Skeletons In The Closet escrita por OmegaKim


Capítulo 11
ONZE: Gale fala demais.


Notas iniciais do capítulo

oi galera!! olha eu por aqui!! mais cedo do que vcs pensavam, ne?? kkk é pq eu fiquei mó tempão escrevendo esse capitulo e fiquei muito orgulhava dele então vim postar!! kk
Adorei os coementarios do cap anterior!! vcs são demais. E eu vou responder, ok? É só q eu ando meio ocupada com umas coisas da fic. mas relaxem...
Ah, galera!!!! 38 leitores, sério?!!! kkk tó tão feliz com isso!!!
os pov's desse capitulo enorme são da Katniss, Peeta (quem tava cm saudade deles?) e Johanna.
boa leitura!! e bem-vindos leitores novos...



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Capítulo ONZE: Gale fala demais.

Peeta

Fecho os olhos e respiro fundo, sentado à beira da minha cama sinto minha cabeça latejar. Talvez tenha sido o álcool de ontem ou a noitada agitada naquela balada ou, quem sabe, o maldito efeito colateral do acidente. Voto na última opção, porque sempre é isso. Sinto algo se mexer atrás de mim, me viro pra ver o que é com os olhos quase cerrados de dor. Encontro uma figura loira de corpo esguio deitada de lado, de frente pra mim. Delly. As lembranças da noite passada se misturando na minha mente, tudo um grande borrão. Mas então subitamente lembro do gosto dos lábios dela contra os meus e o resto eu não preciso me esforçar pra adivinhar: dormimos juntos.

– Hum... bom dia gatinho. – ela diz numa voz arrastada. Seus olhos ainda estão fechados quando diz isso, mas existe um sorrisinho mínimo em seu rosto relaxado. No entanto como que lembrando de lago a loira abre seus olhos alarmada, joga o lençol que cobre seu corpo pro lado e levanta mais rápido que eu posso processar. – Droga. Droga. Droga.

Delly pega suas roupas do chão e vai vestindo tudo numa rapidez que teria deixado Flash orgulhoso.

– O que foi? – minha voz sai grossa por eu ter acabado de acordar.

– Estou atrasada. – guincha e vem até mim pra que eu amarre o seu corpete preto.

– Quer uma carona? – pergunto depois que termino de fazer um laço no seu corpete.

– Seria de grande ajuda.

– Me dê um minuto. – e me levanto da cama e vou pro banheiro jogar uma água no rosto pra acordar de vez e tomar um remédio pra tentar afastar essa dor de cabeça chata.

Nos minutos seguintes levo Delly pra universidade onde ela estuda e que segundo a mesma, está atrasada para o teste de Bioquímica. Paro o carro na entrada da faculdade. A loira segura meu rosto e me beija antes de descer do carro. É um beijo rápido e simples, apenas um tocar de lábios com gosto de nada e sem nenhum sentimento. A loira me dá um sorrisinho mínimo antes de descer e correr pra dentro da universidade, fico ainda por tempo observando o corpo dela se afastar ao mesmo tempo que penso no pressão que os lábios dela fizeram contra os meus. Toco meus lábios e me pergunto se é normal não sentir nada quando se beija alguém. Acho que deveria ter alguma coisa, borboletas no estômago ou um calafrio na espinha ou algo do gênero, mas com Delly sempre foi assim um grande e imenso nada. Quer dizer, não só com ela mas com todas as garotas com quem fiquei nesses últimos anos. E pela primeira vez estou me perguntando se isso de não sentir, de não se apaixonar: é normal?

Tenho 27 anos e nunca me apaixonei, é claro, houve aquela vez com a Glimmer, mas ela estragou tudo transando com meu colega de quarto na faculdade. Ela foi o mais perto de um sentimento real que eu já cheguei perto de sentir. Mas então minha mente vaga pela minha recém bobagem: O beijo com a Katniss. Não vou negar que o beijo foi bom e que foi bastante difícil me separar dela. Os lábios dela contra os meus faziam cada parte do meu corpo formigar como se eu tivesse recebido uma descarga de energia extra fazendo meus sentidos ficarem mais ativos, mil vezes mais potente que os pequenos choques dos beijos de Glimmer. Quando me separei dela mais pra apreciar aquilo que estava sentindo do que por querer me separar e encontrei os olhos dela tão apreensivos e cheios de arrependimento? que me afastei, a chuva me pegou mas eu estava tão assustado com que acabará de fazer que nem me importei. Lembro de ter balbuciado um desculpa baixinho, de ter me afastado mais quando ela tentou me tocar porque eu nem conseguia encarar ela com tanta vergonha estampada em mim.

