Skeletons In The Closet escrita por OmegaKim


Capítulo 14
QUATORZE: A falta que ele faz


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Adorei os reviews q recebi, vcs são demais! Continuem assim.
Decidi dedicar esse cap para três leitoras que tem sempre comentado e dito suas opiniões, desabafado sobre os personagens e etc e tal... kkk
Então esse cap vai para:
— RebecaSennna.
— NandaMellark
— DM.
Boa leitura e bem-vindo leitores novos!!!
Pov´s alternados entre Katniss e Annie.



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Capítulo QUATORZE: A falta que ele faz.

Annie

A primeira semana foi a pior.

Acordar e não encontra-lo do meu lado. Dormir sem o som da sua respiração. Não vê-lo sentado à mesa no café-da-manhã e escutar a velha piada da freira que entrou no sexshop ou o quanto eu sou chata de manhã, foi o que me mostrou o quanto ele faz falta e que ele não vai voltar. Me dar conta do quanto o cheiro dele me faz falta, foi a pior parte. Aos poucos fui percebendo o quanto as lembranças dele nos cantos do nosso apartamento se tornaram fantasmas. Eu acordava e esperava vê-lo saindo do banheiro com aquele sorriso de bom dia no rosto, enxugando os cabelos com a toalha pra logo depois se jogar na cama comigo e me chamar de dorminhoca. E constatar que isso não ia acontecer me deprimia a tal ponto que passava o dia inteiro deitada e só comia algo depois de muita insistência da minha mãe.

Eu chorei a primeira semana inteira, até me dá conta de que a presença dele não era o que me fazia falta, não era realmente dele que sentia falta e sim, da pessoa que criei em cima da imagem dele. O Finnick que amei e que ainda amo nunca faria isso comigo, acho que no fim amei uma ilusão. Pois eu sempre encarei ele como meu príncipe encantado, desde a época da escola eu sempre fantasiei com ele, sempre depositei muita expectativa nele e deixei de ver os detalhes, os pequenos detalhes que o levaram a isso. Ele nunca esteve comigo 100% nisso tudo, ele nem sequer participou da escolha do sabor do bolo. Repassando agora nosso relacionamento desde o começo, acho que no fim eu enganei a mim mesma, pois os sinais estavam lá o tempo todo: a desatenção de Finnick, sua negligencia em participar de algo do casamento, a desanimação estampada em seus olhos verdes...

A segunda semana foi menos ruim.

Eu conseguia acordar e sair da cama e chorar tinha se tornado menos frequente durante o dia – eu costumava fazer isso a noite. E comia com mais frequência. Entretanto dormia muito mais. Em algum momento, minha mãe veio conversar comigo. Ela disse várias coisas sobre o quanto eu era mais forte que isso, que eu tinha que reagir e que – 0 principal – meu filho precisava de mim. Meu filho. A pessoa que eu tenho menos pensado durante essas duas semanas. Então fiz a coisa mais sensata: sai daquele apartamento. Aquele lugar estava me deprimindo, acabando comigo aos poucos. Resolvi volta a morar com ela. Arrumei minhas coisas e deixei a chave do apartamento na portaria. Nunca mais iria pisar nesse lugar.

A terceira semana foi simples.

Voltei a ser eu mesma, de certa forma. Eu resolvi deixar toda essa tristeza de lado e focar no meu filho, porque ele precisa de uma mãe. Comecei a cuidar mais da minha saúde e vivendo na casa da minha mãe tudo estava se ajeitando. Respirar estava se tornando mais fácil assim como acordar. Mas o que me deixou mais triste nisso tudo não foi a ausência dele ou a sua traição. Foi simplesmente o fato dele ter sumido, nessas três semanas em que eu tenho me recuperado Finnick ainda não tinha aparecido ou ao menos ligado pra saber do filho. Nenhum sinal ele deu. E de certa forma isso foi bom, acho que vê-lo todo dia podia ter tornado minha saída do fundo do poço mais demorada. No entanto, seu silêncio era o que me intrigava ainda. Não que eu quisesse uma explicação sobre seu caso com Johanna, isso já tinha tomado meu tempo demais. Eu realmente não precisava saber de mais nada sobre isso. Não quero descobrir que ele nunca foi apaixonado por mim e que me usou como escape. Quero apenas conservar a imagem dele apaixonado por mim, o quanto ele sorria... Quero conservar nossos momentos bons.

