte iminente. Agora vou morrer, penso. Apesar de não haver nada que eu deixe para trás, a morte é uma coisa assustadora. Quem imaginaria que eu morreria assim? Espero que seja rápido. Espero que o mundo me esqueça e eu desapareça no espaço tempo. Não sei por que as pessoas gostam de acreditar que há algo além da vida, um paraíso e um Inferno, pra mim isso é desesperador. E prefiro que minha alma suma de todos os mundos pra que minha agonia acabe.

Então por algum milagre de Deus, alguém segura minha mão antes de qualquer coisa acontecer. É um garoto mais ou menos da minha idade, de cabelos pretos e com a roupa do meu colégio. Quase choro de emoção. O reconheço.

–Yo... Yorokobi! – grito de alegria.

Ele está vivo, ele sentiria minha falta se eu morresse, ele talvez seja a única razão pela qual me assusto tanto com a morte.

–Vou tirá-la daí Higure-chan*! – promete ele me puxando pra cima.

Ele consegue me colocar no chão, pego seu pulso rapidamente e o puxo comigo. Precisamos sobreviver, nós dois. Não vou deixá-lo morrer.

–Rápido. Precisamos correr! – falo.

–Mas Higure, você sabe o que está acontecendo? – pergunta ele confuso.

–É o fim do mundo, eu acho... Não sei, mas se não corrermos morreremos! – respondo.

Entendo sua confusão, eu também estou chocada com tudo isso. Mas não posso ficar parada esperando que algo maluco aconteça e me mate neste pesadelo real e fatal.

–Abaixe-se! – avisa a voz do celular.

Puxo Yorokobi pra baixo antes que um pássaro negro gigante nos derrube, não, não é um pássaro. É um dragão cuspindo fogo e destruindo a cidade que agora está tomada por chamas. Continuamos a correr e o solo se abre com estrondos, há lava por todo lugar. Dragões realmente existem?!

–Subam em cima da montanha! – ordena meu guia.

–Pra montanha! – falo apontando pra mesma.

–Ok. – concorda Yorokobi.

Vamos em direção à montanha desviando dos buracos e rachadoras cheias de lava no chão, tentando não ser pegos pelo fogo. Há mais dragões no céu e parece que os militares estão atirando neles para que parem de destruir tudo. Eles pensam que isso vai adiantar alguma coisa? Que tolos.

Um raio cai numa árvore ao nosso lado, a incendiando. Vários raios cruzam os céus ao mesmo tempo. Quero chorar e gritar, quero que tudo seja um sonho horrível do qual irei acordar, mas algo me diz que é real. Que loucura de realidade é essa?!

Um avião desaba atrás de nós repentinamente.

–Higure! – Yorokobi me empurra pra frente quando o avião explode e nós dois caímos longe rolando pelo chão destruído.

Estou fraca e machucada, Yorokobi me salvou, mas torceu o tornozelo. Ah, droga! Droga! Droga! Ele geme enquanto corre, ou tenta correr, pois está quase caindo de dor e fraqueza. Ele precisa viver! Nós precisamos sobreviver!

–Faltam só mais 5 minutos. – avisa meu guia do celular – Ou tudo estará acabado.

Ai, que agonia! Tem tempo ainda por cima!

–Vamos Yorokobi! – tento arrastá-lo.

–Não vou conseguir. – diz ele.

–Você vai sim.

Desespero é a única palavra que pode descrever meus sentimentos em colapso. Sei que não vou aguentar carregá-lo por muito tempo, mas precisamos conseguir! Precisamos! Não sei o que eu faria se ele morresse!

De repente vejo ondas gigantes virem rapidamente em nossa direção, apagando o fogo e fazendo casas e prédios desaparecerem na água.

A visão do pavor.

–Um tsunami! –fico mais desesperada ainda – Yorokobi! Rápido, por favor! Está vindo um tsunami!

Ele continua a correr desengonçado. Nós dois soluçamos subindo a montanha, chorando com as poucas chances de sobreviver. E agora?

Ah, seria melhor se morrêssemos mesmo! Desaparecêssemos deste lugar horrível, que Yorokobi fosse para o céu, o paraíso. E eu fosse esquecida desta humanidade lamentável.

–Só mais 2 minutos. – avisa a voz no celular.

Meu coração bate tão rápido que quase não consigo respirar.

–1 minuto.

Yorokobi está me atrasando, mas não posso deixá-lo morrer de jeito nenhum.

Então nossos dedos se desprendem e ele me escapa. Tudo fica em câmera lenta, perco o fôlego que já quase não tinha, fico perplexa e apavorada, Isso não pode estar acontecendo! Isso não pode estar acontecendo!

Yorokobi é engolido pela água e desaparece no meio do líquido. Não consigo falar, não consigo me mexer, não consigo respirar, não consigo fazer nada. Só fico lá parada em cima da montanha, boquiaberta e de olhos arregalados. Na verdade estou tremendo.

Quero morrer, quero ir embora de uma vez por todas, nem que seja pra uma porcaria de Inferno!

Um soluço me pega, a água está se aproximando.

