Skeletons In The Closet escrita por OmegaKim


Capítulo 15
QUINZE: O beijo.


Notas iniciais do capítulo

Bom gnte o nome do capitulo já da pra entender sobre o que ele é, ne? kkkkk Mas não se fiem muito no nome, ok?
Boa leitura.
Pov´s alternados entre Gale, Peeta e Katniss.



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Capítulo QUINZE: O beijo.

Peeta

Tirar férias no meio do ano devia, supostamente, me tirar da rotina e acalmar a minha mente. A ideia foi de Madge. “Saia daqui, dê uma volta. Viaje. Sei lá. Apenas vá dá uma relaxada, ficar aqui agora não vai te ajudar em nada. ” Foram as palavras dela, e eu acatei numa boa. Em parte porque me sentia incomodado com a possibilidade de encontrar Katniss e em parte porque achei que ela tinha razão. Depois que Mad narrou tudo que aconteceu naquele ano, inclusive o meu namoro com Katniss, eu fiquei bastante incomodado com as coisas que ela me contará. Era muita coisa para processar naquele momento naquele lugar aonde aquela pessoa estava. Eu precisava de um tempo, então conversei com Lily pra saber se ela podia dá conta do restaurante por um tempo, ela pareceu desconfiada com minha viagem mas não contestou nada. E ficou combinado que qualquer coisa que desse errado, ela me ligaria. Faz um mês que estou na Austrália e ela não ligou.

Pra falar a verdade, apenas Katniss tem ligado e eu tenho com muita força de vontade não atendido nenhuma das ligações dela. A noite antes de dormi, eu escutava as mensagens de voz que ela deixava. A maioria pedia desculpas e dizia que sentia saudades. Mas depois de um tempo as ligações dela foram amainando e amainando até que pararam, acho que ela entendeu que eu preciso de um tempo que – infelizmente – não inclui ela.

Suspiro e jogo as cobertas pra longe do meu corpo e levanto da cama. Vou até a janela e abro as cortinas, deixo a luz do sol entrar no meu quarto. Por um momento a luz bate direto no meu rosto, mas logo me afasto da janela e saio do quarto afim de chegar no banheiro e fazer minha higiene matinal, pois depois tenho que ajudar meu pai na feira na cidade. Hoje é dia de pôr à venda os produtos da fazenda numa feira orgânica.

Minha família tem uma fazenda nos arredores de Peth, uma das cidades da Austrália e na minha opinião, é uma das mais lindas com a sua vista magnifica pro oceano Índigo e suas praias incríveis. Mas eu sou suspeito para falar, porque amo essa cidade. Nasci aqui e me criei aqui até meus 14 anos quando me mudei pra Nova York pra morar com meus tios, mas depois do acidente eu voltei pra cá. Passei um tempo aqui até que voltei pra Nova York. E agora voltei de novo...

Depois de um banho demorado pra espantar o sono e ter me vestido, desço pro café da manhã. A mesa já está posta e nela se sentam minha mãe, meu pai e meu irmão mais velho, Dylan.

– Bom dia. – digo e dou um beijo no lado esquerdo da minha mãe e puxo uma cadeira na sua frente e me sento.

– Bom dia, filho. – minha mãe responde.

Meu pai se limita a mexer a cabeça ao passo que Dylan diz quando estou passando manteiga no pão:

– Está com uma cara péssima, maninho. Noite ruim?

Noite péssima, penso.

Desde que Madge me contou aquelas coisas minhas noites de sono tem sido péssimas. Toda vez que fecho os olhos, sou assolado por imagens sem sentido aparente. E em maioria delas Katniss está presente, sorrindo pra mim ou segurando minha mão. Às vezes acordo sobressaltado com a certeza de que senti seus lábios tocando os meus, ou que escutei sua risada alta e clara perto de mim. No resto das imagens, estou com pessoas: Johanna, Finnick ou brigando com Gale. Mas então, há aquela que mais me intriga. Uma em que Darius está do meu lado, ele fala alguma coisa que não entendo. Olha pra frente e tudo vira um grande borrão de sensações e cenas. Há o gosto de sangue na minha boca, o grito de alguém e dor, muita dor. Atribui essa cena ao do meu acidente. Estou pensando em tudo isso antes de responder pro meu irmão:

– Nada demais.