~~

Katniss

Chorar. Trabalhar. Dormir. Comer qualquer coisa. Chorar. Trabalhar. Dormir. Comer qualquer coisa. Dormir. Chorar. Dormir. Trabalhar. Comer. Chorar. Dormir. Trabalhar. Comer. Comer. Dormir. Chorar. Chorar. Chorar. Chorar. Trabalhar. Trabalhar. Chorar...

Essa tem sido minha rotina desde que Peeta saiu do meu apartamento e todo o meu mundo ruiu. Tenho trabalhado com uma frequência que me assusta e tenho chorado com uma frequência que também me assusta. A semana passou num rodizio dessas quatro palavras. Algumas se fazendo mais presente que outras.

Eu bem que tentei falar com ele. Liguei e liguei inúmeras vezes, na tentativa de que ele me escutasse que me deixasse explicar. Mas Peeta não me atendeu nenhuma vez. E depois de um mês, eu simplesmente desisti. Me deixei cair nesse buraco que eu mesmo cavei com minha insegurança. Admito que fiz tudo errado e que devia ter enfrentado esse medo desde o começo, contado tudo a ele e aguentado as consequências disso. Mas não, eu preferir me esconder atrás disso tudo. Peeta tem toda razão em ficar com raiva de mim e não querer me ver.

Escondo meu rosto entre minhas mãos com um suspiro. Eu não consigo. Estou há horas olhando pra esse contrato, tentando fazer as palavras fazerem sentido pro meu cérebro, no entanto elas continuam rodando diante dos meus olhos fazendo manobras livres. Isso, acho, se deve ao fato de eu não parar de pensar no quão perto Peeta está. Seu restaurante fica na esquina da rua da minha firma, eu poderia ir lá. Fazer um papel ridículo e pedir perdão na frente de todo mundo. Eu poderia força-lo a falar comigo, mas fazer isso talvez só aumentasse sua raiva. Acho que devo dá um tempo a ele. O problema é que esse tempo é demasiado grande pra mim que sempre tive ele perto. É como ser viciado em uma droga e do nada parar de toma-la. Seu corpo entra em abstinência, entra em colapso. Te faz ter ilusões, te faz ficar descontrolado, imensamente deprimido e suscetível a estresse nesse tempo de desintoxicação. No entanto, eu não quero me desintoxicar, não quero me separar dele assim.

– Tudo bem, Katniss? – levanto meu rosto pra encarar a expressão preocupada de Portia.

– Sim, sim. Só um pouco cansada. – volto a pegar o contrato e finjo estar lendo.

Contudo ele é brutalmente puxado da minha mão por Portia.

– Vai, fala. O que aconteceu? – ela esconde o papel atrás das costas.

Em pé na frente da minha mesa, no nosso escritório da Eventos, ela me apresenta uma expressão séria e imensamente preocupada ao mesmo tempo. Com o seu cabelo escuro preso num rabo de cavalo e os olhos pintados com lápis de olho preto, ela parece bem intimidadora. Eu solto o ar pela boca.

– Não aconteceu nada. Agora devolve o papel. – digo e estendo minha mão em sua direção. – Preciso entregar isso daqui uma hora.

Ela suspira.

– Katniss, você tem trabalhado muito. Eu vejo que não dorme direito e nem mesmo come direito, fica tomando café como uma viciada pra se manter alerta. – ela aponta pra minha xicara de café ao meu lado. – Você está deprimida.

– Tó coisa nenhuma. – falo. – Agora, devolve.

– É por causa do Peeta? Eu notei que vocês não tem se falado e achei que a recente viajem dele tinha alguma haver com isso...

– Espera. – me levanto. – O que você disse? Peeta foi embora?

Meus pés não estão mais tocando o chão. Pisco algumas vezes pra voltar a ver alguma coisa, solto o ar na tentativa de fazer as batidas do meu coração parar de falharem.

– Ele tirou férias ou algo do tipo, foi visitar a família na Austrália. Lily foi quem me disse na última vez que fui lá almoçar com Cinna e alguns clientes. Você não sabia?

– Claro que eu sabia. – minto e saio de trás da mesa. Ando em direção a saída do escritório. – Eu vou... eu vou respirar. – digo e sem esperar qualquer resposta de Portia, eu saio do escritório.

Preciso absorver essa informação de que ele não está mais aqui. Esbarro em alguém na escada, murmuro um desculpa mas não vejo quem é. Saio da firma e puxo uma grande quantidade de oxigênio pra meus pulmões. Isso tudo é culpa minha. Não queria que ele tivesse ido embora.

– Katniss, você é uma idiota. – eu digo baixinho pra mim mesma.