–Tarde demais. – lamenta a voz no celular.

Também sou engolida pela água pensando no fim. Não pude salvar Yorokobi então não mereço viver, não é? Minha garganta se sufoca e meus olhos ardem por causa do sal do mar, meus pulmões queimam e eu penso na morte. Pelo menos estarei perto de Yorokobi, certo? Se eu não for para o inferno, mas que seja!

Levo um susto com um barulho familiar, o despertador. Acordo em minha cama tossindo, estou encharcada de suor e meu coração está disparado. Olho para o relógio é 06h00min da manhã, o céu está azul, tudo parece normal. Foi um sonho? Solto risadinha de alivio. Que pesadelo horrível! Felizmente acabou.

Mas há algo suspeito: estou com a mesma roupa do sonho, não me lembro de ter dormido com essa roupa, e há uns rasgões e buracos nela. Também há manchas em minhas pernas e estou com os fones no ouvido. Eh? O que isso quer dizer? Será que sou uma sonâmbula que se machuca dormindo?

Olho meu celular e perco o fôlego, tem uma mensagem muito estranha e assustadora nele: “Você sobreviveu”

Jogo o celular na cama bruscamente, o desespero volta. Aquilo foi real? Mas como?

–Não pode ter sido real, eu devo ter lido errado. – tento me acalmar.

Vejo de novo a mensagem: “Você sobreviveu”. Engulo o choro. Como pode ter sido real se estou no meu quarto? Era para eu ter morrido no tsunami se tudo aconteceu mesmo.

–Alguém deve estar brincando comigo.

Mas como alguém saberia de meu sonho e faria isso? Será que não é outro sonho que estou tendo? Me belisco e não acontece nada. Devo estar enlouquecendo.

Resolvo levantar da cama.

Vou à cozinha um pouco pasmada, minha mãe está sentada à mesa tomando o café tranquilamente. Nada aconteceu, quero acreditar nisso, mas é inevitável.

–Bom dia, filha! – cumprimenta quando me vê – Rasgou suas roupas? É uma nova moda ou o quê?

–Eu já acordei assim. – digo trêmula.

–Que cara é essa? Parece aflita. – ela repara.

Claro, se você tivesse um pesadelo horrível com o fim do mundo, acordasse da mesma forma que estava nele e recebesse uma mensagem de um desconhecido dizendo coisas suspeitas e assustadoras, estaria apavorada como eu.

–Mãe o que houve ontem? – pergunto tentando não parecer tão mal.

–Ora, você teve uma prova de história, não lembra? – responde ela – Até que tirou uma boa nota. Fiquei feliz.

Grande coisa, sempre tiro notas altas. Quem liga pra isso? E tem algo ainda mais inquietante acontecendo.

–Você vai acreditar em tudo o que eu disser? – indago pensando em contar a ela sobre tudo.

–Depende, não é?

–Eu tive um sonho, eu acho. – resolvo contar-lhe meu pesadelo – Sonhei que era o fim do mundo.

–Nossa! Acho que você deve parar de ver tantos animes. – ela sorri calmamente.

Como ela pode estar calma?! Eu estou desesperada!

–Não é só isso! Foi tão real e... – mostro o celular pra ela – Alguém me mandou isso.

–Acho que estão tentando lhe pregar uma peça.

–Mas eu não contei meu sonho a ninguém! E eu não estava com essa roupa ontem...

–Tem certeza? – ela ainda não acredita na história.

Por que ninguém acredita em mim? Por que meus próprios pais não acreditam em mim?

–Sim. E eu... Estou com medo. – lágrimas enchem meus olhos, não só por causa do medo, mas também por meus pais não confiarem em mim. É como se eu fosse uma mentirosa. Por que eles pensam assim?

Minha mãe me abraça.

–Foi só um sonho, não se preocupe. – consola.

Como se fosse. É bem mais que isso, mãe.

Então o celular dela toca.

–Alô. – ela atende – Ah, oi Mai-chan. Tudo bem? Está com uma voz estranha.

É a mãe de Yorokobi. O que será que ela quer?

–Não pode ser. – os olhos de minha mãe se arregalam – Eu... Vou contar pra ela. Meus pêsames.

Ela desliga o celular. O que foi que ela disse? Estou com um mau pressentimento quanto a isso.

–O que houve? – pergunto preocupada.

–Não sei como te dizer isso... Ontem... Yorokobi... – ela não consegue terminar a frase.

–O quê? O que aconteceu com ele? – um desespero toma conta de mim temendo a resposta de minha mãe.

–Ele... Se afogou nos treinos de natação...

–Mas ele está bem, não está? – me seguro pra não chorar. Sei que isso não pode ser nada bom. Ela está muito estranha pra ser uma coisa irrelevante como “ele está bem”.

Minha mãe nega com a cabeça.

–Ele morreu.

Todas as minhas esperanças e medos se misturam num desespero iminente. O que eu mais temia me deu um soco na cara. Yorokobi está morto, meu melhor amigo se foi.


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Notas finais do capítulo

E agora? Como Yorokobi morreu se foi um sonho?