Meus pais são pessoas legais, eles sabem que tem algo de errado comigo. Sabem que estou aqui por algum motivo que não é férias ou saudades, no entanto eles não insistem em saber. Não me abordam pelos cantos da casa atrás de uma explicação, eles apenas me dão tempo. E como no caso do meu pai, ele segura sua curiosidade até o momento certo – que pode ser a qualquer momento. Depois de um tempo meu pai termina de tomar o café e se levanta.

– Quem vai me ajudar na feira é melhor vim logo, já estou saindo. – ele avisa e sai.

Tomo meu café numa golada só e dou tchau pra minha mãe e pra Dylan, então vou atrás dele. Já lá fora, ajudo meu pai a pôr os caixotes com as verduras e frutas na caçamba da caminhonete.

– Então, o problema é mulher? – meu pai pergunta depois de um tempo trabalhando em silêncio.

Eu suspiro. Meu pai sempre foi o mais curioso, eu sabia que uma hora ele iria querer saber não só porque sempre fomos amigos, mas também porque ele é meu pai e pais tendem a ser curiosos sobre a vida dos filhos. E bom, eu já estou um mês dando um tempo aqui...

– É complicado. – digo e ponho um caixote com alface na caminhonete.

– Qual o nome dela? – e vejo pelo canto de olho que ele está se esforçando pra disfarçar um sorriso.

Finjo verificar as horas no meu relógio de pulso.

– Melhor irmos ou vamos nos atrasar. – digo ansioso pra sair desse assunto.

Ele põe um caixote em cima do caixote das cenouras e passa por mim, não sem antes colocar a mão no meu ombro e dizer:

– Tudo bem, mas você ainda vai ter que me contar essa história.

Então ele entra na caminhonete, eu subo na caçamba e me sento entre os caixotes. Papai liga o carro e vamos rumo a cidade.

~~

Gale

Seguro o papel na altura do meu peito: Loira Madge. É o que está escrito. Johanna foi quem me disse que ela chegava hoje e como eu tenho sido um péssimo amigo durante esse tempo, decidi vim aqui e recebe-la no aeroporto e consertar as coisas passando um tempo com ela.

Fico bem uns quinze minutos parado lá, esperando que ela apareça. E nesse meio tempo começo a me perguntar se ela já não passou por mim ou se estou no terminal errado. No entanto, assim que todos os passageiros do avião já saíram, eu finalmente a vejo. E a primeira coisa que percebo é que ela cortou o cabelo. Ele que antes era comprido, batia no meio da sua costa, agora está curto, um pouco acima do ombro. As pontas repicadas, fazem ela parecer mais nova e descolada, sinto um frio na barriga. É claro que Madge sempre foi bonita, mas agora com esse novo visual eu me dou conta de que ela está bem mais que bonita. Ela parece poderosa, essa conclusão me faz perceber que é só uma questão de tempo até um homem se interessar por ela, pois Mad tem tudo que um cara procura: é inteligente, engraçada, bem-sucedida e muito muito bonita.

Loira Madge? – Madge diz e eu me assusto, pois nem tinha percebido o quanto ela tinha se aproximado. Abaixo o pedaço de papel.

– Você cortou o cabelo. – digo inutilmente.

Madge sorrir e balança o cabelo, tocando levemente nas pontas.

– Decidi mudar o visual. Você gostou?

– É ficou legal. – e pego a mala que ela trás. – Vamos?

A loira pega o papel da minha mão e o amassa e joga na lixeira mais próxima.

– Vamos.

E saímos do aeroporto.

Já dentro do meu carro, eu a levo pra um hotel. No caminho Madge me conta sobre sua viagem, ela diz o quanto a empresa está um caos e quanto os acionistas querem acabar com ela. Com um suspiro, a loira me diz que está pensando em desistir do patrimônio que Robert deixou pra ela. Eu fico calado, por um tempo. Pensando nas palavras dela, dá pra perceber que ela não quer fazer isso. Eu sei o quanto ela amou Robert e quanto essa empresa é importante pra ela, porque é um jeito de ter Robert perto de si. No entanto...