Suspiro e encosto minha testa no volante de olhos fechados. Que droga anda acontecendo comigo? Ando pensando em me apaixonar, em tentar algo com Delly – algo de verdade – mas não paro de comparar os beijos dela com o beijo que dei em Katniss que é minha amiga. Amiga. Essa palavra parece que não combina com ela, com tudo que ela é pra mim. O fato é que isso tudo me deixou tão confuso, angustiado e todos esses adjetivos nada bons que fazem eu me sentir como um garoto de 17 anos segundos antes de se declarar e com medo de levar um fora. Mas a pergunta que não deixa minha mente é pra quem eu quero me declarar? Não que eu realmente queira me declarar de verdade, o que eu quero dizer é que... Ah, deixa pra lá.

Descolo minha testa do volante e ligo o carro e arranco dali o mais rápido possível. Os caminhos até em casa foi rápido e fácil o que não combina com o trânsito de Nova York nem um pouco. Assim que entrei no meu apartamento, tratei de tomar um banho e um café e depois rumei pra restaurante, precisava deixar as coisas em ordem por lá já que a noite eu não estaria lá. Hoje é o jantar de noivado de Annie e Finnick e algo me diz que a noite vai ser agitada.

~~

Katniss

Encaro o vestido estendido sobre minha cama. Gale vem me buscar daqui meia hora e eu ainda não estou pronta. Já passei a maquiagem, já arrumei meu cabelo e já escolhi os sapatos pra combinar com o vestido apenas estou usando esses últimos minutos pra tomar folego, porque sinto que essa noite não vai ser fácil. Me sento ao lado do vestido e aliso o tecido dele, é um longo de alcinha e verde claro. Suspiro, não me sinto particularmente animada pra ir nesse jantar assim como não me sinto pra ir na companhia de Gale. Eu deveria ter dito não, mas é claro que minha insegurança de encarar Finnick e Peeta sozinha falou mais alto. Achei que com Gale ao meu lado ficaria mais fácil, mas pensando agora vejo que dei uma de idiota.

Olho pro relógio no meu criado mudo e resolvo me vestir, quanto mais rápido eu for mais cedo eu volto. Alguns minutos depois estou pronta e Gale me manda uma mensagem dizendo que já está me esperando lá embaixo. Eu desço, desejando que fosse Peeta, não Gale, a me esperar, pois ele me sempre passou segurança nesses momentos em que me sinto frágil e insegura.

– Nossa! Você está linda. – Gale diz assim que me ver, ele está com as costas encostadas na lateral do carro preto dele. Ele abre um sorriso tão grande que me pergunto se suas bochechas não estão doendo.

– Obrigada. – murmuro ao passo que Gale abre a porta pra mim.

Me sento no banco do carona e o moreno logo ocupa seu lugar no banco de motorista e mais rápido do que eu posso pensar “devia ter dito não” ele arranca com o carro dali e logo estamos rumo ao local onde acontecerá o jantar de noivado.

O caminho seguido em silêncio, mas de vez em quando consigo pegar um olhar de Gale pra cima de mim pelo canto de olho. Em alguns momentos sinto que ele quer dizer algo, mas depois logo desiste. Eu deixo por isso mesmo, meu humor não está dos melhores então ficar em silêncio pra mim está ótimo.

Acabamos por chegar mais rápido do que eu esperava. Gale estaciona o carro na frente de uma casa, ele me ajuda a descer como um cara educado que eu sei que ele é. O moreno me estende seu braço, eu dou um sorriso de lado e enlaço o meu braço no dele e entramos juntos no local do evento que é uma casa enorme, uma mansão da época colonial. Assim que entramos solto o ar pela boca e deixo que meus olhos se arregalem impressionada. A casa até que não tem uma faixada impressionante, mas ao entrar me deparo com um conjunto de elegância distribuído na decoração prata e preta, os quadros colocados no lugar certo juntamente com as esculturas, é tudo tão cheio de sofisticação que por um momento me pergunto se ainda estou no século 21, pois aqui dentro tenho a impressão de que acabei de passar por um portal para o século 19 onde tudo exala beleza no quesito sofisticação. Avançamos por um tapete cheio de gravuras da mitologia grega - Teseu matando o Minotauro, Perseu voando no seu cavalo alado, Zeus no seu trono segurando o raio mestre. Mais à frente encontramos uma mesa de jantar enorme, essa é a mesa de jantar mais longa que já vi. Ela está arrumada com uma toalha de renda branca e por cima os talheres, taças de cristal e louças de porcelana lindamente postos equidistantes um do outro. Olho pra cima e vejo um candelabro de cristal como nos filmes antigos que eu costumava ver com Peeta nas quintas a noite.