– Eu concordo plenamente. – uma voz diz, me viro pra ver de quem é.

Acabo por encontrar Johanna me encarando na sua melhor pose de mulher independente.

~~

Annie

Tinha acabado de chegar de uma consulta médica, meus pés estavam doloridos e eu me sentia muito muito gorda. Me joguei sem cerimônia no sofá e ergui meus pés na mesinha de centro da sala. Se minha mãe me visse agora iria dá um chilique daqueles, então apenas fechei os olhos e agradeci mentalmente por ela não estar aqui agora. Mamãe tinha ido no mercado comprar algumas coisas que estavam faltando na dispensa. Deveria ter feito cinco minutos que eu estava ali apreciando meu momento preguiça quando a campainha tocou. Me levantei gritando um “já vai” mal humorado e pensando que devia ser um vendedor à porta – costuma aparecer muitos por aqui. No entanto, ao abrir a porta me deparei com um homem bonito de olhos verdes e com um corpo relativamente bom demais.

– Finnick. – o nome escapou da minha boca antes que eu pudesse me impedir.

– Oi, Annie. Podemos conversar? – ele parecia incrivelmente alegre e meio envergonhado.

Eu quis fechar a porta na cara dele e não deixar ele entrar, gritar pra que fosse embora e lhe dá um tapa no seu rosto tão perfeito. Não necessariamente nessa ordem. Mas o fato é que não fiz nenhuma dessas coisas, pois minha raiva abrandou assim que vi seu olhar sobre minha barriga e soube que ele vierá pelo bebê e se eu queria que ele se importasse com o filho, não era batendo a porta na cara dele que isso ia acontecer. E além do mais quero que meu filho tenha um pai presente e isso significa engolir a raiva, o rancor. Então me limitei a respirar fundo e abrir caminho pra que Finnick entrasse.

– Sente-se. – eu disse apontando o sofá.

Finnick não sentou, então achei melhor ficar em pé também. Ele olhou em volta, acho que na procura da minha mãe, mas quando se deu conta de que estávamos sozinhos ele deixou que seus olhos ficassem em mim. Se isso fosse há um tempo atrás, eu ficaria envergonhada ou com meu coração aos saltos, mas isso foi antes. Antes dele mentir pra mim. Agora só consigo sentir uma imensa raiva dele, então encaro de volta tentando manter minha expressão neutra.

– Então, a que devo a honra da sua ilustre presença? – pergunto sem consegui conter a ironia e cruzando os braços logo em seguida.

– Eu vim aqui pra pedir desculpas, eu não devia ter deixado as coisas chegarem a esse ponto e principalmente, não devia ter feito isso com você. Mas as coisas foram acontecendo e toda vez que eu tentava falar algo pra você, você vinha dizendo que me amava ou começava a falar dos preparativos do casamento que eu ficava sem coragem de estragar tudo isso.

– A culpa é minha agora de você ter me traído? – soltei meio irritada.

É difícil se controlar quando você está no quinto mês de gestação e seus hormônios estão a flor da pele. Eu podia sentir a minha neutralidade indo pro buraco e a irritação assumindo.

– Não foi isso que eu disse. – ele soltou o ar pela boca. – Estou tentando dizer que a culpa foi minha, eu devia ter tido mais coragem. Devia ter sido mais homem e te contado, quem sabe assim você não teria sofrido menos.

Acho que se ele tivesse me contado, eu teria chorado menos. Teria esperado ele menos e principalmente, teria me levantado antes. Demorei um mês pra restabelecer minha rotina depois que ele foi embora, foi o pior mês da minha vida. Mas devo admitir que a dor me tornou forte, me tornou mais capaz de olhar pro mundo. Consigo ver as coisas com mais clareza agora. É claro que ainda estou sofrendo, ver ele agora e não poder toca ou beija, sentir o calor do corpo dele se misturando com meu é doloroso, mas eu supero. Esqueço um pouco dele todo dia. Deixo uma parte dele ir todo dia. E definitivamente, me sinto mais leve todo dia.

– Acho que sim. – digo apenas. Descruzo os braços e me sento na poltrona que tem perto de mim.

– Como está o bebê?

– Bem. – falo e ele ergue uma sobrancelha pedindo mais detalhes. – Fui ao médico hoje, ele disse que está tudo bem. Só que tenho que comer mais frutas e fazer exercícios com mais frequência. Mas do resto, ele está bem.

Finnick se senta no sofá e olha pra mim com expectativa.