– Você não está feliz? – pergunto a olhando de canto de olho.

– A questão não é essa, Gale. É só que todos ficam em cima de mim pra que eu desista, aqueles machistas. Não suportam a ideia de eu ser a presidente, de eu mandar neles homens que tem o dobro da minha idade e com bem mais experiência que eu. É só muita pressão. – suspira. – Queria que alguém me apoiasse...

Eu seguro sua mão.

– Eu apoio. – digo e ela me dá um sorriso triste.

Eu sei que não é suficiente, o meu apoio ou a minha amizade. Mas é o que eu ofereço a ela. E torço pra que ajude ela, pra que esse tão pouco que eu lhe dou a faça se sentir bem. Entrelaço seus dedos nos meus.

Logo estamos no hotel e depois que ela deixa suas malas no quarto e toma um banho. Convido-a para ir ao cinema, Madge aceita contanto que possa escolher o filme ao passo que eu digo que não vou assisti filme romântico e ela se limita a rir. Já passa das 18Hs quando saímos do hotel, mas tudo bem. A noite está apenas começando.

~~

Katniss

A primeira coisa que penso assim que vejo a cidade de Peeta da janela do avião é: UAU! Eu nunca tinha vindo a Austrália e devo admitir que esse lugar é mais bonito pessoalmente do que nas fotos e a Cidade de Peth é mais bonita ainda. Assim que o avião pousa, sinto meu estômago doer de nervoso. Está na hora de pôr o plano em ação. Mas primeiro eu preciso comer alguma coisa decente, porque comida de avião é uma droga de tão ruim.

Algumas horas depois, encontro uma estalagem onde posso passar a noite. A atendente é muito simpática e depois que ela me mostra o quarto onde vou passar a noite, peço sua ajuda para encontrar o lugar onde os pais de Peeta moram e de acordo com Lily, onde ele está: uma fazenda nos arredores da cidade.

Quando a senhora, me indica o caminho para chegar lá, eu volto no quarto e pego minha bolsa coloco minha caixa de lembranças dentro dela e vou em busca de um certo loiro. Vou andando pelas ruas de Peth, e logo me dou conta de que essa cidade é bem diferente de Nova York não só porque é meio calma e cheia de praias, mas porque o clima aqui é fresco. Estamos em pleno verão em Peth o que dá a cidade um ar juvenil, cheio de alegria e cor. Durante o caminho vou pensando no que dizer a Peeta, pois sei que ele está com raiva de mim e não quer me ver nem pintada de ouro. No entanto, aqui estou eu sendo corajosa.

Aperto a bolsa apenas pra sentir o volume que a caixa faz dentro dela. Eu trouxe a caixa porque são nossas lembranças, achei que isso podia ficar com ele. Ajudar Peeta a se lembrar mais rápido ou apenas servir como um tributo de paz. Eu o quero de volta, como amigo ou como... Solto o ar pela boca, eu prometi a mim mesma que não iria pensar nele desse jeito. Estou tentando me preparar pra uma possível rejeição, pros seus possíveis gritos e pro seu possível olhar de raiva. Olho pra placa onde está escrito o nome da rua. Putz. Acho que me perdi. Fiquei vagueando pelos meus pensamentos que nem percebi que peguei uma rua errada.

E agora?

Bufo e dou meia volta. Tento refazer o caminho por onde vim, mas as ruas são diferentes aqui. Oh, droga! Decido continuar reto, quando eu encontrar alguém, peço uma informação. E é assim que passo os próximos cinco minutos: andando e andando e andando e o frio na minha barriga aumentando. Estou com medo, não posso ficar perdida em Peth. Por que foi mesmo que dei ouvidos a Johanna?