– Gostou? – Gale pergunta.

– Isso... Essa casa é incrível. – digo olhando pra tudo que posso, quero guardar até os mínimos detalhes desse lugar na minha mente.

– Que bom. – ele comenta olhando pros convidados que já chegaram, eles estão vagando pela casa, parados em um canto conversando com taças nas mãos. – Minha vó deixou pra mim no testamento.

– O quê? – espero que ele diga que é brincadeira. Essa casa não pode ser dele. – É brincadeira, né? – mas o jeito sério com que ele está me olhando prova que é verdade. – É sua mesmo?

– Sim. Eu emprestei pro Finnick com presente de noivado já que Annie pareceu gostar tanto dela. – eu devo ter feito uma cara engraçada porque ele riu. – Não faça essa cara. Sou um cara legal.

– Humm... Quem é você e o que fez com Gale?

– Ah, cala boca. – ele diz rindo e dessa vez eu acompanho.

Quando o garçom aparece, o moreno faz questão de pegar uma bebida pra mim e uma si, começamos a jogar conversa fora. Eu pergunto pela casa, como ela veio parar na família dele.

– Meu avô era louco por antiguidade, então ele colecionava várias coisas e numa das viagens a trabalho dele, ele encontrou essa casa. Estavam leiloando ela por um preço baixíssimo. Meu avô acabou comprando e reformando ela logo em seguida e quando ele morreu deixou pra minha avó que deixou pra mim, já que, como ela dizia, eu não desisto do que quero assim como ele. - e olhou tão intensamente pra mim que comecei a corar, mas então meus olhos encontraram uma figura loira que acabava de chegar e não estava sozinho.

Gale acompanhou meu olhar e vi quando seus ombros se tencionaram ao ver Peeta e Madge juntos vindo em nossa direção, mas então no meio do caminho eles foram interceptados por Johanna. Ela lançou um olhar pra Gale, e seguiu levando os dois pro lado oposto ao que estávamos.

Os convidados continuaram chegando, alguns eu reconhecia do tempo de escola. Amigos de Finnick, suponho. Outros eu não sabia quem eram. Em algum momento avistei a Sra. Cresta, a mãe de Annie, e fui até ela com Gale no meu encalço.

– Ah, Katniss! Olha pra você. Está tão bonita. – disse depois de me dá um abraço demorado. – E esse deve ser seu namorado. – ela disse se virando pra Gale e apertando sua mão.

– Eu sou o Gale, Sra. Cresta. Não lembra de mim? Costumávamos fazer festas do pijama na sua casa junto de Finnick, Johanna, Madge Peeta e Darius... – percebi que o moreno disse o último nome com cuidado.

– Oh, sim! Que cabeça minha. – e ela abraçou Gale que foi pego de surpresa por isso demorou pra retribuir. – Você cresceu tanto e quem diria, ficou com a Kat. – e riu alto. – Sempre achei que você ia terminar ficando com aquele garoto, o loirinho. Lembra? – tocou no meu ombro, eu ri desconfortável ao mesmo tempo que tentava encontrar minha voz ou ao menos uma abertura pra me pronunciar. Tinha me esquecido o quanto a mãe de Annie falava. – Mas então vocês já tem filhos? Já casaram ou você, mocinho, está enrolando essa moça?

– Que isso, Sra. Cresta...

– Não somos namorados. – encontrei minha voz e olhei feio pro Gale por ele não ter se esforçado nenhum pouco pra dizer a verdade pra ela. – Nem casados, nem temos filhos.

– Ah, me desculpe. – ela pareceu um tanto desconsertada. – Então você ficou mesmo com o loirinho, não é? Eu até peguei vocês dois aos beijos atrás da minha casa, lembra? Aquele papo de amizade nunca colou pra mim, sempre soube que rolava algo mais entre os dois. – e riu ao mesmo tempo que me empurrava de leve e eu ficava vermelha.

Isso foi há tanto tempo. Nessa época Peeta e eu estávamos começando algo, e aquele beijo aconteceu meio sem querer. Eu estava meio triste por ter terminado com Gale. Peeta estava apenas me consolando, mas então um abraço acabou virando algo mais intenso. Foi o nosso primeiro beijo, duas semanas depois começamos a namorar e era Annie que acobertava nossos encontros pois Gale ainda não tinha aceitado o nosso fim.