– E já dá pra saber o sexo do bebê?

– Tentamos ver hoje, mas ele estava com as perninhas fechadas. – digo com um sorriso ao me lembrar da imagem do meu filho no monitor.

– Que pena. – ele diz, meio triste e isso me dá mais vontade de sorrir.

Em nossas discussões sobre o sexo do bebê, ele sempre quis uma menina enquanto eu quero um garoto já que na minha família existe muitas mulheres. Um garotão ia equilibrar isso.

– Eu tenho uma consulta mês que vem, se você quiser ir comigo. – acabo fazendo o convite. Os sacrifícios que fazemos pelos filhos.

– Se não for te incomodar. – vejo seus olhos se iluminarem.

– Tá tudo bem.

– Então beleza. – Finnick se levanta, enrola a manga da sua camisa até a altura dos cotovelos e vai até a porta, o acompanho.

Abro a porta e antes dele ir, acabo perguntando:

– Por que não veio antes?

– Ah, você estava muito sensível. Eu não quis inflamar seu ânimo e acabar prejudicando o bebê.

Assinto e ele se vira pra ir, mas digo mais uma coisa:

– Você está morando aonde? – a pergunta é simples mais carrega um peso grande.

– Johanna e eu estamos procurando um lugar ainda. – ele diz com cuidado.

A facilidade com que ele diz o nome dela me assusta por um momento, pois ele nunca foi capaz de pronunciar meu desse jeito com essa naturalidade. Assinto mais uma vez e deixo que ele vá, mas no meio do caminho ele volta.

– Esqueci de te falar, resolvi colocar o apartamento onde vivemos à venda. Tem algum problema? Eu pensei em pôr o dinheiro numa conta pro bebê.

Finnick vai ser um bom pai. Sempre preocupado com o bem estar do filho. Deixo essa informação me alegrar, meu filho vai ter um pai ao passo que eu vou ter um coração vazio. Se meu pai estivesse vivo, ele diria que eu sempre fui areia demais pro caminhãozinho dele e que agora estou livre pra encontrar alguém a minha altura. Esse pensamento me fez rir.

– Acho que seria ótimo. – digo por fim e logo Finnick vai embora.

E baixinho digo:

– Adeus. – ao passo que finalmente, deixo ele sair do meu coração.

Uma parte minha sempre vai amar esse cara, sempre vai sonhar com ele, sempre vai desejar ele. Mas agora eu preciso parti pra outra, ir atrás do que me faz feliz. Devagar, devagar... uma hora te esqueço.

~~

Katniss

– O que faz aqui? – pergunto.

– Pensei em te pagar um café, que tal? – ela diz com um sorriso.

– Tó evitando o café. – digo ao lembrar do que Portia disse sobre eu parecer uma viciada no liquido escuro.

– Suco, então? – ela se aproxima de mim.

Assinto.

– Ótimo. Tem uma lanchonete aqui perto. Vamos lá, preciso comer alguma coisa. – ela passou por mim, fui atrás dela.

Johanna andava rápido. Tive que apressar o passo pra ficar ao seu lado. Percebi que o visual dela, que era calça jeans desbotada com alguns rasgos nos joelhos e uma blusa preta colada de mangas curtas com os disseres “A loucura está em cada um”, era completado por uma jaqueta de couro um pouco grande pro seu corpo. Então depois me toquei que era porque a jaqueta era masculina e logo meu cérebro chegou ao nome do dono. Finnick. Mas o que me intrigou não foi a jaqueta ser dele, foi o fato de ela estar usando-a. Johanna nunca foi disso, dessas coisas simples em nome de alguém ou em nome de um sentimento. Resolvi pensar que a morena estava usando aquela jaqueta por estilo e não porque queria sentir Finnick perto de si ou algo do tipo.

Mas mesmo assim não resistir perguntar:

– Onde está Finnick?

Johanna olhou pra mim, mas eu não soube o que seus escuros estavam me dizendo. Sempre foi muito difícil ler as emoções dela.

– Somos um casal, não irmãos siameses.

Fico calada e acho que ela encara isso como um incentivo pra dizer mais do que respostas mau criadas.

– Foi falar com Annie. Você sabe, sobre o bebê e tal.

– Ah. E você veio aqui tomar um suco comigo. – reflito.

– Madge teve que ir embora, Gale está trabalhando e Peeta também foi embora e não estou falando com Annie por motivos óbvios. – explica como se fosse obvio. – Você foi a única que sobrou.

– Obrigada, adoro ser a última opção. – resmungo ao passo que Johanna sorrir travessa.