Mas então a rua se abre numa feira de rua e a primeira coisa que percebo é que estou com fome e depois que existe pessoas aqui. Vou em direção a uma barraca e compro um tipo de salgado e ao passo que como, pergunto ao vendedor sobre o endereço. Ele me dá as coordenadas. Dobrar ali, virar à esquerda depois a direita e segui reto até ver uma... Paro de escutar, meu cérebro para de guardar as informações que o homem diz, pois eu acabo de ver uma cabelereira loira bem familiar. E as coisas que eu faço depois que reconheço Peeta é bem típico de uma pessoa impulsiva como eu. Me afasto sem dizer nada da barraca do homem, deixo o salgado que estou comendo cair no chão e a passos hesitantes, eu vou em direção a Peeta. Ele está tirando verduras de caixotes e arrumando-as numa banca ao mesmo tempo que um senhor que parece versão mais velha do loiro fala algo pra ele, que rir. O som da risada dele me alcança e isso me faz tão bem que nem sei. De costas pra mim, não posso ver seu rosto, mas eu não preciso ver pra saber que quando ele rir as covinhas de suas bochechas aparecem e que ele fecha os olhos levemente e, definitivamente, eu não preciso olhar pra ele pra saber que esse é uma das suas risadas verdadeiras. Percebo que Peeta está se afastando com caixotes vazios nas mãos, vou atrás.

Quando estou perto suficiente, chamo:

– Peeta.

Ele para. Vejo seus ombros tencionarem, então ele vira pra mim o rosto de cheio de algo que não sei identificar.

– Katniss?

~~

Gale

– Então ele apareceu do nada e salvou o arqueiro no último instante, mas foi uma pena que ele tenha morrido nesse ato. – ela diz e põe uma pipoca na boca.

Acabamos de sair da sessão de um filme. Os Vingadores 2. Madge quem escolheu, eu nem sabia que ela gostava desse tipo de filme. Mas agora sei que temo mais uma coisa em comum.

– Adorei aquele robô, o Ultron. – digo e ela ri.

– “Capitão América, o homem santificado” – ela imita ele. E dessa vez eu rio. – Esse filme é incrível. Tomara que lancem logo a Guerra Infinita.

– Tomara. – saímos do cinema. – Quer ir em algum lugar? Ainda está cedo. – digo e olho no meu relógio. Ainda são 21:30hs.

– Hum. Que tal uma volta no parque aqui do lado?

– Não tenho nada contra parques. – falo e como mais um pouco de pipoca. – Vamos.

Seguro sua mão - que está quente e é macia – e levo-a em direção ao parque. Que está vazio como constato assim que chegamos lá, mas também pudera está tarde pras famílias virem passear aqui. Andamos por ele, sem objetivo aparente. A pipoca acaba e Madge descarta o pacote vazio numa lixeira qualquer. Ela limpa as mãos na calça jeans – que pra mim ficou bem melhor nela do que aquelas calças sócias chiques que ela sempre usa - e olha pro céu em busca de estrelas, mas não há nenhuma pois o céu está escuro de nuvens cor-de-rosa, declarando que ou vai chover ou vai nevar, eu voto na última opção.

– Vai nevar. – digo, pois to sem assunto e esse silêncio está começando a incomodar.

– É. – ela concorda e percebo que a loira parece nervosa.

Minhas mãos estão começando a suar e não entendo como isso é possível com o frio que está. Olho pra frente, apenas pra tirar meus olhos de Mad do que por qualquer outro motivo. Pois, o frio de começo de inverno de Nova York faz a pele dela ficar mais branca, sua boca fica mais vermelha e suas bochechas tão adquirindo um tom rosado, típico de alguém que está com frio, no entanto isso tudo apenas deixa Madge mais frágil e incrivelmente linda. E constatar isso, me faz ficar nervoso.

– Gale. – ela me chama, viro pra olha-la imediatamente. – Você teve mesmo um caso com Johanna?

Hum.

– Sim. Mas não foi nada demais, coisa sem importância. – tiro meus olhos dela.