– Eu vou pegar uma bebida. – Gale se pronunciou e logo saiu de perto de mim.

– Ele ainda gosta de você. – a mãe de Annie comentou depois de dá um gole na sua bebida. Olhei para as costas de Gale se afastando pelo mar de pessoas.

– É... – comentei sem entusiasmo por não poder corresponder ele e ao mesmo tempo querendo que ele superasse isso e partisse pra outra.

– Hum. Olha lá, é o seu namorado. – a senhora Cresta apontou sem nenhuma discrição pra trás de mim, me virei. Era Peeta acompanhado de Madge que riam e conversavam com um grupo de pessoas que não reconheci.

– Não somos namorados. – falei com meus olhos nele.

– Ah, querida você terminaram, é? Uma pena. Combinavam tanto.

– Hum.

O loiro por um breve momento me viu, seus olhos azuis se cravaram em mim. Cheios de culpa por causa do beijo, eu queria poder ir lá e dizer que não foi a primeira vez, que nós já namoramos, que ele me amava. Mas não posso, tenho tanto medo que ele me odeie quando souber a verdade mas tenho mais medo que quando ele souber não seja capaz de me amar, que ele se dê conta de que não sente nada que aquilo foi só coisa da adolescência.

Eu não sei o que ele viu no meu rosto, mas logo ele desvia seus olhos de mim e volta a rir de qualquer coisa que Madge fala. Me viro pra senhora Cresta a tempo de ver Gale voltar, no entanto percebo que todos pararam o que estavam fazendo. Sigo seus olhos olhares, e todos estão olhando pro alto da escada onde Finnick e Annie, com os braços enlaçados, se encontram. Ela sorrir como a garota apaixonada que ela é enquanto o homem ao seu lado força um sorriso, eu sei porque é o mesmo sorriso que eu costumo forçar quando me sinto desconfortável com algo.

Eles descem juntos e logo começam a cumprimentar as pessoas dando apertos de mãos, abraços e tirando brincadeiras. Annie vem até mim sem Finnick, ele ficou no grupo onde está Peeta, Madge e Johanna – que se juntou na última hora a eles.

– Ah, Kat! Você veio mesmo. – me pega num abraço tão forte quanto o que a mãe dela me deu.

– Falei que vinha. – resmungo no meio do abraço. – Espaço, Annie. Espaço.

Ela me solta sorrindo.

– Está gostando da festa?

– Sim, está tudo muito bonito e eu vi que colocou as flores que eu e Madge escolhemos.

– Oh, sim. Combinou com a decoração original da casa. Você já viu o jardim? Arrumei tudo por lá, consegui por uma área pra dançar lá. Depois do jantar todos podem ir pra lá tomar um ar fresco e dançar, que tal?

– Uau. Seu você não tivesse um trabalho eu te contrataria pra minha firma. – eu sorrio.

– Minha filha é cheia de talento. – a mãe dela diz com orgulho.

– Além de linda. – Annie diz.

– E muito modesta também. – a Sra. Cresta resmunga.

Todas rimos.

~~

Peeta.

Ela veio com o Gale, que surpresa penso com ironia quando a vejo rindo ao lado dele.

– O que você acha, Peeta? – a voz de Madge me alcança e faz com que eu tire meus olhos de Katniss.

– Sim? – solto perdido.

– Johanna estava dizendo que você mudou bastante do tempo de colégio pra hoje. – seus olhos azuis caem cima de mim com reprovação por eu não estar prestando atenção na conversa.

– Ah, eu não acho que mudei tanto. Quer dizer, não sou mais tão nerd e agora faço mais sucesso com as mulheres. – falo na brincadeira e as garotas riem.

– Sempre tão modesto, não é? – Johanna comenta dando um gole na sua bebida logo em seguida.

– Vocês me dão licença, eu acabei de ver uma colega de trabalho ali. – Madge diz.

– Claro. – digo.

– Vai lá. – Johanna fala e então me lança um sorriso.

Nunca fui bom em ler as expressões de Johanna quanto sou bom em ler as da Katniss.

– O que aconteceu com vocês dois? – pergunta com o rosto neutro.

– Eu e Mad estamos bem. – falo e tomo um gole do bebida em minha taça.

– Falo de você e Katniss. – e ela começa a olhar pra onde estou olhando.