Chegamos na lanchonete. Me sento numas das mesas de plástico ao ar livre, Johanna senta na minha frente. Eu peço um suco e Johanna pede um chocolate quente e depois que nosso pedido chega me pego desejando o chocolate quente de Johanna, porque começou a ficar realmente frio aqui fora. Olho pro céu e vejo as nuvens se juntando, acho que vai nevar. Depois olho pra Johanna, ela segura a xícara com as duas mãos como uma criança que ainda não tem forças pra suportar o peso da xícara cheia. Observo o quanto ela não mudou quase nada nesses anos todos, entretanto há algo estampado em seus olhos castanhos. Um tipo de envelhecimento saudável que só os mais velhos alcançam como se tivesse descoberto o segredo da vida depois de ver tudo que o mundo tem pra mostrar. Mas há algo mais, não é só os olhos dela cheios de experiência existe uma chama neles, um tipo de energia que apenas os que já presenciaram isso são capazes de reconhecer: A energia irradiada pelo amor. Ao contatar isso, eu deixo a pergunta escorregar por entre meus lábios:

– Como está indo você e Finnick como casal?

A pergunta parece tirá-la de um torpor ao passo que a pega de surpresa também. Ela deixa a xícara na mesa, esconde as mãos sob a mesa. Dá um sorriso sincero de lado antes de responder:

– Bem. – ergo uma sobrancelha pedindo que ela fale mais. Sei que nunca fomos muito próximas, a morena sempre foi mais amiga de Gale do que minha. No entanto, quero que ela diga algo mais. Algo que me aqueça, pois a rejeição de Peeta através da sua fuga destruiu minhas defesas. Acho que no fim, só quero acreditar que ainda é possível amar e ser amado sem amarras. – Eu nunca realmente achei que as coisas iam tomar esse rumo. Quando recebi o convite do casamento, achei que era uma piada de muito mal gosto de Finn, mas aí quando vi que era verdade... Eu realmente vim pra cá preparada para as palavras e pro fora que ele ia me dá, mas isso não aconteceu. As coisas foram simplesmente acontecendo e depois que Gale gritou aquilo na festa e depois quando eu estava no meu quarto de hotel e Finnick apareceu lá horas mais tarde, eu percebi que sempre tinha sido ele. Você entende? – assenti. Sim, eu entendo. Sim, eu sei qual a sensação. Sim, eu sei o quão especial ele faz você se sentir... É tudo isso que sinto quando estou com Peeta. – Então, eu deixei acontecer e isso tem sido melhor do que fazer rapel ou tirar foto do pôr do sol no Gran Caynion.

Johanna sorriu e eu me deixei contagiar com essa energia que emanava dela, esse calorzinho que só as pessoas que ama alguém tem ou já tiveram. Ela pega a xícara e toma gole do líquido marrom, faço o mesmo com meu suco de maracujá.

– Hum. Eu soube do que aconteceu entre você e Peeta. – ela diz e me surpreendo por a morena saber disso, achei que era algo entre eu e ele. – Madge me contou antes de ir pra Europa. – se explica depois de ver minha expressão.

– Como Madge soube? – pergunto, e tomo mais um gole do suco. Estou começando a ficar nervosa.

Então ela me conta a história de como Madge tirou Peeta da cadeia depois dele se meter numa briga no trânsito na quinta avenida, já que ele ficou muito perturbado quando encontrou uma foto nossa adolescente se beijando e por não se lembrar dela, isso meio que fez o cérebro dele entrar em curto-circuito atrás de uma resposta praquilo que deveria estar lá mas não estava. Mas a pior parte, foi me dá conta de que aquilo foi culpa minha, eu havia transformado meu gentil Peeta em um cara agressivo que socava pessoas inocentes na rua. E tudo isso por que? Por causa do meu medo de ser rejeitada pelo cara que amo.

– Mas, convenhamos, que você devia ter contado isso há muito tempo.

– Você não entende. – digo.

– Entendo que estava com medo, que é insegura. – ela fala me olhando bem nos olhos. – Você sempre foi muito insegura, desde quando éramos crianças você já era assim. E quando você começou a gostar do Gale então, meu Deus, era um saco você naquele impasse de ele-gosta-de-mim-não-gosta-de-mim. E olha, que estava escrito na testa dele desde os oito anos o quanto ele gostava de você e ainda está escrito até hoje. – desviei o olhar dos olhos dela. - O que eu quero dizer, é que você fica tão preocupada com o que as pessoas pensam de você ou sentem por você, que se esquece que de olhar pra elas e ver o que elas realmente estão sentindo. Katniss, - ela toma minha mão por cima da mesa. – você foi uma idiota, uma burra, uma...