Minha mente vaga por essas lembranças. Eu e Johanna éramos errados um pro outro, acho que foi por isso que não deu certo. Tortos demais e com nossos corações tinham donos diferentes, apesar de eu não saber a quem o dela pertencia. Sim, nós somos amigos desde crianças. E acho que foi essa familiaridade que nos conduziu um pra cama do outro em alguns momentos, era fácil com Johanna. Nunca tinha cobrança ou a enlouquecedora ansiedade em ser amado ou não.

– Você traiu a Katniss? – a pergunta me surpreende, porque Madge usa um tom tão assustado como se eu não fosse capaz de fazer algo assim.

– Sim. – eu respondo, apenas pra falar mesmo.

Katniss nunca esteve inteiramente comigo, mesmo quando ela ainda não conhecia Peeta. A morena sempre foi um pouco distante enquanto Johanna sempre foi mais próxima de mim, ela era minha melhor amiga naquela época, afinal.

– Não faça essa cara.

– É só que parece tão... tão surpreendente. – seus olhos azuis estão brilhando. – Não esperava isso de você. – ela diz com falsa decepção, pois está rindo.

E eu acabo rindo também.

– Sou humano, Mad e também, Katniss não gostava tanto assim de mim. – a última parte saindo com um certo amargor.

– Uma pena, pra ela. – comenta baixo.

Então vejo alguma coisa cair no seu cabelo. E depois outra e outra. Olho pra cima e vejo um monte de coisinhas brancas despencando do céu.

– Está nevando. – declaro, o ar que sai da minha boca se tornando visível numa nuvem branca.

Madge olha pra cima e sorrir, fecha os olhos ao sentir os flocos de neve caindo no seu rosto. Ela abre a boca e coloca a língua pra fora pra provar a neve e eu rio com essa cena. Com o cabelo cortado, os olhos fechados e a língua pra fora ela parece tão mais nova que me surpreendo. Assim que a loira prova a neve, ela fecha a boca e olha pra mim. Seus olhos azuis estão brilhando de satisfação.

– Você deve tá me achando infantil, né. – ela rir. – Mas é que eu amo neve.

Não é que eu a achasse infantil é apenas que nunca a vi fazer isso: agir com tanta leveza. É fato que eu e Madge nos conhecemos faz bastante tempo, mas passamos um bom tempo sem nos ver depois que Darius morreu. Eu reencontrei ela depois que seu marido morreu e eu fui o advogado contratado pra ler o testamento. Mas naquela época Madge estava tão abalada que não pude reconhecer minha amiga de infância, mas mesmo depois que ela se recuperou a loira se tornou tão adulta e forte que também não reconheci minha amiga nela, no entanto olhando pra ela agora eu reconheço minha amiga. Loira, de sorriso fácil e sem medo do julgamento alheio, muito diferente da mulher importante que Madge se tornou. Prefiro essa garota do que aquela mulher.

– Prefiro você assim. – digo sem rodeios o que estava pensando.

Mad baixa os olhos, achando os sapatos muito interessantes.

– É sério. – reafirmo pra ela ter certeza de que estou falando sério. – Você fica mais leve, rir com mais frequência e fica bem mais bonita.

Seus olhos estão em mim agora, me encarando, acho, em busca de um sinal de mentira ou a espera de que eu diga que é brincadeira minha, porque eu nunca fui de fazer elogios a ela. No entanto, estou falando muito sério. E talvez tenha sido minha sinceridade que provocou o que aconteceu, porque quando dei por mim a loira tinha os lábios colados aos meus.

~~

Peeta

Por um momento acho que estou alucinando, mas quando ela chama de novo meu nome. Acabo me virando e encontrado a pessoa que menos quero ver nesse mundo e muito menos agora, achei que o fato de eu vim pra Austrália fosse um sinal e tanto dizendo que quero um tempo sozinho.

– O que está fazendo aqui? – a pergunta sai mais ríspida do que o pretendido.

– Eu... eu... – ela tenta e parece tão amedrontada, que me arrependo por um momento por ter falado com ela daquele jeito. No entanto, lembro do que ela fez comigo e logo o arrependimento some. – Precisamos conversar.