Não digo nada, meu silêncio diz por mim que tem algo errado. Achei que ninguém ia perceber o clima estranho que paira entre eu e a morena, mas acho que ou eu estava errado ou Johanna é uma boa observadora.

– É complicado. – digo sem nenhuma vontade de continuar.

– Bom, eu acho que você devia falar com ela.

– Mas com Gale colado nela o tempo todo não dá. – acabo pensando alto.

Katniss acaba de sair de perto de Annie e sua mãe, e vai com Gale pra um grupo de homens. O moreno começa a cumprimentar todos enquanto ela sorrir falsamente pra eles. Então eles engatam numa conversa.

– Ah, isso o que te impede? – ela me dá mais um daqueles sorrisos que não sei o significado.

Mas seja lá que ela estava pensando Johanna não chega a executar, porque vejo Katniss dá sua taça pra Gale e se afastar dele que está tão entretido na conversa com os homens que nem contesta o afastamento dela. A morena segue para as escadas e sobe pro segundo andar.

– Eis a sua chance. – Johanna diz apontando pra onde Katniss foi.

Uma onda de coragem toma conta de mim. Preciso resolver isso logo, não posso ficar nesse clima estranho com minha amiga. Eu e Katniss nos conhecemos há tanto tempo, não vai ser um mal entendido como um beijo que vai estragar nossa parceria de anos. Dou minha taça vazia pra Johanna e vou atrás de Katniss. Afinal, já adiamos muito essa conversa.

Encontro a morena no corredor do segundo andar. Ela parece que está estudando a decoração. Toca os quadros na parede e fica um tempo encarando o papel de parede. Eu sabia que esse lugar ia atiçar a curiosidade dela. A morena sempre foi fascinada por coisas antigas. Não é à toa que ela é grande fã de filmes em preto em branco e sempre me obriga a assisti-los com ela nas quintas. E como eu sinto falta disso, dessa nossa rotina simples. Acho que foi essa saudade que me fez inventar uma desculpa esfarrapada pra Madge e não ir no cinema com ela. Às quintas são os dias de cinema antigo com a Katniss, eu não pude suportar mudar isso ou fazer isso com outra pessoa. Me aproximo dela que está tão distraída olhando os móveis de madeira de carvalho que nem percebe que estou aqui.

– Katniss. – chamo, ela levanta os olhos dos móveis e me encara surpresa.

– Peeta. – a morena diz meu nome como se pra confirmar pra si mesma que sou mesmo.

– Você não me convidou pro cinema na quinta. – falo inutilmente mais porque não sei como começar essa conversa do que por medo de que ela tenha chamado Gale pra ver os filmes com ela.

– Eu não... eu não fiz essa quinta. – Katniss diz.

Ficamos um tempo em silêncio apenas nos encarando. Ela está bem bonita nesse vestido, percebo. Seus olhos cinzentos estão bem marcados com alguma coisa maquiagem preta fazendo com que seu olhar fique intenso, mas então meus olhos estão sendo puxados pra sua boca. Desvio meus olhos dela.

– Desculpa. – digo por fim. – Por ter te beijado, eu não tive a intenção.

Katniss abaixa seus olhos e fica a encarar o chão.

– Tudo bem. – ela diz tão baixo que quase não escuto.

– Katniss, eu não quero que fique esse clima estranho entre a gente. – falo, ela levanta seus olhos pra me encarar. – Vamos voltar a ser como antes? Eu não quero perder minha amiga e os filmes na quinta à noite.

– Oh, Peeta. – ela diz e vem até mim, me abraça. Eu envolvo meus braços em volta dela. Assim é melhor, nós dois juntos. – Vamos deixar isso pra trás. – ela se refere ao beijo.

– Vamos. – concordo apesar de um peso ser colocado no meu estômago como se eu tivesse acabado de engolir uma pedra bem grande.

Ficamos um tempo assim um tempo. O cheiro dela me alcança e é tão bom que acabo por fechar os olhos e meu corpo todo relaxa. Não sei quanto tempo ficamos nisso, mas minha mente é quem me dá o alerta, mas eu ignoro. No entanto se Gale aparecer agora, vai ser um desastre total. E eu não quero que esse momento seja estragado.

– Vem. – digo e me afasto pra olhá-la.

– Pra onde? – pergunta.

– Você está me devendo uma dança, lembra? – digo e seguro sua mão.