– Eu entendi. – resmunguei interrompendo, ela deu um meio sorriso.

– ... por não ter dito nada. Mas sabe o que eu acho, que você ficou assustada com a possibilidade dele não ser mais aquele adolescente que te pediu em namoro no ginásio da escola, porque você tem guardado esse amor todo aí dentro do seu peito esse tempo todo e ficou com medo dele se assustar com o tamanho e não poder corresponder.

As palavras teriam feito o mesmo estrago se ela tivesse atirado pedras em mim. Johanna tinha acabado de dizer o que eu senti durante esses dez anos inteiros. Medo, um grande e imenso medo de não ser correspondida. E esse mesmo medo me fez ficar egoísta e não pensar em Peeta, então o principal princípio tinha sido perdido: fazer o outro se sentir bem ao seu lado. Pois, eu quis tanto conservar o corpo do loiro ao meu lado, perto de mim de alguma forma que roubei dele suas partes mais importantes, suas lembranças. Não achei que ele pudesse senti falta do que não lembrava, mas ele sentiu. Afinal, ele me disse com todas as letras o quanto ele se sentia vazio e perdido.

– Eu só pensei em mim. – declaro baixinho, meu coração pesado de culpa. – Estraguei tudo.

– Hum, isso é quase verdade. – levanto meus olhos pra olhá-la. – Você ainda pode fazer uma coisa... Mas tem que ser corajosa.

– O que tem em mente?

Johanna arquea a sobrancelha e dá o seu sorrisinho de lado, o mesmo que ela me deu quando antes de pôr o pé na minha frente e me fazer cair, literalmente, nos braços de Gale quando tínhamos 12 anos. Eu apenas consegui pensar: Oh-oh. Era o sorriso que antecedia grandes feitos.

– Peeta está na Austrália, não? – assenti. – Então por que não vai lá?

– Eu não posso tenho a Firma e além do mais ele nem ao menos quer falar comigo, sabe, acho que ir pra Austrália foi uma dica e tanto pra que eu fique longe.

– Tsc. Tsc. Tsc. Você não está sendo corajosa. – ela diz balançando a cabeça, fazendo os cabelos escuros caírem ao redor do seu rosto. – A Firma pode ficar nas mãos da sua sócia, e além do mais você não vai demorar muito lá. E acho que Peeta ir pra Austrália não é pra ficar longe de você, acho que ele está só esperando que você apareça lá e diga a verdade toda.

– Eu não acho que é isso não. – minha voz cheia de incerteza.

– Meu Deus, mulher! Tenha fé!

Então ela levantou e olhou no seu celular.

– Essa é minha deixa. – falou e começou a se afastar.

Me levantei, deixei dinheiro em cima da mesa no valor da conta e fui atrás dela.

– Johanna, espera. – ela se virou pra mim, os olhos castanhos brilhando. – Por que está fazendo isso?

– Ora, porque sou uma pessoa legal. – então um carro parou ao seu lado na calçada, reconheci o carro de Finnick. – E porque acredito no amor. – ela deu a volta no carro, abriu a porta do lado do passageiro e antes de entrar lá, Johanna olhou bem pra mim, ali, pateticamente parada. – E Katniss, tenha coragem.

Johanna entrou e eu fiquei parada ainda muito tempo depois que o carro de Finnick fora embora, escutando o eco de suas palavras na minha cabeça. Se Johanna que nunca acreditou no amor antes, que nunca se apaixonou por alguém de verdade está dizendo que eu preciso ter coragem... Então.

Eu vou ter coragem.


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Notas finais do capítulo

Esse cap era pra ter saído na quarta, mas aí eu fui pra uma festa com uns amigs e não deu. :-)
O q mais gosto nesse capitulo: A conversa de Johanna com Katniss e a parte que a Annie percebe que está sofrendo mais pq idealizou demais em cima de Finnick.
Eu li Cidades de Papel ontem e então agradeçam ao Tio Green o final do capitulo, pq na minha cabeça num era a Johanna que aparecia pra conversar com a Kat não, era o Gale rsrsrs...
Bom gente é isso. Digam o que acharam e o que esperam que aconteça na Austrália no encontro de Peeta com Katniss, eu tenho umas coisas planejadas mas é sempre bom ouvir ideias novas.
bjs e até o próximo.