– Não tenho nada para falar com você. – digo e lhe dou as costas, ando em direção a caminhonete pra deixar esses caixotes. No entanto, posso ouvir os passos de Katniss atrás de mim.

– Peeta, espera.

Mas eu não paro. Estou com raiva dela e vim pra cá justamente pra não vê-la, e agora Katniss aparece aqui... Chego na caminhonete, eu posso entrar nela ir embora pra casa, mas então me lembro que as chaves estão com meu pai e bufo frustrado com esse fato. Jogo os caixotes na caçamba sem nenhuma delicadeza.

– Você precisa me escutar. – diz Katniss ao chegar perto de mim, me viro de frente pra ela.

– Vai dizer mais uma das suas mentiras? – cruzo os braços.

A morena engole em seco.

– Eu fui uma idiota. – ela declara. – Devia ter dito isso pra você desde o começo, mas você tem que entender que eu não consegui...

– Não conseguiu?! Dez anos e você não conseguiu?! Essa é sua justificativa?

– É, eu não consegui. – diz, a voz cheia de arrependimento. – Eu não consegui porque fiquei com medo.

– Medo de que? – pergunto com uma pontinha de curiosidade na voz.

– De perde você. – Katniss fala, seus olhos cinzentos cheios de dor.

– Me perder? – pergunto, porque eu realmente não entendo a ligação entre eu saber a verdade e ela me perder.

– Eu te amo. – ela diz isso com tanta convicção, a voz alta e clara e cheia de sentimento me pegou desprevenido.

Descruzo meus braços e deixo-os cair ao lado do meu corpo, porque a resposta dela me desconcertou de tal forma que a única coisa que consigo dizer é:

– O quê?

Acho que escutei errado, eu devo ter alucinado nessa última parte. O que ela disse? Katniss não pode me amar, ela não pode dizer esse tipo de coisa. Madge disse que... Não. Katniss não pode me amar. Mas por outro lado o jeito que ela disse isso, a voz cheia de alivio por finalmente dizer. Eu vejo verdade estampada nos seus olhos e há essa sensação de familiaridade tomando conta de mim. Já escutei isso antes? Me pergunto, e minha cabeça responde latejando.

– Eu te amo. – Katniss repete e dá um passo em minha direção como se eu fosse um animal selvagem e ela está tentando chegar perto de mim sem ser atacada. – Fiquei com medo de que quando você soubesse não me amasse...

Estou olhando fixamente pra ela, tentando assimilar as coisas que ela está dizendo enquanto minha dor de cabeça só aumenta minha confusão.

– Você... Eu... – não consigo formar uma frase coerente.

Então fico calado e observo Katniss mexer em sua bolsa, ela tira lá de dentro uma caixa de sapato cinza e me entrega. Eu pego.

– O que é isso? – pergunto olhando pra caixa.

– Abra. – ela me convida a abrir.

Eu faço, abro-a lentamente e não sei porque estou suando frio quando abro a caixa. Encontro papeis dentro dela e algumas fotos. Pego uma foto. Eu e Katniss, adolescentes; ela está sentada entre minhas pernas, meus braços estão em volta dela e ela sorri pra câmera. Eu já vi isso.

– É minha caixa de lembranças. – Katniss explica e percebo que ela está do meu lado. – Eu tenho guardado isso desde quando começamos a namorar. – a morena diz a palavra namorar com cuidado como se fosse uma granada. – Os bilhetes foi você que escreveu, e as fotos, algumas foi a Annie quem tirou outras foi a Johanna e umas poucas, fui eu.

Devolvo a foto pra caixa e cato um dos bilhetes, pego um que foi escrito num guardanapo e leio:

“Preciso te dizer uma coisa. Me encontre no ginásio.

Ass: Peeta. ”

A morena olhou sobre meu ombro e leu o bilhete também.

– Esse foi o dia que você me pediu em namoro no ginásio da escola. Tínhamos 16 anos. – ela explica ao passo que minha cabeça começa a roda. Volto a encarar ela.