Ela rir ao se dá conta do que estou falando. A dança que não dançamos no baile de reencontro e também a dança que não terminamos no primeiro baile, que eu sei porque lembrei disso durante a semana do baile de reencontro e contei a ela. Katniss ficou radiante quando eu disse a ela isso. A lembrança me veio durante um sonho. Havia ela perto de mim, seus braços estavam em volta do meu pescoço e olhos dela nos meus. Estávamos tão perto que eu quase podia sentir sua respiração na minha bochecha, uma música calma tocava no fundo mas eu não estava prestando a atenção na letra. Minha atenção toda estava em não pisar no pé dela, porque sempre fui péssimo em dançar. No entanto, a nossa dança foi interrompida por alguém. Lembro que Katniss foi arrancada brutalmente dos meus braços e então o resto é só escuridão...

Descemos a escada de mãos dada, eu puxando ela pela mão. Rápido, passamos pelas pessoas e por Gale que nem nos nota. A levo até o jardim onde Annie preparou uma espécie de salão ao ar livre. Assim que chegamos lá, vejo Katniss segurar a respiração. Realmente está muito bonito aqui e com o céu estrelado tudo fica bem mais bonito. O jardim foi bem cuidado, e em volta há arbustos cortados em forma de retângulos. Mas bem no centro do jardim há uma cobertura feita de madeira pintada de branco, um chão ladrilhado embaixo. E num palco improvisado há uma banda. Eu levo Katniss até lá, a deixo no centro da pista e então vou falar com a banda. Digo pra vocalista cantar uma música pra dois. Ela que é uma moça oriental, usando um longo preto atende prontamente.

Logo os primeiros acordes da música chegam até mim. Eu faço uma reverencia na frente de Kat e estendo minha mão pra ela.

– Você me dá o prazer dessa dança? – digo na minha melhor imitação dos filmes antigos.

– Seria uma honra. – ela diz tentando não rir, e coloca sua mão sobre a minha.

Passo minhas mãos por sua cintura, ela põe seus braços em volta do meu pescoço e deita sua cabeça no meu ombro. Vou guiando ela pela pista de dança, meus dotes dançarinos melhoraram muito durante esses anos. A letra da música chega até mim e não posso pensar que a música foi bem escolhida. The only exception da banda Paramore, torna tudo calmo ao meu redor e me leva de volta pro baile de escola – o primeiro baile – onde eu tinha minha memória, onde Darius estava vivo e onde todos nós ainda éramos um grupo de amigos.

~~

Johanna

Assim que vejo Gale se afastar dos seus amigos de terno e ir em direção as escadas, vou até ele.

– Ela não está aí em cima. – cantarolo com a taça cheia em mãos.

Gale para no pé da escada, olha pro topo da escada desconfiado e depois põe seus lindos olhos cinza em mim.

– O que quer dizer? A vi subir.

– Quero dizer o que estou dizendo: Ela não está lá em cima.

O seu olhar desconfiado se mantem sobre mim, eu aguento sem desviar o olhar dele.

– Onde ela está, então? – pergunta com um suspiro.

Dou um gole na minha bebida. Quanto mais tempo eu enrolar ele mais tempo o Peeta terá com a Katniss. É fato que fiquei meio chocada com o rumo que a história dele tomou mais porque foi culpa minha do que por gostar de romances. Foi por isso que resolvi dá uma de cupido para com eles, porque tá estampado em cada parte da Kat o quanto ela ainda é apaixonada por ele, mas ela é insegura demais pra se declarar pra ele. No entanto o que impede o sucesso do plano é Gale, a grande idiota que não sabe a hora de parar de insistir.

– Por que você acha que sei?

– Você a viu descer. Para de enrolação e diz pra onde ela foi. – demanda numa segurança que me desconserta por um momento. Sempre esqueço que ele não é mais aquele garoto inseguro do colegial.

– Hum. – ganho tempo bebendo mais um gole da bebida. – Ela passou por você, mas você estava tão entretido no papo dos seus amigos cabeções que nem percebeu.

– Que saco, Johanna. – bufa e olha em volta e acho que o cérebro trabalha bem rápido porque logo ele percebe que não é só Katniss quem sumiu. – Droga.

Ele me afasta pro lado pra que eu saia da sua frente e vai pro único lugar onde se tem privacidade depois do segundo andar da casa. O jardim. Eu vou no encalço dele, porque não vai adiantar nada eu tentar impedi-lo. No meio do caminho deixo minha taça meio vazia na bandeja de um garçom. Ao chegar no jardim, Gale logo ver o que eu já imaginava. Peeta e Katniss dançando juntos. Ao seu lado existem outros casais entre eles, Finnick e Annie. Não evitar posso ficar encarando esse último casal demasiadamente.

O que me desperta é o corpo de Gale se afastando de perto de mim e indo em direção a Peeta e Katniss.

– Opa, opa! – para na frente dele ponho minha mão em seu peito. – Você não vai fazer isso.

– Sai da minha frente, Johanna. – sua voz está mortalmente séria.

Eu sinto como se estivesse de volta no baile da escola, com 17 anos, quando Katniss dançou com Peeta, depois que eles assumiram o namoro dois meses antes.

– Ela não é sua namorada. – me escuto dizer a mesma coisa que disse há tanto tempo.

– Ela veio comigo, deveria está dançando comigo não com esse... esse cozinheiro!

Me permito olhar pra eles na pista de dança. Eu nunca fui uma pessoa muito romântica e também nunca acreditei naquele papo de alma gêmea ou par perfeito, mas, agora, pela primeira vez vejo que isso talvez seja verdade. O corpo da Katniss parece perfeitamente encaixado no de Peeta. E não é só isso, eles parecem tão à vontade um com outro que é difícil pra quem ver eles pela primeira vez não pensar que são um casal. O loiro está contando algo pra ela, que deve ser muito engraçado porque a morena está rindo ao mesmo tempo que seus corpos se mexem na melodia da música.

– Ela nunca deu esse sorriso quando estava com você. – acabo pensando alto enquanto me lembro da época que ela e Gale namoraram.

– Do que você tá falando? – pergunta meio irritado.

Tiro meus olhos do casal e encaro Gale. Seus ombros estão tensos e sua testa está franzida em irritação. Tiro minha mão do seu peito.

– Estou dizendo que Katniss não gosta de você, devia desistir dela. – digo sem hesitar, alto e claro pra que ele não tenha dúvida do que estou dizendo. – Ela gosta... não, ela ama o Peeta, tá escrito na testa dela.

Gale solta um riso amargo.

– E o que você sabe sobre amor, Johanna?! Tudo que você sabe é como usar as pessoas, do jeito que você fez e faz com o Finnick, do jeito que faz com qualquer um, do jeito que fez comigo!

Eu gelo ao escutar isso. O meu caso com Gale é algo que eu prefiro não pensar, falar ou qualquer coisa do tipo. Aconteceu há muito tempo e ninguém além de nós dois sabe disso. Mas eu nunca usei o Gale, eu lembro muito bem de ter dito minhas intenções para com ele.

– Isso não vem ao caso. – digo querendo sair desse assunto desconfortável.

– Não vem ao caso? – bufa. – Você nem ao menos se importa com isso. – e aponta pros casais atrás de mim. – Não seja hipócrita comigo e nem com você mesma. Tudo com que você se importa é consigo mesma, então não me venha com esse papo “de eles se amam” porque você não tá nem aí!

Minha boca se abre, mas as palavras não vem. Nada me vem, porque tudo que ele disse é verdade. Não tenho como rebater a verdade. Atrás de mim a música ainda continua, os casais nenhum pouco se importando com minha discussão com Gale.

– As pessoas podem mudar. – encontro minha voz. – Eu mudei. Não sou mais aquela garota mimada e cheia de si que você conheceu.

– Mesmo? – pergunta incrédulo. – Porque até ontem você estava transando com o Finnick como uma bela vadia.

É automático. Minha mão vai de encontro ao rosto de Gale num tapa e tanto. Ele não tem o direito de me chamar de vadia só porque durmo com quem eu quero na hora que quero. Isso não é ser vadia, isso é ser livre. Eu não sou casada, não tenho nenhum compromisso que me obrigue a segui regras de fidelidade. Posso muito bem levar quem eu quiser pra minha cama, afinal eu pago minhas contas e não devo satisfação da minha vida pra ninguém.

– Quem eu levo ou não pra minha cama é problema meu! – falo firme.

Gale crispa o queixo e olha pra mim com tanto ódio que cada parte do meu corpo começa a formigar em alerta.

– Problema seu até o ponto em que é o noivo da amiga de infância, não é?! – ele praticamente grita pondo a mão no lado do rosto em que bati.

E quando me preparo pra pular em cima dele e lhe dá uma bela surra, alguém me segura por trás pela cintura e é só então que me dou conta de que a música parou, ninguém está mais dançando ou conversando animosidades. Estão todos prestando atenção na minha discussão com o moreno raivoso.

– Calma aí, Johanna. – diz a pessoa que me segurou.

Reconheço a voz. Finnick.