Já fui apaixonado por ela? Pelo que Madge me disse, sim. Eu já fui completamente apaixonado por ela. Eu quero tanto me lembrar da sensação que era gostar dela, quero me lembrar dos nossos momentos mas é tudo uma confusão na minha mente. As lembranças assim como as sensações estão embaçadas e não fazem sentido algum pra mim. No entanto, há aquele beijo que demos no beco escuro. O sabor que a boca dela tem, a maciez da sua língua... Foi bom, e agora quando paro pra pensar nisso me dou conta que a expressão no seu rosto quando me afastei dela, que eu interpretei como surpresa era na verdade saudade, porque se ela vem me amando durante todo esse tempo. Então a morena deve ter sentido saudade, no entanto isso é tão surreal que tenho vontade de gritar. Mas o grito não vem, o que acontece é que Katniss dá um passo pra longe de mim. Ela passeia a minha volta, não sei ao certo porque. Acho que está tentando escolher as palavras pra me dizer algo e quando a morena parece certa de algo, ela tenta se aproximar de mim. Mas ela tropeça no cadarço desamarrado do seu tênis, eu me impulsiono pra frente largando a caixa e a pego antes que Katniss se caia no chão. É quando as coisas começam a dá errado, seu rosto está perto demais do meu. Eu posso senti o seu hálito batendo na minha bochecha e o cheiro do seu cabelo – camomila – me alcança, é tão embriagantemente familiar que deixo meu corpo assumir o controle.

Meus lábios tocam os dela com delicadeza e o beijo começa devagar. Saboreio o gosto da sua boca, a sensação de ter os lábios dela contra os meus... Mas minha parte racional toma conta, e a empurro. Katniss cambaleia um pouco até recuperar o equilíbrio.

– Eu não posso. – digo e passo os dedos por entre o cabelo.

– Peeta... – ela tenta.

– Eu não posso, Katniss. – olho pra ela.

Seus lábios estão levemente vermelhos por causa do nosso breve beijo, seu cabelo escuro saio de trás da orelha e cai na frente do rosto empurro a vontade de colocar o cabelo na posição inicial pra longe de mim.

– Nós já fizemos isso. – ela diz.

É quando eu explodo. Minha cabeça está uma loucura de imagens sem sentido que piscam aqui e ali tão rápido que não consigo acompanhar e há a dor na têmpora que está me deixando irritado.

– Não existe nós!

As palavras caem sobre ela como se fosse pedras, acho que teriam o mesmo efeito se eu tivesse batido nela. A decepção misturada com dor alcança seus olhos e vejo a primeira lágrima descer pelo seu rosto. Vê-la chorar é o que me alerta pro que eu disse.

– Acho que não deveríamos mais nos ver. – falo um pouco mais calmo e culpado também. Vê-la chorar faz eu sentir como se houvesse uma pedra dentro do meu peito.

As lágrimas estão descendo livremente pelo seu rosto. Eu não quero que ela chore, mas também não quero que ela fique me esperando. Eu não tenho a menor ideia do que sinto por ela, e depois de escutar da sua boca que ela me ama... Eu não sei o que fazer.

– Katniss... – eu tento.

– Não. – ela se afasta. – Tá tudo bem. – a morena me dá as costas e vejo seus ombros começarem a tremer.

– Eu... – o que? Não tenho o que dizer. Essa é a melhor alternativa.

– Tá tudo bem, Peeta. – Katniss diz com a voz chorosa e começa a andar.

E nos minutos que se seguem eu a vejo ir. Acompanho por um tempo suas costas sumirem por entre as pessoas. Eu não posso fazer nada. Minha cabeça está cheia de borrões e pra mim nunca houve um nós, não posso prende-la num amor que nem eu sei se posso corresponder.

É melhor assim, penso. Mas se é melhor assim por que sinto como se alguém tivesse arrancado meu braço direito?


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Notas finais do capítulo

Não me matem e comentem. rsrs
44 leitores, hein.
Ia ser tão legal receber 44 reviews... vcs não sabem o qanto eu ficaria feliz e animada pra escrever e postar o próximo capitulo rápido se isso acontecesse...



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