Olho em volta e encontro Annie me encarando horrorizada, a mão sobre a boca. Ela escutou, constato. A raiva começa a deixar meu corpo e a culpa começa a tomar seu lugar no meu peito.

– Finnick, ela escutou. – digo inutilmente baixo, apenas pra ele ouvir ao mesmo tempo que encontro outros olhares reprovadores pra cima de mim.

Katniss. Peeta. A mãe de Annie.

Madge é a única que me olha diferente, seu olhar é preocupado.

– Eu sei. – ele sussurra, mas não parece nenhum pouco abalado. Ele solta minha cintura.

É quando Peeta se aproxima, ele fica entre eu e Gale.

– É melhor você ir embora, cara. – põe a mão no ombro de Gale, mas ele se afasta do contato.

– Ir embora pra você continuar dando em cima da Katniss?! – rebate o moreno.

– Ei, cara você sabe que não é assim. – Finnick diz apaziguador.

– É assim, sim! – Gale olha pro Finnick. – Você sabe que é. Ele fica cercando ela o tempo todo igual no colegial com esse papinho de amizade pra cá e pra lá como se eu fosse idiota pra não ver as reais intenções dele!

– Mas nós somos amigos. – Peeta se pronuncia, mas sua voz da uma falhada na palavra amigos.

– Pelo amor de Deus! Nem você acredita nisso. – Gale rir sem humor na cara do loiro.

Vejo Peeta engolir em seco.

– Gale, melhor você ir... – falo com minha melhor voz calma.

Então os olhos cinzentos do moreno se voltam pra mim, e vejo tristeza estampado neles. Um cansaço tão grande quanto o meu de sustentar essa vida dupla com Finnick. Mas ao contrário de mim ele sustenta esse amor todo pela Katniss. Ele está tão focado em fazer ela amar ou prestar o mínimo de atenção nele que não percebe o quanto isso está pesando nos ombros dele, o quanto esse esforço está o deixando infeliz.

– E por que eu deveria te escutar? – pergunta cheio de ironia.

– Por que está se comportando como um louco. – mas não sou eu quem responde isso muito menos Finnick ou Peeta. É Katniss.

Ela está com uma expressão séria no rosto, tão intimidante que Gale logo desvia os olhos pro chão, envergonhado.

– Tudo bem.

A morena pega Gale pelo braço e o leva dali como uma mãe faria com o filho malcriado. Logo as pessoas começam a voltar pro que estavam fazendo. Peeta me olha compadecido e sai de perto de mim, Finnick fica um tempo parado me olhando nos olhos esperando, eu acho, que eu diga alguma coisa. Mas eu me limito a encara-lo, e quando ele dá a entender que vai se afastar Annie aparece. Ela para entre eu e Finnick, seus olhos claros estão cheios de uma tristeza mal disfarçada.

– É verdade? – pergunta sem rodeios, os braços cruzados na frente dos seios. – É verdade o que Gale disse sobre você e ela?

Finnick fica calado, mas me lança um olhar. Minta, ele parece dizer. Mas ao contrário do que ele pensa que eu vou fazer, eu apenas me limito a ergue meu queixo e dizer:

– Sim, é verdade.

Seus olhos se enchem de lágrimas, ela olha acusadora pra Finnick e eu quase posso escutar o barulho do coração dela se quebrando com essa afirmação. No entanto, em vez de se debulhar em lágrimas e sair correndo. Ela acerta o rosto do noivo com tapa estalado e logo faz o mesmo comigo.

– Vocês se merecem. – diz com toda a raiva que ela consegue reunir e sai da minha frente andando de queixo erguido e sem deixar nenhuma lágrima cair.

Eu faço o mesmo. Saio da festa com o lado esquerdo do meu rosto latejando por causa do tapa e com os olhares nada amigáveis sobre mim, mas de cabeça erguida e sem vergonha alguma na cara.


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Notas finais do capítulo

Gente eu gostei desse capitulo por causa do momento Peetniss e por causa do momento confusão do Peeta no começo do capitulo. Tadinho ele tá confuso em relação a Katniss, acho que ele tá começando a ver q isso de amizade não tá dando certo. kkkkk
Mas galera, comentem!! Opiniões, criticas e sugestões são super bem-vindas!! Fantasmas se apresentem, quero conhecer vcs. Juro pelo rio Estige que não mordo ninguém rsrsrs... Eu fiquei cinco horas escrevendo esse capitulo por isso ele ficou tão grande. Mereço alguma coisa, né? kkk
Bom é isso.
Bjs e até o próximo.



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